Neste caso, a doença ocorre na fase final da lavoura,
causando danos aos grãos, que ficam com peso reduzido
e choco. Em situações mais graves de incidência,
a infecção pode quebrar a panícula, causando
prejuízo total na planta.
Segundo estudos elaborados pelo ex-pesquisador da Embrapa
Arroz e Feijão, Anne Sitrama Prabhu, cerca de 5 a 10%
das terras sulinas são contaminadas pela doença
todos os anos. Dentro deste percentual, o prejuízo
provocado pela doença variou de 10 a 80% na colheita
final. Atualmente, as lavouras localizadas na depressão
central e no litoral do Rio Grande do Sul são as mais
afetadas pela doença devido às condições
de solo e clima mais favoráveis.
Já no cerrado, o fungo se desenvolve nas folhas, causando
pequenas lesões que evoluem de tamanho, com margem
marrom e centro cinza ou esbranquiçado nas folhas.
Em condições favoráveis, as lesões
crescem, causando morte das folhas e, muitas vezes, da planta
inteira. Isso ocorre devido à diminuição
do poder fotossintético da planta ao ser atacada pelo
fungo, causando diminuição do tamanho dos grãos.
Transmissão
No Brasil, prioritariamente a brusone é transmitida
pela semente infectada. Porém, as sementes infectadas,
por si só, não provocam epidemia em condições
de plantios bem manejados. Outra fonte de inóculo são
os esporos do fungo, que sobrevivem nos restos culturais em
lavouras de segundo e terceiro ano de plantio consecutivo.
A terceira maneira de contágio são os esporos
trazidos pelo vento, produzidos nas lavouras vizinhas ou distantes,
plantadas mais cedo, constituindo-se de uma fonte importante
de inóculo, que pode causar grandes perdas para as
lavouras tardias. Todas as fases do ciclo da doença,
desde a germinação dos esporos até o
desenvolvimento de lesões, são influenciados
em grande parte pelos fatores climáticos.
A maneira mais importante de se prevenir da doença
é adquirir sementes de boa qualidade e procedência,
além de plantar o quanto antes, de preferência,
em outubro, explica Daniel Grohs, do Instituto Rio Grandense
do Arroz, o IRGA. A boa qualidade da semente amenizará
a infestação pelo maior meio de contágio,
que é a semente infestada, e plantando em outubro evitará
a segunda forma de contágio mais perigosa, que é
através do ar. Quando as terras ao redor já
estão com arroz plantado e infectado, o ar prolifera
o fungo e acaba atingindo as lavouras novas, por isso, é
importante que o produtor procure plantar o quanto antes.
Em 2010, especificamente, o problema da brusone será
um pouco maior que o normal, já que o fenômeno
El Niño trouxe muita chuva e, conseqüentemente,
deixou o ambiente extremamente úmido. Na realidade,
a chuva tem pontos positivos e negativos em relação
à doença. Devido à chuva, muito produtores
não conseguem plantar na época desejada, e acabam
deixando a semeadura para novembro e início de dezembro,
o que facilitará o contágio por meio do ar.
Além disso, a umidade facilita a dissipação
dos esporos, facilitando a viagem do fungo pelo ar. Por outro
lado, a chuva acaba limpando os esporos da folha, diminuindo
a dissipação. Com isso, entende-se que a partir
do momento que a planta já se desenvolveu, a chuva
só vem trazer benefícios. O que não é
bom é o orvalho e a elevada nebulosidade. As altas
temperaturas (entre 28 e 30ºC) contribuem também
para a proliferação.
Já no caso do arroz sequeiro, o ar seco é o
maior problema do produtor, resultando em morte rápida
das folhas. Em sequeiro, a época de semeadura é
a estratégia de menor custo para o produtor no quesito
controle preventivo. Em média, nas semeaduras realizadas
no mês de outubro, a probabilidade de ocorrer brusone
fica entre 0 e 20%. Já a partir de novembro esta faixa
fica entre 30 e 40%, e no mês de dezembro entre 60 e
70%. Além disso, as perdas médias de rendimento,
caso ocorram doenças nas semeaduras de outubro situam-se
entre três e cinco sacas por hectare (sc/ha). Já
a partir de novembro, as perdas médias situam-se entre
seis e 12 sc/ha. As perdas totais em lavouras, no caso de
anos epidêmicos, ocorrem especialmente nas semeaduras
realizadas a partir da segunda quinzena de novembro.
Controle
em sequeiro
Os danos causados pela brusone em arroz de terras altas podem
ser reduzidos significativamente por meio de práticas
culturais, uso de fungicidas no tratamento de sementes, aplicação
na parte aérea e uso de cultivares moderadamente resistentes.
Recomenda-se como medidas de controle o bom preparo do solo,
com aração profunda, o que reduz a severidade
da brusone pela diminuição do efeito de estresse
hídrico, uniformidade de plantio, utilização
de sementes sadias, tratamento de sementes com fungicidas
sistêmicos, plantio no mês de outubro coincidindo
com o início das chuvas. A adubação nitrogenada
em cobertura deve ser evitada entre 30 a 50 dias após
a germinação, para não aumentar a severidade
da brusone na fase mais suscetível. Não se recomenda
a pulverização com fungicidas na fase vegetativa.
A planta é mais suscetível ao brusone entre
30 e 60 dias após a semeadura. Em terras de sequeiro
usa-se fungicida a cada quinze dias, chegando a cerca de seis
aplicações por safra. A primeira seria realizada
no final do estágio R2, que é o final do chamado
emborrachamento, comenta Grohs.
A forma mais indicada é a utilização
de cultivares resistentes, sendo a opção mais
segura e ambientalmente sustentável, pois determina
menor necessidade do uso de fungicidas. Segundo o ex-pesquisador
da Embrapa Arroz e Feijão, Anne Sitrama Prabhu, não
há cultivares suficientes disponíveis no mercado
para os produtores, que acabam utilizando sementes já
conhecidas. Os produtores estão acostumados a
consumirem aquelas que já conhecem. Além disso,
não se tem sementes resistentes distribuídas
no interior de Mato Grosso, cita o pesquisador.
Controle
em arroz irrigado
Em arroz irrigado, o controle mais adequado é realizado
com cultivares resistentes, ou moderadamente resistentes.
Nas várzeas do Estado do Tocantins, para cultivares
suscetíveis recomenda-se uma a duas pulverizações
com fungicidas: a primeira no emborrachamento e outra na época
de emissão das panículas, de forma integrada
com práticas de manejo da cultura.
No Sul do País espera-se um bom preparo do solo, adubação
equilibrada, uso de sementes de boa qualidade fisiológica
e fitossanitária, semeadura, entre 15 de outubro e
15 de novembro, controle das plantas daninhas, troca de cultivares
semeadas a cada três ou quatro anos e semeadura com
densidade entre 120 e 150 kg/ha e com espaçamento não
muito reduzido (17 cm).
É importante a adoção de práticas
culturais combinada com o uso de cultivares resistentes, porque
ambas ajudam a reduzir o uso de produtos químicos e,
conseqüentemente, os danos ambientais e de custo de produção.
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