Com o passar dos anos, se observou que o cruzamento industrial
com raças como o Texel, Sufolk, Dorper, Hampshire Down,
poderia trazer grandes benefícios a produção
de carne. Com isso, boa parte dos criadores passaram a optar
por reprodutores dessas raças, buscando incrementar
o rebanho. Mas há quem resista ao F1 e se mantenha
na produção com o puro Santa Inês, achando
que em alguns anos os criadores perceberão que o cruzamento
entre raças traz alguns problemas atrapalhando a produtividade.
Esse é um dos problemas enfrentados pela categoria,
já que não há modelos de criação
a seguir. Os rebanhos para corte sofrem muita especulação
de raças e o cruzamento pode ou não, ser uma
boa para o produtor.
Segundo o Presidente da Associação de Criadores
de Ovinos, Paulo Schwab, o principal obstáculo é
a falta de estruturação de todas as frentes
que compõem a ligação entre criadores
e consumidor. Seguramente, a maior dificuldade é
termos bons criadores, que consigam quantidade e qualidade,
frigoríficos adaptados ao abate de cordeiro, transporte
adequado e carcaças bem finalizadas e padronizadas
para que a ovinocultura deslanche no Brasil. Assim, diminuiríamos
substancialmente a importação da carne uruguaia.
Atualmente, 80% da carne de cordeiro consumida no País
provêm do Uruguai.
Alguns frigoríficos específicos para cordeiro
começaram o abate, mas ainda é muito pouco para
atender a demanda, já que há apenas nos Estados
de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Calcula-se que
90% dos animais abatidos no Brasil não provêm
de abatedouros oficiais, esse número diminui para 75%
no RS, mas ainda é considerado elevado pelo próprio
presidente da Arco.
Mudança de conceito
Acreditava-se que as raças lanadas não poderiam
ser boas produtoras de carne em regiões quentes, como
Goiás ou Pará, mas atualmente os cruzamentos
dessas raças com a Santa Inês tem sido cada vez
mais utilizados. Tenho notícias de cabãnha
no Estado do Pará que adquiriu animais Texel, do Rio
Grande do Sul, e estão muito contentes com os resultados,
afirma Enio Müller, presidente da Associação
Brasileira dos Criadores de Texel BrasTexel. A lã
serve como um isolante térmico, diminuindo a intensidade
do frio e do calor, o que contribuiria para a adaptação
desses animais em regiões tão distintas.
Em outras propriedades, a raça Dorper foi a que melhor
se adaptou, como é o caso da Fazenda Pedra Bela, do
produtor Nelson Guerra Varella. O produtor realizou testes
com Dorper e Texel, e acabou optando por utilizar apenas uma
raça. Entre as duas, achei que a Dorper me trouxe
mais resultados, contando a produtividade, adaptabilidade,
quantidade de lã, enfm. Hoje tenho seis reprodutores
machos white Dorper e outros seis Dorper para cruzamento com
as matrizes Santa Inês, afirma.
Opinião unânime entre criadores e especialistas
é a de que não existe raça ideal, mas
sim a mais adaptada para os seus interesses e para a sua fazenda.
No caso de Varella, o criador tinha apenas Santa Inês
puro para produção de carne, mas com o tempo
percebeu que o frigorífico pagava mais por animais
F1, além deles serem mais precoces. Foi uma constatação
lógica, já que os frigoríficos pagam
mais pelo borrego mestiço, cerca de R$ 0,60 por quilograma
(kg), além de eles irem ao abate em apenas quatro meses,
sendo metade do tempo mamando e o restante confinados,
conclui o produtor.
Segundo o presidente da BrasTexel, todas as raças são
importantes para a ovinocultura de corte e cabe ao produtor
saber qual é a melhor e mais produtiva para o seu rebanho,
levando em consideração aspectos técnicos
e não escolher com o coração. Ainda segundo
Müller, o que a raça Texel deve fazer é
divulgar os bons resultados na área de cruzamento industrial,
porque a qualidade do rebanho já é conhecida
de todos.
Nelson está confiante para o futuro, segundo ele, se
produzisse o dobro de animais, venderia tudo. A produção
vem aumentando ano a ano: em 2008 teve 737 partos; em 2009
foram 926; e para 2010 são esperados 1.200 cordeiros.
Em outra propriedade, também na cidade de Pedra Bela,
a 114 km da capital, um rebanho com 900 fêmeas da raça
Texel vem apresentando bons resultados ao produtor. A Fazenda
3 Sinos também confina os borregos nos últimos
meses, usando silo de sorgo produzido no local. Já
o pasto para o restante do rebanho possui azevem, aveia e
trevo no inverno, e piquetes com tifton, coast cross e vaqueiro
no verão. As únicas que recebem ração
são as fêmeas pós-parto, para melhor recuperação
e prepará-las para o próximo ciclo.
Trabalhamos exclusivamente com Texel porque é
uma raça muito boa e que se adaptou muito bem a nossa
propriedade. Além de finalizar o animal, também
produzimos plantel PO, porque acreditamos muito no potencial
da raça para os próximos anos, afirma
Leandro Navarro, o veterinário e administrador da fazenda.
A raça vem apresentando crescimento maior nas regiões
Norte e Nordeste, e deverá continuar sendo o pólo
de maior desenvolvimento da raça em termos de quantidade
de reprodutores machos.
Já na Fazenda Mov Dorper, a criadora Vilma Barbosa
Gomes trabalha exclusivamente com Dorper de elite. Iniciou
a produção em 2004, através de rebanho
Santa Inês, mas assim que cruzou com um Dorper, passou
a investir cada vez mais na raça sul-africana. Hoje
possui 300 animais, sendo 70 PO e o restante receptoras, as
chamadas barriga de aluguel ( a criadora utiliza a tecnologia
da transferência de embriões nos animais). As
receptoras são ¾, meio sangue e poucas são
Santa Inês pura. Continuo importando genética
da África, porque é o berço da raça
e lá a seleção está a frente da
nossa, comenta Gomes. Para ela, foi no final de 2008
que os produtores de cordeiros começaram a perceber
a necessidade de realizar o F1 para incrementar o rebanho.
A preocupação maior de Vilma é criar
parâmetros de qualidade do animal assim como no gado
leiteiro. Para quem vem de um rebanho leiteiro, como
eu, trabalhar com parâmetros que classifique a qualidade
seria ótimo para os ovinos, afirma.
Outra raça utilizada nos cruzamentos industriais atualmente
é a suffolk, que está apresentando crescimento
de animais nos últimos anos. Assim como qualquer outra
raça, a suffolk não tem números para
determinar o aumento, mas sabe-se através dos especialistas
que trabalham no campo. Segundo o presidente da Associação
Brasileira de Criadores de Ovinos Suffolk ABCOS, Teófilo
Garcia, há poucos criadores de animais puros, apesar
do mercado estar demandando reprodutores. Existe procura
de animais para rebanhos especificamente no Mato Grosso e
em São Paulo, mas há poucas opções
porque a genética da raça está na mão
de poucos criadores, comenta. Segundo o gerente de produtos
de caprinos e ovinos da Alta Genetics, Sergio Ribeiro, a demanda
de suffolk em 2009 foi concentrada em Mato Grosso, mas não
é a raça mais procurada atualmente. Santa
Inês e Dorper são as duas mais procuradas hoje
em dia, seguidas de Texel. Para 2010, vãos investir
em novos animais de Texel, porque acreditamos em uma demanda
maior para a raça neste ano, completa. Para se
ter uma ideia do domínio do Santa Inês como procura,
80% do sêmen vendido na área de ovinos foi Santa
Inês em 2009, sendo outros 15% Dorper. Para Marcelo
Roncoletta, gerente de ovinos da CRV Lagoa, o Dorper tem se
beneficiado do marketing da raça, e é comercializado
um pouco acima do mercado.
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