Essa foi a conclusão do estudo da Embrapa Agrobiologia,
em Seropédica (RJ). O ideal é a instalação
de 40 a 50 árvores por hectare. O que objetiva, além
da fixação de N, o conforto térmico para
os animais, por causa do sombreamento que as árvores
farão, explica Alexander Resende, engenheiro
florestal e especialista em recuperação de áreas
degradadas e recomposição do solo da Embrapa
Agrobiologia. Especificamente para o auxílio no processo
de recuperação de áreas de pastagens,
a recomendação é o uso dessas espécies
de árvores que desempenhariam o benefício ao
solo, com maior fixação de N e o gradativo incremento
nutricional dele.
A saída mostrou-se eficiente com o trato no solo, e
veio para amenizar um dos problemas mais crônicos da
atividade pecuária do País: a degradação
das áreas de pastagens. Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), pelo Censo Agropecuário
2006, a área de pastagens chega a 172,3 milhões
de hectares (ha) no País. Estima-se que, deste total,
100 milhões de ha sejam efetivamente cultivados. Dessa
área cultivada, há indícios de que cerca
de 60% esteja em início ou em avançado de processo
de degradação.
O manejo incorreto com o solo, o uso de cultivares inadequadas
para o tipo de clima da região e a lotação
inapropriada de unidades animal por hectare foram agravando
a condição de degradação do solo.
Em relação à evolução
desse processo de degradação de pastagens no
País, eu sou otimista, declara José Alexandre
Agiova, engenheiro agrônomo e especialista da área
de pastagens da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS).
Acredito que esteja reduzindo, especialmente pela introdução
gradual do sistema de integração lavoura-pecuária,
que tem promovido o melhoramento do solo tanto para a lavoura
como para o estabelecimento das pastagens.
A
cultura de forrageiras
O
estabelecimento da pecuária de corte, em especial a
bovinocultura, como uma das atividades econômicas mais
importantes do País, fez com que se reservasse uma
área muito grande para criar e alimentar os animais
a pecuária extensiva. Essa área sempre
teve a ocupação de plantas forrageiras e nada
mais.
O tempo e as pesquisas mostraram que o melhor desempenho em
conversão alimentar por animal se dava com o melhor
trato com o solo e o uso de forrageiras adequadas às
condições de solo e clima da região,
num menor espaço a pecuária intensiva.
Segundo Agiova, no Brasil, há ainda dois tipos de pecuaristas.
O primeiro, tradicional, mais preocupado com a genética
animal, entre outros aspectos produtivos, e que vê a
questão das pastagens como um item secundário.
Já o outro tipo de produtor, mais profissionalizado,
que percebe a importância da pastagem como um item que
irá baratear a alimentação do gado, em
função do melhor uso de tecnologias do campo.
A implantação de árvores em meio à
pastagem além de garantir a manutenção
e a recuperação do solo, resolve a questão
do estresse animal quanto mais sombra melhor para o
gado.
O
trio da salvação do solo
Uma
espécie leguminosa, uma bactéria e um fungo
essa foi a associação feita pela Embrapa
Agrobiologia para recuperação de solos, inclusive
para áreas que tinham por histórico o papel
de aterro sanitário. Segundo Resende, foram feitos
vários testes para descobrir as plantas que mais se
adequariam ao sistema, a partir da seleção de
bactérias que possuíam uma maior afinidade com
essas determinadas espécies vegetais.
A relação harmônica entre a planta e a
bactéria (simbiose) foi o ponto de partida da pesquisa
a bactéria auxilia a planta a captar o N presente
no ar e fixá-lo no solo em troca de alimento. A
partir dessa bactéria é feito o inoculante para
ser tratado à semente da planta. O caso de sucesso
dessa tecnologia se vê com o uso de inoculante na semente
de soja, que proporcionou um diferencial para a produção
brasileira do grão, declara Resende.
Aliado ao inoculante, são utilizados fungos do gênero
Micorrizocosa. Estes agentes se desenvolvem na parte radicular
da planta (raiz), formando uma espécie de teia, a qual
permitirá que a planta capte água e nutrientes
do solo de forma mais eficiente e em maior quantidade. Com
a aplicação desse sistema, há redução
de custo de adubação por fertilizantes de fontes
nitrogenadas, que pode cair em até 40%. Implantação
Para a instalação dessas espécies leguminosas
arbóreas é preciso que a área seja isolada
cerca de 1 ano e meio até garantir o porte ideal das
plantas, que vai de três a quatro metros (m) de altura.
O produtor pode optar pelo plantio da muda ou adquirir a semente
e fazer o tratamento com o inoculante específico dela.
No caso das mudas, é importante que se adube com dois
litros de esterco em cada cova para esta, recomenda-se
o tamanho 30x30x30 centímetros (cm) (largura, comprimento
e profundidade, respectivamente).
Sobre os custos, segundo Resende, cada muda corresponderia
a um custo de R$ 1,00 a implantação,
por hectare, seria de R$ 40 a R$ 50. Somando-se os custos
totais de instalação das árvores, incluindo
toda a mão de obra necessária, o custo chegaria
a R$ 100 por hectare. A principal preocupação
que o pecuarista deverá ter inicialmente é o
combate da formiga cortadeira, que poria em risco o desenvolvimento
das árvores, alerta o pesquisador. Mas
isso pode ser facilmente controlado com a aplicação
de formicidas, que pode ser encontrado em casas de produtos
agropecuários.
A unidade fluminense da Embrapa, no município de Seropédica,
produz as mudas, e produtores próximos a ela não
encontrariam problemas para obter a planta. Já os pecuaristas
que não estão no Rio de Janeiro, podem adquiri-la
em outros viveiros ou mesmo comprar as sementes das espécies
e fazer o tratamento com o inoculante ao fazer as mudas. O
pacote de 250 gramas fica ao custo de R$ 5,00. O importante
é realizar o tratamento com o inoculante específico
para cada espécie, já que ele só funciona
ou garante a eficiência mediante a bactéria que
possui o grau de afinidade com a planta, alerta Resende.
Nem sempre, querer é poder
O manejo para conter a degradação, ao moldes
tradicionais, com exames laboratoriais para saber a tipologia
de solo encontrado na propriedade, com a identificação
das qualidades físico-químicas da terra, tem
um custo. E ainda soma-se a isso o custo para correção
e adubação. No final das contas, o investimento
que deve ser feito torna o desejo de conter a degradação
das pastagens uma ação inviável.
Se analisarmos o calcário, por exemplo, que é
um item essencial para a recuperação do solo,
há propriedades em que um caminhão, que faz
o transporte desse insumo, não entra, dependendo da
localidade da fazenda, pondera Agiova. E se pode
chegar, é muito longe, o que encareceria o tratamento
de solo nesse processo de recuperação de pastagens.
Então a logística de distribuição
torna-se um fator que contribui para esse processo de degradação
de pastagens, destaca o pesquisador da unidade da Embrapa,
em Campo Grande (MS).
Custos
De um jeito ou de outro, o apoio técnico especializado
não deve ficar de fora. Isso assegurará o manejo
adequado em termos de correção de acidez e fertilidade
do solo. Essas informações, que inclui ainda
a disponibilidade de água e clima na região,
servirão de subsídio para a escolha da cultivar
que mais se adequará à necessidade do pecuarista.
Em termos de custo, para uma recuperação
de pastagens, completa, que terá de haver um trabalho
duro com o solo, no sentido de jogar o calcário e prepará-lo
para assim receber as sementes isso pode ficar na faixa
de uns R$ 500 por hectare, ou até mais, calcula
Agiova. É um investimento muito alto, que tem
de ser considerado, e que em curto prazo, não será
amortizado, mas sim, em médio e longo prazos. E isso,
mais pra frente, resultará em gastos menores já
que o que se fará são tratos de manutenção
do solo e pastagens.
Na propriedade de Marco Antônio Passareli Finardi, em
Álvares Machado (SP), dos 60 ha de pastagem, 50% encontravam-se
em estágio de degradação. No início
de 2009, 4,84 ha foram reformados, e para este ano serão
mais 4,84 ha a serem recuperados. A propriedade é
uma herança de 30 anos, e há 20 fazemos o trabalho
de recuperação de pastagem, mas com o uso de
tecnologia, como análises de solo, só foi possível
no ano passado, declara Finardi.
O investimento total girou em cerca de R$ 5 mil. Para este
ano, o produtor estima uma redução de custos
em função da redução do valor
dos insumos.
O trabalho de recuperação do pasto contou com
o consórcio das espécies Brachiaria brizantha
cv. MG-4 (Braquiária MG-4), Brachiaria humidicola cv.
Llanero (Dictyoneura) e a mistura das espécies leguminosas
Stylosanthes capitata e Stylosanthes macrocephala (Estilosantes
Campo Grande).
Já em Camapuã (MS), na propriedade de Cássio
Fugisaki, os custos totais de recuperação ficaram
um pouco mais salgados em torno de R$ 1.200 e R$ 1.300
por hectare. Na propriedade, a área de pastagem é
de cerca de 2.900 ha. Recentemente havíamos comprado
uma propriedade vizinha e tivemos de fazer esse trabalho de
recuperação, em função do grau
de degradação que havia, conta Fugisaki.
Como havia muita infestação de plantas
daninhas e a forrageira não era a que a gente queria,
tivemos de começar do zero.
Feitos os trabalhos no solo, em setembro de 2009, as cultivares
escolhidas foram o consórcio das espécies Brachiaria
brizantha cv. Marandu (Braquiarão) e a Braquiária
MG-4. Notamos que a produtividade aumentou, inclusive
a capacidade de engorda do rebanho. Como baseamos a alimentação
do gado em pastejo rotacionado e suplementação
mineral, estimamos até que haja animais mais precoces
para o abate, anima-se o pecuarista de corte.
Embrapa lança cultivar de maior valor nutricional
Entre as variedades de forrageiras desenvolvidas pela Embrapa
Gado de Corte, o mais recente lançamento é da
cultivar BRS Piatã, uma Brachiaria brizantha, resultado
de 16 anos de pesquisa. A forrageira possui características
de melhor valor nutricional e destaca-se por ser uma fonte
mais rica em proteína e de maior digestibilidade.
A ferramenta de difusão de tecnologias dessa cultivar,
com todas as informações de manejo, é
a própria Internet, pelo endereço, http://blogpiata.cnpgc.embrapa.br.
Este, futuramente, será o blog para a área
de forrageiras da Embrapa Gado de Corte, declara Agiova.
Em termos gerais, a planta é apropriada para solos
de média fertilidade e tolera solos mal drenados. Ela
produz uma forragem de boa qualidade e acumulação
de folhas, com colmos finos, o que resulta num melhor aproveitamento
pelo animal. A cultivar é ainda resistente ao ataque
de cigarrinhas-das-pastagens e destaca-se pelo elevado valor
nutritivo e alta taxa de crescimento e rebrota.
Os testes mostraram que, em parcela sob corte, a BRS Piatã
produziu em média 9,5 toneladas por hectare de matéria
seca com 57% de folhas, sendo 30% da produção
obtida na época seca. E o teor médio de proteína
bruta nas folhas foi de 11,3%. A época mais apropriada
para o plantio vai de meados de novembro a fevereiro, quando
o período das chuvas no Brasil Central é mais
firme. Se bem manejada, a planta estará pronta para
consumo dos animais de dois a três meses após
o plantio.
Com relação a ganho de peso animal, os testes
mostraram que a nova cultivar resultou em 45 quilos por hectare
por ano de peso vivo a mais que o Braquiarão.
A melhor cultivar
Mesmo sendo uma opção melhorada e resultado
de muitos anos de pesquisa, essa nova cultivar ainda não
pode ser considerada a salvação para a produtividade
dos pastos brasileiros. O que é preciso que fique
claro é que a melhor cultivar deverá ser aquela
que se encaixe no sistema de produção do pecuarista
e que seja adequada às condições de clima
e solo da propriedade, destaca Agiova.
Nesse sentido o pecuarista tem de conhecer bem os aspectos
de solo, as características físico-químicas
e a classificação dele se é misto,
arenoso ou mais argiloso; se o terreno é alto, o que
influencia em temperaturas mais baixas à noite, o que
dificulta o estabelecimento de algumas espécies de
forrageiras, como as do gênero Brachiaria, segundo o
pesquisador da Embrapa Gado de Corte.
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