Pecuária

Nelore quer integrar cadeia da carne

As exigências do comércio mundial estão batendo á porteira das fazendas produtor de carne. Para o fornecimento de qualidade, a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil pretende integrar pecuaristas, instituições de pesquisas, frigoríficos e supermercados.

Animais de até quatro dentes, apresentando três a seis milímetros de espessura de gordura e peso de 16 a 18 arrobas. Esse é o perfil do gado desejado pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) para garantir a qualidade da carne das cabeças entregues aos frigoríficos. Baseada nos critérios do Fundepec, a entidade promoveu dois julgamentos de carcaças, no intuito de fomentar os aprimoramento características internacionais aos novilhos da raça. Em sua última edição, ocorrida no início de abril, no Frigorífico Gejota/Grupo Frigovita, em Promissão evento abateu 1.088 cabeças (952 novilhos e 136 novilhas), oriundas de 21 propriedades de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. De acordo com o presidente da ACNB, Carlos Viacava, trata-se do início de uma grande campanha, que pretende mostrar o Nelore como marca de carne. Afinal, a raça tem qualidade em escala industrial, além de ser considerado o gado do capim, sem a utilização de hormônios e antibióticos. Ou seja, é a carne brasileira.

Nesse sentido, o zootecnista e gerente executivo da ACNB, Eduardo Krisztán Pedroso, acrescenta que a iniciativa teve o objetivo de mostrar a importância do Nelore no desenvolvimento da pecuária nacional. Para esse trabalho, canalizou-se animais já terminados para o abate. Eles foram acabados a pasto, cada um em sua propriedade e manteve-se o processo de venda para o frigorífico. “Adequamos o regulamento á indústria, não o contrário. Os animais não sofreram qualquer tipo de preparação especial para maquiar os resultados do julgamento. A amostragem reflete com proximidade realidade brasileira do Nelore comercial. E o padrão de Nelore que abastece a indústria frigorífica, comenta ele, ressaltando que as fazendas participantes do julgamento apresentam níveis diferentes de tecnologia – “Mesmo assim, a raça conta com certa padronização, sem que seja necessário definir um sistema de produção único.

Na Fazenda Santa Luiza, por exemplo, de Monte Azul Paulista (SP), o proprietário Guto Blanco, diz que foi convidado a participar do concurso um mês antes de sua realização. Levou um lote de 18 machos inteiros, de 26 meses, alimentados, logo após a desmama, em pastejo rotacionado de Brachiária thanzânia, mias suplementação de 2 kg de polpa cítrica/dia, com sal mineralizado e proteinado. Não diferencie o tratamento desses animais, apenas selecionei cabeceira e alguns médios.

Com reconhecimento aos pecuaristas que toparam enviar animais para o julgamento, o Frigorífico Gejota aceitou a sugestão de se pagar 2% a mais pela arroba, caso ela estivesse enquadrada nos critérios de novilho precoce do Fundepec. Um acréscimo expressivo, que representou cerca de R$ 0,80/arroba, avalia Viacava.

Na opinião do engenheiro agrônomo e diretor de desenvolvimento do Frigorifico Gejota, José Amaral Wagner Neto, esse tipo de trabalho é significativo porque agrega experiências. Temos total interesse em desenvolver alianças mercadológicas, pois irregularidade na qualidade da carne aparece como grande problema da indústria. A busca pela padronização torna-se uma atitude importante, na medida que a melhoria da matéria-prima beneficiará toda cadeia da carne.

Os resultados serão apresentados em 1º de maio, em Uberaba, no recinto da Leilopec, onde será realizado o Leilão de Bezerros Nelore de Corte. Serão divulgados os resultados de Campeão e Reservado para as seguintes categorias: “Melhor Lote in vivo – Novilho”, “Melhor Lote de Carcaça – Novilha”, e “Melhor Carcaça – Novilha”.

Integração dos elos comerciais

Os trabalhos de avaliação são coordenados pelo professor Pedro de Felício, do Departamento de tecnologia de Alimentos, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp. Desde o primeiro julgamento, em setembro do ano passado, quando se abateu 679 cabeças, diz que ficou surpreso com marmorização da carne, requisito que se exige um mínimo de 3%, para se conseguir uma palatabilidade adequada. No entanto, segundo ele, o Brasil ainda está dando os primeiros passos no que se refere á cadeia produtiva da carne. “A detecção desse nível de marmorização, por exemplo, pode estar relacionado á melhoria na alimentação do gado, seja em pastagem, sal mineral ou suplemento energético. Mas é preciso pesquisas para se afirmar com precisão.”

Para ele, a comunicação também desenvolve um significativo papel para a melhoria dos segmentos envolvidos na cadeia. “A informação possui uma importante função no que se refere ás condições técnicas e comerciais. È a comunicação que capta e divulga as exigências do mercado e como elas podem ser atendidas.”

No entanto, Felício comenta que somente haverá sucesso em escala para essa iniciativa a partir do momento em que os diversos segmentos estiveram devidamente envolvidos com pesquisa e remuneração do produtor. “Existe muito conhecimento científico disponível, mas falta colocá-los comercialmente em prática.”

Diante disso, ele cita a necessidade de participação dos supermercados, que se tornaram o gargalo para o desenvolvimento dessa integração. “Eles deveriam introduzir o pagamento diferenciado pela qualidade da carne. Afinal, atuam na ponta da comercialização, diretamente com o consumidor. Temos dificuldades de fazer evoluir a padronização porque não existe incentivo nesse sentido. Os supermercados ainda se sentiram parte integrante da cadeia da carne.”

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