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Pecuária de Corte - Demanda e dólar em queda prejudicam o boi
rev 143 - janeiro 2010

O saldo da bovinocultura de corte do País, em 2009, ficou negativo em função da crise deflagrada em setembro de 2008 nos Estados Unidos. Os principais aspectos que regeram essa queda foram a baixa demanda de carne no mercado externo e a depreciação do dólar perante o real – o que afetou significativamente as exportações. No acumulado de janeiro a novembro de 2009, foram embarcadas 1.139 toneladas (t) de carne, resultado 12% inferior em comparação ao mesmo período em 2008, de acordo com os dados da AgroStat Brasil a partir dos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Sobre o mesmo período, o preço por tonelada também ficou mais baixo – cerca de 15,2% menor.

“Vários mercados no início do ano sofreram com a falta de crédito, o que prejudicou as importações desses países”, analisa o diretor técnico da AgraFNP, Vicente Ferraz.
A depreciação do dólar em mais de 30% frente ao real – e de cerca de 20% perante demais moedas influentes na economia mundial – tornou-se um problema para a competitividade das exportações do País. “De um lado, o Brasil, por ter se destacado nesse processo recuperação da crise, acabou fazendo com que fossem atraídos investimentos, o que é positivo evidentemente, mas, por outro, trouxe um problema cambial, com apreciação do real muito forte e a depreciação do dólar”, explica Ferraz.

Consolidações do mercado

Apesar do ano ter se mostrado ruim para a comercialização de carne bovina no mercado externo – destino para onde seguem um volume de 25% do total de carne produzida no País, as consolidações que ocorreram no setor surpreenderam os especialistas. O destaque foi para a união JBS-Friboi e Bertin Agropecuária S/A e o fortalecimento do Grupo Marfrig, a partir de várias aquisições de plantas frigoríficas importantes. “Já esperávamos que isso acontecesse, mas não que fosse numa velocidade tão grande”, afirma Ferraz.
A vantagem disso, segundo Ferraz, se dá por uma melhor organização e estruturação do mercado de abate brasileiro, no qual o pecuarista teria menos riscos de sofrer calote, no entanto, a preocupação para pressão de preços da arroba para baixo é real.
Para este ano de 2010, a dúvida recai sobre o que vai acontecer com a economia mundial – se caminhar do jeito que vem, até então, sem nenhum alarde ou algum outro fator que possa significar uma nova queda de confiança, tudo indica uma recuperação gradativa da economia mundial.
Já em relação à economia nacional, é esperado um crescimento. Fato que, para a bovinocultura de corte, especificamente, não significará razão para euforia. “Os preços deverão ficar próximos aos praticados em 2009 ou até um pouco melhores. O pecuarista terá uma rentabilidade mas ainda não satisfatória”, prevê Ferraz.


Ração em queda

O setor industrial de alimentação animal seguiu o comportamento do mercado de carne brasileiro, e registrou uma queda de 1,6% em termos de produção nos primeiros nove meses em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
Os impactos da crise fez com que a produção total recuasse para 43,3 milhões de toneladas nos primeiros nove meses de 2009. Especificamente para bovinocultura, houve uma redução de 7,1% no consumo de ração. Segundo o Sindirações, no ano de 2009, o descompasso na relação do valor da arroba do boi e o preço do bezerro, além de outros fatores, forçaram os produtores a tardar o confinamento, deixando o boi a pasto. O resultado foi uma retração no consumo para gado de corte. No total, foram produzidas quase 2 milhões de toneladas de ração de janeiro a setembro.

Sêmen em alta

Em contraposição ao cenário de crise, o setor de inseminação do País manteve-se em crescimento segundo a análise de algumas empresas da área. Para a CRV Lagoa, por exemplo, o crescimento deveu-se principalmente à comercialização de sêmen sexado para a pecuária de corte – incremento que repercutiu no número de vendas e no faturamento da empresa, destaca o gerente de desenvolvimento de negócios da empresa, Antônio Esteves. “Para 2010 estimamos um crescimento de 18% a 20% no número de doses, apesar da sinalização não favorável do mercado, mas estamos com a filosofia de investimento”, friza Esteves.
O bom resultado de 2009 também foi seguido pela ABS Pecplan, a qual estimou um crescimento ao redor de 12% em relação a 2008. Foi também o setor de corte que influenciou nesse resultado, particularmente no cruzamento industrial. “As perspectivas para 2010 devem ser melhores que 2009”, prevê Márcio Nery, diretor geral da empresa. “Creio na continuidade do crescimento do corte apoiado pela Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF) e pela falta de matrizes no mercado, e de fevereiro a setembro ótimos preços do leite que irão dar um grande estímulo ao produtor. Creio em um crescimento ao redor de 15%”.
“Apesar da tão falada crise, o mercado está bom”, avalia o diretor da Alta Genetics no Brasil, Heverardo Rezende de Carvalho. “Isso se dá em função, principalmente, do uso maciço da IATF, que deverá fazer crescer bastante a área de gado de corte”, declara. O crescimento da empresa foi estimado em 10% em relação a 2008, e para 2010 estima-se o mesmo nível de crescimento de 2009.

Saúde animal em alta

Pela análise do presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emilio Salani, a indústria brasileira de saúde animal deve registrar um crescimento da ordem de 5% em comparação com o ano de 2008. “O faturamento de 2008 atingiu R$ 2,689 bilhões, desse total, 55,4% são referentes aos produtos para ruminantes. Ainda do total desses R$ 2,689 bilhões, 34,3% refere-se aos produtos antiparasitários, 28% aos biológicos, 24% aos antimicrobianos e 13,7% a outros produtos”.
Sobre o mercado de febre aftosa, a demanda total prevista pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o ano de 2009 é de 386 milhões de doses.
Para 2010, segundo Salani, a indústria veterinária brasileira pode apresentar novo crescimento, especialmente diante do aumento do consumo e dos investimentos em sanidade.


Couro em baixa

As exportações brasileiras de couros somaram US$ 913 milhões até outubro, o que representou uma redução de 46% em comparação ao mesmo período de 2008, segundo dados elaborados pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), com base no balanço da Secex.
“Apesar das dificuldades e obstáculos que a indústria curtidora se deparou ao longo de 2009, o balanço de outubro de 2009 das vendas externas de peças em relação ao mês anterior apontou um crescimento de 15% na receita apurada, somando US$ 121,97 milhões”, declara o presidente do CICB, Wolfgang Goerlich. Segundo ele, o desempenho do setor poderia ser melhor, se não fosse o impacto da crise financeira que refreou a demanda internacional por couros e a valorização do real perante o dólar, o que prejudicou a competitividade do produto brasileiro nos mercados internacionais.


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