Agricultura

Milho – produção está ajustada com o consumo

Na opinião do superintendente de produto da Conab, João Paulo Moraes, com este volume mais os estoques que o governo possui, em torno 1,9 milhões de toneladas, o país talvez não precise importar milho neste ano, pois a produção versus consumo está bem ajustada. “É certo que muito dentro de um limite apertado, mas em princípio estamos equilibrados”, afirma acrescentando que se for necessário importar, o volume será muito pequeno.

No contraponto deste pensamento, o analista da Ceema, Centro Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário, ligado a Universidade de Ijuí, no RS, Argemiro Brum, acredita que a reposição do estoque via importação só não acontece se a safrinha for muito bem até o final. Uma quebra significativa vai trazer problemas para o abastecimento interno. Isto porque, segundo Argemiro, o Brasil está a cada ano, mais dependente da produção retirada neste período, para compor o seu estoque. “O que se torna um problema, pois depender da safrinha, é um grande risco”, avalia.

Para o analista, o crescimento da produção está relacionado à evolução da soja. Neste ano de 2004, por exemplo, foi plantado menos milho (5,1% na safra de verão do Centro-Sul; 3,9% a menos na safrinha e 2,9% no total do Brasil) em favor da soja. Graças a um aumento na área do Norte/Nordeste (+4,3%), a redução nacional não foi maior. Entretanto, o potencial de produção é enorme, sendo que a safrinha começa a se impor rapidamente como sendo a safra mais importante do país (somente entre 2001/02 e 2002/03 sua oferta cresceu em 5 milhões de toneladas). “Ao mesmo tempo, a demanda tem um potencial de crescimento, porém, ligado sobretudo ao sucesso da produção de aves e suínos as quais, por sua vez, dependem muito hoje do mercado exportador”, comenta.

Argemiro acrescenta que caso haja um incremento no consumo interno novamente (estilo início do Plano Real), o consumo de milho explode pelo aumento na demanda de carnes. Sem falar no consumo direto do milho, como silagem, para o gado leiteiro que igualmente sofre altos e baixos, porém, “tem um potencial de crescimento importante no país já que somos deficitários em leite”, diz.

O analista de mercado de milho da Agroconsult, Hugo Flumian, ressalta que a produtividade média da safra total no país é de 3.500 quilos/hectare, sendo que o Centro-Sul indica 4.250 quilos/ha na safra de verão e 3.800 quilos/ha na safrinha. Estes números são muito variáveis a cada ano, pois o clima é muito instável. Mas nota-se uma pequena melhoria da produtividade média em relação aos últimos anos.

“As maiores produtividades médias na safra de verão encontramos no Paraná (5.100 quilos/ha) e no Mato Grosso do Sul (5.000 quilos/ha). Na safrinha, a melhor performance encontramos em Goiás (4.200 quilos/ha)”, lembra.

Para o analista da Ceema, o processo de mudança em termos de produtividade e mesmo de aumento total da produção vai passar pela conscientização do produtor de que não é mais possível ficar plantando soja na mesma área por muito tempo. É preciso fazer a rotação de culturas para evitar as doenças que estão afetando a produtividade da soja. “A própria ocorrência da ferrugem asiática, vai forçar o produtor a fazer esta mudança. E, talvez assim, consigamos ampliar a nossa produção de milho”, imagina ele. Flumian acredita que um aumento de consumo de frango, no mercado interno e, principalmente na exportação, pode ser um fator que provoque aumento de consumo de milho e, com isto, melhoria nos preços da saca ao produtor. “Isto também vai ser um bom estimulante para o aumento da área de plantio”, afirma o analista.

A questão da exportação de frango já é uma realidade. E por isto, muitas empresas que atuam neste mercado já vêm comprando antecipadamente milho dos produtores para conseguirem ter estoques. Isto porque a gripe asiática que dizimou plantéis e a produção de vários países o que fez a exportação deste produto crescer significativamente. O índice chegou 9,3% no primeiro trimestre do ano, na comparação com mesmo período de 2003. Em receita, o aumento foi de 45,6%. De janeiro a março, 537,3 toneladas de frango inteiro e em corte foram embarcadas para o exterior, totalizando US$ 569,8 milhões, conforme a Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef). “Mas também este aquecimento nas vendas externas não deve durar muito, um semestre talvez, a aí, o panorama do milho deve voltar ao normal”, acredita Argemiro.

Para João Paulo, da Conab, o problema atualmente com o milho está em fazer o deslocamento para atender os vários mercados compradores, pois o maior volume de produção está no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Minas. “Mas todo o país consome milho e a logística de distribuição as vezes, tem encarecido o produto na ponta final”. Ele afirma que o governo vem trabalhando para resolver esta questão, mas por enquanto usamos o VEP, Valor de Escoamento da Produção, instrumento que equaliza os custos de transporte, explica.

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