Agricultura

Soja – inimigos externos

No entanto, para que todo esse otimismo, não se transforme em desespero mais adiante, é preciso que os produtores de soja, redobrem sua atenção sobre os cuidados com a lavoura. De acordo com técnicos da Embrapa Soja de Londrina, PR, a cultura da soja está sujeita, durante todo o seu ciclo, ao ataque de diferentes espécies de insetos e pragas, além de problemas causados por parasitas, doenças e plantas daninhas que em condições ambientais e manejo favoráveis, podem atingir populações capazes de causar perdas significativas no rendimento da cultura.

Apesar dos danos causados às lavouras, por esses agentes, serem em alguns casos alarmantes, a utilização prévia de produtos químicos não é recomendada, pois, além do grave problema de poluição ambiental a aplicação desnecessária eleva os custos da lavoura e contribui para o desequilíbrio populacional dos insetos, alerta Ivan Carlos Corso, engenheiro agrônomo e pesquisador do setor de entomologia do CNPSO. Corso fala ainda, que o controle das principais pragas da soja deve ser feito com base nos princípios do “Manejo de Pragas” desenvolvido pela unidade que é referência mundial em pesquisa de soja.

O perigo visível

Os insetos e pragas que mais causam problemas e geram prejuízos às lavouras de soja no país podem ser divididos em duas categorias. Os de classificação primária, depende de fatores ligado a cada região e os de classe secundária, variam em função da freqüência, abrangência e danos provocados à cultura. A lagarta desfolhadora ( A. gemmatalis e P. includens ), por exemplo, começa representar perigo à lavoura quando encontrada em quantidade superior a 40 lagartas grandes ( 1,5 cm, em média) por cada 1 metro, em duas fileiras de lavoura. Além dessa, faz-se referência a espécie A. gemmatalis, também conhecida como lagarta-da-soja. Ainda neste grupo destaca-se ainda algumas espécies de percevejos que em altas infestações podem causar danos consideráveis.

Já, as pragas que são consideradas de difícil controle são motivo de preocupação de técnicos e produtores rurais em várias regiões do país. Nesta classe destacam-se os grupos do ” tamanduá da soja” também conhecido pelo nome de “bicudo da soja” o “percevejo castanho” e o “coró da soja”. O primeiro é um gorgulho de aproximadamente 8 mm de comprimento de cor preta com listras amarelas no dorso da cabeça e nas asas. Os danos são causados tanto pelos insetos em fase adulta, que raspam o caule e desfiam o tecido, como pelas larvas, brocando e provocando o surgimento de galha na planta.

No segundo caso, o “Percevejo castanho da raiz” há registros da ocorrência de duas espécies da família Cydnidae que sugam a raiz de soja em varias regiões do Brasil. A ocorrência dessa praga era esporádica, se tornando, a partir da década de 90, um problema em soja em semeadura direta ou convencional mais freqüente. É uma praga de hábitos subterrâneos e tanto as ninfas como os adultos atacam as raízes das plantas. Sua ocorrência como praga é mais comum na região Centro Oeste, mas sua incidência vem crescendo também em São Paulo e Minas Gerais. Foram ainda registrados focos isolados em lavouras de soja no Paraná e em Rondônia.

Atualmente, os prejuízos causados à soja por essa praga são bastante significativos, especialmente na região do cerrado brasileiro, onde as perdas de produção nas reboleiras de plantas atacadas, variam de 15% a 70%, dependendo da época do ataque.

O terceiro grupo também é um freqüente causador de problemas, pois está formados por uma família de insetos que vem causando problemas no Paraná, em Goiás e no Mato Grosso do Sul. O “Coró da soja”, como é conhecido, Também ocorre no Mato Grosso, no sudoeste do estado de São Paulo e na região do Triângulo Mineiro. As espécies predominantes variam em cada região, mas todas têm hábitos semelhantes e causam problemas parecidos à lavoura. Os sintomas mais comuns são amarelamento das folhas e redução do crescimento, causando, em casos extremos, a morte da planta. Os números de plantas mortas pode se alterar com a época de semeadura e com a população e o tamanho das larvas da área.

O se danos são causados pelas larvas que consomem raízes. No início do desenvolvimento das plantas uma larva com 1,5 a 2 cm de comprimento, para cada 4 plantas, pode reduzir o volume de raiz em cerca de 35% e uma larva de 3 cm, no mesmo nível populacional, causa redução de 60% ou mais nas raízes, podendo causar a morte da plântula. Para a maioria das espécies de coró na fase adulta apenas a fêmea se alimenta, ingerindo folha sem contudo causar prejuízos à soja.

Como controlar

No caso de infestação por insetos e pragas em lavouras de soja, o pesquisador mostra que o manejo, consiste, basicamente, em tomadas de decisão com base no nível de ataque, no número e tamanho dos insetos e pragas e no estágio de desenvolvimento da planta. Segundo ele, através de inspeções regulares são observados os níveis de infestação para posterior combate. Além disso, os níveis de ação e controle para as principais pragas da soja nas fases de emergência, período vegetativo e floração, devem ocorrer quando o número de desfolha atingir 30%, e 15% tão logo apareçam as primeiras flores, quando começa a fase de formação das vagens, enchimento das mesmas e maturação. “Esse procedimento deve ser repetido em vários pontos da lavoura, considerando, como resultado, a média de todos os pontos amostrados”, observa.

Onde ocorrer ataque por A. gemmatalis e P. includens ou lagarta desfolhadora e percevejos, existe um método bastante interessante que consiste em colher amostras utilizando um pano de cor branca, conhecido como bano-de-batida. O pesquisador explica que prende-se o tecido em duas varas, com 1 metro de comprimento, o qual deve ser estendido entre duas fileiras de soja. A partir daí, as duas fileiras devem ser sacudidas vigorosamente sobre o mesmo, para que ocorra a queda dos insetos que precisam ser posteriormente contados. “Assim é possível aferir e quantificar o grau de infestação por hectare. O controle sobre ou lagarta desfolhadora deve ocorrer quando forem encontradas 40 lagartas grandes, acima de 1,5 cm, por pano-de-batida em duas fileiras de plantas”.

No caso da utilização de produtos químicos como medida de controle das pragas da soja é recomendado levar em consideração a toxidade do mesmo, os efeitos residuais na natureza e os custos por hectare. Além é fundamental usar o EPI, Equipamento de Proteção Individual, durante o preparo e aplicação dos defensivos. Após o término da operação dar o destino correto às embalagens, conforme estabelecido na legislação. O pesquisador do CNPSO fala que no caso de infestação por lagarta da soja dar preferência ao controle biológico. “Na proporção de 20 g/ha de lagartas mortas pelo próprio vírus, aproximadamente, 50 lagartas/ha trituradas em um pouco de água ou na formulação em pó molhável também de 20 g/ha”, observa.

O controle utilizando o Baculovíros ( Inseticida Biológico), tecnologia desenvolvida pela Embrapa e que hoje é reconhecida mundialmente vem se difundindo, rapidamente entre os agricultores. Devido os resultados obtidos na área de soja tratada como o produto biológico no Brasil, que gira em torno de 1,7 milhões hectare, o pesquisador recomenda que se considere como limites máximos 40 lagartas pequenas no fio ou 30 lagartas pequenas e 10 lagartas grandes. “Em condições de seca prolongada ou com plantas menores que 50 cm de altura, deve-se reduzir esses níveis pela metade para a aplicação do Baculovírus”, observa.

O preparo do material depende de um processo relativamente simples, devendo o produtor bater a quantidade de lagartas mortas ou o pó misturado com água em liqüidificador, e coando a calda em tecido tipo gaze, no momento de transferir para o tanque do avião ou do pulverizador. No caso do material ser utilizado pela manhã, o preparo pode ser realizado na noite anterior. No caso do uso de avião, usar a mesma dose, empregando água como veículo, na quantidade de 15 l/ha , ajustar o ângulo da pá do “micronair” para 45 a 50 graus, estabelecendo a largura da faixa de deposição em 18 m. Voar a uma altura de 3 a 5 m. e 105 milhas/hora, com velocidade do tempo não superior a 10 km/h.

Em situações onde ocorre o ataque específico dos percevejos, as amostragens devem seguir algumas indicações como, serem realizadas nos períodos mais frescos do dia, quando a movimentação desses agentes é menor; além disso, o técnico ressalta a importância de se intensificar o controle nas bordas da lavoura, onde, geralmente, os percevejos iniciam seu ataque. “As operações devem se repetir todas as semanas, do início da formação de vagens (R3) até a maturação fisiológica (R7) e em lavouras com espaçamento reduzido entre as linhas, bater sobre o pano apenas as plantas de uma fileira. Neste caso reduz-se a população crítica pela metade”, conclui.

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