Agricultura

Agroindústria começa a ditar as regras

A rigor, isso já vem ocorrendo, desde 1995, com as operações de securitização das dívidas, além do início do processo de associações, fusões e aquisições posto em prática por empresa consideradas líderes dos vários segmentos que integram o setor. Porém, aos poucos, essa transformação está deslocando para a agroindústria o poder de decisão, até então, uma prerrogativa dos produtores, sobre como, o quê e qual a extensão de área plantar.

Aplicação desse esquema não chega a ser uma novidade. A avicultura e a suíno cultura já o exercem há algum tempo. Portanto, se o País quiser atingir meta de 150 ou 160 milhões de toneladas de grãos, em 2.010, será mais viável através do sistema de integração. Esse objetivo de produção foi fixado, em perspectiva, no primeiro Congresso Brasileiro de Agribusiness, realizado em 2002, levando em conta um crescimento produtivo de 3,9 ao ano, contemplando consumo e comércio exterior das várias cadeias produtivas do agronegócio.

Ao citar essas estimativas, Luiz Antônio Pinazza, assessor da ABAG Associação Brasileira de Agribusiness, e integrando do IEAG- Instituto de Estudos do Agribusiness, afirma que a soja, quase totalmente (70%), já faz parte do sistema integrado, através da cédula de gaveta (CPR), um contrato firmado entre produtor e fornecedor, no caso, agroindústria. Ela dá como favas contadas que num futuro não muito distante, a agricultura deverá ser dirigida pelo agroindustrial, que se orienta pelo mercado. De um modo mais ou menos intenso, isso acontece desde a segunda metade da década passada, pois tem dado segurança ao agricultor que vêm, no sistema, uma forma de vender a produção. O setor agrícola, acrescenta, é o elo mais fraco, tem pouca margem de manobra nas commodities.

Modelo de crédito está ultrapassado

A boa receptividade ao sistema integrando, no entanto, não é unânime. Fábio Meirelles, presidente da Faesp, por exemplo, vê o esquema com alguma reserva. Para ele, o contrato com os fornecedores, muitas vezes, embute pacotes tecnológicos que fogem ao controle do produtor, principalmente no que diz respeito aos custos. Em defesa da integração, Pinazza, afirma que ela é necessária “diante do ‘modelão” de crédito agrícola em vigor, que está superado. O governo não tem recursos e entra com mais ou menos 40% das necessidades. O restante é financiado pela cadeia produtiva e pelo próprio produtor”.

O integrante do Ieag, lembra que, nesta temporada, o governo anunciou a disponibilização de R$ 32 Bilhões para o Plano de Safra. Porém, esse volume de dinheiro raramente é utilizado, na totalidade, pelos agricultores, devido a diversos problemas, entre eles, dívida anteriores, exigências bancárias. Uma alternativa, acrescenta, seria a ampliação da base de crédito à agricultura. Nesse sentido, surgiu uma proposta no último congresso da Abag (no final de junho, em Brasília), para criação das Letras de Comércio Agrícola (LCA), como forma de captar recursos para o setor, sobretudo para a área de exportação, com acesso favorecido aos pequenos e médios produtores.

Esse mecanismo poderia funcionar como base na emissão dos títulos pelo governo, lastreado na perspectiva de produção, distribuídos no exterior, de onde, predominantemente, viria o dinheiro”. Isso reduziria a exposição do País no mercado financeiro internacional, provocaria um impacto menor no Tesouro Nacional, podendo, ainda, estudar-se a possibilidade de uma aplicação livre, não necessariamente na agropecuária”.

O Brasil tem uma presença significativa no comércio mundial, com a soja, suco cítrico, carnes, café e fumo, consideradas como as principais commodities, além do açúcar. Dessa forma, a obtenção de verbas no estrangeiro pode ampliar obrigatoriedade de investimentos nessas culturas, até para cumprir os compromissos, em detrimento de outras, em especial as voltadas para o atendimento da demanda interna.

Soja empurra boi para o confinamento

Sob esse aspecto, Pinazza descarta qualquer dificuldade. No caso da soja, carro-chefe das vendas externas, se houve necessidade de expandir a área de plantio, “isso pode ocorrer com um avanço sobre os pastos, empurrando a pecuária para o confinamento”. Afinal, acrescenta, “o agribusiness é intensivo, exige a otimização da tecnologia”. No mais, o Brasil é o único país do mundo que pode expandir suas fronteiras agrícolas. “Atualmente, são ocupados cerca de 240 milhões de hectares. Desses 60 milhões são destinados ao plantio: 40 milhões de ha abrigam culturas anuais e os 20 milhões, perenes. O resto é usado como pastagem”.

A invasão dos espaços destinados aos bovinos, pela sojicultura, conforme o assessor da Abag, “não vai acarretar danos à produção, pode até possibilitar uma expansão na taxa de desfrute, atualmente em 18%, para 25%, que é a ideal. A bovinocultura é extensiva e utiliza cerca de 150 milhões de hectares. Nada impede que se coloque dois ou três animais por hectare e a área se reduza para 100 milhões/ha, pouco mais ou menos”.

Da mesma forma, caso sejam criadas as LCAs, a priorização de investimento na soja, ou outro produto qualquer de interesse do mercado internacional, não vai esvaziar as atenções para lavouras voltadas para o abastecimento interno”. A soja exige rotatividade no plantio e essa substituição pode ser o milho, o sorgo, enfim”. Além do mais, acrescenta, o “imobilizado (capital investido) da sojicultura serve, perfeitamente, para outros grãos”.

Com relação milho, Pinazza chama a atenção para o que considera “um teste” para o Brasil, neste ano”. A safrinha foi uma surpresa e deve render 11 milhões de toneladas. Esse volume vai permitir que o País entre na comercialização externa do produto com mais firmeza, obtendo maior liquidez, balizando os preços, entre outros benefícios”, profetiza.

No milho, EUA cedem espaço para o Brasil

No Médio prazo, o assessor da Abag vaticina mais vantagens ao grão produzido em Pindorama. Segundo ele, o Protocolo de Kyoto é irresistível e “mais de 35% dos países que o integram já reforçaram intenções de acatar e seguir as regras sobre a proteção ao meio ambiente. No momento em que essa adesão atingir 50%, ele será posto em prática. Como os Estados Unidos, na atual administração, se recusam a aceitar as orientações, isso, num futuro próximo, vai gerar uma posição de confrontação, pois o Protocolo restringe o uso de petróleo e derivados. Os norte-americanos utilizam hoje, 20 milhões de toneladas de milho para produzir 10 milhões de toneladas de etanol (álcool de milho). Essa demanda vai dobrar em cinco anos, prejudicando as exportações daquele país (atualmente, em torno de 50 milhões/t), abrindo um enorme espaço para o Brasil”.

Na área energética, lembra Pinazza, o Brasil tem “know-how” e um vasto cardápio. “Ainda que um tanto abalado, o Proálcool está aí”. Aliás, prossegue, a grande novidade, talvez deste milênio, “é a intensificação da demanda pelo combustível biodegradável e, quanto a esse aspecto, estamos bem servidos; temos o biodiesel, o dendê,s ol praticamente o ano inteiro, água, enfim. Está tudo aí, quase pronto para serem utilizados no novo ciclo de hoje que é alimento, fibras e energia renovável. O País está preparado. Daqui para frente, aquele que conseguir resolver esse problema dará um salto de qualidade”, garante.

Para ele, o Brasil tem de partir para melhorar a área sanitária, beneficiamento, agregar valores à produção. Para isso, é preciso solucionar” um grande problema relacionado à logística. É preciso redesenhar toda a infra-estrutura nos setores rodoviário, ferroviário, portuário e, principalmente, armazenagem. Hoje, a capacidade estática está estimada em 85 milhões de toneladas, das quais 5% estão nas fazendas. “Existem planos para a ampliação,já neste ano, com uma perspectiva de serem investidos R$ 500 milhões, pelo governo, finaliza.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *