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Cachaça: cana tipo exportação

Produtores de cachaça buscam certificados do Ministério da Agricultura e tentam melhorar a qualidade do produto pelo fato da bebida atingir um público cada vez maior e da exportação ser crescente a cada ano.

Típica do brasileiro, a cachaça é a bebida destilada mais produzida e consumida no País, apesar dos números serem imprecisos já que muitos alambiques não são registrados, mas estima-se que existam mais de 40 mil produtores no Brasil. A produção anual chega à cerca de 1,2 bilhão de litros, o que representa 90% da produção nacional de bebidas alcoólicas, excluindo a cerveja.Cerca de 99% dos produtores são micro ou pequenos, e detêm cerca de 4 mil marcas de cachaças. Apesar disso, 85% da cachaça produzida é industrializada e apenas 15% vem dos pequenos e micro produtores.

Algumas indústrias apareceram no mercado interno nos últimos anos, mas a preferência do público é pela cachaça de alambique, produzida em pequenas propriedades rurais. “Nos últimos anos, o aumento do consumo dessas cachaças diferenciadas é de 10 a 15% ao ano”, afirma César Rosa, presidente da diretoria executiva do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac).

Popularmente o estado de Minas Gerais é o mais conhecido por produzir boas aguardentes, mas há quem garanta que é questão de fama. “Realmente existem ótimas cachaças em Minas, mas São Paulo também tem, assim como Pernambuco e Bahia”, explica Ana Lúcia Santiago, coordenadora de projetos com derivados da cana-de-açúcar do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP). “Inclusive o Rio Grande do Sul trabalha para fazer da cachaça a mesma coisa que fez com o vinho. São Paulo é um estado que tem uma tecnologia de produção muito boa entre os pequenos produtores”.

Como muitos produtores não têm o registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), os números oficiais não contabilizam a real produção nacional da bebida.

Os motivos que levam os produtores a não se certificarem são inúmeros, mas o principal é por não ter necessidade, já que vendem para conhecidos da região em que produzem. “Mas é muito bom quando a gente vê o nosso produto em uma prateleira de supermercado. É gratificante para gente que trabalha mais de um ano para chegar ao produto final”, afirma João Evangelista Vaz de Lima, produtor da cachaça Pioneira, de Socorro a 130 quilômetros da capital paulista.

O produtor buscou registro no MAPA e também certificou o produto como orgânico e chegou a ser chamado de ‘louco’, no início. “Quando inventei de fazer a cachaça orgânica, todo mundo não acreditou que daria certo. Fui um dos primeiros, por isso que o nome é Pioneira”, explica Vaz Lima sobre a marca que ele registrou.

Com uma plantação de sete hectares de cana, o produtor tem dois empregados fixos e com carteira assinada, como exige a certificação. O Sítio Santo Antonio já era símbolo da aguardente antes mesmo da produção da Pioneira. “Meu irmão começou a fazer a cachaça, aí eu entrei com ele e mais para frente eu comprei a parte dele. Mas não era esse tipo de cachaça não, era uma de qualidade inferior, que a gente vendia mais barato”, explica Vaz de Lima. Até que um dia ele percebeu que o negócio não evoluía e resolveu produzir menos, mas com mais qualidade e, assim, vender a preços mais elevados.

Deu certo. Com a mudança do produto o público alvo também mudou. João Vaz de Lima buscou certificar como orgânico, melhorou o processo de envelhecimento e a distribuição. Também passou a produzir outros derivados como melado (destinado à indústria alimentícia da região) e açúcar mascavo, também certificados como orgânico. Mais para frente o produtor começou a produzir a ‘Canelinha’, marca do produto que nada mais é que a própria cachaça aromatizada com cascas de canela ao final do envelhecimento e açúcar.

A demanda por produtos naturais é cada vez maior pelo consumidor com melhor poder aquisitivo. E é nesse mercado que atua os produtos orgânicos. “Hoje eu tenho uma encomenda de mais de seis mil garrafas de ‘Canelinha’ que vão para os Estados Unidos (EUA). A minha cachaça é vendida a mais de R$ 60 em São Paulo, capital, sendo que aqui na região comercializo a R$ 13 a garrafa”, explica o produtor.

A ideia do produtor é de crescimento da venda no mercado interno e na exportação das bebidas já que existe o planejamento de uma nova marca. “Eu to iniciando uma nova marca para a minha bebida. Terá um novo rótulo, outra garrafa, é uma forma de agregar valor. E a exportação das canelinhas é a primeira remessa, se der certo, quem sabe não começamos a exportar cada vez mais”, se entusiasma Vaz de Lima, que produz 15 mil litros de cachaça por ano.

1ª rotulada como orgânica

Outro produtor que está lucrando com a produção de cachaça no interior de São Paulo é Marcos Macedo, proprietário do Sítio São Bendito, localizado no distrito de Jacuba, município de Aurealva, no interior do estado de São Paulo. O início da produção foi em 1996 e a certificação chegou em 2000. “Fui o primeiro produtor de cachaça a usar o selo de produto certificado orgânico no rótulo”, lembra Macedo.

A certificação foi muito bem vinda e trouxe novos mercados ao produtor que atualmente exporta para a Bélgica, a Alemanha, a França e os EUA. O preço da garrafa de 750 ml é de R$ 30, mas Macedo disse que já viu ser vendida por R$ 150,00 em lojas da capital paulista. “Com a crise os pedidos do exterior diminuíram bastante, mas espero que esse problema passe logo e a gente volte a mandar bastante cachaça para fora do País”, afirma o produtor.

Os três maiores problemas enfrentados pelos produtores decorrem da falta de apoio do governo. “Imagina se nós pudéssemos concorrer com os grandes players [empresas] do mercado externo de vodka, por exemplo. É difícil fazer o europeu trocar a vodka pela cachaça sem grande publicidade. Então estamos fazendo um trabalho de formiguinha ainda”, explica César Rosa, presidente da Ibrac.

Existe um projeto de exportação, segundo ele, que não foi aprovado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e que ajudaria muito a divulgação da bebida no exterior. “Hoje, a única coisa que temos são pessoas que já experimentaram a cachaça e conhecem a qualidade”, diz Rosa.

Impostos altos

Outro grande entrave da bebida no Brasil é o alto imposto cobrado, que pode chegar a custar 80% de uma garrafa. “O governo americano incentivou o rum, outros países que tem uma bebida símbolo também ajudam os produtores e dão mais oportunidades para a produção da bebida, mas o Brasil não”, reclama Rosa. João Vaz de Lima, produtor de Socorro, também reclama e diz que prefere exportar a bebida porque paga muito menos impostos do que se vender no mercado interno.

“A tributação é muito pesada para o micro e pequeno produtor. Ele paga imposto como se fosse uma grande companhia. Já não tem capital de giro para desenvolver sozinho, imagina para pagar tudo isso de registro. Muitas vezes é um produto familiar e paga como se fosse gente grande”, afirma Rosa, já tocando no terceiro problema: dinheiro para girar a produção.
Faltam linhas de crédito para o produtor poder melhorar o processo de produção, ampliar a lavoura, melhorar o rótulo, entre outras coisas. “O que precisa hoje para fechar o ciclo é uma linha de crédito para apoiar o pequeno produtor. Como é uma produção familiar, os produtores não têm condições de fazer grandes investimentos no alambique”, explica Ana Lúcia Santiago, do Sebrae-SP.

Apesar de todos os problemas enfrentados pelos pequenos produtores a exportação da cachaça vem crescendo nos últimos anos. Se em 2004 recebemos US$ 11.087.500 das vendas ao exterior, em 2008 foram US$ 16.418.978, representando um crescimento de 48% ao longo desses quatro anos.

Auxílio ao pequeno produtor

O Sebrae-SP iniciou um programa de auxílio aos produtores visando atuar em duas frentes. Uma seria ajudar na regularização dos produtores que ainda não possuem licença do MAPA e que produzem a bebida sem o mínimo de qualidade, desrespeitando as normas sanitárias. “O Sebrae busca dar suporte aos agricultores nas áreas de saúde, higiene, qualidade, tecnologia, embalagem, informação, capacitação e mercado. Hoje, a maioria dos alambiques no Brasil é muito precária ainda”, afirma Santiago.

A outra frente de trabalho é referente a formação de marca, exportação, marketing do produto. Uma das ações é reunir produtores de regiões próximas e formar uma única marca e assim ter grande quantidade podendo exportar ou ter demanda para grandes fornecedores. “O Sebrae trabalha atualmente com 372 propriedades e, destas, 20% é legalizada. Até o final de 2009, imaginamos que esse índice suba para 60%”, explica Santiago.

Caso o produtor tenha interesse em receber auxílio do Sebrae-SP entre em contato com o escritório da unidade mais próxima ou entre no sítio de Internet do órgão, pelo endereço www.sebraesp.com.br.

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