Pecuária

O Boi Visto Matéria-Prima!!!

A qualidade das peças de um automóvel responde por sua própria qualidade. Pelas peças, quem responde é a matéria-prima utilizada – a qualidade das ligas-metálicas, por exemplo. No caso da pecuária, o fundamental para a alta produtividade é o material genético trabalhado. Este é o entendimento de Antônio Magno Garcia Ribeiro, pecuarista no norte do Paraná ( região de terra roxa), município de Bandeirantes, proprietário da fazenda Vitória.

Quando o pecuarista adquiriu a Vitória, em 1989, o fez de porteira fechada, com o seu projeto, o passo seguinte seria escolher uma raça européia como fonte de matéria-prima para o cruzamento. A escolha se deu após a formação de cruzados das raças Pardo-Suíço, Simental, Red Anguns, Limousin e Aberdeen, de modo que pudesse observar a performance de cada uma das cruzas. Basicamente, os produtos com sangue Pardo-Suíço e Simental apresentaram o melhor ganho de peso no primeiro ano de vida, porém com queda bastante considerável na fase de terminação, desempenho que os tirou dos planos de Magno.

Já os produtos Red Angus, Limousin e Aberdeen não criavam tão bem quanto os Pardo-Suíço e Simental, porém da desmama ao abate apresentaram um desenvolvimento muito positivo, com destaque para a precocidade do Aberdeen, que chega a terminação mais rápido. Na desossa da carcaça do Limousin, porém, observou-se sempre uma maior produção de carne e couro. Este dado acompanhado aos fatos de que as perdas de bezerros e as infestações por endo e hectoparasitas eram sempre menores entre os cruzados Limousin levaram Magno a optar pela seleção a raça ou cruzamento industrial a partir do seu material genético.

Contudo, Magno faz questão de frisar que sua maior paixão não é por esta ou aquela raça, mas pela pecuária; tanto que afirma: “se um dia o Limousin deixar de atender minhas expectativas de trabalho, imediatamente procuro outra raça para explorar”, mostrando suas raízes de empresário do setor industrial, que quando está descontente com um fornecedor, não pensa duas vezes em trocá-lo para melhor empreender seu negócio.

Escolhido a raça, Magno foi conhecer seus celeiros genéticos: Estados Unidos, Canadá e França. Adquiriu animais nos três países e formou sua base plantel, tendo como multiplicador a transferência de embriões cirúrgica – conduzida pelos veterinários Antônio Celso Lapenta Janzantti, o Totó, e José Bim Neto – a inseminação artificial com sêmen de touros testados e a cobertura a campo, com reprodutores próprios.

Os critérios de seleção ou os requisitos do controle de qualidade dos produtos da Vitória estão definidos para atender as necessidades do mercado, conforme explica Magno. Para ele, a pecuária de corte brasileiro, basicamente, ainda é extensiva. Isto pressupõe animais que caminhem bem, que tenham boas pernas, que sejam mais altos para cobrir com eficiência as fêmeas logo, o primeiro passo foi elevar a estrutura dos animais.

Outra preocupação do selecionador é de equilibrar a traseira e a dianteira do animais e de colocar-lhes cobertura muscular harmônica. Na opinião do criador, um dianteiro bem desenvolvido indica um animal mais saudável, que respira melhor e apresenta mais espaço para comportar o seu rúmen. Um dianteiro mais aberto apresenta uma linha de dorso mais comprida e, consequentemente, cortes nobres de maior volume, espessura, afirma. Magno faz questão de frisar que seu objetivo não é criar animais de esqueleto grande, características que retardaria sua terminação. Para ele, a precocidade é fundamental, desde que ela não atrapalhe a eficiência dos animais no trabalho a campo. Isto significa que não adianta um animal pronto aos 18 meses, com pernas curtas e dianteira frágil, pois este é um animal ineficiente na vida reprodutiva em moldes da pecuária extensiva.

Magno entende que a precocidade é muito bem vinda desde que os animais preencham os requisitos necessários ao que o mercado precisa. Logo, a precocidade é um critério quase secundário. Vale lembrar que a Vitória possui animais das linhagens precoces, super precoces, alto e elevage, que trocam material entre si. O importante é a precocidade reprodutiva. Animais com esta características, necessariamente são excelentes ganhadores de peso. Outro critério importante é a capacidade do animal na produção de sêmen e forte libido. Um touro com grande apetite sexual ou grande produtor de sêmen para inseminação artificial, reduzem sensivelmente custos de reprodução. A circunferência escrotal e o DEP – Diferença Esperada de Progência, também são mensurados no rebanho.

Entre as fêmeas, a habilidade como doadora de embriões se sobrepõem á morfologia. Magno observou que é mais fácil encontrar uma fêmea excelente doadora, mas com conformação não tanto desejável, do que uma campeã de pista boa doadora. Então, a habilidade como doadora e melhora o tipo. Assim, uma boa fêmea da Vitória é antes de mais nada, uma fábrica de animais. Este requisito de qualidade estabelecido por Magno mostra o quanto seu trabalho de seleção está baseado no trabalho com as fêmeas. Para ele, sem grandes fêmeas não eficiência na seleção dos machos. Outro critério para as fêmeas é aquele de derrubar uma cria por ano. Magno vai mais longe e diz que uma boa vaca tem um bezerro ao pé, outro na barriga e saúde para ciclar imediatamente após o parto. Na conta do pecuarista, são três bezerros/anos. Atualmente, segundo Magno todas as vacas da Vitória atendem este critério.

Atendendo a estes critérios de seleção, a Vitória vai abrindo seu leque de produtos e ampliando a formação de receita. Além dos tourinhos indicados para o cruzamento industrial, dos animais de seleção (machos e fêmeas), a transferência de embriões permitiu que a Vitória pudesse oferecer também embriões, com receptora ou não. Assim como a TE acabou por abrir mais um produto, a coleta de sêmen dos touros da Fazenda exigiu que Magno também instalasse uma central, estruturando mais um produto.

Fazendo um balanço dos negócios da Vitória e projetando seu crescimento, Magno acredita que sua pecuária está se tornando um negócio tão rentável quanto os outros que dirige. Na época em que escolhia uma raça para obter sua fonte de matéria-prima, chegou a produzir e vender num único ano 700 tourinhos a US$ 200 cada. Com substituição por produtos puros Limousin, já em 1996, o pecuaristas comercializou 150 machos entre 1 e 2 anos por R$ 3 mil, em média, o que projeta uma receita de R$ 450 mil.

No negócio envolvendo embriões, de uma produção de 500 estruturas, viáveis em 96, apenas 30 foram comercializadas, pois o processo de multiplicação do rebanho não permitiu maior oferta. Mas neste primeiro semestre de 97, a Vitória deve vender em torno de 300 estruturas, de uma produção estimada em 1.200 embriões. O preço varia conforme a qualidade do material genético cerca de 20% da oferta consiste de embriões com preço em torno de R$ 2 mil. Outros 30%, o valor é R$ 700 e o restante de R$ 400. Em 96, foram realizados de 21 coletas, em cinco fêmeas na média ( 100 doadoras integram o lote), que produziram quatro estruturas viáveis por animal. Em 97, outros 21 coletas serão realizadas, só que em 13 fêmeas, na média. O índice de obtenção de embriões viáveis já subiu para 7 por vaca.

As fêmeas de seleção da Vitória começam a entrar no mercado, uma vez que o plantel começa a se estabilizar. Em 96, apenas duas foram vendidas. Em 97, porém, Magno acredita que termine o ano com 15 novilhas vendidas. Até aqui, está mantida a média de R$ 5 mil por cabeça. A Central de Sêmen Vitória também já está faturando. Em 97, a produção projeta três mil doses. Cerca de 15% delas são proveniente de animais `top`, e este sendo comercializadas por R$ 5,00 cada. O restante do sêmen sai por R$ 3,00 a dose. Para o pecuarista, o uso de inseminação artificial no cruzamento industrial deve crescer muito nos próximos anos.

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