Opinião Pecuária

Os sete hábitos dos confinamentos altamente eficazes

Por Eduardo Batista* – O indicador de maior correlação com o lucro marginal de uma operação de confinamento é a conversão alimentar, comumente chamada de eficiência alimentar, que é expressa em kg de matéria seca (MS) ou @ produzida. Os TOP 20% melhores confinamento do Benchmarking da Cargill de 2020 tiveram uma eficiência biológica, para machos inteiros, de 136,6 kg de MS / @ produzida  versus 151,7 kg na média geral do mercado, ou seja, as operações mais eficientes produziram uma @ com 15,1 kg de matéria seca a menos do que a média do mercado. O benchmarking é uma ferramenta poderosa de diagnóstico que pode nos mostrar quais indicadores devem ser focados para melhorar o seu negócio. Mas, de nada adianta olhar para os números sem traçar planos de ações para os desvios encontrados. Visando ajudar nossos parceiros a compreender o que os mais eficazes fazem de diferente, nós elaboramos um treinamento, que circulou os quatro cantos do Brasil, intitulado “ Os 07 hábitos dos confinamentos altamente eficazes”. São eles:

1º Hábito: Engajamento da equipe

A atividade de confinamento é altamente dependente de mão de obra, quase 100% das operações dependem do fator humano, isso traz um grau de incerteza elevado para a atividade. Apesar disso, uma coisa é unânime nas operações mais eficazes, elas têm uma equipe altamente engajada. Três hábitos relacionados à gestão de pessoas que sempre encontramos nos confinamentos mais eficazes: ambiente de trabalho – são lugares onde as pessoas sentem orgulho em trabalhar e o turnover de pessoas é muito baixo, remuneração por desempenho – meta de desempenho e remuneração variável atreladas as metas do negócio e por último, desenvolvimento – nesses confinamentos as pessoas são estimuladas a se desenvolverem profissionalmente. Esse é o hábito mais importante dos confinamentos mais eficazes, desenvolver uma equipe altamente engajada, com grau elevado de satisfação pessoal e profissional – o resultado dessa ação é o alto desempenho.

2º Hábito: Adaptação

Essa é a fase mais crítica durante o período de confinamento, os animais são submetidos a vários desafios: stress alto ( transporte, apartação, manejo sanitário. etc), fadiga, desidratação e inanição são comumente relatadas e os animais são expostos a novos alimentos, novos patógenos, frio, calor, chuva, barro, poeira. Aliado a esses fatores o rúmen dos animais ainda não está preparado para digerir uma dieta mais rica em alimentos concentrados, isso impacta de sobremaneira o consumo da dieta nos primeiros dias de confinamento. Por esses motivos é nessa fase que os animais mais adoecem e onde ocorre o maior índice de mortalidade. Os mais eficazes têm como objetivo adaptar a mente, o rúmen e os tecidos dos animais. Fazer com que os animais comam, fornecendo alimentos conhecidos pelos animais, uma dieta com maior participação de volumoso que tenha um bom aroma e palatabilidade; O rúmen: fornecer uma dieta de adaptação aliado ao bom manejo de cocho que permita uma boa digestão e absorção dos nutrientes, preparar a flora ruminal de forma gradativa para digestão de volumes maiores de carboidratos não fibrosos; e os tecidos: repor as perdas de micro, macrominerais e vitaminas ao qual os animais foram submetidos durante o estresse de transporte e apartação.

3º Hábito: Estrutura e Equipamentos

Estrutura bem dimensionada e equipamentos adequados trazem um desafio menor a atividade, nestes incluem – se os itens; estrutura de currais, tamanho e tempo de formação dos lotes, dimensionamento de comedouros e bebedouros; equipamentos de fabricação de dietas e misturadores. A qualidade de mistura, por exemplo, é uma das etapas de maior impacto no resultado de um confinamento. WAGNER et al. (1988), comparou o desempenho de lotes de animais confinados consumindo uma dieta misturada de forma correta contra um controle com uma mistura considerada ruim. O resultado foi altamente significativo e os animais que consumiram a dieta com boa mistura tiveram uma conversão alimentar 12,14% melhor do que o lote controle. Portanto, o Check da qualidade de mistura e eficiência na fabricação das dietas é uma rotina diária que deve ser implementada naqueles que buscam a melhor eficiência.

4º Hábito: Processamento de grãos ( Milho ou sorgo )

O principal nutriente do milho e sorgo é o amido sendo este responsável pela maior parte da energia desses ingredientes, o problema é que o amido desses grãos é envolto por uma matriz proteica insolúvel, o que por sua vez, diminui a digestão do amido pelos microrganismos ruminais, dessa forma, parte da energia desses ingredientes é perdida caso os mesmos não sejam processados. O objetivo, portanto, do processamento desses grãos é aumentar a superfície de contato do amido aumentando sua digestibilidade. Uma das formas mais eficazes de processamento de milho é fazer a silagem de grão úmido, que consiste na ensilagem do grão de milho com alta umidade ( 38% de umidade), dessa forma, enzimas proteolíticas advindas do processo de ensilagem, irão quebrar a matriz proteica tornando o amido mais exposto à ação dos microorganismos ruminais. Trabalhos publicados no meio acadêmico brasileiro relatam  significativa melhoria na conversão alimentar, alguns deles relatam melhorias acima de 15%, para  animais confinados com silagem de grão úmido versus milho grão seco moído.

5º Hábito: Manejo de cocho

Manejo de cocho consiste na adequação da quantidade de alimento fornecido a quantidade que os animais conseguem ingerir. Ao longo do confinamento o consumo de dieta pelos animais passa por fases distintas. Nos primeiros dias o consumo é baixo, em seguida os animais entram numa fase de consumo crescente, ocorre uma fase de estabilização de consumo e por último vem a fase de redução ou queda na ingestão de dieta. Nos confinamentos com manejo de cocho mais eficiente a decisão da quantidade de dieta a ser fornecida em cada uma dessas fases, depende de uma série de informações, dentre as quais destacamos: – quantas horas o lote permaneceu com cocho limpo, comportamento dos animais ao primeiro trato, quantos dias de cocho,  histórico de consumo e ajustes nos dias anteriores, desvios no fornecimento nos dias anteriores, se houve algum tipo de ocorrência como ( quebra de equipamentos, troca de dietas, movimentações, chuva, oscilação brusca de temperatura. Etc). O manejo de cocho é uma decisão diária que está 100% nas mãos das pessoas envolvidas nesse processo, portanto capacitar e reciclar  constantemente os colaboradores envolvidos, eleva o grau de assertividade dessa tarefa e traz melhores resultados.

6º Hábito: Maturidade gerencial

A liderança de uma atividade de confinamento deve ter como princípio o planejamento das atividades, saber claramente quais são os indicadores chaves do seu negócio, traçar metas claras e bem definidas e ter um método, que são as sequências de ações para se atingir o resultado desejado. Liderar é atingir o resultado através das pessoas, portanto o líder deve investir uma parte substancial do seu tempo no desenvolvimento de sua equipe. Um confinamento com gestão madura tem seus processos chaves padronizados, rotina estabelecida de checagem dos indicadores, e traça planos de ações para os principais desvios encontrados.

7º Hábito: Ponto ótimo de abate

Saber exatamente qual o momento ideal para o abate de cada lote é um desafio para o confinador. Hoje em dia, felizmente, temos disponível em nossas mãos o Forecast da Cargill, uma ferramenta de modelagem matemática que estima com precisão o ganho de peso diário  dos animais, levando em consideração o consumo de energia líquida de ganho e de manutenção  em cada período no confinamento. Ao imputar os dados de mercado como: preços @ de entrada, preços estimado de venda dos animais, custo operacional, bem como os preços e os consumo de cada ingrediente semanalmente, o Forecast prediz o peso atual, o ganho médio diário na última semana de confinamento, bem como a margem líquida de cada lote na última semana. Com essa ferramenta em mãos, o confinador na hora de definir sua escala de abate, pode segurar os lotes com maiores margens no último período de confinamento e enviar para o frigorífico aqueles lotes onde a margem já está em declínio.

(*) Eduardo Batista é Consultor Técnico Nacional da Cargill Nutrição Animal

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