Agricultura

Abacaxi – só coroa não garante a nobreza

Segundo maior produtor mundial da fruta, com 1,717 milhão de toneladas/ano, o Brasil ainda perde espaço no mercado mundial pela má aparência que os abacaxis consumidores.

Transporte inadequado, com os frutos amontoados em carrocerias de caminhões ao invés de embalados em caixas/paletizados e sob condições de refrigeração. Também a falta de mudas de boa qualidade, livres de pragas e doenças, grande variação na densidade de plantio e pequenas capacidade instalada para beneficiamento. A soma de todos esses fatores tem feito o Brasil perder espaço no mercado internacional, que exige, antes de mais nada, produtos de qualidade. Para gravar situação, a produção nacional está concentrada na variedade Pérola, enquanto o mercado Externo ainda clama pelas variedades Smooth Cayenne e Queen – a variedade Pérola, predominante no Brasil, produz fruto cônico, com polpa branca e sabor pouco ácido em comparação com a variedade Smooth Cayenne, que possui fruto cônico, com polpa branca e sabor pouco ácido em comparação com a variedade Smooth Cayenne, que possui fruto cilíndrico, polpa amarela e sabor mais ácido.

Apesar dessas condições, nos últimos 20 anos, o abacaxi no Brasil ganhou maior rendimento produtivo, passando de 8.000 frutos/ha para 23.000 frutos/ha, devido a introdução de técnicas em algumas regiões do País, que passaram a utilizar ferramentas como a irrigação, adubação, a indução floral, o controle de plantas invasoras e a densidade de plantio. Mesmo assim, a liderança na produção mundial está com a Tailândia, que colhe 2,3 milhões de toneladas/ano do fruto. O Brasil vem em segundo com 1,717 milhões de toneladas/ano, seguido das Filipinas, com 1,5 milhões de toneladas/ano. informa o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, da Cruz das Almas (BA), José da Silva Souza.

Por sua vez, o pesquisador Clóvis Oliveira de Almeida, da Mesma instituição, comenta que o Brasil perde cerca de 30% dos abacaxis que produz. Dessa forma, considerando que a produção nacional atinge 1.071.121.000 de frutos, estima-se que 749.784.700 vão para a comercialização. O Brasil exporta pequena quantidade de abacaxi para a Argentina, Uruguai, Paraguai e Portugal. Em 1998 a exportação de fruta fresca foi de 13.003 toneladas, no valor de US$ 3.854.000,00 suco, com 1.836 toneladas, que somou US$ 2.640.000,00; e enlatados, 398 toneladas, gerando US$ 485.000,00. No mercado interno, o consumo domiciliar per capta/ano de abacaxi está em 1,078 kg, sendo 0,871 kg, em Belém; 3,298 kg, em Belo Horizonte; 0,742 kg, em Fortaleza; 1,800 kg, em Recife; 1,681 kg, no Rio de Janeiro; e 0,743 kg, em São Paulo. Ainda é possível aumentar o consumo do Abacaxi, aumentando a capacidade instalada para o beneficiamento da produção nacional, juntamente com uma distribuição de renda mais equitativa, ressalta Almeida.

Além disso, os pesquisadores revelam outros fatores que impedem a boa comercialização do abacaxi: o processo de formação de preço não transparente, á semelhança das demais frutas; uso do tratamento de indução floral para propiciar o escalonamento da produção e, conseqüentemente, maior regularidade na oferta do produto ao longo do ano; e, de modo geral, ponto de colheita inadequado. Para o pesquisador Aristóteles Pires de Matos, também da Embrapa Mandioca e Fruticultura, a incidência de doenças aparece como mais um fator que interfere no desempenho comercial da fruta. Dentre os principais ataques está a fusariose, uma doença causada pelo fungo Fusarium subglutinans, de ocorrência restrita ao Brasil e Bolívia. Este fungo ataca todas as partes da planta porém é no fruto que reveste-se de importância uma vez que um fruto infectado apresenta apodrecimento na região infectada, tornando-se imprestável para a comercialização e consumo.

Matos revela, ainda, que a murcha associada cochonilha Dysmicoccus brevipes é outro problema bastante sério da cultura do abacaxizeiro. Trata-se de uma infecção por vírus transmitido pela cochonilha. Uma planta atacada apresenta crescimento reduzido, coloração avermelhada e, em produzindo um fruto o mesmo será pequeno e sem valor de venda.

Apesar do mercado internacional ter adotado a variedade Smooth Cayenne, conhecida popularmente como abacaxi havaiano e, nos países de língua francesa, como Caien Lisse, o abacaxi Pérola, o mais plantado no Brasil, começa a cavar seu espaço nos negócios mundiais da fruta. A principal dificuldade na exportação, no entanto, é o aspecto de sua casca, que mesmo com o fruto maduro permanece verde. Para resolver esse problema, técnicas de amarelamento da casca tornou-se uma das principais metas do trabalho encomendado á Embrapa pelo Programa Brasil em Ação.

Alguns estudos já começaram a ser feitos com a aplicação de uma substâncias chamada Etrel, faltando definir os padrões de concentração do produto, assim como sua utilização na pré e pós colheita. Em todos os testes de degustação feito com o Pérola na Europa, verifica-se a boa aceitação da variedade, cuja provável desvantagem é o aspecto estético, já que os europeus estão habituados a consumir o Smooth Cayenne, diz o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Luiz Francisco de Souza.

Atualmente, o Pérola vem sendo exportado para países do Mercosul, principalmente Argentina, por produtores do Espírito Santo. Com uma área plantada de 50.149 hectares (dado de 1998), a produção nacional alcançou uma produção de 1,6 milhão de toneladas, de acordo com levantamento da FAO. Minas Gerais, Paraná e Paraíba aparecem como as principais regiões produtoras, respondendo por aproximadamente 60% da produção brasileira. O Estado de Tocantins vem aumentando significativamente sua participação, com perspectivas de ser tornar um grande fornecedor da fruta, tendo atingindo, em 1998, uma produção de 31.566 toneladas.

A Smooth Cayenne é a cultivar mais plantada no mundo, chegando a ser considerada a rainha das cultivares de abacaxi. No Brasil, essa variedade foi introduzida pela primeira vez na década de 30, desembarcando em São Paulo e, posteriormente, difundida para outros Estados, como Paraíba, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e Bahia. Regiões onde, a partir da década de 60, assumiu crescente importância econômica. Estima-se que a variedade Smooth Cayenne representante cerca de 70% da produção mundial de abacaxi, ela não passa dos 20% da plantação nacional.

Sendo assim, a exportação do abacaxi Pérola deve tornar-se uma vantajosa janela mercadológica para os produtores brasileiros. A viabilidade do negócio foi detectada em 1998, quando um grande produtor paraibano resolveu fazer um teste de mercado, levando algumas caixas do Pérola para importadores na Espanha. Isso para importadores ma Espanha. Isso porque a Cayenne, com frutos de até quilos, se encaixa perfeitamente ás exigência, de processamento de sucos e compotas. Já para o mercado de frutos in natura o padrão ideal tende ser cada vez mais compactos. O consumo de variedades com sucesso ou fracasso para o abacaxicultor que queira entrar no mercado internacional da fruta. Em alguns casos, o ideal para o produtor é que o abacaxi possa ter especificações tanto para o mercado de consumo in natura, quanto para a indústria, garantindo-lhe várias opções de comercialização de sua produção. Nesses casos o fruto deve ter as seguintes características: peso variando de 1,5 kg a 2,5 kg; forma cilíndrica; polpa amarela, firme mas não fibrosa; casca firme para suportar o transporte; teor de açúcar elevado (Sólido Solúveis Totais em torno de 16ºB); acidez moderada (acidez titulável entre 5,5 a 10 meq/100ml) em torno de 12,0 meq/100 ml; teor de ácido ascórbico (vitamina C) elevado; sabor agradável, explica Renato Cabral, da Embrapa Mandioca e Fruticultura.

Porém, de acordo com ele, é difícil encontrar uma cultivar de abacaxi que reúna todas essas características. Assim, os produtores devem procurar cultivares com características voltadas para mercados específicos. Dentre as cultivares conhecidas, por exemplo, a Smooth Cayenne apresenta um fruto adequado. tanto para consumo ao natural quanto para a industrialização, sendo considerada a cultivar que possui a melhor performance face as suas características, o que explica porque é a cultivar mais usada no mundo para plantios comerciais.

Os recursos do Brasil em Ação, que em cinco anos poderão chegar a R$ 50 milhões,vão financiar ainda pesquisas visando a produção do abacaxi em período fora da safra tradicional da cultura, que no Brasil se concentra entre os meses de setembro e janeiro. Em condições irrigadas a cultura pode produzir praticamente o ano inteiro. A ideia é viabilizar soluções no sentido de aumentar a exportação de frutas brasileiras produzidas na região semi-árida, aproveitando as diferenças sazonais como vantagem competitiva no mercado internacional, diz Sizernando Oliveira, chefe geral da Unidade da Embrapa na Bahia.

O Abacaxi que a pesquisa deseja

Para a planta: crescimento rápido; porte semi-ereto; pro-dução precoce de mudas do tipo rebentão; poucas mudas tipo filhote (menos de quatro) – as que houverem, devem ficar localizadas a mais de 2 cm de base do fruto; folhas curtas, largas e sem espinhos; pedúnculo curto e de diâmetro capaz de manter o fruto até sua maturação.

Condições gerais: a variedade deve apresentar alto rendimento e ser resistente ás principais pragas e doenças comuns á cultura. No Brasil, o combate maior é para a doença, conhecida como fusariose ou gomose.

As principais características que se busca numa variedade de abacaxi são:

Para o fruto: peso entre 1,5 e 2,5 kg; cilíndrico; maturação homogênea de base para o ápice, “olhos” grandes e planos; coroa pequena a média; casca com consistência suficiente para suportar o transporte; polpa amarela e pouco fibrosa; teor elevado de sólidos solúveis (Brix superior a 16º); acidez moderada (entre 5,5 e 12,0 m.e.q %); teor elevado de vitamina C.

O Abacaxi do Frio

O litoral Norte Rio Grande do Sul está se mostrando uma região promissora para o cultivo do abacaxi. Também o lado Noroeste do Estado, divisa com a Argentina e com Santa Catarina, aparece como uma área onde a cultura possa se desenvolver. Em comum, essas duas regiões apresentam inverno não muito intenso, com geadas fracas e raras. De acordo com o gerente do Escritórios de Negócios de Passo Fundo 9RS), da Embrapa Negócios Tecnológicos, Airton França Lange, as condições climáticas mais amenas faz com que a planta demore cerca de 24 meses para dar frutos, enquanto que o normal varia de 14 a 18 meses, em áreas de clima quente. As temperaturas mais baixas retardam o crescimento, reduzem a absorção de nutrientes e, conseqüentemente, a produção. No entanto, com a introdução de novas tecnologia, a produção de frutos no Estado pode ser reduzida para 18 meses. Atualmente, o Rio Grande do Sul conta com um plantio de 350 ha de abacaxi, sendo que o Pérola é o mais cultivado. Um convênio da Embrapa/ Passo Fundo (RS), Embrapa/Cruz das Almas (BA), Emater/RS e Associações dos Produtores de Abacaxi de Terra de Areia/RS está testando três híbridos de Abacaxi no material para condições climáticas mais frias. No início de 2001, serão divulgados os dados sobre o comportamento dessas variedades em terras gaúchas.

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