Negócios

Equinos – reprodução sob controle

Mais do que a competitividade do mercado, hoje a principal barreira a ser transposta pelo eqüinocultor é a busca de um ponto de equilíbrio no trabalho de criação, que permita ordenar custos da propriedade de forma a manter a atividade rentável. Assim, cuidados na escolha dos animais baseado em dados de performance e produção e o emprego de técnicas de reprodução como transferência de embriões e inseminação artificial, antes exclusivas dos criadores de bovinos, são cada dias mais comuns nos haras que encontraram na profissionalização um caminho para se manterem viáveis.

Com 50 éguas Árabes em produção, o Haras Capim Fino, de Jaguariúna, SP, propriedade Paulo Roberto Ferreira Levy, coloca produtos à venda o ano todo. Num comércio muito mais difícil que no passado, hoje ele conta com uma seleção extremamente rigorosa para seus produtos. Atualmente, ofertar cavalos no mercado requer a preocupação de apresentar os melhores frutos da propriedade. Nesse sentido, torna-se indispensável o controle constante da performance da tropa. Se os potros tiveram desempenho superior que suas mães, sinal que a propriedade está no caminho, certo de uma genética mais avançada. Na reprodução, é o macho que tem a obrigação de ser o melhorador do plantel.

Assim como no mundo bovino, já não compensa o pequeno criador manter garanhões para monta natural. Com o advento da inseminação artificial, cavalos para cobertura são indicados somente para quem consegue uma agressiva promoção da propriedade ou para grandes tropas. Caso contrário, os animais terão sua vida fértil sub-utilizada. Longe dessa situação, a propriedade mantém esquema de condomínio para cinco garanhões. São reprodutores da casa, mas em sociedade com outros criadores ou empresas. Tratam-se dos cavalos Lyphard, Don El Chall, Aladdinn Echo, Af Don Giovani e Almaden.

Com vendas de sêmen para todo Brasil e também para exportação, os profissionais do Haras Capim Fino trabalham com material fresco e congelado. Além dos garanhões condominiados, o Haras Capim Fino trabalha com outros cinco animais, dois de terceiros e três de sua propriedade. Não vendemos dose, mas prenhez com garantia de nascimento vivo. Assim, o comprador tem a segurança de ter o produto no final do processo, comenta Levy, calculando que, anualmente, são vendidas cerca 450 coberturas artificiais.

A preferência pelo sêmen a fresco tem relação direta com tempo de vida do material depois de inseminado, que se mantém ativo por aproximadamente 48 horas, muito parecido caso a monta fosse natural. O congelado tem um período bem mais curto. A escolha de um ou de outro também interfere no acompanhamento folicular da égua. Em material fresco, observa-se a ovulação de 48 em 48 horas. No caso de congelado, há necessidade do controle de quatro em quatro horas. Não usamos mais monta natural e sêmen congelado somente quando o garanhão morreu ou está fora do País conclui.

Mercado evoluiu

Na raça árabe, os produtos criados nos mesmos níveis dos melhores plantéis do mundo. Com essa convicção, Paulo Roberto Ferreira Levy driblou a crise do mercado de eqüinos investindo em animais que pudessem impressionar criadores do norte e latino americanos. Deu certo!

Com a retirada do incentivo fiscal para compra de cavalos, em 1985, nos Estados Unidos, o Brasil soube aproveitar a oportunidade para formar uma criação de alta qualidade. Cavalos caríssimos passaram a valer ninharias, contribuindo para que o mercado nacional aprimorasse sua genética. O próprio Levy chegou a comprar uma égua por US$ 1.200.00, que três anos antes fora arrematada por US$ 450,000.00. Na segunda metade dos anos 80, o País importou mais de 500 exemplares do mais renomado garanhões e matrizes mundiais.

Tempos gloriosos de um mercado que desfrutava de vantagens econômicos, vivendo o auge de um setor, no qual, segundo Levy, trabalhar com animais de boas ou más características não fazia diferença na hora de fechar negócios.

Bastava apresentar o registro de origem e as portas para a comercialização se abriam. Era a febre de vender. Qualidade ou não representava apenas um detalhe, num universo em que qualquer reprodução de puro sangue garantia dinheiro no bolso.

Com a decadência da facilidade do comércio de cavalos a partir do início desta década, o mercado deixou para trás quem não estava preparado para enfrentar a concorrência com animais de qualidade. Os somente apaixonados pela criação, que não enxergavam oportunidades de negócios para seus haras, sofreram ao descobrir que produtos absurdamente caros passaram a não valer quase nada. O árabe presenciou um inchaço na década passada, mas que as exigências de mercado da década de 90 fizeram desistir quem atuava sem seriedade.

Hoje, são os filhos e netos dos animais importados entre 1996 e 1990 que aparecem nas pistas, ganham competições e conquistam mercado aqui e no Exterior. Na Exposição Nacional do Cavalo Árabe, por exemplo, chega-se a vender 20 produtos para os EUA, com aquisições rematadas por até US$ 350.000 – anualmente, são quase 40 cavalos. Para a América Latina, vendem-se outros 80 cavalos. Na edição do Leilão Invitation, do Haras Capim Fino, 40% dos cavalos foram rematados por criadores de outros países, o que representou 2/3 do faturamento total do pregão. Para este ano, a expectativa é ainda maior, pois, com a mudança na data, agora no primeiro final de semana de maio (01/5), não coincidirá com a exposição Ohio Buckeye, como no ano passado, o que permitirá a participação de investigadores norte-americanos. De 1993 até agora, os EUA compraram 39 animais com sufixo HCF, marca do Haras Capim Fino. Tudo isso, porque trabalhamos motivados pela qualidade, o que eleva internacionalmente a criação do árabe no Brasil, ressalta o criador.

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