Avicultura

Galinha caipira: a verdadeira galinha dos ovos de ouro!

Uns as chamam de “pé duro”, outros de “pé sujo dos terreiros”. Enquanto no Sudeste do país são conhecidas como “colonial”, no Nordeste recebem o nome de “capoeira”. Não importa os nomes ou apelidos. As galinhas caipiras, resultantes do cruzamento aleatório de várias raças, vêm atraindo os produtores por serem rústicas e resistentes à doença. O baixo custo, a alta rentabilidade e a qualidade da carne e dos ovos são vantagens que favorecem a sua criação.

O gasto, em relação aos investimentos, é mínimo. As instalações, por exemplo, são de fácil construção e podem ser feitas com materiais encontrados na propriedade como pedaços de bambu ou madeiramento velho.

É necessário que haja uma parte coberta que sirva de proteção contra predadores, chuva e vento forte. Segundo a criadora de caipiras e aves de raça pura, Maria Virgínia Franco, sofisticação não é sinônimo de produtividade. “Quanto mais sofisticarem as instalações, menor será a reprodução”, revela. A proprietária do Sítio da Família, de Barragem, SP, diz que a caipira precisa manter contato com o meio rústico para produzir melhor. “Um lugar coberto com galhos de árvores como poleiros e pneus e bacias velhas como comedouro e bebedouro já é o suficiente”, explica.

Enchendo o papo

Não há mistério nas técnicas de manejo. A alimentação varia de acordo com a idade da ave. Para os “pintos caipiras” a ração de pintinho de um dia, conhecida também como inicial, é uma boa pedida. Já os frangos devem receber a ração de crescimento.

Se a finalidade de criação estiver voltada para a reprodução, o produtor precisa utilizar a ração de postura. Caso o objetivo for o corte, a ração de engorda é a solução. Uma porção de milho pode ser acrescentada a duas partes de ração, aproximadamente 100g/ave. A água corrente é uma fonte natural de alta importância para as coloniais. Os produtores podem utilizar bebedouros, entretanto, a higiene deve ser a mais rigorosa possível.

Por viverem feito gado, soltas no terreiro em pelo menos parte do dia, as coloniais buscam na natureza os alimentos que lhe são convenientes. Contudo, além do milho, pode-se acrescentar no menu da caipira um tira gosto à base de pragas e insetos.

Dentro do sistema

Para que no abate a carne seja mais macia o sistema de confinamento é o recomendado. O método semi-confinado que, divide o tempo das caipiras dentro e fora dos galpões, oferece maior textura e sabor não só a carne, como também, aos ovos. Já no extensivo, as coloniais podem se alimentar somente de milho e outros nutrientes, contudo, não obterão um resultado tão promissor. “A ave pode ser criada só com milho e alimentos verdes, mas a produtividade dela, em termos de ovos, diminui. É sempre bom dar um pouco de ração”, diz a proprietária do Sítio da Família. Embora o milho atue diretamente na gema tornando-a mais nutritiva e a alimentação verde auxilie no sistema digestivo das caipiras, a ração comercial é indicada para que esta ave tenha um melhor desenvolvimento.

As caipiras, por dividirem o mesmo campo, cruzam entre si e, portanto, não possuem um padrão definido. Algumas têm crista de serra enquanto outras, crista de rosa. As canelas e as pernas podem ser curtas ou longas. O porte geralmente é médio e o colorido das penas reflete o tupi guarani de suas origens. Segundo o criador de caipiras e aves de raça pura do Recanto Santa Clara, em SP, Sandro Henrique, a melhor fase de produção é na primavera. “Elas produzem mais. Botam praticamente todos os dias”, diz ele. De acordo com o criador, o ciclo de mudança de pena e recomposição da caipira acontece após a primavera. “É após a primavera que as caipiras entram novamente no auge da postura. Isso acontece porque na primavera produzem muito e perdem muitas proteínas, cálcio e sais minerais”, conta. Segundo ele, a postura de uma caipira é de 180 ovos/ ano e inicia-se, normalmente, em 8 meses indo até 5 ou 6 anos.

Caipira x industrial: quem pode mais?

De um lado a carne caipira com um sabor mais acentuado, carne firme e cor mais intensa. Do outro, a industrial com sabor mais suave, carne menos consistente e coloração clara. É importante lembrar que, devido aos estimuladores de crescimento utilizados por alguns criadores, a incidência em relação a resíduos químicos é muito maior nas industriais.

A consistência e o amarelo forte da gema caipira, às vezes avermelhado, entra em choque com a pouca densidade e cor esquálida da industrial. Enquanto grande parte das galinhas industriais tem a casca branca e fina, a caipira mostra-se mais saudável através do tom rosado ou avermelhado. Apesar de botarem pouco, é de valia dizer que as coloniais são excelentes chocadeiras não só dos próprios ovos. Elas possuem um instinto maternal aguçado protegendo tanto os ovos quanto a cria.

A caipira viva pode ser comercializada entre R$ 10,00 e R$ 15,00, ao passo que a industrial sai por volta de R$ 6,00. Contudo, segundo Sandro Henrique, enquanto a industrial leva 4 meses para chegar no ponto de abate, a caipira leva, aproximadamente, 12. Há também empresas como a Fazenda Aves do Paraíso, de Itatiba, SP, que comercializam caipiras. A Fazenda Aves do Paraíso trabalha não só com o melhoramento da caipira, mas também, com a venda de pintinhos de 1 dia. De acordo com a vendedora, Vanessa Cristina Fernandes, chega-se a produzir aproximadamente 120 mil pintinhos por semana. “A procura por caipira para corte é grande apesar do valor ser mais caro do que a ave industrial”, conta. A Fazenda Aves do Paraíso comercializa tanto diretamente com o consumidor como através de distribuidores. Segundo Vanessa Fernandes, a venda direta em relação ao corte está em torno de R$1,30 e quando o assunto é postura o valor negociado chega a R$ 1,70. Para os distribuidores o valor de corte sai por R$ 0,95 enquanto a postura gira por volta de R$1,20.

A avicultura convencional tem se limitado aos grandes investidores, portanto, a solução mais plausível para os homens do campo está na avicultura alternativa. É bom reforçar que, por serem rústicas, as caipiras dificilmente ficam doentes, portanto, não há grandes gastos com medicamentos. Vale lembrar que o resultado, apesar de ser mais demorado do que as demais aves, é positivo e a qualidade final faz diferença.

De acordo com Maria Virgínia Franco uma outra vantagem que a caipira traz é o alto grau de aproveitamento. “Dela tudo se aproveita. As penas são utilizadas para a confecção de bijuterias ou peças de artesanatos. O esterco é utilizado em hortas como adubo orgânico e as vísceras, após a desidratação, podem ser usadas para fazer rações para outros animais”, detalha. Além disso, cada vez mais a criação de caipiras é uma atividade promissora em que a oferta desse produto é menor do que a demanda. A comercialização pode ser feita diretamente entre o produtor o consumidor. As granjas e os supermercados estão repletos de caipiras e o consumo é alto. Deste modo, afirma-se que o frango caipira é uma ótima alternativa para o pequeno produtor.

Ciscando em outro terreiro

O “pé sujo dos terreiros” pode não ser craque em botar ovos, entretanto, dá um show quando o verbo é chocar. A caipira é tão boa no choco que muitos dispensam métodos industriais e trocam a tecnologia pela rusticidade. “Utilizamos as caipiras como ama para as aves de raça pura. A incubação industrial, feita na chocadeira, sofre muito com queda de luz, problemas com o controle de umidade e temperatura. Isso interfere no índice de nascimento”, conta o criador Sandro Henrique. Segundo ele, o índice de nascimento é de 90 a 95% quando a chocadeira é a caipira. Um outro fator importante que faz com que a caipira seja a chocadeira natural das aves de raça pura é que uma grande parte destas aves não possui vocação para chocar.

A invasão das caipiras no mundo das raças puras não se limita apenas ao choco. O cruzamento entre uma galinha caipira com uma ave de raça pura é uma atividade que vem trazendo bons resultados em termos de qualidade. Esta “miscigenação” resulta numa galinha conhecida como melhorada. “Muitos criadores introduzem um galo de raça pura para melhorar o plantel“, diz Sandro Henrique.

Para se obter um alto nível de postura, o criador costuma usar um galo da raça New Hampshire ou Rhode Island Red, de origem americana. Há aqueles que querem uma qualidade maior para a carne e um peso a mais ao corte, estes normalmente usam um galo da raça Orphington ou Gigante Negro. Caso este cruzamento seja realizado com sucesso o galo pode atingir até 7 quilos e a galinha 4 quilos. Já se o cruzamento for feito com um New Hampshire ou Rhode Island, aves de porte médio, o resultado será um galo com aproximadamente 5 quilos ou uma galinha entre 2 a 3 quilos. Todavia, se o objetivo maior for a busca de rusticidade então o cruzamento pode ser feito com a raça Cornish Dark. Tal mistura resultará em uma ave com excelente ganho de peso.

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