Opinião

Antibióticos em aves de produção. Que caminho seguir?

Por Eduardo Muniz* – Três acontecimentos da história da medicina mudaram para sempre o controle das doenças e – por que não dizer? – o modo de vida da humanidade: a descoberta dos antibióticos, das vacinas e o desenvolvimento das práticas de higiene.

Esses são os pilares básicos até hoje da medicina humana e também da veterinária. Portanto não é exagero falar que a avicultura moderna evoluiu e se beneficiou muito do uso de antibióticos também chamados antimicrobianos, já que são uma ferramenta extremamente eficaz no combate aos agentes patogênicos microbianos das aves.

No entanto, há alguns anos, o uso dos antibióticos em medicina veterinária, especialmente em animais de produção, tem sido questionado pelo meio científico e pela opinião pública. As discussões giram em torno do desenvolvimento de resistência bacteriana e do risco para os seres humanos do uso dessa ferramenta na agropecuária. Além de não ser simples, essa não é uma questão sobre a qual parece haver consenso – de um lado, há os que defendem o banimento total do uso de antibióticos e, do outro, grupos que defendem o uso da tecnologia baseado em regras de boas práticas veterinárias para mitigar riscos de resistência bacteriana.

O que catalisa esse embate é o fato de que estudos científicos têm apontado um aumento considerável na proporção de microrganismos resistentes a um ou mais antibióticos. Nos últimos anos, o problema vem se agravando com mais rapidez, em comparação ao ocorrido em décadas anteriores.

Vira e mexe, o tema é destaque e, algumas vezes, de forma bastante alarmante para a população, fortalecendo um movimento de “demonização dos antibióticos”.

Do ponto de vista lógico e científico, não é surpresa que haja aumento à resistência frente aos agentes antibióticos, já que se trata da manifestação da Teoria da Seleção Natural de Charles Darwin, segundo a qual, no caso, os microrganismos buscam formas de sobreviver e de se adaptar aos medicamentos. E isso se intensifica em função da característica industrial e massiva em que são criados os animais nos atuais sistemas de produção.

Os europeus sempre foram líderes desse movimento e, há décadas, proibiram o uso de antibióticos melhoradores de desempenho na avicultura. Há, inclusive, uma expansão dessa corrente de restrição do medicamento, tanto por determinação legal quanto por livre iniciativa de empresas produtoras de alimentos em outras partes do mundo.

Nos Estados Unidos, há uma grande adesão das empresas de aves a essa tendência – é o que se chama NAE – No Antibiotic Ever – em que não se utiliza nenhuma substância antibiótica na produção de aves. Esse sistema opera uma mudança tão radical, que até mesmo os ionóforos, utilizados para controle da coccidiose, são restritos.

Essa transformação recente, que hoje abrange pouco mais 50% de toda a produção dos EUA (ver gráfico abaixo), seria impensável décadas atrás e é um exemplo prático de como a opinião pública tem motivado as indústrias de aves a buscarem formas alternativas para produzirem alimentos. Vale lembrar que esse modelo não é unanimidade na avicultura norte-americana e que existem empresas que continuam utilizando medicações aprovadas pelo FDA (Food And Drug Administration), inclusive vários antimicrobianos, em outras modalidades de produção.

Aqui no Brasil, parte das empresas tem tomado a iniciativa de adotar um sistema de produção com restrições ao uso de antibióticos. Além disso, a própria legislação brasileira tem determinado a proibição de alguns princípios ativos tradicionais e bastante conhecidos, por exemplo, tilosina, tiamulina e lincomicina, como aditivos melhoradores de desempenho.

Frente às alternativas, qual é o melhor caminho a seguir? Em um planeta onde se estima ter 22 bilhões de aves de produção (aproximadamente, três aves para cada ser humano), o que se deve pensar, no mínimo, é na responsabilidade de usarmos a tecnologia da forma mais racional e prudente possível. Seguramente, o desenvolvimento das vacinas para as doenças bacterianas, bem como o fortalecimento das medidas de higiene são pontos críticos para a construção de estratégias cientificamente embasadas, no intuito de diminuir a necessidade dos bons e velhos antibióticos.

(*) Eduardo Muniz é Médico-veterinário e Gerente Técnico de Aves da Zoetis.

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