Agricultura

Saúde da cana: perigosa invasão!

De tamanho milimétrico e alojado na raiz, o nematóide pode causar grandes prejuízos na cultura da cana-de-açúcar
O crescimento anual da safra de cana de açúcar no Brasil é acompanhado por uma praga nos canaviais da região centro-sul e, principalmente, em regiões mais quentes, como no Nordeste.

O nematóide, que mede entre 0,3 e 3 milímetros, pode levar a prejuízos de até 30% na produção. A safra 2007/08 foi de 495 milhões de toneladas de cana, pouco menos que as 505 colhidas em 2008/09. A previsão para 2009/10 é chegar as 550 milhões de toneladas. “Mesmo assim, 60% do total de solo usado na plantação de cana apresenta problema com o nematóide”, afirma Mário Inomoto, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em Piracicaba, no interior de São Paulo.

A praga vem atuando nos canaviais e comprometendo parte da produção em diversas propriedades. Por ter dimensões milimétricas e atuar na raiz da planta, o nematóide é de difícil diagnóstico, já que é necessário enviar amostras ao laboratório para certificar a doença. Entretanto, há sintomas importantes que podem ser observados a olho nu, como o tamanho das plantas. Percebe-se que a cana afetada não se desenvolve assim como as demais. Os outros sintomas são o amarelamento, escurecimento e queda prematura da planta, além da planta murchar nos horários mais quentes do dia.

Efetivamente, o nematóide se instala na raiz da planta sugando seus nutrientes. Existem dois tipos da praga, o nematóide das galhas e o nematóide das lesões, sendo que cada um tem duas espécies: Meloidogyne javanica, a mais importante no Brasil, e Meloidogyne incognita, ambas das galhas. Já as das lesões são a Pratylenchuszeae – a mais comum na cana no País, e a Pratylenchus brachyurus.

O nematóide das lesões destrói as células das raízes e acaba construindo trilhas por dentro da planta. Já o das galhas se instala em apenas um local da raiz, mas acaba prejudicando mais a cana, em comparação ao das lesões. Outra diferença está na reprodução, já que a fêmea das galhas produz até 400 ovos, enquanto a das lesões apenas 40.

O ciclo de ambas as espécies é de aproximadamente 30 dias, em temperaturas entre 18 e 25°C. O frio reduz a ação e reprodução do nematóide, sendo que abaixo de 10°C, a praga não se reproduz. Entre 10 e 18°C, a ação é muito pequena, mas acima dos 18°C começa a normalizar. Calor maior que 25°C aumenta substancialmente a velocidade de reprodução. Por esta razão, os canaviais nordestinos são mais afetados. Outro fator importante é a qualidade do solo, já que terrenos arenosos facilitam a proliferação.

Uma vez instalado na lavoura, a praga suga as proteínas da planta, dificultando o desenvolvimento da mesma, causando a morte das células da raiz. Com isso, dificulta a absorção da água e dos nutrientes do solo, e a planta acaba gastando energia excessiva na tentativa de se nutrir. Com a ausência das células, a absorção dos nutrientes provenientes da fotossíntese das folhas também fica debilitada. Além de tudo, a atuação da praga oferece maior facilidade para a entrada de doenças.

Controle

Caso a propriedade não esteja infectada, os cuidados devem estar focados em evitar o acesso da praga. A maneira mais comum de entrada na propriedade é através de veículos provenientes de propriedades infectadas. “O ideal seria lavar os caminhões antes de entrar na fazenda, porque eles podem carregar o nematóide na terra grudada na lataria”, explica Inomoto. Outra maneira da praga ter acesso à propriedade seria por meio da irrigação. Muitas vezes, a praga está no rio e quando o produtor utiliza a água do local contaminado, acaba introduzindo a praga na lavoura. “O nematóide chega até o rio porque algum produtor não mantém uma Área de Preservação Permanente (APP), que absorveria, além dos produtos químicos, os nematóides também”, explica.

Uma vez instalada na propriedade, a melhor e mais eficaz forma de controle da praga é por meio de produtos químicos no momento do plantio ou na pós-colheita. “Não há como identificar o prejuízo e querer utilizar o nematicida na lavoura já desenvolvida. É necessário aplicar após a colheita”, explica Inomoto. Mesmo utilizando o produto, não se consegue extinguir 100% das pragas, deixando parte dos nematóides vivos no solo, o que diminuiria entre 10 e 20% do volume total da lavoura.

Além de aplicar o produto, uma boa maneira de atuar é plantar culturas não hospedeiras, já que em cerca de dois meses os nematóides menos resistentes acabam morrendo, o que representaria 60% do total. O amendoim é um exemplo. Ao plantá-lo, o produtor deve ficar atento às ervas daninhas, que são hospedeiras e poderiam garantir a sobrevivência da praga por um longo período.

Outra forma eficaz seria plantar a Crotalária juncea, um adubo verde. Apesar de ser hospedeiro da praga, depois dos cerca de 130 dias de crescimento da planta, o produtor corta e mistura com a terra. Com três meses no solo, a Crotalária apodrece, matando a praga.

Outra maneira é o uso de cultivares resistentes, mas ainda não há diversidade, além de não atingirem o nível esperado de eficácia no controle da praga.

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