Agricultura

Arrozeiros fazem cobranças

Abertura do arroz, realizada no dia 18 março, dentro das dependência da Embrapa, localizada no município de Capão do Leão, vizinho de Pelotas, no Rio Grande do Sul, foi alimentada com diversos temperos. Contando com a presença do Ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Morais, o governador do Estado, Olívio Dutra, representantes políticos e presidentes de entidades de classe, como Antonio Paz, da Federação Associações de Arrozeiros, teve um clima de cobranças, desabafos e promessas.

O produtor de arroz está assustado com os baixos preços praticados no mercado, cerca de R$ 11,50 a saca, em média. Além disto, preocupado com as importações do produto, provenientes da Argentina e do Uruguai, promovidas pelo Governo Federal, justamente no momento de colheita da safra gaúcha, o que provoca mais ainda a queda de preços, via aumento de oferta.

Este aliás, era o ponto mais forte discórdia. Segundo PAZ, da Federarroz, não é admissível permitir a entrada de produto estrangeiro, sem estabelecer cotas. “Sabemos que os países vizinhos, estão com excedentes, mas nós também estamos colhendo uma safra que é das maiores e melhores dos últimos anos. E aí, como é que fica?, pergunta o dirigente.

Pratini de Moraes, ao responder a pergunta, disse que ele não seria responsável pelo término do Mercosul. E recomendou aos produtores realizarem encontros entre três países a fim de que encontrassem uma saída conjunto, para o problema. “O que está em minhas mãos e que já determinei, foi estipular preços bases de R$ 14,50 a saca, para o arroz agulhinha, por exemplo, para os leilões realizados pela Conab. E também, conseguimos a liberação de EGF, a fim de que os produtores possam cobrir as primeiras despesas da safra e, com isto, consigam segurar um pouco sua produção,em busca de melhores preços”, afirmou.

Tomando para si a função de mediadora, a Federação da Agricultura do RS, Farsul, foi quem organizou encontro entre os países. Na reunião realizada no final de março, em Montevideo, Uruguai, ficou acertada a formação de um grupo que irá acompanhar a comercialização entre países. “Para que sejam observados os preços mínimos, que garanta lucro ao produtor, iremos acompanhar os números de comercialização de arroz entre os países”, afirmou Carlos Sperotto, presidente da entidade. Segundo disse, tanto os argentinos quanto os uruguaios se comprometeram a manter a redução da oferta do produto, para dentro do Brasil. A primeira reunião deste colegiado será no final de abril, em Concórdia, Argentina.

“Não vi muita disposição dos argentinos e uruguaios de criarem cotas de exportação”, afirma o secretário de Agricultura e Abastecimento do RS, José Hermeto Hoffmann. Para ele, falta vontade política do Governo Federal no sentido de adotar medidas diferenciadas para este setor. “Acho que teremos dias sombrios pela frente”, conclui.

Sem esperar por ações negociadas, produtores de arroz de municípios fronteiriços com o Uruguai e Argentina, buscaram na justiça uma solução. Entraram com uma ação pedindo que fosse proibida a entrada do produto no Brasil. Na primeira instância, perderam, mas estavam recorrendo da decisão. Conforme alegam, a importação do produto, causa sérios prejuízos a atividade, através da queda dos preços. Também como forma de luta paralisaram a comercialização por período determinados a fim de conseguir uma reação nos preços. Ao que parece, a quebra de braços entre os vizinhos não vai terminar tão cedo. Os dois países possuem um excedente na sua produção de arroz e fica mais fácil exportar para o Brasil, devido as vantagens do Mercosul, que tentar buscar clientes em outros mercados. Até porque, praticamente todo o mundo, planta arroz.

Indústria investe na especialização

O consumidor está exigindo e a indústria busca atender a esta demanda. A falta de tempo para cozinhar mudou bastante o hábito de grande parte da família. Percebendo este nicho a indústria começa a investir em produtos pré elaborados. O setor do arroz também está passando por este processo. Não é um percentual significativo, mas empresas de porte entraram neste mercado. A Josapar, de Pelotas, RS, além da sua tradicional e famosa marca Tio João, lançou produtos a base de arroz, pratos de uma ou duas porções, com sabores pré determinados, ou com temperos.

A Santa Lúcia Alimentos, da Camaquã, RS, segue os mesmos os mesmos passos e além de colocar no mercado produtos pré elaborados, busca atender a determinados nichos de mercados.

“Estamos produzindo tipo de arroz que atendem aos desejos de determinados etnias”, afirma Maurivan Dalbem, diretor-presidente da empresa que é dona da marca Blue Ville. Com este trabalho, produzem arroz tipo italiano, Japonês, integral, arbóreo, entre outros, que segundo diz, são mais de 30.

O executivo afirma que a Santa Lucia foi uma das primeiras empresas a investir e produzir o arroz parboilizado, o que lhes proporcionou o domínio de 8% deste mercado específico que representa 20% de consumo. O restante 80% é do arroz branco comum. A companhia produz hoje, cerca de 220 mil toneladas/ano, envolvendo mais de mil produtores que precisam manter um nível de qualidade nas suas lavouras, bastante alto.

Dalben assinala que hoje, o nordeste é um dos mais fortes consumidores dos produtos Blue Ville. Em seguida vem o Rio Grande do Sul e depois o Rio de Janeiro. “Fomos os primeiros a industrializar estes tipos diferentes de arroz” ressalta, acrescentando que dentro do mix de produtos, 8% da produção é destinada ás grandes redes de supermercado.

De porte menor que a Santa Lúcia mas querendo brigar de igual com as outras, a Comercial Pitangueira, é um dos setores da agropecuária de mesmo nome, localizada em Itaqui, no extremo oeste do Rio Grande do Sul. O diretor presidente, Pedro Monteiro Lopes, afirma que existem planos para colocar no mercado a linha de pré elaborados, mas prefere galgar alguns passos antes. “Temos que ampliar nossa participação no mercado de arroz branco ainda”,ressalta.

A Pitangueira tem característica industrializar o arroz que eles mesmos plantam, com isto controlam o uso de agroquímicos na lavoura. Sua distribuição é em mercados do interior do Rio Grande do Sul e de São Paulo e a produção anual está em 600 mil fardos ano (cada fardo tem 50 kg). Existem a intenção de aumentar esta produção para 1 milhão de fardos ano (cada fardo tem 50 kg). Existem a intenção de aumentar esta produção para 1 milhão de fardos até o fim do ano 2001. “Para isto teremos que buscar alguns parceiros”, afirma.

Lopes diz que mesmo atuando de uma ponta a outra, seu ganho fica em apenas 3 a 5% ao ano, se comparar ao fato dele somente ficar como produtor. “Veja só, uso todo o tipo de tecnologia na produção, na industrialização e na venda para no fim, ganhar pouco”, reclama. Conforme diz, o governo Collor e depois e de Fernando Henrique, causaram sérios danos á agroindústria ao abrirem as portas do país, sem dar tempo de preparação para a concorrência. “Agora estamos enfraquecidos, precisando competir com empresas de capital estrangeiro, que têm mais fôlego, e não conseguimos ter qualquer vantagem”. Para ele, talvez o caminho seja o que exatamente as grandes empresas estão fazendo, fusões. “Quem sabe assim, poderemos lutar no mercado, com as mesmas armas”, provoca.

O presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul, Sindarroz, Nilo Trevisan, informa que atualmente, operam no estado cerca de 150 empresas beneficiadoras de arroz possuem marca próprias e outras trabalham para terceiros, principalmente supermercados, uma vez que cresce a demanda do varejo em colocar a sua marca em vários produtos. “80% do arroz gaúcho é beneficiado e tem no eixo Rio-São Paulo 40% do consumo”, informa. Trevisan diz ainda que as indústrias têm enfrentado um problema com relação a venda, uma vez que a concentração do varejo em uma grande empresa dificulta, muitas vezes,a negociação.

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