Pecuária

Prevenção dos abortos gera economia à fazenda

Até 1996, a Fazenda São Pedro (Itaquiraí, MS) convivia com um incômodo prejuízo anual cerca de 7% nos nascimentos por conta de abortos e natimortos. Estruturada para cria, recria e engorda, com 1.700 fêmeas nelore cruzados européias, a propriedade de Zelo de Brida precisava ser eficiente em cada atividade para fechar o balanço com resultado financeiro positivo. “Mas a perda de até 150 bezerros/ano por conta de problemas reprodutivos pressionava nossas contas”, revela Zelmo.

Algo precisava ser feito, e rápido. A decisão foi radical. Sob o comando do filho Fabiano, médico veterinário formado em Londrina, com experiência em reprodução, a São Pedro iniciou um amplo processo de reestruturação em todos setores. Na genética, a fazenda passou a fazer parte do Programa de Avaliação e Identificação de Novos Touros (PAINT), objetivando participar de um grande banco de dados com 20 mil matrizes, a custo viável, e agregar valor aos machos com a venda de animais certificados, ale de decidir concentrar o seu investimento no cruzamento de nelore com Red Angus. Na nutrição, renovou os pastos e melhorou a qualidade protéica e energética da alimentação oferecida ao rebanho. Na administração, passou a participar do GRETA, programa de gerenciamento de empresas rurais a partir da gestão do ano agrícola, adequou e treinou sua mão de obra e redefiniu as áreas destinadas à produção. Na sanidade, onde estava um gargalo importante do projeto da São Pedro, especial atenção foi dada à prevenção dos abortos – antes de 1996, por três anos consecutivos foram feitos exames de brucelose (todas as matrizes no primeiro ano, 50% e 20%, nos outros dois anos) -, com início de um programa estratégico de vacinação para defender as fêmeas das doenças reprodutivas, em especial as temíveis Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR), BVD, BRSV, PI3 e leptospirose, além de carbúnculo e para as fêmeas antes da desmama a vacina de brucelose.

“A pecuária moderna exige que o criador analise os investimentos com base em números. È o resultado que deve guiar os passos do empreendimento. Quando decidimos mudar a forma de administrar a fazenda, avaliamos todos os custos envolvidos e os benefícios que poderiam ser conquistados. Concluímos que o projeto valeria à pena se envolvesse todas as áreas. Ajustamos o manejo, com reforma e rotação das pastagens, melhoramos a genética, inclusive com a utilização de sêmen livre de IBR. Esse trabalho estaria comprometido se não fosse priorizado o controle sanitário, especialmente com avaliação contra doenças reprodutivas”, explica Fabiano de Brida.

Menos de três anos após iniciar o que chama de verdadeira revolução na Fazenda São Pedro, Fabiano já comemora resultados bastante satisfatórios. Os prejuízos com abortos e natimortos reduziu-se drasticamente com o uso de vacina viva com vírus IBR termo sensível, segura para vacas prenhes e fêmeas de todas as idades. “Percentualmente, o desempenho da São Pedro foi espetacular. Há dois anos, perdemos 12,3% dos nascimentos; no ano passado esse índice despencou para apenas 1% e em 99 subiu ligeiramente para 2,14%. Vale ressaltar que na safra 98/99 estamos considerando a entrada no rebanho total da fazenda de 2.610 novilhas de terceiros”, informa Fabiano de Brida. “É um resultado altamente satisfatório, que respalda o investimento em sanidade, nutrição, genética e manejo”, completa.

Especialmente em sanidade, Fabiano ressalta já há retorno econômico. Nas contas da safra 97/98, verificou-se equilíbrio. Os recursos aplicados na aquisição da vacina contra doenças reprodutivas foram equivalentes ao valor de vendas dos animais nascidos e, portanto mantidos na propriedade. Mas, está exatamente nesse ponto de indicador favorável à imunização dos animais. “Podemos manter os animais na fazenda, evitando abortos e natimortos. Só este fato já justificaria o investimento na vacinação porque tivemos condições de ampliar o nosso rebanho, obviamente melhorando a sua qualidade genética”, ressalta Fabiano de Brida. No balanço financeiro fechado no mês passado, a Fazenda São Pedro computa uma economia superior a R$ 20 mil entre o custo de vacinação e a perda de 250 bezerros, como ocorreu na safra de 96/97. Esse resultado, aliás, foi importante para comprovar a viabilidade do investimento ao pai, Zelmo de Brida. “Conta números não há argumentos. Verificamos aqui na São Pedro que é vantajoso economicamente prevenir o aparecimento de doenças reprodutivas e melhoria do manejo, da administração e da nutrição”, ressalta Zelmo.

Fim da recria

Na ponta do lápis, os donos da São Pedro concluíram que a atividade da fazenda é a cria. De acordo com os critérios do programa de gerenciamento do GRETA, a eficiência produtiva da propriedade na fase de cria é de 330 kg/há contra 300kg/há da engorda a pasto mais confinamento (dados coletados gestão 97/98). Por conta desse resultado, as atenções voltam-se para a verificação da produção. A tendência é acabar com o estágio intermediário, intensificando as etapas iniciais (cria) e final (confinamento) de produção. Os objetivos do médio e longo prazo para a cria é a parição aos 2 anos de idade – atualmente, obtemos 76% de prenhes nas fêmeas cruzadas e 5% para as nelores -; a renovação periódica dos touros é feita por machos com CEIP )Certificado Especial de Identificação e Produção), ressaltando sempre Dep´s positivas, precocidade, musculosidade e fertilidade – todos são filhos de fêmeas paridas aos 2 anos de idade. Quanto à etapa final, a Fazenda São Pedro mantém área de confinamento de 32 MIL m2. Os animais são divididos em lotes de acordo com padrões específicos, como ganho de peso, peso médio e sexo – as fêmeas que não emprenharam nas estações de monta natural e por inseminação também vão para o abate. Até meados de outubro, o confinamento recebe 1.570 animais. No cocho, eles recebem um composto de cana picada, milho, farelo de soja, poupa cítrica, melaço, uréia e suplementação mineralizada. Os animais mais jovens (superprecoces entre 12 e 14 meses) ganham em média 1,4 kg/dia, os precoces mais erados engordam 1,25 kg/dia e as fêmeas, de 0,95 a 1 kg/dia. Demonstrando firmeza na decisão de aprofundar o trabalho para reduzir o tempo de abate na propriedade, Zelmo de Bida está iniciando a construção de outra área de confinamento com dimensões equivalente à atual.

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