Pecuária

Canchim – maior espaço para o “touro nacional”

Assim os criadores de Canchim esperam disseminar a genética da raça no rebanho comercial brasileiro: oferecendo touros eficientes na reprodução a campo, capazes de produzir uma quantidade maior de novilhos precoces no cruzamento com o Nelore.

O cruzamento de touros Canchim e vacas nelores produzem bezerros com índices de ganho de peso imbatíveis. A afirmação é de João Paulo Marques Canto Porto, da Fazenda Santa Helena, em Jussara, Goiás, que integra a Ipameri Agropecuária. Ali, o criador mantém um plantel de 1,1 mil matrizes de seleção, entre 700 fêmeas PO e 400 A, além de 2,5 mil matrizes comerciais meio sangue Canchim X Nelore, em 4,5 mil ha.

Criador da raça há 18 anos, Porto explica que iniciou o rebanho motivado por bezerros que resultam do cruzamento entre animais Nelore e Canchim. A idéia foi produzir touros para utilização na propriedade. Entusiasmado com animais, o criador criou o esquema de cruzamento MA, que produz o Canchim MA, animal que reúne características da evolução genética e da injeção de novas linhagens de Charolês e de Nelore. O esquema MA foi homologado pelo Ministério da Agricultura em 92. Sabe-se que o Canchim resulta do cruzamento do Charolês com o Zebu, realizado pela empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade São Carlos.

O criador explica que o esquema MA consiste em uma série de cruzamentos. Inicialmente, cruza-se um touro Canchim com uma vaca Nelore, que resulta na vaca A. O touro Nelore com a vaca Canchim também produz a vaca A. Esta vaca, por sua vez, cruzada com um touro Charolês resulta no touro MA. O touro MA cruzados com a vaca MA produz o Canchim MA”. O sistema permite aproveitar o que há de melhor do Charolês, do Nelore e do Canchim”, garante.

Animado com a evolução da raça, ele lembra que dois momentos foram responsáveis pelo resultado atual. Em 92, quando era presidente da Associação Brasileira de Criadores do Canchim (ABCCAN), optou-se por novo padrão. A mudança constituiu em maior exigência quanto a características como conformação, fertilidade e algumas inovações, circunferência escrotal mínima dos touros.

Já, no ano passado, as exigências de padrão focalizaram a funcionalidade da raça, especialmente a produção de novilhos precoces a campo, resultante de cruzamentos com vacas zebuínas. Como conseqüência, ele aponta a divulgação e valorização cada vez maior da raça entre criadores brasileiros.

Os preços comprovam esse crescimento. Porto lembra que, em maio, touros a campo obtinham preços médios de R4 2,8 mil e fêmeas, R$ 2,4 mil. Desde 98, especialmente as fêmeas tiveram alta nos preços. Mais: o crescimento das vendas mostra o aumento do número de criadores, os principais interessados nas fêmeas.

Ele enfatiza que o cruzamento industrial a raça mais conhecida. Exatamente por isso, aposta na valorização dos preços. Essa opinião é reforçada por outro mercado que se abre ao Canchim: o cruzamento com as fêmeas F1, que mantém rusticidade dos animais.

A valorização estende-se também à distribuição geográfica dos animais. Tradicionalmente, o Canchim era criado em são Paulo, norte do Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás. Hoje, espalha-se também por Mato Grosso, Bahia e Tocantins.

Na opinião dele, os testes realizados em Joara, norte de MAto Grosso, em março deste ano, comprovam a rusticidade da raça. Ali, a Embrapa/Corte reuniu 87 novilhas meio sangue Angus e três touros Canchim e 87 novilhas meio sangue Angus e três touros Nelores, a campo, durante 90 dias. Os resultados de prenhes apontaram 96% para o primeiro grupo e 88% para o segundo.

Já o tripé composto por precocidade, rusticidade e maior adaptação ao clima tropical explica a opção de Irineu Lopes Machado pelo Canchim. Considerado líder de ranking expositor no ano passado e com grande chance de se repetir neste ano, Machado mantém plantel de 1,2 mil cabeças PO, das quais 700 matrizes e o restante bezerros, bezerras e garrotes, e 2 mil cabeças meio sangue espalhados por 1,4 mil ha da Fazenda Santo Antônio, em Angatuba, São Paulo.

Tradicional criador de Nelore, ele explica que, em busca da precocidade do gado no cruzamento industrial, utilizou animais Simental, Limousin, Santa Gertrudis e Machagiana. A melhor resposta foi obtida com o Canchim. Mais: a precocidade dos animais aliadas as técnicas de inseminação artificial e transferência de embriões permitiram o atual nível de evolução da raça. “Atualmente, os touros Canchim mostram-se ideais para a cobertura a campo, em razão da resistência e fertilidade”, assegura. Ainda assim, gostaria que a raça fosse mais propagada. Trata-se, portanto, do momento ideal para os criadores interessados em investir no Canchim, em razão dos preços.

Machado garante que os prços para animais a campo entre R$ 2 mil e R4 2,5 mil, para touros PO, e de R$ 1,2 mil a R$ 1,5 mil. A isso soma-se o fato de que animais meio sangue cruzados com vacas nelore produzem bezerros que na desmama valem 20% a mais no preço. Ele aposta no crescimento da evolução da raça, ao lembrar os estudos contínuos da Embrapa e das provas de ganho de peso, como a realizada pela Escola Superior da Agricultura “Luiz de Queiróz” (ESALQ), da Universidade de São Paulo, iniciadas há quatro anos.

Criterioso, explica algumas regras de manejo na Fazenda Santo Antônio. A Vaca é sacrificada, se produzir bezerros ruins por dois anos consecutivos. O intervalo entre parto deve ser de 12 a 15 meses. As fêmeas PO recebem inseminação artificial. E o plantel meio sangue, touro a campo. Animado com a procura por animais, explica que o Canchim, raça criada há mais de 50 anos, “trilha o caminho certo”.

O entusiasmo é compartilhado por Deniz Ferreira Ribeiro, presidente da ABCCAB, empossado em março deste ano e com mandato até março de 2004. Criador há dez anos e com animais registrados desde 92, Ribeiro explica que concentra a gestão em dois pontos principais.

O primeiro, consiste em ampliar a atuação da ABCCAN e divulgar a qualidade da raça Canchim, além de incrementar a utilização dos animais como grande contribuinte ao aumento de produtividade e melhoria de performance da pecuária de corte brasileira.

O segundo, idealizar um plano de trabalho, já em discussão, que envolva a associação e criadores para ações que desenvolvam o primeiro objetivo. “A idéia é fechar um programa no início deste segundo semestre”, assegura. “E, iniciar 2002 com um conjunto de ações”.

Complementam os planos a continuidade dos trabalhos de aprimoramento da raça. Para isso, a ABCCAN deve afirmar convênios e parcerias com entidades de pesquisa e desenvolvimento genéticos. Hoje, os trabalhos da associação concentram-se em atuação com a embrapa/São Carlos, Embrapa/Corte, ESALQ e técnicos franceses especializados em Charolês.

Ribeiro acredita que a produção de reprodutores Canchim revela a aceitação do animal no cruzamento industrial. A distribuição geográfica da raça que, há dez anos invade o Centro-Oeste, aponta novas áreas como Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.

Ele aposta também no crescimento em Mato Grosso, Pará e Rondônia. Na opinião dele, os preços, diferenciados para animais de elite e para animais comerciais, mostram-se reais e ao alcance de criadores que apostam em cruzamento industrial.

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