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EPAMIG faz testes com bananas mais resistentes a doenças

O Norte de Minas Gerais é o principal polo produtor de bananas do estado. Segundos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na região estão plantados mais de 20 mil hectares de bananeiras. As principais áreas de cultivo estão nos municípios de Jaíba, Janaúba, Nova União e Nova Porteirinha. Estima-se que a cadeia produtiva gere cerca de 12 mil empregos diretos e 35 mil indiretos na região.

De acordo com a pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Maria Geralda Vilela, a cultivar mais plantada no Norte do estado é a Prata Anã, com seus diferentes clones. Segundo ela, no final da década de 1970, período que marca a ascensão do plantio de bananas na região, os produtores enfrentavam problemas com nematóides em bananais de Caturra (Nanica). Além de todos os prejuízos causados, como redução da produção e qualidade dos frutos, a praga ainda facilitava a queda das plantas.

Maria Geralda conta que a bananeira Prata Anã é um pouco menos suscetível aos nematóides e, por se tratar de uma planta mais forte e com cachos mais leves, é mais difícil de ser derrubada. Para a pesquisadora, as vantagens econômicas e a tradição construída ao longo de mais de 40 anos consolidou o Norte de Minas como referência na produção de banana Prata.

“A cultivar começou a ser avaliada nos campos da EPAMIG no Norte de Minas em janeiro de 1979. Além disso, algumas empresas da região já tinham alguns trabalhos com a Prata. Os testes com a cultivar deram muito certo, a produção cresceu e hoje é uma tradição consolidada”, conta Maria Geralda.

Contudo, engana-se quem pensa que produzir bananas é um negócio fácil e barato, principalmente a banana Prata. A depender das condições de solo, manejo e de estresses sofridos pelas plantas, a variedade pode não resistir às principais doenças dos bananais: a sigatoka-amarela e o mal-do-Panamá (fusariose).

De olho nessa questão, a EPAMIG avalia cultivares de bananas mais resistentes a doenças com o objetivo de oferecer aos produtores do Norte de Minas opções para diversificar a produção em locais onde as pragas são responsáveis por inviabilizar o cultivo de bananas.

Um dos destaques fica com a BRS Platina, cultivar lançada em 2012 pela Embrapa em parceria com a EPAMIG e o IFBaiano (Campus Guanambi). A variedade possui porte médio e características idênticas às da Prata Anã, tanto em aspectos de desenvolvimento quanto em termos de rendimento. A planta da cultivar apresenta produtividade média de 20 toneladas por hectare ao ano, mas em boas condições de solo e manejo, esse número pode ser o dobro, 40 toneladas por hectare ao ano.

Outro destaque é a BRS Princesa que vem atender a demanda de frutos da cultivar Maçã, em escassez no mercado devido a suscetibilidade ao mal-do-Panamá. A variedade, lançada pela Embrapa em 2010, atinge produtividade em torno de 15 a 25 toneladas por hectare ao ano, e apresenta características semelhantes à cultivar Maçã, apesar de não ser banana Maçã.

Mercado

As duas cultivares são resistentes à sigatoka-amarela, à sigatoka-negra e ao mal-do-Panamá. Além disso, a EPAMIG realiza uma série de experimentos em campo com as variedades para aprimorar os processos de manejo, adubação e potencializar os usos de água para irrigação. Porém, o cultivo de bananas Platina e Princesa, embora atraentes para os produtores, ainda não é uma atividade economicamente rentável. O motivo e a resposta estão nos próprios consumidores.

De acordo com Maria Geralda Vilela, tanto a BRS Platina quanto a BRS Princesa são boas cultivares do ponto de vista agronômico. As variedades se dão muito bem em cultivos orgânicos ou em sistemas tradicionais com pouco ou nenhum defensivo químico. Contudo, mesmo com algumas semelhanças, os frutos dessas cultivares são diferentes quando comparados às tradicionais bananas Prata e Maçã, já consolidadas no mercado. As diferenças estão no tamanho, espessura da casca, consistência da polpa e ponto de maturação.

E o problema parece ser mesmo as comparações. A pesquisadora conta que os empresários que vão até o Norte de Minas comprar os frutos para revender se dão conta que não se trata de legítimas bananas Prata e Maçã. A comparação inevitável é usada como argumento para pagar menos, o que desestimula os produtores.

Segundo a pesquisadora da EPAMIG, Ariane Castricini, é preciso ter em mente que essas cultivares são híbridas do tipo Prata ou Maçã. Isso não significa que elas vão tomar o lugar de variedades tradicionais ou chegar aos mercados como um fruto que vai “enganar” os consumidores.

Maria Geralda acredita que um trabalho de conscientização dos consumidores pode facilitar o comércio de bananas dessas cultivares. “Agronomicamente, as plantas são muito boas e possuem sistemas de produção prontos. Creio que elas não dão conta de substituir as variedades tradicionais. Mas, em alguns locais onde os cultivos são inviabilizados pelo mal-do-Panamá, é sim uma possibilidade para plantio. Porém, não tem como incentivar o plantio sem antes trabalhar o mercado”, avalia a pesquisadora.

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