Pecuária

Desmama das bezerras merece atenção

A desmama eficaz, e economicamente viável de bezerras ainda continua sendo peça importante que interfere no contexto das fazendas de leite, especialmente no tocante á reposição de novilhas e crescimento do rebanho, ainda bem como eventual geração de animais excedentes para comercialização.

Com a globalização, abertura dos mercados e aumento da competitividade das empresas brasileiras, os produtores nacionais têm hoje uma oferta variada de sucedâneos para aleitamento artificial das suas bezerras. No entanto, dadas ás diferença de formulações e nutricionais existentes entre os produtos disponíveis no mercado, não se podem generalizar recomendações ou resultados. Diante disto, o presente trabalho visa analisar os resultados do uso de sucedâneo lácteo, sob condições brasileiras e durante um período representativo. O trabalho foi conduzido na Fazenda Tainá, localizada no município de São Pedro, interior de São Paulo, que é produtora de leite há 18 anos, tendo como principais peculiaridades á alta lotação animal (cerca de 6,3 UA*/ha.ano), o uso de forrageiras tropicais (Capim Elefante0 para alimentação do rebanho e alta produtividade em solo de baixa fertilidade original (areia quartzosa), atingindo cerca de 22.000 litros leite/ha. ano, oriundos de 110 vacas em lactação, que produzem cerca de 3000 litros diários de leite do Tipo B. *UA= Unidade Animal (equivalente a 450 kg peso vivo).

Nesta empresa, utiliza-se o processo de desmama precoce (período médio de 60 dias e peso vivo mínimo de 85 kg), em abrigos individuais (casinhas tropicais), com área de circulação de 100m2/cabeças, proteção dos ventos dominantes e sombreamento natural parcial de árvores, permitindo-se cerca de 6 horas diárias de insolação direta, Com relação ao manejo de colostro, as recém-nascidas ficam 24 horas com as mães (sendo monitoradas) e recebem suplementação de colostro até o quinto dia de vida. A fazenda dispõe de um banco de colostro (proveniente da primeira ordenha de animais de 3 ou mais crias e com densidade superior a 1,050) para eventuais emergências. A partir do segundo dia de vida, as bezerras já estão alojadas nas casinhas e têm acesso a água de boa qualidade e uma mistura de concentrados (batida na própria fazenda), além da já citada área de circulação, cobertas pela gramínea “coast-cross”. Anteriormente, a fazenda utilizava-se de leite natural para o aleitamento das bezerras, uma vez que já havia tido duas tentativas frustradas com uso de outros sucedâneos. O uso do leite natural gerava bons resultados técnicos, porém com elevados custos. Sendo assim,a empresa aceitou o desafio de utilizar um sucedâneo que não comprometesse os resultados técnicos da fazenda e que gerasse um diferencial econômico positivo. Este trabalho foi executado e analisado num período de 29 meses, ou seja, de outubro/98 a fevereiro/01.

Quando se fala em desmama precoce, é preciso que se definam três variáveis importantes: tempo, peso e custo. No caso da Tainá os parâmetros são o seguintes: Pelo menos 60 dias de aleitamento, peso mínimo de 85 kg e gasto total de alimentação inferior a R$ 1,50/bezerras/dia (desmamada).

Com relação ao sucedâneo, utilizou-se do Sprayfo diluído na proporção de 1 kg de produto em 9 litros de água, num total de 10 litros de solução. Administrou-se uma quantidade constante de 5 litros de solução por bezerra, desde o quinto até o último dia do aleitamento artificial.

A mistura de concentrados utilizada é farelada, sendo formulada e produzida na própria fazenda e constituída por fontes de fibra para bezerros (farelo de trigo e polpa cítrica peletizada), farelo de soja, milho moído, o próprio Sprayfo e mistura mineral vitamínica, além de ionóforo (monensina sódica).

A fazenda não utiliza leite de descarte na alimentação de bezerros por duas razões básicas: o mesmo ocorre em pequenas porcentagem na propriedade ( média de 0,60% da produção total, uma vez que o índice médio de mastite clínica foi de 1,21% e de Contagem de Células somáticas foi de 528 mil) e é desaconselhável para administração a recém-nascidos devido ao alto risco de contaminação com patógenos, antibióticos ou toxinas, além de alterações físicos químicas (teor de gordura, proteína, lactose, vitaminas e minerais).

O processo da desmama ocorre duas vezes por mês sempre em grupos de bezerros, de forma, de abrupta, sendo respeitados o tempo e peso mínimos. Após a desmama, as bezerras são alojadas em grupos pequenos (nunca superior a seis cabeças cada) e recebem dieta de boa qualidade, sendo mantida a mesma mistura de concentrados.

Do ponto de vista de custos, o gasto total médio com alimentação foi de R$ 105,71/por bezerra desmamada, ou seja, R$ 1,49/bezerra. dia (somente com alimentação).

Os resultados obtidos na fazenda Tainá, sejam do ponto de vista de desenvolvimento, sejam pela economia gerada, são muito significativos e atendem perfeitamente os requerimentos técnicos e econômicos.

Um resultado muito expressivo foi o baixo índice de diarréias e de mortalidade, sendo que as únicas mortes que ocorrem por motivos de pneumonia ( falha no diagnóstico e tratamento precoce). Este índice de mortalidade está bem abaixo do encontrado em países do primeiro mundo (por exemplo, na Inglaterra é de 4,5%) e, certamente, bem distante da média nacional, gerando uma série de economias ao processo, destacando-se o baixo gasto com medicamentos e mão-de-obra, entre outros.

Vale ressaltar que a Fazenda Tainá é uma unidade normal de produção leiteira, ou seja, não se trata de um centro de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico. Sendo assim, ela também enfrenta os mesmos problemas das tantas outras fazendas brasileiras, sejam pelas adversidades climáticas, sejam pela limitação da mão-de-obra operacional, entre outras. Com relação este último tópico, a empresa tem buscando investir na qualificação e treinamento dos seus funcionários.

Com base nesses resultados, algumas conclusões puderam ser tiradas:

– Para uma adequada análise do processo de desmama, é necessária a tabulação dos seguintes resultados: tempo de aleitamento, peso da índice de mortalidade, além dos demais custos, especialmente os referentes á mão-de-obra e medicamentos;
– Um eficiente programa de controle de mastite e redução contagem de células somáticas da propriedade é aconselhável, uma vez que vai aumentar a produção e melhor a qualidade do leite, além da expressiva redução com gastos em medicamentos. Só como dado comparativo, cada caso de mastite clínica gera na propriedade descarte na produção e gasto com medicamentos, que a valores de hoje, totalizaram 260 litros de leite, cerca de 73% do total do leite consumido por cada bezerra analisada neste trabalho. Não se deve corrigir uma eventual falha no manejo cometendo-se outra. Não se justifica trabalhar com altos índices de mastite na propriedade e, ainda administrar este leite de descarte para o aleitamento de bezerras;
– Com relação ao uso de leite de descarte (proveniente de mastite), o mesmo é expressamente desaconselhável por duas razões básicas: o produto é impróprio para o consumo das bezerras ( devido a alteração na composição, presença de resíduos antibióticos e/ou de bactérias patogênicas, além de eventuais toxinas) e, em condições normais, deve ocorrer baixa porcentagem nas fazendas;
– O processo de desmama artificial, sob condições brasileiras, com uso de um adequado sucedâneo, formulado a base de ingredientes lácteos, não limita o desempenho animal, seja do ponto de vista de desenvolvimento ou sanidade, gerando economias significativas para o processo produtivo leiteiro.

É preciso ter jogo de cintura

Nas últimas semanas, o Governo Federal fixou novas alíquotas de importação de leite e, imediatamente, o preço pago pelos laticínios despencou, bem no pico da entressafra. Claro que muita gente entendeu como represália, ou ajuste de compensação. Outros ainda, conformaram-se com a previsibilidade de pagar a conta: é sempre assim. Mas de um 2001 que prometia muito para toda a Economia, em especial para a pecuária acabou, no setor leiteiro, assistindo um apagão de grandes fazendas e criatórios. Liquidações de plantéis viraram rotina e a experiência de anos de muitos produtores acabou secando como as represas.

Contudo, o certo é que quem vive das vacas ou, simplesmente, gosta delas, vai mexendo a cintura, espremendo aqui ou ali, abrindo novas bacias leiteiras no Nordeste ou Centro-Oeste e encontrando um jeitinho de ficar de pé. Jersey, Holandês, Pardo- Suíço, Girolando, Gir Leiteiro, na figura de seu criadores seguem a trilha apurando os cascos. Precisamos ir para onde o produtor for, entende Antonio Carlos Mendes, presidente da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil.

Na visão de Antonio Carlos, o produtor não acredita mais nesse negócio de raça… de ser esta ou aquela, a melhor. Eles já sabem que elas se equivalem, guardadas as diferenças de manejo e as condições de exploração. Logo, na produção comercial de leite, o que importa são animais produtivos e de custo acessível. Em resumo, a margem de lucro. Então explica o presidente, o que o produtor quer são animais mais baratos, que produzam com um custo mínimo. Para ele, estes animais são mestiços. A ACGJB está apostando suas fichas nesta tese. Sua diretoria saiu na frente e obteve, junto ao Ministério da Agricultura, licença para abrir livros de registro de todos os cruzamentos possíveis envolvendo Jersey, inclusive com Holandês e Pardo-Suíço: O Jersolando e o “jersuíço. Aliás, a diretoria do Jersey, inclusive, ocupou-se de registrar nomes para estes cruzamento, no próprio INPI.

Na visão de Antônio Carlos, os cruzamentos vão estimular o mercado de puros, aumentando a demanda por genética. “ A qualidade da base de Jersey no Brasil é uma das melhores do mundo por isso está habilitada na produção de animais mestiços de grande qualidade, explica. Esta tendência, ainda de acordo com o presidente, trará nova função para bastante restrito. Segundo ele, nos EUA, por exemplo, já existem empresas que comercializam até sêmen de animais meio-sangue.

E este, sem dúvidas é um mercado comprovado. Os números mostram. Nos EUA, onde um animal com esta características está encontrado função, a média de produção de leite per capita supera os 20 litros/dia, enquanto que, no Brasil, ela é pouco mais de 5 litros. Há aqui, claramente uma demanda bastante reprimida, por qualidade e produtividade. O ponto de vista compartilhado por Alberte Vilela, presidente da Associação Brasileiro de Criadores de Gado Pardo-Suíço. Ele entende que há um imenso potencial de expansão, porém não acredita nos cruzamento, como alternativa, apenas como paliativo.

Alberte Vilela acha que ainda é preciso expandir muito a base de plantel de raças como a Pardo Suíca, que hoje ainda é bastante reduzida. Aliás, ele admite que toda a liquidez dos negócios envolvendo a raça é proveniente deste fato. Ampliando a base do plantel, teremos como responder á produtividade com animais puros, pois são eles que podem mudar o perfil brasileiro de produção, explica . Indagado sobre o alto custo, por exemplo, de um animal PO Pardo-Suiço-Suíço, ele responde que o produtor desinformado muitas vezes compra cinco animais azebuar, que comem como cinco, mas para produzir juntos o mesmo volume de leite que uma vaca pura de qualidade produziria. Para ele, esta é uma questão de mentalidade e de oferta de produtos.

No caso específico de rebanhos comerciais, muito mais afetados pelos movimentos da cadeia leiteira, Alberte lamenta sucessivas liquidações de plantel, embora ele frise que é preciso observar que estes animais estão somente mudando de mãos para continuar produzindo leite e não indo para açougue, ele entende que a alta exigência por especialização e profissionalização estão cumprindo um duro papel de selecionar aqueles que vão produzir leite no Brasil, mesmo que se possa lamentar a perda de grande experiências. Esta também é a visão de Rodolpho Rosas Alonso, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Holandês, entidade que comporta um número bem maior de associados e que domina o mercado de animais, já que possui um plantel infinitamente superior ao das outras raças do mercado. toda semana, 200 a 300 animais holandeses são colocados á venda, conforme calendário de leilões. Com uma oferta assim, os preços são mais realistas, embora distantes ainda do produtor mais periférico da cadeia. Porém, conforme explicação de Rodolpho, o holandês tem condições de cumprir uma das principais exigências da globalização, que é a boa oferta de produtos. Ele ainda concorda com Alberte na questão da especialização ou, aquisição de tecnologia, como caminho natural de seleção dos novos caminho natural de seleção dos novos agentes produtores. Com tecnologia, o gado holandês pode produzir em qualquer lugar do Brasil. De qualquer forma, a raça já dispõe de uma grande oferta de genética adaptada ás condições ambientais brasileiras. Atualmente, a entidade prepara-se para desenvolver um teste de progênie para touros nacionais.

Quanto ao relacionamento direto com os criadores, a entidade que surge com novidades é a do Jersey. Antonio Carlos, na sua ótica de ir para onde o produtor for, procura estreitar os vínculos extra serviço cartoriais, movimentado um círculo de palestra pelo País, inclusive com o aproveitamento de cooperativas na intermediação. Acreditamos que a entidade de uma raça tem que atender uma outra demanda pouco valorizada que é a de informação. Nosso produtor comum não domina um conhecimento suficiente para habitá-lo no mercado. Para ele, esta falta de conhecimento vai desde tecnologias disponíveis até detalhes mais complexos de comportamento de mercado. Sendo assim, as entidades não podem se omitir e precisam apoiar mais intensamente.

A Associação do Jersey, em seu projeto de marketing implantando desde o ano passado sob o slogan Jersey, a vaca do século XXI, considerou bastante todos os pontos levantados por Antonio Carlos. A entidade está lançando impressos em larga escala para melhorar o níveis de informação na ponta da cadeia do leite. Todas as ferramentas do projeto, como publicidade, palestras e discursos, estão interligadas a cumprem um cronograma. Antonio Carlos acredita em mudar a imagem da vaca de leite. Ela não é só branca e preta.

Uma contra ofensiva pode estar vindo da Associação do Holandês que, após um longo período de reestruturação, atendo ás novas exigências de lei, informatizando-se, inclusive, prepara-se para novas investidas. Segundo Rodolpho, agora a entidade está pronta para discutir e reordenar seus trabalhos de marketing. Enquanto isso, a Associação de Pardo-Suíço, que nos últimos quatro anos vem mostrando mais fôlego na sua divulgação, mercando presença e várias mídias especializadas, recentemente conclui um vídeo Institucional sobre a raça, para ser distribuído em escolas, universidades, institutos de pesquisa, casa de agricultura e sindicatos rurais. A mesma estratégia obteve bastante sucesso com um folder lançado em junho do ano passado.

Com mais ou menos sucesso, o certo é que as entidades de raça vão tentando acertar seus rumos e lugar na vida dos produtores. As diretorias são unânimes em dizer que não querem subsídio de Governo ou qualquer coisa dada, mas gostariam de ver as autoridades preocupadas com a produção de leite no País, por exemplo, criam meios e incentivos para ela crescer em volume e qualidade. O êxodo de produtores dos Estados de São Paulo não precisaria acontecer se houvesse uma contrapartida real do Governo Paulista ou, o controle leiteiro, por exemplo, sairia bem mais barato se as universidades aproveitassem as fazendas como campo experimental. Tudo a seu tempo… tudo nos passos do Brasil.

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