Tecnologia

Biotecnologia: tecnologia a serviço do sojicultor

Nova variedade da oleaginosa promete auxiliar o produtor no manejo contra plantas daninhas. Uma parceria público privada na área da biotecnologia vegetal que está dando certo e que vai beneficiar o sojicultor já nos próximos anos é a firmada entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a multinacional na área química BASF.

O órgão público e a empresa privada desenvolveram em conjunto uma variedade de soja transgênica tolerante a herbicidas a base de imidazolinonas.

Esta parceria começou no ano de 1997, quando a Embrapa e a empresa de biotecnologia Cyanamide começaram a desenvolver uma planta tolerante aos herbicidas da classe das imidazolinonas. Mais tarde, a Cyanamide foi incorporada a BASF que, desde então, tem sido a parceira da Embrapa neste projeto.

“Este é um excelente exemplo de como as empresas podem criar sinergias em pesquisa, desenvolvimento e comercialização que resultam em soluções feitas sob medida para os agricultores. Também é uma demonstração clara de que o Brasil é um centro de competência em biotecnologia e o berço de inovação em pesquisa e desenvolvimento no campo de organismos geneticamente modificados”, afirma Walter Dissinger, Vice-presidente de Produtos para Agricultura da BASF para a América Latina. As empresas atualmente estão trabalhando para registrar esta nova tecnologia junto à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), atendendo às exigências da Lei de Biossegurança 11.105/05.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja e os derivados desta planta estão entre os principais itens da pauta de exportação nacional. Daí vem a importância e, conseqüentemente, a preocupação estratégica do Governo de se conseguir cada vez mais produtividade nas lavouras. Com a inovação apresentada pela Embrapa e pela BASF, os sojicultores brasileiros terão uma nova opção no manejo de plantas daninhas. “É uma soja que tolera um grupo diferente de herbicidas. O objetivo é fazer o controle de plantas daninhas, facilitando a vida do agricultor”, explica Carlos Alberto Arrabal Aires, pesquisador da Embrapa Soja. Segundo o cientista, essa nova variedade facilitará o manejo do produtor, pois ele terá mais uma alternativa de uso de herbicida. “O sojicultor vai poder usar outra molécula para controlar as plantas daninhas, o que é muito importante, pois é sabido que o uso da mesma molécula ano após ano acaba selecionando algumas plantas daninhas resistentes, o que traz problemas para a lavoura.”

O desenvolvimento da nova variedade de soja seguiu um acordo em que ficaram definidas as participações de cada envolvido no processo. A BASF foi a responsável pelo fornecimento do gene ahas (pronuncia-se arras), que os cientistas descobriram ser o responsável pela tolerância ao herbicida. “Este é o primeiro projeto da BASF envolvendo transgênicos no mundo”, ressalta Carla Steling, gerente do departamento do Laboratório Global de Estudos Ambientais e Segurança Alimentar de Produtos para Agricultura Já os pesquisadores da Embrapa foram os encarregados pelo processo de inserção desse gene nas plantas de soja. O gene em questão foi retirado de uma planta chamada Arabidopsis Thalyana, muito estudada pelos cientistas e que possui o seu genoma seqüenciado. Técnicos aplicaram herbicidas em diversas variedades dessa planta. As que sobreviveram tiveram os genes ahas isolados por técnicos da Basf e disponibilizados pela Embrapa para serem acoplados nas plantas de soja. Da associação entre o gene e o processo desenvolvido pela Embrapa, foram obtidas plantas geneticamente modificadas tolerantes a herbicidas da classe das imidazolinonas.

A partir deste processo, foi realizado um trabalho de seleção das melhores plantas. “Foram selecionadas as plantas de soja que só tinham uma cópia desse gene se expressando de forma adequada para tolerar os herbicidas e que realmente possam vir a facilitar a vida do agricultor”, ressalta Carlos Arrabal. O pesquisador explica também que a pesquisa está atualmente em fase de desregulamentação, ou seja, estão sendo feitos estudos de bio segurança para responder se essa soja geneticamente modificada faz mal para a alimentação humana ou animal, se prejudica o meio ambiente ou se o agricultor não vai ter problemas na hora de usar este material no campo. Estão sendo feitos provas de 2 anos em 7 localidades diferentes no Brasil. Estes dados serão reunidos em um relatório que será encaminhado à CTNBio, o órgão governamental ligado às questões de bio segurança. “Isso vai ocorrer em meados de 2008 e a CTNBio terá material para avaliar se essa planta é perigosa, se tem algum problema de bio segurança, e vai dar o seu parecer. Se o parecer for favorável, a variedade estará liberada comercialmente e nós estaremos aptos a fazer a multiplicação dessa semente e das sementes das várias variedades”, explica Arrabal. É necessário um número considerável de variedades de plantas, porque uma só não atende a todas as condições de clima e solo no Brasil. “Precisamos ter um grupo de variedades de soja com a adaptação para regiões desde o Rio Grande do Sul até o Maranhão, para atender todo o mercado e a demanda que exige que essa semente realmente esteja disponível na hora em que for liberada”, enfatiza o pesquisador.

O produtor quando for adquirir essa nova variedade, deve tomar certo cuidado quando for aplicar o herbicida, já que ele é um pouco mais complexo do que o glifosato em ralação a aplicação. “Comparado ao glifosato, os herbicidas da classe das imidazolinonas são mais exigentes. Com o uso do glifosato, o produtor pode errar na dose, pode aplicar com diferentes tamanhos de gotas que não há tantos problemas no seu efeito. Já essa tecnologia [das imidazolinonas] exige mais cuidado. Ela não tem tanta flexibilidade como o glifosato, quanto a fase em que será feito o controle da erva daninha”, explica o Arrabal. Outro problema que o produtor pode encontrar aos usar esta variedade de soja, ainda segundo o pesquisador, seria a resistência que algumas espécies de plantas daninhas poderiam adquirir às imidazolinonas. “É o mesmo problema que o glifosato também tem com outras plantas daninhas. Não é exatamente uma desvantagem, mas eu acho que o glifosato, junto com os herbicidas a base de imidazolinonas vão ser complementares. Um vai controlar bem o que o outro não controla. E vai facilitar a vida do agricultor, além de fazer com que a cada ano, ele varie o tipo de molécula que será utilizada em sua lavoura, evitando assim, s seleção de novas plantas daninhas que poderiam trazer problemas futuros à sua produção”, explica o pesquisador.

Uma grande vantagem no uso desta soja é a menor quantidade de herbicida necessária para livrá-la das plantas daninhas, já que as imidazolinonas têm efeito residual. Ele serve para controlar tanto as plantas que já brotaram como também as plantas que ainda não germinaram. “Dá tempo para a soja crescer, fechar, e o produtor não terá problemas com as novas plantas daninhas ali. Este produto, em função da menor quantidade que precisa ser liberado no ambiente, já rendeu um prêmio Nobel aos seus inventores por essas duas razões: Menos produto no ambiente e é também menos perigoso para o aplicador”, conta Arrabal. Esse grupo de herbicidas é menos tóxico do que os produtos a base de glifosato.

Outra vantagem no uso desta nova variedade é que, adquirindo suas sementes, o produtor acaba ajudando a pesquisa cientifica agrícola brasileira, já que os royalties serão divididos entre a BASF e a Embrapa, que reverterá a parte que lhe cabe para o desenvolvimento de novas pesquisas na área de biotecnologia. O contrato de cooperação técnica formaliza a definição e o reconhecimento dos direitos da Embrapa e da BASF em relação a essa tecnologia, que possui patente no Brasil. concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). As duas empresas são co-detentoras da tecnologia. “O Brasil poderá, pela primeira vez, registrar uma planta geneticamente modificada produzida localmente, usando tecnologias patenteadas pelas duas empresas. O registro dessa nova tecnologia acontecerá simultaneamente em mais de 20 países produtores e importadores de soja e seus derivados”, ressalta Luiz Carlos Louzano, gerente de biotecnologia da BASF e um dos pesquisadores que encabeçam este projeto.

Esse será o primeiro produto geneticamente modificado a ser disponibilizado no mercado brasileiro obtido pelo “pacote tecnológico” de propriedade da BASF e da Embrapa. A expectativa é que as novas variedades de soja, decorrentes do trabalho de parceria formalizados no mês de agosto possam estar disponíveis para o produtor de sementes em 2010 ou 2011. Para o agricultor, a partir de 2012. “A biotecnologia é chave para o desenvolvimento futuro dos negócios, e estamos empenhados em direcionar a pesquisa tecnológica de forma ética e responsável, proporcionando o desenvolvimento da cadeia produtiva”, acredita o gerente de biotecnologia da BASF. Carlos Arrabal, da Embrapa, em uma frase explica o intuito desta pesquisa: “O nosso objetivo é facilitar a vida do agricultor”, conclui.

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