Pecuária

Canchim: buscando funcionalidade

A Associação Brasileira dos Criadores de Canchim realizou um encontro de juízes, técnicos e criadores da raça para discutir as diretrizes que devem nortear os trabalhos de seleção dos criatórios. O evento, que ocorreu entre 25 e 26 de fevereiro na Fazenda Calabilú, em Capão Bonito, SP, reuniu criadores de diferentes regiões.

Para Luiz Adelar Scheuer, proprietário da fazenda e criador desde 96, o encontro teve como principal objetivo uniformizar as visões sobre a raça, levando em conta as qualidades do animal e até mesmo alguns pontos a serem corrigidos como um todo. Segundo ele, a raça está pronta para crescer, pois foi preparada para o nosso país. “O Canchim foi uma opção econômica, uma vez que, observando diversos criatórios da raça, constatei que o Canchim era muito precoce, além de apresentar uma ótima carcaça e uma conversão alimentar muito boa, o que traz um resultado econômico favorável para o criador”, disse. Como selecionador, Scheuer tem buscado uniformidade para o seu rebanho. Na criação mais ampla, ele privilegia a área de olho de lombo, o posterior, a abertura de peito, musculatura, cascos e mucosa. “Tudo em função também do país tropical no qual vivemos”, disse.

Na opinião do criador José Frederico Modolin, o Canchim é uma paixão à primeira vista. “Foi uma escolha que fiz em 91, através de uma série de leituras, mas principalmente por ser um gado desenvolvido no Brasil”, declarou. Quanto a importância do evento, ele destaca que “este é um evento em que temos os técnicos fazendo julgamento e ao mesmo tempo comentários e os criadores participando efetivamente, todos em busca de uma padronização de conceitos. É uma oportunidade única para discutir a atualização das características do Canchim”.

O evento serviu ainda para um balanço dos trabalhos da ABCCAN no sentido de passar a todos os associados as orientações necessárias para se buscar excelência genética no trabalho de seleção. Para o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Canchim, Deniz Ferreira Ribeiro, apesar de algumas alterações na diretoria no ano passado, não houveram grandes mudanças de orientação no trabalho. “Estamos aumentado os esforços que já vinham sendo feitos a fim de divulgar e ampliar a imagem positiva que a raça já dispõe. O que surgiu com a posse da nova diretoria, foi um novo ânimo para o desenvolvimento dos trabalhos executados pela associação. Eles estão sendo feitos com muito critério e competência”, observou.

De acordo com ele, atualmente a raça padece dos males de uma conjuntura desfavorável que atinge a pecuária de corte. “O Canchim não está imune a essas conjunturas. A pecuária brasileira passa hoje por um período de transição em que o mercado não cresce na mesma velocidade com que vinha crescendo a alguns anos atrás, mas a raça está se adaptando e enfrentando todos os desafios de uma maneira bastante criativa e entendemos que esse seja um momento bom para inovarmos. Estamos conseguindo fazer isso e esperamos obter êxito nessa empreitada”, finalizou.

Segundo os criadores presentes no encontro, a utilização do Canchim no cruzamento industrial é o ponto principal para a conquista de novos mercados em 2005. Scheuer diz apostar muito na retomada do cruzamento industrial. “Apesar de o mercado pecuário vir de uma situação de crise, principalmente de preços, artificialmente rebaixados no abate, a nossa esperança é que o bom senso predomine e que se estabeleça um equilíbrio de ganho dentro de toda a cadeia, do criador ao distribuidor”, observou.

Para o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Pedro Franklin Barbosa, a evolução técnica da raça se dá a cada dia. “Desde 1972, o Canchim vem evoluindo através de programas para o melhoramento genético, como o feito em parceria entre a Associação e a Embrapa: o Geneplus. Todo o avanço apresentado pela raça pode ser conferido neste evento. Temos presentes aqui animais de excelente qualidade, frutos do trabalho do melhor criador de Canchim de 2004”, diz Franklin. Em relação a vantagem da utilização do touro Canchim no cruzamento industrial, o pesquisador ressalta que, numa avaliação recente da utilização do touro da araça no cruzamento, os pesquisadores conseguiram responder uma questão proposta em 1979 na 1ª Convenção Nacional de Criadores de Canchim, de qual seria o papel dela na pecuária brasileira. “Verificamos que este gado tem muito a contribuir no cruzamento com fêmeas Nelore, ou qualquer outra zebuína ou azebuadas e, mais recentemente, com fêmeas de raças britânicas. Então, procuramos avaliar o impacto econômico da utilização do touro Canchim e chegamos ao seguinte resultado: a diferença entre utilizar um touro Nelore e uma vaca Nelore e um touro Canchim e vaca Nelore é de R$ 3 mil a mais por ano por touro Canchim. Aí é só fazer as contas: se usar um touro é RS 3 mil, se usar 10 são R$ 30 mil, se usar 100 são R$ 300 mil a mais para o bolso do produtor. A diferença é essa vantagem econômica que só o gado Canchim pode proporcionar”, concluiu.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *