Agricultura

Café: a renovação de mais uma safra

Em grande parte das regiões produtoras de café, os campos estão vazios. Os últimos grãos já foram colhidos, sinal que mais um ciclo da safra se completou. Os chamados “grãos remanescentes” já saíram das lavouras e grande parte já está no processo de beneficiamento ou já foi para a comercialização. Para alguns produtores o resultado foi dentro do esperado, já para outros, nem tanto.

De olho nos números, de acordo com a terceira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – divulgada no início de setembro – a produção de café beneficiado totalizou 47,2 milhões de sacas de 60 quilos. O valor representa um aumento de 19,6% em comparação as 39,5 milhões de sacas do ano passado, resultado da bienalidade positiva da cultura, que é intercalada entre um ciclo alto e outro baixo.

Ainda, de acordo com a Conab, a variedade arábica (76,4% da produção total) está projetada em 36 milhões de sacas, contra 28,9 milhões do ano passado, com aumento de 24,9%. Detalhe: o arábica cultivado no Brasil é normalmente destinado à exportação. Já o conilon, ou robusta, representará 23,6% da produção brasileira, com 11,2 milhões de sacas. Aliás, essa variedade é destinada na maioria para o preparo dos pós vendidos nos supermercados, há uma relativa qualidade inferior e até por uma justificativa bem simples: cultivar esse tipo de grão é mais barato.

E por falar em produção, segundo a entidade, a maior ficou para o Estado mineiro, que detém 52,3% do total nacional, sendo 99% do tipo arábica. Atrás, com 21,3%, vem Espírito Santo, com a colheita de conilon. E já que os números indicaram que Minas Gerais virou o “Estado” do café, foi lá no município de Machado, a mais de 380 quilômetros de Belo Horizonte, que encontramos o cafeicultor Fábio Caixeta.

Se para alguns, fatores como preços baixos do mercado, acompanhado da falta de perspectivas para a cultura e, por último, o clima – que não favoreceu uma produção de qualidade dos grãos – representou “dor de cabeça” e “no bolso”, para outros, como no caso de Caixeta, só houve motivos para comemorar neste ano, a boa safra. “O preço da saca no mercado está bom e o clima também ajudou na colheita. O inverno na região foi propício, beneficiou uma boa bebida. Apesar dos aspectos dos grãos não ficarem com as características desejadas, uniformes”, justifica. “Já os preços continuaram na média, atingiram o patamar de R$ 300 a saca”, alegra-se o cafeicultor.

Em algumas regiões produtoras, como São Paulo (terceiro maior produtor do grão), na safra passada, a saca de 60 quilos era comercializada a R$ 280,00, em média. Este ano, surpresa no mercado: quem esperava valores mais baixos por causa da boa produção levou um susto. O valor da saca subiu segundo o Indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Cepea/Esalq), vinculada à Universidade de São Paulo (USP) para R$ 323,31 a saca de 60 kg, no mês de agosto, por exemplo.

A perspectiva do bom preço no mercado, favoreceu os cafeicultores a começarem os tratos culturais para a próxima temporada. Alguns já estão intensificando o manejo no campo, no intuito de minimizar os efeitos do clima seco, que pode prejudicar o bom andamento dos cafezais e reduzir a produção nacional na temporada 2011/2012. “Na propriedade, o temor de que as floradas possam ser afetadas e que o desenvolvimento dos frutos para a próxima safra também tenha algum problema já foi sanado, pelo menos na região sul de Minas. Aqui já aconteceram as primeiras floradas dos cafezais”, tranquiliza Caixeta.

Nesta safra, o cafeicultor colheu uma produção de 40lheita mais cedo. Já o Rubi e o Catucaí são mais tardios”, conclui.

Os grãos produzidos lá na Fazenda Campo Redondo têm destino certo. Apenas 20 a 30% permanecem no mercado interno, o restante entra na linha de exportação. Aliás, um mercado exigente sobre os aspectos de grãos e sabores e, sobretudo, a qualidade. De olho, no clima e na boa safra, Caixeta já acelera para vender parte da safra, aproveitando as cotações em altas.Aspectos pós-colheita.

Não é só a planta que está acometida de pragas e doenças. Além disso, uma das preocupações dos cafeicultores está na garantia de um produto com 100% de qualidade. Assim, tecnologia e conhecimentos podem evitar a depreciação do cafeeiro. E para isso, após a colheita vem o cuidado especial. É o que pelo menos os especialistas advertem: “é preciso ter cuidado na hora do manejo dos grãos”.

O gerente de café da Basf e engenheiro agrônomo, Daniel Vieira, aconselha que após todo o processo o grão requer cuidados especiais e redobrados. “A s% a mais, em comparação ao ano passado. No total, foram 10,6 mil sacas. Segundo ele, o segredo do bom resultado é que todo o seu processo de colheita e beneficiamento se iniciou no tempo correto. “Muitos cafeicultores da região começavam muito cedo e estendia-se, até o mês de setembro e outubro, a colheita dos grãos remanescentes. O que a gente percebeu: é que nós começamos a aumentar a estrutura de secagem e a retirar os grãos no tempo inicial, entre os meses de maio e junho, quando a maturação é mais completa. Daí, a secagem também acontece mais rapidamente. Neste tempo, dificilmente o produtor encontrará um período muito chuvoso, e sim mais volume dos grãos no ponto certo de maturação”, argumenta.

Em média, as lavouras do sul de Minas só atingem o estágio ideal de colheita no meio do ano. “Mesmo caindo os frutos, o ideal é o cafeicultor esperar”, sentencia Caixeta. “Em muitas vezes, o produtor não se preocupa com a infraestrutura, ou seja, expandem a área de produção sem o cuidado de redimensionar toda a estrutura da pós-colheita do café, perdendo assim a qualidade do café obtida no campo. Muitos não têm condições de recolher todos os grãos no momento certo. Com isso, há perdas na produção. Na minha opinião, este é o grande gargalo da cultura”, pontua.

Conseguir produzir café de qualidade não é tarefa fácil, mesmo com o uso das mais avançadas técnicas de produção. O cafeicultor fala com ciência do assunto, Fábio Caixeta vem de uma segunda geração no café. Desde 1970, a família lida com a cultura, na propriedade que hoje tem 270 hectares. Hoje, a produção da Fazenda Campo Redondo são as variedades de Coffea arabica, tais como o Mundo Novo, Rubi, Catuaí e Catucaí. “Cultivar essas espécies nos proporcionou utilizar um leque de opções. O Catuaí, é um exemplo de mais precocidade e abre a janela da coeparação do café de varrição, que já estava no terreiro, do café da árvore é um dos cuidados que o produtor necessita ter. O café do solo pode ter microorganismos suficientes para provocar fermentação no grão, a fermentação pode transformar uma bebida boa em bebida do tipo ruim”, pontua.

Segundo Vieira, a secagem também é um outro processo que requer atenção. “Esses benefícios influenciam diretamente no produto e na qualidade da bebida”, justifica. Em relação ao pé, o cafeicultor também precisa se preocupar uma vez que haverá um novo processo de produção, que dará frutos no ano seguinte”, comenta. “Para isso a atenção se volta para o ramo estar livre de pragas e doenças. O que se cuida agora é o que se colherá depois”, justifica ele.

Daniel Vieira adverte sobre o controle de doenças nos cafezais, como a ferrugem e a Mancha de Phoma, que ataca folhas, ramos, flores e frutos, causando sérios prejuízos. Na fase de florada e pós-florada a principal doença é a phoma. Neste caso, justifica o pesquisador Roberto Antonio Thomaziello, Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o controle deve ser preventivo com pulverizadores, com fungicidas na pré e pós-florada. Porém, ele adverte que apenas 10% da área cultivada com café no Brasil é propícia ao desenvolvimento do fungo. “A mancha de phoma ocorre mais em regiões altas (acima de 900 metros acima do nível do mar), com temperaturas na faixa de 20°C e alta umidade. O ideal é o tratamento preventivo. Depois que ela aparece o dano já foi causado”, diz o pesquisador.

O que se recomenda nessa época é a aplicação de produtos preventivos, para a proteção do ramo que futuramente darão os grãos de café para o próximo ano.

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