Agricultura

Feijão: competição, aqui não!

Nas propriedades do senhor Joel André Pes, localizadas nos municípios de Água Fria, São João d’Aliança e Flores de Goiás – distantes em média a 300 quilômetros de Goiânia (GO) – todas as atenções estão voltadas para o cultivo de feijão.

Em mais da metade das áreas o predomínio é da cultura da soja, mas o produtor faz um escalonamento entre a plantação de milho e feijão (sendo esse cerca de 20% da área). Nos últimos anos, o preço razoável dessa última cultura fez o agricultor se animar e ele aguarda ao final da colheita uma boa produtividade. Nesta safra, as expectativas são de 44 sacas por hectare (sc/ha) na área de sequeiro e entre 52 a 54 sc/ha nas áreas irrigadas.

Entre novembro e começo de fevereiro nas propriedades será comum ver nas lavouras o feijão em fase de germinação e é neste período que não somente Pes fica em alerta, mas todos os produtores, para alguns problemas que podem ocorrer na cultura e que podem ocasionar vários prejuízos, como a tão conhecida “mato-competição” “Como o próprio nome diz, há uma competição entre o feijão e a planta daninha pela água, luz e nutrientes que afetam diretamente a produtividade, cujo período de competição mais intenso é entre o período de 20 a 45 dias, após a emergência do feijoeiro”, descreve Tarcísio Cobucci, pesquisador e especialista em controle de plantas daninhas da Embrapa Arroz e Feijão.

Porém, ele adverte, existe um outro período que essa praga também pode afetar a lavoura é e bem próximo ao final do ciclo do feijoeiro. “Isso implica na dificuldade da operação de colheita e o comprometimento na qualidade do grão. Por quê? Porque, além da perda de tempo devido à dificuldade de se separar o feijão das plantas daninhas, ficam as plantas não colhidas que, evidentemente, reduzem a produção. No ponto de colheita, o grão seco também pode se misturar às plantas daninhas que mancharão o grão que, consequentemente, perdem qualidade na comercialização”, pontua.

E quando a prevenção não é realizada com seriedade, o agricultor pode sofrer com grandes quedas de produção. De acordo com o próprio Pes, já ocorreram perdas de até 40% na lavoura. Para o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão isso pode variar, em alguns casos, houve a perda de até 100%, mas no geral acontece em torno de 20% a 80%. “Conforme a espécie, a densidade e a distribuição da invasora na lavoura, as perdas são significativas. Às vezes, não se consegue fazer um controle efetivo, no tempo certo da aplicação e se passar deste período, a eficiência de combatê-las se reduz”, justifica.

De olho nesse problema, o produtor goiano já se antecipou a tomar as medidas preventivas para minimizar a emergência das invasoras, como, por exemplo, fazer uma cobertura de solo. Para o agricultor, a mata seca no solo diminui a incidência de luz e o desenvolvimento das plantas daninhas. Um monitoramento da área antes de iniciar o plantio para saber a abrangência delas é uma forma de antecipar o problema. Entretanto, outras formas de prevenção estão à disposição do produtor, é o que diz o pesquisador. “O manejo da mato-competição inclui medidas preventivas com controle mecânico ou químico”, descreve.

Fora às invasoras

No caso das medidas preventivas, o produtor se ateve a evitar o uso de sementes contaminadas. Reduziu o “banco de sementes” das plantas daninhas, que pudessem se multiplicar na lavoura. Assim também como fazer uma limpeza na área de plantio antes da germinação do feijão, reduz especialmente a ocorrência de certas espécies das invasoras. O controle mecânico é uma outra forma. “O produtor também pode passar com a máquina, no período de 20 a 40 dias após o plantio, entre as linhas do espaçamento”, explica o pesquisador.

Outra medida para combater é realizar o controle químico por meio da utilização de herbicidas, que podem ser aplicados em período de pós-emergência, oferecendo excelente controle das principais invasoras no estágio de duas a quatro folhas. Neste caso, uma das vantagens é a economia de mão de obra e a rapidez na aplicação. Após a germinação das plantas daninhas, aconselham os especialistas, começam as primeiras aplicações. Porém, varia muito de acordo com o manejo e a área. A segunda aplicação acontece 10 a 15 dias após a primeira. A recomendação que se faça é ter uma assistência técnica e realizar uma seletiva do produto, com dosagem baixa, que pode beneficiar o produtor e o meio ambiente.

Produzir com qualidade não é uma tarefa nada fácil. Porém, tecnologias auxiliam o produtor, é que o acrescenta o gerente de cultivo soja, milho, feijão da Basf (empresa do segmento de defensivos agrícolas), Gustavo Maximo. “Todos os anos ocorrem à incidência de plantas daninhas em qualquer cultura. Porém, o cultivo do feijoeiro é mais sensível no começo para a mato-competição e quanto antes o produtor fizer o controle, melhor. O reconhecimento prévio das invasoras predominantes também é condição básica para a escolha adequada do produto”, pontua.

Segundo ele, é comum confundir-se falta de controle com resistência. “A maioria dos casos de seleção e de resistência podem ser esperados quando se utiliza o mesmo herbicida, consecutivamente. Erros na dose e na aplicação são as causas da maioria dos casos de falta de controle. Prevenir a disseminação e a seleção de espécies resistentes são estratégias fundamentais para evitar-se esse tipo de problema. A utilização e a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação e a adoção do manejo integrado fazem parte do conjunto de indicações para um eficiente controle”, conta.

Do pequeno ao grande produtor, todos devem voltar a essa questão. Até o controle manual, com enxadas, comuns nas regiões com pouca tecnologia implantada, produtores tentam se livrar da praga. “É muito importante prestar atenção a essa invasora, o plantio do feijão está quase se tornando uma hortaliça, são realizadas a cultura em três épocas do ano, com quase três meses de produção. Com isso o agricultor não quer perder o seu lucro e o investimento”, reforça o pesquisador.

Controle

Veja alguns itens que podem auxiliar o produtor:
A rotação de cultura, dentre as inúmeras vantagens que proporciona, é praticada como meio de prevenir o surgimento de altas populações de certas espécies de plantas daninhas mais adaptáveis a uma determinada cultura.

A prática da capina manual deve ser feita o mais cedo possível para facilitar o controle, devendo ser superficial, movimentando de três a cinco centímetro do solo, sem trazer para a superfície as sementes das plantas daninhas das camadas mais profundas e não prejudicar as raízes do feijoeiro.

O cultivo mecânico, feito com tração animal ou tratorizado, é bastante frequente na cultura do feijão. Uma das limitações deste método é a dificuldade de se controlarem as plantas daninhas que crescem na linha de semeadura e a outra é que só pode ser utilizado em sistemas de semeadura em linha ou covas bem alinhadas.

O controle químico é o método que oferece maior praticidade e grande eficiência, particularmente em regiões carentes de mão de obra. Este método possibilita o controle de plantas daninhas na época chuvosa, quando outros tipos de controle são de difícil aplicação e/ou ineficientes. O uso de herbicidas, contudo, requer conhecimentos básicos para o alcance da máxima eficiência, com custos reduzidos e com o mínimo de impacto ambiental. Fonte: Embrapa Arroz e Feijão

Época de aplicação dos herbicidas
a) pré-plantio: aplicado antes da semeadura do feijão;
b) pré-plantio incorporado: nesse caso, aplica-se também o herbicida antes da semeadura do feijão, porém, deve ser incorporado superficialmente ao solo com a utilização de grades. Esta prática reduz as perdas de parte de alguns herbicidas por volatilização e/ou fotodegradação, somando-se a isso a possibilidade de aplicação em solo seco, podendo-se aguardar a umidade ideal do solo para se fazer a semeadura;
c) pré-emergência: a aplicação é feita após a semeadura e antes da emergência do feijoeiro. Para a boa performance dos herbicidas é necessário que o solo esteja úmido ou que ocorram chuvas, ou se façam irrigações para a incorporação dos herbicidas na camada superficial do solo, 0-10 cm, onde a maioria das sementes das plantas daninhas germina. A ocorrência de alta luminosidade, alta temperatura e baixa umidade relativa do ar e do solo induz a uma maior volatilização do herbicida aplicado em pré-plantio, principalmente no momento da aplicação;
d) pós-emergência: a aplicação é feita após a emergência do feijão e das plantas daninhas, na área total, para os herbicidas seletivos e, localizada, para os não-seletivos. Os herbicidas usados em pós-emergência devem ser aplicados quando as plantas daninhas encontram-se na fase de plantas muito jovens, normalmente com menos de quatro folhas verdadeiras, fase esta correspondente ao período anterior à interferência, quando as plantas daninhas são mais facilmente controladas.

Fonte: Embrapa Arroz e Feijão

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *