Vários mercados no início do ano sofreram
com a falta de crédito, o que prejudicou as importações
desses países, analisa o diretor técnico
da AgraFNP, Vicente Ferraz.
A depreciação do dólar em mais de 30%
frente ao real e de cerca de 20% perante demais moedas
influentes na economia mundial tornou-se um problema
para a competitividade das exportações do País.
De um lado, o Brasil, por ter se destacado nesse processo
recuperação da crise, acabou fazendo com que
fossem atraídos investimentos, o que é positivo
evidentemente, mas, por outro, trouxe um problema cambial,
com apreciação do real muito forte e a depreciação
do dólar, explica Ferraz.
Consolidações
do mercado
Apesar do ano ter se mostrado ruim para a comercialização
de carne bovina no mercado externo destino para onde
seguem um volume de 25% do total de carne produzida no País,
as consolidações que ocorreram no setor surpreenderam
os especialistas. O destaque foi para a união JBS-Friboi
e Bertin Agropecuária S/A e o fortalecimento do Grupo
Marfrig, a partir de várias aquisições
de plantas frigoríficas importantes. Já
esperávamos que isso acontecesse, mas não que
fosse numa velocidade tão grande, afirma Ferraz.
A vantagem disso, segundo Ferraz, se dá por uma melhor
organização e estruturação do
mercado de abate brasileiro, no qual o pecuarista teria menos
riscos de sofrer calote, no entanto, a preocupação
para pressão de preços da arroba para baixo
é real.
Para este ano de 2010, a dúvida recai sobre o que vai
acontecer com a economia mundial se caminhar do jeito
que vem, até então, sem nenhum alarde ou algum
outro fator que possa significar uma nova queda de confiança,
tudo indica uma recuperação gradativa da economia
mundial.
Já em relação à economia nacional,
é esperado um crescimento. Fato que, para a bovinocultura
de corte, especificamente, não significará razão
para euforia. Os preços deverão ficar
próximos aos praticados em 2009 ou até um pouco
melhores. O pecuarista terá uma rentabilidade mas ainda
não satisfatória, prevê Ferraz.
Ração em queda
O setor industrial de alimentação animal seguiu
o comportamento do mercado de carne brasileiro, e registrou
uma queda de 1,6% em termos de produção nos
primeiros nove meses em relação ao mesmo período
do ano passado, de acordo com os dados do Sindicato Nacional
da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
Os impactos da crise fez com que a produção
total recuasse para 43,3 milhões de toneladas nos primeiros
nove meses de 2009. Especificamente para bovinocultura, houve
uma redução de 7,1% no consumo de ração.
Segundo o Sindirações, no ano de 2009, o descompasso
na relação do valor da arroba do boi e o preço
do bezerro, além de outros fatores, forçaram
os produtores a tardar o confinamento, deixando o boi a pasto.
O resultado foi uma retração no consumo para
gado de corte. No total, foram produzidas quase 2 milhões
de toneladas de ração de janeiro a setembro.
Sêmen
em alta
Em contraposição ao cenário de crise,
o setor de inseminação do País manteve-se
em crescimento segundo a análise de algumas empresas
da área. Para a CRV Lagoa, por exemplo, o crescimento
deveu-se principalmente à comercialização
de sêmen sexado para a pecuária de corte
incremento que repercutiu no número de vendas e no
faturamento da empresa, destaca o gerente de desenvolvimento
de negócios da empresa, Antônio Esteves. Para
2010 estimamos um crescimento de 18% a 20% no número
de doses, apesar da sinalização não favorável
do mercado, mas estamos com a filosofia de investimento,
friza Esteves.
O bom resultado de 2009 também foi seguido pela ABS
Pecplan, a qual estimou um crescimento ao redor de 12% em
relação a 2008. Foi também o setor de
corte que influenciou nesse resultado, particularmente no
cruzamento industrial. As perspectivas para 2010 devem
ser melhores que 2009, prevê Márcio Nery,
diretor geral da empresa. Creio na continuidade do crescimento
do corte apoiado pela Inseminação Artificial
por Tempo Fixo (IATF) e pela falta de matrizes no mercado,
e de fevereiro a setembro ótimos preços do leite
que irão dar um grande estímulo ao produtor.
Creio em um crescimento ao redor de 15%.
Apesar da tão falada crise, o mercado está
bom, avalia o diretor da Alta Genetics no Brasil, Heverardo
Rezende de Carvalho. Isso se dá em função,
principalmente, do uso maciço da IATF, que deverá
fazer crescer bastante a área de gado de corte,
declara. O crescimento da empresa foi estimado em 10% em relação
a 2008, e para 2010 estima-se o mesmo nível de crescimento
de 2009.
Saúde
animal em alta
Pela análise do presidente do Sindicato Nacional da
Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan),
Emilio Salani, a indústria brasileira de saúde
animal deve registrar um crescimento da ordem de 5% em comparação
com o ano de 2008. O faturamento de 2008 atingiu R$
2,689 bilhões, desse total, 55,4% são referentes
aos produtos para ruminantes. Ainda do total desses R$ 2,689
bilhões, 34,3% refere-se aos produtos antiparasitários,
28% aos biológicos, 24% aos antimicrobianos e 13,7%
a outros produtos.
Sobre o mercado de febre aftosa, a demanda total prevista
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) para o ano de 2009 é de 386 milhões de
doses.
Para 2010, segundo Salani, a indústria veterinária
brasileira pode apresentar novo crescimento, especialmente
diante do aumento do consumo e dos investimentos em sanidade.
Couro em baixa
As exportações brasileiras de couros somaram
US$ 913 milhões até outubro, o que representou
uma redução de 46% em comparação
ao mesmo período de 2008, segundo dados elaborados
pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB),
com base no balanço da Secex.
Apesar das dificuldades e obstáculos que a indústria
curtidora se deparou ao longo de 2009, o balanço de
outubro de 2009 das vendas externas de peças em relação
ao mês anterior apontou um crescimento de 15% na receita
apurada, somando US$ 121,97 milhões, declara
o presidente do CICB, Wolfgang Goerlich. Segundo ele, o desempenho
do setor poderia ser melhor, se não fosse o impacto
da crise financeira que refreou a demanda internacional por
couros e a valorização do real perante o dólar,
o que prejudicou a competitividade do produto brasileiro nos
mercados internacionais.
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