Pecuária

Definindo o cardápio do gado

Além de pastejo por bovinos e ovinos, pode ser colhida verde para forragear animais confinados, para feno ou silagem.

A forma mais econômica de produção de carne e leite é a exploração em pastagem. Os ruminantes são os melhores conversores de fibra (celulose e hemicelulose) em energia digestível. Essa digestão é feita com o auxílio de milhões de micro-organismos que vivem no rúmen de bovinos.

Portanto, para reduzir o custo de produção de leite e carne vermelha, deve-se usar o máximo possível de alimentos vindo das plantas forrageiras. Quando possível, planeje junto com a assistência técnica e com o apoio dos órgãos de pesquisa (por exemplo Embrapa e Universidades) as pastagens para produzir o ano todo. Nesse processo, deve-se buscar quantidade de forragem com elevado valor nutritivo, ou seja alta eficiência produtiva traduzida em máximo ganho líquido por área.

O planejamento forrageiro para vacas de leite em nossa região inclui, normalmente, o capim italiano e os sorgos. As duas são forrageiras de máxima eficiência produtiva durante a primavera e verão, mas de ciclo produtivo curto, podendo resumir-se a 2 a 3,5 meses de pastejo dependendo da época de semeadura, fertilizações e do manejo. O recomendado é iniciar o pastejo quando as plantas atingem entre 60 e 80 cm e retirá-los da área quando as plantas atingirem 15 cm de altura em relação a superfície do solo (altura de resteva). Os sorgos devem, obrigatoriamente, serem pastejados com altura superior a 50 cm, pois se pastejados quando muito jovens, altura de planta inferior a 50 cm, podem ser tóxicos. Os sorgos têm graus variados de concentração de “durrina” , alcalóide nitrogenado, precursor do ácido cianídrido, que pode ser letal aos animais. Assim sendo, o pastoreio rotativo, com alta carga animal (lotação alta) e curtos períodos, se possível um dia de utilização e descanso suficiente para a planta rebrotar rapidamente, que quando bem fertilizado e com boa disponibilidade hídrica, pode significar pastejo a cada 2 ou 3 semanas. Portanto, milheto e sorgo têm o mesmo manejo e podem permitir vários pastejos, de três a mais de cinco, na estação de crescimento.

As vantagens de semear em mais de uma época

A semeadura dessas gramíneas de estação quente pode iniciar em setembro (quando a temperatura do solo for superior a 150C) e pode estender-se até meados do verão, quando visa-se produzir forragem para cobrir o vazio forrageiro outonal (abril-maio), pois nesse período as forrageiras de estação quente apresentam baixo valor nutritivo e as de estação fria ainda estão sendo estabelecidas. Em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, sorgos e milheto comum semeados no final de fevereiro de 2001 e de 2002, produziram 6,0 toneladas de forragem seca por hectare, forragem de bom valor nutritivo, com 17,8% de proteína bruta (PB), 60% de nutrientes digestíveis totais (NDT), 40% de fibra em detergente ácido (FDA) e 60% de fibra em detergente neutro (FDN). Entretanto, quanto mais cedo na primavera for possível estabelecer com sucesso as forrageiras anuais de verão maior será a quantidade potencial de forragem produzida, mas concentrada no final de primavera e início de verão. Sorgos e milheto semeados em setembro/outubro, com reduzida quantidade de fertilizantes, especialmente pouco nitrogênio, completam o ciclo produtivo em meados do verão, em muitos anos em fins de janeiro a meados de fevereiro, porém quando semeia-se parte da área cedo e, após, a cada 3 a 4 semanas de intervalo, é possível distribuir melhor a forragem produzida, principalmente, associado a bom valor nutritivo. Assim, pode-se dispor de forragem de milheto e ou de sorgos até o advento das primeiras geadas.

Qual das espécies é melhor? As duas são ótimas forrageiras se bem estabelecidas e manejadas. O sorgo, por possuir sementes maiores, é de estabelecimento mais fácil do que o milheto e, pode apresentar melhor crescimento no outono, embora seja pouca forragem produzida nessa época, é estrategicamente importante. O milheto comum, apesar de possuir sementes menores, normalmente de menor valor cultural, é muito adaptado na região, perfilha mais e pode apresentar custo menor de estabelecimento. As duas espécies preferem solos bem drenados, mas o sorgo tolera mais a umidade. O milheto é mais tolerante à seca e, também, à acidez do solo.

Renato Serena Fontaneli, Ph.D.
Pesquisador da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *