Agricultura Destaques

Pesquisa desenvolve pimenta habanero de cor amarela

A cadeia produtiva de pimentas ganhou mais uma opção de cultivo e, com ela, a possibilidade de os produtores reforçarem a renda pelo aumento da oferta de um produto com características diferenciadas.

A pimenta BRS Araçari, desenvolvida pelo Programa de Melhoramento Genético de Capsicum (pimentas e pimentões) da Embrapa Hortaliças (DF), veio juntar-se à BRS Juruti, de cor vermelha, e à BRS Nandaia, alaranjada, primeiras cultivares nacionais de pimenta habanero, lançadas em 2016. A nova pimenta produz frutos amarelos, quando maduros, e apresenta baixa pungência (ardor) – em torno de 5 mil SHU (Unidade de Calor Scoville), que mede o grau de pungência das pimentas. Um teor considerado incomum quando comparado com as outras cultivares do grupo: a BRS Juruti apresenta 260 mil SHU e a BRS Nandaia, 200 mil SHU.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Cláudia Ribeiro, coordenadora do programa, a coloração amarela e o aroma pronunciado dos frutos distinguem a BRS Araçari das demais cultivares de pimenta habanero disponíveis no mercado brasileiro e tem potencial para atender o mercado de frutos frescos e nichos de mercado voltados para produtos diferenciados à base de pimentas, como molhos, geleias, chutneys, mostardas, patês e outros. “Como no Brasil o consumo da pimenta in natura, apesar de crescente, ainda é baixo, as demandas dos agricultores referem-se, de modo geral, à oferta de uma matéria-prima de qualidade, com foco na indústria de processamento”, revela a pesquisadora.

Segundo ela, esse é justamente o maior desafio do programa de melhoramento genético, que “deve considerar as demandas dos produtores, em sua grande maioria de base familiar, e da indústria processadora, ao mesmo tempo em que avalia os nichos e as oportunidades do mercado”.

Planta alta para colheita manual e mecanizada

Com base nessas perspectivas, a BRS Araçari apresenta um conjunto de características que prometem ir ao encontro das demandas elencadas por Ribeiro. Suas plantas são vigorosas, de porte elevado, o que favorece as colheitas manual e mecanizada, é precoce e tolerante ao frio e mostra alto rendimento em cultivo protegido, além da excepcional qualidade sensorial (tamanho, cor, sabor e aroma) e alto teor de vitamina C – 177,4 mg/100 g de fruto.

No quesito produtividade, em cultivo convencional na Região Centro-Oeste, a BRS Araçari produz em média 13 t/ha em campo aberto e 36 t/ha em cultivo protegido, em três meses de colheita, com uma população de 25 mil plantas/ha (espaçamento de 1,0 m entre linhas x 0,40 m entre plantas). “A diferença observada entre os dois tipos de cultivo mostra que é uma cultivar que se adapta melhor em ambientes protegidos”, sublinha a pesquisadora.

A nova pimenta também apresenta resistência aos nematoides-das-galhas Meloidogyne incognita e M. Javanica, espécies importantes que provocam danos à cultura. Além da resistência intermediária a bactérias do complexo Ralstonia, causadora da doença murcha-bacteriana. Ribeiro lembra que cultivares com resistência a doenças ocupam lugar de destaque entre as principais demandas dos produtores.

“A utilização de variedades resistentes, associada a boas práticas culturais, é muito importante para o controle dos nematoides e da murcha-bacteriana, daí a importância de o produtor contar com um material que apresente essas características”, acentua.

A pimenta BRS Araçari é exigente em calor, tolerante a baixas temperaturas e sensível a geadas. Em regiões mais frias deve ser cultivada, preferencialmente, nos meses de altas temperaturas que favorecem a germinação das sementes, o desenvolvimento da planta e a frutificação.

Para cultivos convencional e orgânico

De acordo com a pesquisadora, a cultivar foi desenvolvida para o cultivo convencional e encontra-se em processo de avaliação em cultivo orgânico para que, conforme os resultados, possa ser recomendada para produtores que utilizam esse sistema de produção.

“As crescentes demandas de mercado por alimentos orgânicos, em conjunto com outras características (sabor, aroma, altos teores de vitaminas), podem promover a agregação de valor a produtos das cadeias agropecuárias e agroindustriais”, observa Ribeiro, que chama a atenção para o fato de a produção de pimentas ter como base a agricultura familiar. “Sistemas de produção de base ecológica valorizam intensamente a agricultura familiar, e o cultivo de pimentas no Brasil ajusta-se perfeitamente a esse modelo de produção e de integração pequeno agricultor-agroindústria.”

Esse é o caso do produtor Flávio Marchesin, que está testando a BRS Araçari no sítio São João, em São Carlos (SP), em sistema orgânico de produção. Até o momento ele considera os resultados promissores. “Pelo que tenho observado, acredito que a cultivar terá boa aceitação para venda e consumo”, avalia Marchesin, que aponta o sabor e a pouca ardência como principais atrativos da pimenta.

Ele conta que tem utilizado a pimenta para fazer molhos e conservas, e até para refogar com outros alimentos, e a resposta tem sido muito positiva. Além da culinária, o produtor destaca a colheita como outro fator que facilita a produção dessa variedade. “Os pés têm uma arquitetura muito boa para fazer a colheita dos frutos, o que permite uma posição mais confortável, isto é: não precisamos ficar agachados para colher”, relata o agricultor.

Ainda com relação ao sistema agroecológico de produção, a pesquisadora adianta que estudos sobre o manejo orgânico da BRS Araçari – e da BRS Biguatinga, outra cultivar a ser lançada em 2021 – serão o foco de um novo projeto de pimentas, em fase de elaboração.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *