O
diretor-técnico da União da Indústria
de Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de
Pádua, resume o que pode ser dito sobre 2009. Foi
um ano complicado para a produção porque a chuva
atrapalhou muito. Colhemos de 7 a 8% a mais que a safra passada,
mas teremos a mesma quantidade de produto no final, já
que a sacarose contida na planta se manteve. O que se mostrou
positivo para o setor foi a alta do preço dos produtos
relacionados, tanto no mercado externo como interno, trazendo
bons ganhos para o setor.
O gestor de riscos da Archer Consulting, Arnaldo Luiz, classifica
o ano como de recuperação do setor, já
que antes se trabalhava com ganhos muito baixos e até
prejuízos. Foi muito bom para o setor, atingindo
um resultado operacional excelente, que poderia ser melhor
se não fossem as chuvas. Foi uma safra de retomada
para a cadeia sucroalcooleira, conclui.
A produção total de cana moída pelas
usinas no ano passado foi de 612,21 milhões de toneladas
(t), segundo dados da Conab, um recorde nacional com cerca
de 7% a mais que a safra 2008/09, quando foram esmagadas 569
milhões de t. Já a produtividade média
aumentou 0,4% em comparação à anterior,
e agora é de 81.293 quilos por hectare. Segundo a Unica,
alguns grupos estão planejando continuar moendo cana
durante o período de entressafra ou estão planejando
antecipar o início da safra 2010/11.
Muita água
O excesso de chuva comprometeu a quantidade de produtos obtidos
por tonelada de cana esmagada, que na segunda quinzena de
novembro foi de 125,01 quilos de Açúcares Totais
Recuperáveis (ATR), 9,17% inferior aos 137,64 quilos,
apurados na segunda quinzena de novembro de 2008. Efetivamente,
a planta se desenvolve com as chuvas, atingindo tamanho maior,
mas mantendo a mesma quantidade de açúcares
disponíveis, tornando o volume colhido maior, mas a
mesma quantidade de ATR. Com isso, apesar da moagem acumulada
apresentar um crescimento de 7%, registrou-se queda na concentração
de ATR, o que fez com que o volume disponível para
a produção de açúcar e etanol
ficasse 1% abaixo em relação ao mesmo período
da safra anterior.
Etanol
Do total de cana esmagada na última safra, cerca de
54% (336,2 mil t) se destinaram à produção
de 25,8 milhões de litros de etanol, representando
redução de cerca de 7% em comparação
a 2008. Deste volume, 18,2 bilhões de litros são
do tipo hidratado (conhecido como álcool comum em postos
de combustíveis) e 7,6 milhões do anidro (etanol
que integra os 25% da gasolina). Em novembro foram vendidos
1,39 bilhão de litros, contra 1,55 bilhão no
mês de outubro de 2009, uma queda de 10,32%. Essa redução
é reflexo do aumento do preço do etanol hidratado
na bomba, principalmente em estados distantes dos pólos
produtores de cana-de-açúcar, fruto das dificuldades
na colheita da cana, da aproximação do período
de entressafra e, principalmente, da forte demanda de açúcar
no mercado externo devido a queda de produção
na Índia.
Nos últimos dois anos, o país asiático
diminuiu drasticamente a produção de cana, que
na safra 2006/07 tinha produzido cerca de 32 milhões
de toneladas e em 2009 não ultrapassou a marca dos
14,8 milhões. Com isso, as usinas brasileiras passaram
a aumentar produção de açúcar
para exportar à Índia, diminuindo a oferta por
etanol no mercado interno, tornando o preço do combustível
muito elevado em comparação à gasolina,
especialmente em estados distantes do Centro-Sul do Brasil.
Na exportação do álcool, teve redução
de cerca de 1,5 bilhão de litros em relação
à safra passada, que foi de 4,9 bilhões de litros.
Açúcar
Já o restante da cana moída, cerca de 46% (276
mil t), vai para a produção de 34,6 milhões
t de açúcar, cerca de 5 milhões a mais
que na safra passada. Cerca de 24 milhões de t de açúcar
devem ser exportadas prioritariamente para Índia e
Rússia. Na temporada anterior foram 20 milhões
t do produto. O consumo interno aproxima-se de 11 milhões
t, sendo que 60% por meio de produtos industrializados.
O Grupo São Martinho foi um dos que apostaram na produção
de açúcar devido à queda de produção
na Índia. Ao analisarmos a produção
na Ásia, passamos a dar prioridade a produção
de açúcar para aproveitarmos a alta do preço
no mercado internacional. Para 2010, imaginamos que a Índia
continuará produzindo abaixo do necessário,
tornando o nosso produto essencial e, por isso, vamos elevar
em 30% a produção em relação de
açúcar, explica João Carvalho,
diretor financeiro da São Martinho. Para ele, 2009
foi um ano muito bom para as usinas, tornando o preço
do açúcar atrativo e o do etanol dentro do mínimo.
Antes, vendíamos abaixo do preço de custo,
mas com a alta do açúcar e a diminuição
de oferta do etanol, conseguimos vender o combustível
a preços que trazem boa rentabilidade. Tem gente falando
que o etanol está caro nos postos de combustíveis,
mas na verdade está no preço correto,
argumenta.
Perspectivas 2010
A expectativa para o próximo ano é de manutenção
da alta demanda de açúcar pela Índia,
o que manteria o alto preço do etanol no mercado interno
e o bom volume captado pelas usinas. O volume a ser esmagado
também deverá apresentar alta, apesar de ninguém
palpitar a quantidade antecipadamente.
O grande desafio do setor é disseminar o etanol nos
demais países, já que no Brasil o combustível
já é uma realidade, com mais de 90% dos veículos
vendidos com a tecnologia flex-fuel, com motores funcionando
a gasolina ou etanol.
Da lavoura às pistas de corrida
Em janeiro o piloto brasileiro Klever Kolberg participou do
Rally Dakar com veículo a etanol, buscando divulgar
a tecnologia para o mundo. Como o carro ainda está
em fase de testes, a meta é apenas completar a prova.
Me incomoda não andar no mesmo ritmo dos outros
competidores, mas nesta primeira experiência não
estaremos com o foco na competição, mas sim
em provar que um veículo de série movido por
etanol pode completar a prova sem problemas, finaliza.
O projeto produzido pelo piloto é apoiado por diversos
segmentos da área, que investem na divulgação
do combustível pelo mundo, como a Unica, Cosan, Basf
e Valtra.
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