Pecuária

Nutrição: boiada nutrida é boiada produtiva

O antigo ditado que diz: “Os olhos do dono é que engorda o gado”, é o lema seguido pelo empresário Arthur da Silva Leme Neto, que há 30 anos ingressou no segmento pecuário. Hoje, seu plantel com 3.315 cabeças está distribuído em cinco fazendas, todas localizadas no Estado do Paraná – sendo três de cria e outras duas de recria e engorda de machos e fêmeas. Uma delas, a Fazenda Samambaia, que fica no município de Pitanga, (a 345 quilômetros da capital Curitiba), é destinada para a cria do gado. A unidade é a “fábrica de fazer bois” e é onde tudo começa.

Ao todo são 550 alqueires, sendo 300 deles destinados à pecuária. Segundo Luis Afonso Claus, médico veterinário e responsável técnico pelo Grupo Leme Pecuária, ainda há muito trabalho por fazer lá. Aliás, ao longo dos anos, com o objetivo de expandir seus projetos pecuários e oferecer ao mercado animais de primeira linha, o proprietário optou pela seleção genética de Braford, uma raça adequada ao clima propício da região. E desde então, a fazenda tornou-se sinônimo de bons resultados, advindos de um processo de tecnificação.

Visando a produtividade, redução do tempo no processo de produção e a garantia de carne diferenciada, o pecuarista investiu em parcerias. Em um trabalho conjunto com a empresa de nutrição animal, a Premix – Nutrição de Resultados, eles avaliaram novas alternativas, que garantissem a lucratividade. “Há dez anos, contamos com um atendimento personalizado da empresa, no segmento de nutrição animal, que oferece além da venda dos produtos, uma assistência completa”, revela Claus.

Justamente, para manter todo rebanho com peso pesado, a propriedade passou a ter 32 piquetes, com um trabalho de pastejo rotacionado e com lotação “ajustada”. No cardápio da “turma” são oferecidos Brachiaria brizantha, capim tanzânia consorciado com o amendoim forrageiro (Arachis pintoi), bem como Hermátria altíssima consorciada com leguminosas herbáceas. Já no inverno, há um reforço com aveia, azevém e trevo branco. Sem contar na suplementação específica que os animais recebem, em cada fase da vida.

Como o foco é preparar matrizes e touros para venda (com Certificado Especial de Identificação e Produção – o chamado CEIP), o planejamento nutricional entra em ação. “A nutrição é um dos principais fatores para manter o nível de prenhez do rebanho, principalmente no período de monta, época que esses animais entram agora”, responde Fábio Procópio Ribeiro, médico veterinário e técnico promotor da empresa.

De acordo com ele, esse é um dos períodos mais importantes na pecuária de cria, no qual algumas atenções devem ser redobradas. “Para a obtenção de elevada eficiência nos sistemas de produção dos bovinos de corte, as altas taxas reprodutivas são fundamentais. Nesse cenário, a nutrição aparece como ponto decisivo para melhorar o desempenho desses animais, uma vez que a obtenção do peso ideal de acasalamento para as novilhas, por exemplo, é a medida prioritária para o sucesso reprodutivo. A condição corporal da vaca tem reflexos no desempenho para concepção, período parto-cio e condição de amamentação, além de influenciar diretamente no desenvolvimento dos bezerros”, esclarece Ribeiro.

Um dos problemas mais frequentes é que a maioria das propriedades, no entanto, não cumpre as exigências nutricionais das primíparas (vacas de primeira cria), gerando a queda dos índices reprodutivos, é o que alerta Marco Aurélio Carneio Meira Bergamaschi, médico veterinário e supervisor de manejo animal da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos/ SP). “Via de regra, as produções apresentam um gargalo na reprodução das primíparas, que geralmente obtêm baixas taxas de concepção. E é nessa categoria que o animal ainda necessita de aportes nutricionais para concluir seu estágio de crescimento. Sem dúvida, as novilhas estão mais tranquilas quanto à questão da reprodução, o que favorece o processo e a concepção mais rápida. Porém, após o nascimento dos bezerros, elas ainda estão em fase de crescimento e, ao mesmo tempo, terão que produzir leite para a cria ao pé e ativar seu ciclo reprodutivo – o que não ocorre nas vacas multíparas, que já completaram seu ciclo de crescimento”, adverte. “Porém, tanto as matrizes quanto os reprodutores precisam de uma dieta que ingere mais calorias e ganho de peso rapidamente”, conclui Bergamaschi.

Ele ainda lembra que no caso das multíparas (a vaca que já teve mais de um parto), o ideal é que entre em reprodução 60 dias após o parto, o que contribuirá para nascimentos de bezerros em épocas mais favoráveis. “Além disso, fatores como pastagens disponíveis, o clima e a temperatura também contribuem, o que em algumas regiões devem ocorrer entre os meses de novembro a janeiro”, pontua.

O reforço da suplementação

Em algumas épocas do ano, há uma quebra qualitativa e quantitativa das pastagens em função das condições climáticas. “Como o suporte técnico nas fazendas passou a ser frequente, a partir da adoção de uma tecnologia de produtos proteinados, sendo eles, de baixo ao alto consumo, é possível proporcionar uma condição de escore corporal das vacas em níveis biologicamente aceitáveis na estação de seca, bem como manter o desenvolvimento das novilhas prenhes”, lembra Claus.

De acordo com Ribeiro, um outro problema encontrado nas propriedades são a falta e/ou a não utilização correta de suplementos específicos para as diferentes categorias animais. “Algumas vezes não há treinamento e conhecimento da equipe de funcionários das fazendas. Não adianta querer recuperar o gado na estação reprodutiva. É preciso cuidar dos animais o ano inteiro”, adverte.

“Neste processo todo, a suplementação mineral é de extrema importância. Há algumas recomendações e controles que realmente o pecuarista deve seguir, acima de tudo adquirir o produto de empresas idôneas, para não arcar com prejuízos futuros”, completa Bergamaschi. “Os animais que chegam na estação de monta abaixo do peso não entra no cio, consequentemente as matrizes não ficarão prenhas. O que ocorre é o seguinte, nesta fase as pastagens já estão disponíveis. Neste momento inicia-se a estação reprodutiva e sem o peso adequado, o rebanho gastará até três meses para se recuperar. Com isso, há um atraso no período reprodutivo dos animais, que levarão até um ano para se reproduzir novamente, ou seja, o pecuarista terá um ano de vacas vazias”, descreve Bergamaschi.

Os Resultados

E é na estação de monta que os trabalhos produzidos o ano todo na fazenda, por meio de um planejamento estratégico, aparecem. “Tudo para que as fêmeas possam parir produtos relativamente leves e de rápido ganho de peso”, conta Claus.

Para manter a performance, a Fazenda Samambaia faz uma estação de monta cronometrada. As vacas são emprenhadas somente a partir dos dois anos de idade. Assim, o primeiro bezerro nasce quando as mães beiram os três anos. Para garantir terneiros nascendo em época mais propícias, a propriedade apostou na inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e na inseminação artificial convencional, ao lado da assistência da empresa de medicamentos veterinários, a Pfizer.

Na estação de monta são utilizados 90% de inseminação artificial e ocorre no mês de novembro com duração de 90 dias. “Aquelas que não emprenharem na segunda tentativa são cobertas com touros. Seguimos a regra da natureza. Compreendemos que fêmeas adultas conseguem gerar ótimas crias”, justifica Claus. “Os bezerros machos nascidos aqui seguem para outra propriedade, logo após o desmame. Atualmente, pretendemos fortalecer nosso trabalho em cima da seleção genética e intensificar a produção de carne de qualidade, especialmente nos mercados que hoje atendemos: Londrina e Curitiba”, conta.

Na fazenda, por meio de um controle sanitário adequado, a taxa de mortalidade gira em torno de 2%. Atualmente, são 558 fêmeas, que mantém uma taxa de prenhez de 83%. Neste ano, o número de bezerros desmamados totalizou 448 animais, sendo que a taxa de desmame de 80%, com uma média de 198 kg os machos e 187 kg as fêmeas (em média com 210 dias de nascidos). Lá, o pecuarista mantém os reprodutores, em média, um a dois anos no plantel, pois sempre há uma safra nova. Diz que o procedimento facilita a comercialização. Estão excluídos da regra os touros que, após esse período, geraram progênies comprovadamente superiores às de suas contemporâneas. Sobretudo no que se refere à produção de matrizes boas criadeiras. “Claro que avaliamos a performance do touro durante a monta e sua condição corporal, mas não dá pra avaliar somente no olho”, explica Claus.

Para auxiliar neste processo, o Grupo apostou em um programa de melhoramento genético, implantado na década de 1995. Hoje, somente os reprodutores de qualidade genética comprovada, que estão entre os 5% melhores dentro de todos os rebanhos pertencentes ao programa, é que recebem o CEIP (documento oficial outorgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). E eles conseguem isso com a parceria com a Conexão Delta G, que hoje reúne empresas de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, em um programa de melhoramento genético voltado para as raças Nelore, Hereford e Braford. Ao lado de grandes produtores de carne, eles fornecem animais padronizados tipo exportação, recebendo uma remuneração diferenciada.

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