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Cultura de feijão está se tornando coisa de “gente grande”

O feijão na região de Itapetininga era tradicionalmente, décadas atrás, cultivado por pequenos produtores. Com a entrada da soja, a qual nos últimos anos vem aumentando gradativamente a área plantada, os produtores que plantavam feijão, foram, aos poucos, migrando para esta cultura ou para outras atividades, dando lugar para os médios e grandes produtores, que são muito tecnificados, e adotando os mesmos equipamentos utilizados no cultivo e colheita da soja, com pequenas adaptações.

“Para os pequenos ficou praticamente inviável investir no plantio de feijão, em função da escassez de mão de obra para colheita manual e necessidade de escala, de forma que, hoje, são médios e grandes produtores os que cultivam feijão”, conta o engenheiro agrônomo Luiz Leitão, diretor técnico da CDRS Regional Itapetininga.

O produtor geralmente planta feijão em menor escala, mas opta principalmente pela soja em função da demanda do mercado. Dependendo da sinalização dos preços, os produtores aumentam ou diminuem a área plantada, ou mesmo nem semeiam em determinados anos. Existem também plantios de feijão após a colheita da batata, com aproveitamento da área sistematizada, fortemente adubada nessa cultura, bem como do sistema de irrigação já instalado. Nesses casos, as lavouras de feijão alcançam produtividades muito superiores à média.

Na região, são duas safras no ano de cultivo de feijão, o plantio do feijão das águas, que tem início no final de agosto e termina no final de novembro, e o feijão da seca, que começa em dezembro e termina em final de fevereiro. “Este ano, em função do frio, houve um certo atraso no início do plantio, então está começando a ser semeado agora”, conta Leitão, dizendo que “quem tem irrigação (pivô central ou sistema convencional) planta em agosto; quem não tem, semeia a partir de setembro, quando começam as chuvas, por isso é chamado ‘feijão das águas’”.

Leitão explica que a preferência para o plantio na região é exatamente o feijão-das-águas por causa de uma praga que adveio com a cultura da soja, a mosca-branca, que não é controlada nas áreas de soja (plantada a partir de 15 de setembro, quando passa a ser permitido tal plantio, sendo conhecido o período anterior como “vazio sanitário da soja”) ou de outubro a dezembro. “O fato é que a soja, que tem o mesmo ciclo do feijão, acaba aumentando muito a população da mosca-branca e, embora a soja seja resistente ao ataque da mosca, vai acabar prejudicando o plantio do feijão da seca. Por isso, na região, quase não se planta mais o feijão da seca”, diz Leitão.

O problema é que uma vez colhida a soja, a mosca passa a não ter seu principal hospedeiro e vai atacar outras culturas, como o feijão da seca. O inseto é responsável por transmitir a virose-do-mosaico para o feijão. Assim, o feijão das águas acaba concorrendo em área com outras culturas de primavera-verão, como as do milho e da soja, motivo pelo qual é cultivado dependendo da demanda do mercado (falta de feijão) e da promessa de bons preços.

Em 2019, foram produzidas pouco mais de 146 mil toneladas de feijão das águas no Estado de São Paulo, em 57,2 mil hectares, de acordo com dados levantados pela extensão rural (CDRS) e publicados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), ambos órgãos vinculados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Os municípios que compõem a esfera de atuação da CDRS Regional Itapetininga responderam por 13% desse montante (19.516 mil toneladas).

O levantamento realizado em fevereiro de 2020 aponta expansão da área cultivada no Estado, 61,3 mil hectares (+7,5%), porém com produção estimada em cerca de 142 mil toneladas. A redução de 3% em relação à safra anterior ocorreu por conta da menor produtividade (-9,7%), resultado do baixo índice de chuvas no período de setembro e outubro, época do plantio e desenvolvimento da planta. A região de Itapetininga também apresenta aumento de área: 9.250ha (+29%). No entanto, ao contrário do que ocorreu com a produção estadual, em Itapetininga a produção apresentou alta de 27% (24,9 mil toneladas).

Já com relação à safra da seca, observa-se queda de 16% na área destinada ao cultivo do feijão e de mais de 76% no âmbito da CDRS Regional Itapetininga. “Por tais dados, pode-se notar a grande redução de área que tem ocorrido em relação ao feijão da seca, restando, praticamente, apenas o cultivo do feijão das águas”, afirma Luiz Leitão. A escolha predominante é pela variedade ‘carioca’, oriunda da pesquisa do Instituto Agronômico (IAC) .

Luiz Leitão explica, ainda, que não há na região o cultivo do feijão de inverno, que normalmente é feito no Norte do Estado de São Paulo, no Centro-Oeste, Mato Grosso e Bahia, onde há três épocas de cultivo de feijão: o da seca, o das águas e o de inverno. “A escolha se deve aos bons preços obtidos pela soja; diferentemente do feijão, o qual é voltado ao consumo interno e tem grande oscilação de preço, a soja é uma commodity, regulada por preços de mercado externo, com cotação em dólar que neste momento está muito valorizado, levando os produtores a fazerem a opção pela soja em detrimento do feijão. Dessa forma, boa parte do feijão que geralmente é consumido pelos paulistas acaba vindo da Bahia”, explica.

A variação positiva do preço do feijão nos últimos 12 meses poderá interferir na decisão do produtor no momento do plantio. Mesmo com a soja atingindo patamares de preço bastante elevados, o feijão também se mostra competitivo. Frente ao mesmo período do ano anterior, o produto acumula aumento superior a 53%, o que permite traçar estratégias para a nova safra e evitar a amplitude de oscilação de preços que é frequente na cultura. “Há grande oscilação de preço do feijão e, como a China, no momento, tem oferta para compra certa para 2022, o mercado para produzir soja parece estar garantido. Porém, como a Bahia também planta o grão, é provável que daqui para a frente o mercado do feijão também passe a ser um bom negócio. Os produtores estão atentos e fazendo suas escolhas”, diz o técnico.

Outra questão que tem influenciado na decisão dos produtores é que, com a pandemia, houve aumento no consumo e, consequentemente, nos preços do feijão. Todos esses fatores são reguladores de mercado e de plantio. O Instituto de Economia Agrícola publicou recentemente em seu site (www.iea.sp.gov.br) vários artigos interessantes sobre a alteração de consumo durante a Covid-19 e que servem para balizar as escolhas dos produtores”, analisa Luiz Leitão.

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