Agricultura

Serra da Mantiqueira projeta safra de azeites de excelente qualidade

Os produtores de azeite da Serra da Mantiqueira, região que abriga municípios do sul de Minas Gerais e do norte de São Paulo, já estão em ritmo acelerado no mês de janeiro. A colheita de azeitonas e extração de azeites na região, previstas para fevereiro, já começou em grande parte das propriedades. Segundo especialistas da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), o motivo da safra adiantada está nas oscilações climáticas de 2020.

Durante o último ano, o comportamento do clima na Mantiqueira foi diferente. De acordo com o pesquisador da EPAMIG, Luiz Fernando de Oliveira, logo no mês de maio, em pleno outono, o frio intenso já havia chegado. A região, repleta de oliveiras, experimentou dias consecutivos com temperaturas muito baixas, próximas ou abaixo de 0°C.

“O frio intenso e antecipado estimulou a florada das oliveiras, pois a planta precisa de acúmulo de horas de frio para a indução floral. Só assim é possível a formação e a maturação dos frutos, que tende a ocorrer na primavera”, explica Luiz Fernando.

O comportamento climático atípico adentrou a primavera e favoreceu a maturação precoce das azeitonas. Ainda de acordo com Luiz Fernando, entre os meses de setembro e outubro as estações meteorológicas locais registraram dias consecutivos com temperaturas próximas a 30°C. O frio rigoroso combinado ao calor intenso proporcionou colheitas inéditas na Mantiqueira em novembro e dezembro, bem como adiantou em um mês as colheitas em 2021.

As principais cultivares de azeitonas colhidas na região são a Arbequina, cultivar espanhola que se adaptou bem ao solo local; a Grappolo 541, desenvolvida pela EPAMIG e de origem italiana; e a Koroneiki, de origem grega. O período de colheita deve se estender até o mês de março. A expectativa dos pesquisadores da EPAMIG é que a safra de 2021 supere a produção de 2020, ano que marcou a produção de 50 mil litros de azeite.

O pesquisador da EPAMIG, Pedro Moura, conta que a fórmula para se obter um azeite de qualidade inclui boas cultivares de azeitonas e extrações realizadas logo após as colheitas.

“Após ser colhido, se o fruto demorar a ir para a extração, ele começa a sofrer um processo de fermentação. Isso ocasiona defeitos no azeite que será produzido com esse fruto. O ideal é que as azeitonas sejam colhidas e processadas rapidamente para evitar a perda de qualidade dos azeites”, destaca Pedro Moura.

O azeitólogo e consultor, Marcelo Scofono, que acompanha a evolução dos azeites da Mantiqueira desde a primeira extração realizada pela EPAMIG em 2008, esteve em Maria da Fé (MG) e provou os azeites recém produzidos no sul de Minas. Segundo ele, a produção da safra de 2021 está excepcional e, em termos de sabor, não perde em nada para os grandes azeites do mundo.

“Estive em duas propriedades e provei os azeites extraídos em novembro, por meio de um fenômeno interessante de antecipação de colheita, e em janeiro. Na minha opinião, os azeites da região estão cada vez mais complexos nas suas características sensoriais, o que é muito bom. Como azeitólogo e provador de concursos, eu posso dizer que essa complexidade sensorial é uma característica buscada pelos especialistas. Há muitos azeites dessa região que já são premiados e esse potencial sensorial é exclusivo”, pontua Marcelo Scofono.

O estudioso dos azeites há quase 15 anos é também o delegado do Brasil no Salão Internacional do Azeite Extravirgem, evento que ocorre em Andaluzia, Espanha. Nos encontros com especialistas e apreciadores do mundo inteiro, Scofono garante que o “terroir” da Mantiqueira é cada vez mais apreciado internacionalmente, sobretudo por paladares mediterrâneos.

“Nos azeites com a marca do território da Mantiqueira (“terroir”), encontramos cada vez mais diversidade e complexidade sensorial. Eu insisto em usar esses termos. São azeites com características frutadas verdes leves e médias. Neles a gente encontra notas que vão fazer com que esses azeites possam ser usados em uma salada, em uma carne grelhada e até mesmo em pratos mais condimentados. Sem falar da harmonização com os doces mineiros”, destaca o azeitólogo.

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