Pecuária

Blonde x Zebu – um casamento feliz!

Rubens Assumpção é um dos mais antigos e bem sucedidos selecionadores da raça Blonde D´Aquitaine no país. Os resultados comerciais de sua criação são um forte demonstrativo das potencialidades da raça para aqueles que desejam investir e tirar lucros com o cruzamento industrial. Titular da Fazenda Bethânia, situada no município de Santa Fé do Sul, há 26 anos Rubens Assumpção já investia na seleção de gado para o cruzamento industrial, tendo começado a partir da cruza Zebe x Girolando. A intenção de dar início a seleção de outras raças o fez chegar ao Blonde, depois de uma série de estudos e visitas aos criatórios pioneiros, principalmente os do interior do Rio Grande do Sul. ” As qualidades que finalmente me levaram a optar pelo Blinde foram a produtividade a campo e a boa adaptação aos diferentes climas do país”, relembra o pecuarista. No princípio, após adquirir três touros PO de criadores brasileiros, Rubens definiu muito claramente as metas para a expansão do rebanho, entre as quais, a necessidade da cruza a campo para imprimir maior rusticidade às gerações futuras, e um grande investimento em inseminação, acelerando assim o crescimento do criatório. Cerca de duas décadas depois, os resultados apresentados pela Fazenda Bethânia são bastante expressivos. Atualmente o plantel perfaz um total de 8 mil cabeças, divididas da seguinte forma: 200 cabeças de gado Blonde PO, 3 mil cruzados Blonde x Nelore e o restante composto por reprodutoras. ” Evidente que isto não é mágica e necessita de um trabalho muito bem direcionado, desde o processo reprodutivo até a formação de pastagens para alimentar o gado.”

Com dois anos de vida, o animal cruzado tem apresentado um rendimento de 19 arrobas, considerando o período de confinamento de 60 a 90 dias. Para Rubens Assumpção ” isto representa um ganho enorme, já que o animal, classificado como novilho precoce, acaba indo para o abate mais cedo.” Na Fazenda Bethânia os machos entram na vida reprodutiva por volta dos 18 aos 24 meses, embora haja casos de alguns machos que iniciaram a cobertura aos 13 meses. Estes dados de eficiência revelam os bons ganhos obtidos com a criação. Por exemplo, o custo total do garrote (do nascimento ao pasto) fica em R$ 7,00 por mês, sendo que o preço do animal vivo ao frigorífico alcança R$ 540,00. Com a exceção dos aproximadamente 2 mil animais que seguem para abate todos os anos, outra fonte de lucros da Fazenda Bethânia tem sido a venda de reprodutores puros e cruzados. O índice anual de vendas está num patamar de 150 animais comercializados, a preços que variam de R$ 3.000,00 a R$ 4.000,00, na média, e com picos de preços que alcançam até R$ 10.000,00. O destino destes animais é bastante variado e muitos deles são negociados junto a pecuaristas que atuam no Brasil central. Considerado também como um dos pioneiros do Blonde D´Aquitaine no país, Rubens Assumpção tem uma visão otimista para o futuro da raça, baseado em seu próprio trabalho de aprofundamento das características de rusticidade e ganho perspectiva muito boa no Brasil.” ” O criatório nacional está em crescimento juntamente porque o Blonde tem um trunfo sobre as demais raças, que é a rusticidade. Ele trabalha muito bem a campo e em qualquer região do país, faça chuva ou faça sol”, comenta.

Bons resultados em qualquer região do país

Embora mais recente na raça, o pecuarista Lécio da Cunha Viana Filho também compartilha as mesmas expectativas de Rubens Assumpção. Mas ainda: após quatro anos de criação usando o Blonde para fazer cruzamento com Nelore, Lécio prepara – se para iniciar as primeiras ofertas de animais. ” Estou muito impressionado com a demanda pelo Blonde, principalmente dos estados do Brasil central. O mercado para o Blonde está em franca expansão e os criadores tendem a lucrar muito com isto”, comenta. Proprietário da LVF Agropecuária, localizada no distrito de Alberto Moreira, pertencente ao município de \barretos (SP), Lécio fez a opção pelo Blonde após certificar – se pessoalmente o desempenho do Blonde nas condições climáticas da região. Com base no que viu e aprendeu no criatório do pecuarista e amigo Horácio Nascimento Neto, Lécio adquiriu o primeiro touro Blonde D´Aquitaine e sem muita cerimônia colocou o animal para cobrir uma vaca Nelore. ” O resultado surpreendeu, porque das 60 vacas, 50 forma cobertas.” A LVF Agropecuária conta atualmente com dois touros e duas vacas Blonde POI e um restante de 60 vacas nelore PO e cerca de 200 vacas cruzadas. A produção de animais F1 já atingiu pouco mais de 70 animais, ” num patamar de qualidade muito além do programado.” Prestes a iniciar as primeiras vendas, programadas para meados de 1999, Lécio aposta nas características de rusticidade para que o Blonde consiga expandir sua presença: ” até agora as coberturas a campo nesta fazenda tem revelado excelentes resultados em condições de clima muito semelhantes ao de Mato Grosso ou Goiás, por exemplo, e isto é o que determina o sucesso que a raça está obtendo junto aos pecuaristas que buscam maior eficiência na cruzamento industrial”, avalia.

Eficiência reprodutiva é palavra de ordem

Assim como Lécio, o criador Rubens Buschman, Titular da Fazenada Padrão, em Chapadão do Sul, MT, também aponta a capacidade de cobrir um grande número de vacas no pasto um trunfo na mão da raça Blonde: ” Trata – se de uma raça de pelagem clara e curta, precoce, muito fértil e extremamente suas principais características nos cruzamentos, principalmente a musculatura, tornado seus descendentes com grau de sangue de 3/4 para cima muito procurados. Ratificando sua opinião, o criador lembra que o Blonde é originário de uma região árida na França, de pastagens pobres e temperaturas variando de 30ºC e + 40ºC. ” Por essas razões, o Blonde “é um animal que desenvolveu uma grande capacidade de conversão alimentar, transformando tudo que encontra de alimento em carne de qualidade, mesmo nos períodos de seca prolongada, com carência de Capim de qualidade, a realidade na região dos cerrados.” O projeto de Buschman é completo, ou, seja com cria, recria e engorda. Para um programa de cruzamento industrial realmente eficiente, ele utilizou como base zebuína as raças Nelore e Tabapuã, que, combinadas com bagagem genética das taurinas Blonde D´Aquitaine, Simental e Pardo – Suiço, oferecem um excelente novilho precoce. ” Para otimizar os resultados, montamos uma estrutura específica, desde a alimentação de bezerros com creep feeding até a terminação dos animais em confinamento. Nesse sistema, os garrotes vão para o gancho ao redor dos 18 meses com 16 – 17 arrobas”, afirma o proprietário da fazenda Padrão aproveita a diversidade de raças para obter também produtos three – cross, que, graças a maior heterose e uma cuidadosa combinação de qualidades, apresenta condições de ser abatido antes mesmo dos 18 meses. O cruzamento que Buschman mais está apostando nesse sentido é o que reúne o Blonde e o Simental na base zebuína. ” Com a aptidão leiteira do Simental e a qualidade de caraça do Blonde conseguimos fêmeas que são boas mães e machos insuperáveis na produção de carne.” Além da pecuária, Buschman também desenvolveu várias culturas, como soja (2.700 a 3.000 Kg/ha), milho(6.000 Kg/ha), algodão (180 @/ha) e arroz, plantado em áreas de pastagem para recuperação do solo, somando mais de 2.200 ha. A soja e o arroz servem também para a produção de sementes, da marca ” Sementes Nobres”, com uma produção anual de 40.00 sacas de 50 quilos de sementes de soja ao ano e 3 mil sacas de 40 quilos de sementes de arroz ao ano, tudo fabricado com matéria prima da própria fazenda.

Em busca de uma nova raça

Entusiasmado com a possibilidade de explorar de forma ainda mais intensa o Blonde no cruzamento a campo, o criador e atual presidente da associação brasileira Antonio Fábio Ribeiro, dono da Anfari Agropecuária, vem realizando um trabalho de cruzamento com vistas a formação de um novo tipo de gado, baseado na raça francesa (5/8) e no zebu (3/8). O diretor da empresa, Edson Antonio de Castro, esclarece que o objetivo principal é obter um touro rústico e precoce, com boa conversão alimentar e capaz de cobrir bem a campo no Brasil Central, vacas com tamanho médio, com precocidade sexual, facilidade de parto e habilidade materna adaptada às condições de épocas de chuva e seca, e bezerros com boa vitalidade e resistência a enfermidades. Com isso, ele espera um gado comercial mais pesado ao desmame e que atinja o peso de abate antes dos dois anos de idade criado exclusivamente no pasto, e, também, aumentar os índices de prenhez e de parição. ” A tradução desse trabalho será mais quilos de carne por área de pastagem utilizada”, afirma Castro, acrescentando que as características desse animal, que possui pele preta e pelo curto de coloração clara, favorecerá a sua atuação no Centro – Oeste: ” É um tipo de gado que todo mundo vai querer. O plano de acasalamento segue o esquema clássico, utilizado na formação da maioria das raças sintéticas existentes. Assim, em três gerações já se chega ao gado desejado. O cruzamento entre esses produtos f – 3 vai acontecer, visando a estabilização nesse grau de sangue (5/8 Blonde x 3/8 Nelore), porém, para se pensar no surgimento de uma nova raça sintética, há ainda outros caminhos a seguir.

É por isso que uma pequena parcela do rebanho, formada pelos animais classificados como elite (cerca de 20% das fêmeas e 3% dos machos) será colocada em regime de transferência de embrião e inseminação artificial. ” Queremos multiplicar rapidamente a ponta da pirâmide, visando entrar no mercado com animais de primeira qualidade, aptos a levar vantagem em comparação com outros produtos similares.”

Uma boa receita, com bons ingredientes

A fé de Edson de Castro no sucesso desse projeto se justifica. O cuidado na fonte utilizada para coleta de material genético é grande. ” Só utilizamos touros provados das duas raças. Já no cruzamento, todos os machos F – 1 e F – 2 são encaminhados para o abate e somente as fêmeas superiores à média permanecerem no programa”, explica. A implantação de um sistema informatizado de controle do rebanho, de grande simplicidade prática e precisão nos dados, vai permitir a elaboração de um sistema de controle de genealogia que permite a criação de diferentes de linhagens com pouco grau de perentesco, procurando evitar ao máximo altos graus de co – sanguidade no rebanho da Anfari.

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