Na opinião do representante da Conab, em setembro de
2008 (quando surgiu a crise financeira), o plantio da safra
nacional de 2008/09 era realizado com elevados preços
dos insumos. Na colheita, os preços internos
e externos estavam muito baixos, era o efeito da crise, caracterizando
um processo de descapitalização dos produtores,
argumenta. Já para a safra 2009/10 observa-se
uma queda dos preços dos fertilizantes e outros insumos,
colaborando para a diminuição dos custos de
produção. Com o retorno do crescimento mundial,
gradativamente, será retomado o nível das exportações
de frango, suíno, soja, açúcar, entre
outros e, dessa forma, o produtor voltará a perceber
melhor renda, garante Rossi.
Sendo assim, o ano de 2009 não foi tão ruim,
como apontavam as projeções do início
do ano. Essa é também a opinião da senadora
e presidente da Confederação da Agricultura
e Pecuária (CNA), Kátia Abreu. Segundo ela,
em janeiro de 2009, as expectativas eram ainda mais negativas,
com desconfianças sobre a capacidade de recuperação
da economia mundial. Os pacotes de auxílio adotados
pelos governos ao redor do mundo reaqueceram a produção
e a renda. Seria bastante difícil repetir em
2009 os resultados de 2008, quando os preços dos produtos
agrícolas bateram recordes históricos no mercado
mundial e o clima foi bastante favorável no Brasil,
garantindo a supersafra, mencionou a presidente, durante
o Balanço de 2009 e as perspectivas para 2010
do Agronegócio Brasileiro, divulgado no dia 08
de dezembro, em Brasília.
Porém, o ano de 2009 passou por fases nebulosas. Na
opinião da representante da CNA, em 2009 houve queda
de produção de grãos e fibras em 6,35%,
na comparação com o ano anterior, ou seja, a
safra apresentou retração do recorde de 144
milhões de t para 134 milhões. O clima foi o
principal fator que promoveu a retração na oferta
de grãos, mas esse não foi o único problema.
Segundo ela aponta, a queda dos preços das commodities
agrícolas nos mercados internacionais, em decorrência
da queda do consumo motivada pela crise financeira internacional,
também prejudicou a rentabilidade do setor. Além
dessas dificuldades, o setor produtivo enfrentou problemas
como endividamento elevado, escassez de crédito, disparada
dos custos de produção no momento do plantio,
em especial a alta dos preços dos fertilizantes, que
prejudicaram o cultivo da última safra. Os agricultores
brasileiros, pressionados por um cenário de restrições
internas e externas, acabaram optando por uma lavoura de menor
nível tecnológico, gerando redução
na oferta final de grãos.
Na verdade, o que ocorreu no primeiro semestre de 2009,
após a crise financeira, e o que foi mais relevante,
é que várias empresas perderam suas linhas de
crédito. Somente aquelas que estavam mais preparadas
para enfrentar as dificuldades conseguiram superar a crise.
Algumas até aproveitaram a oportunidade, logo no início
do segundo semestre, quando o mercado começou a reagir
para investir. Porém, dessa vez, já ele (o mercado)
estavam bem mais seletivos, diz o presidente da Vanguarda
do Brasil, Leonardo Slhessarenko.
Com dez unidades de produção no Estado de Mato
Grosso e uma na Bahia, o Grupo Vanguarda, produtor de soja,
milho, algodão, e de carne suína e bovina, foi
um dos que aproveitou o momento para fazer a diferença
no mercado em 2009, com 230 mil hectares de áreas cultivadas
para a safra 2009/10. Em 2009, até superamos
as nossas expectativas. Na produção de milho
para a safra 2009/10, já é estimada uma área
plantada em torno de 50 mil ha, o que deve ser maior que a
safra anterior. Com uma produção de 260 mil
t, por exemplo, 80 mil a mais em comparação
à 2008/09, explica. Mesmo com os custos de produção
em alta e os preços em baixa, o produtor optou por
reduzir custos, sendo essa a única alternativa para
enfrentar as especulações do sistema financeiro.
Quando o mercado internacional sinalizou os valores
da saca da soja a R$ 10, o bushel, fizemos o dever de casa
com a redução de custos, que envolveu entre
outros, a questão da logística, porém,
investimos em área ao invés de recuar. Foram
215 mil ha em 2008/09, para 230 mil ha nas áreas de
2009/10, o que representou um crescimento de 7%, esclarece
Slhessarenko.
Já para o pequeno produtor da cidade de Toledo (PR),
Aluir Dalposso o ano de 2009 em suma foi muito negativo. Saímos
da safra de verão de 2008 historicamente ruim, com
as piores médias obtidas em relação à
produtividade e preços. Ingressamos na safra de inverno,
com um clima desfavorável quase não tivemos
produção e o produto não teve qualidade,
devido às geadas que afetaram a região. Um único
ponto positivo foi o custo de produção que ao
longo do ano apresentou uma melhora, principalmente quando
se falava em fertilizantes. Outro ponto foi o uso de novas
tecnologias que fizeram aumentar a produtividade, numa mesma
área, conta o produtor. E sobre as perspectivas
para 2010, Dalposso, que plantou 106 ha de soja, é
muito pontual. Até o momento o clima tem sido
favorável, a cultura da soja vem se desenvolvendo bem.
Nessa safra não plantamos milho, devido ao custo muito
elevado, e sendo que o preço também não
atingiu o valor adequado. Pensamos em melhorar os índices
alcançados da última safra, onde foram 250 kg/ha.
Uma média histórica muito ruim para todos nós,
conclui.
Para o produtor, Darci Lago Decian, da região de Dourados
(MS) os fatores climáticos foram os principais causadores
dos prejuízos ocasionados nas lavouras de soja, trigo
e milho em 2009. Já os preços da soja
animaram os produtores ao decorrer desse ano. O milho e o
trigo não sinalizaram melhora, este último,
no caso não tem nem comprador, brinca o produtor.
Até o presente momento 80% das condições
já são favoráveis para uma boa produtividade
e se confirmados os preços já são uma
redenção aos sojicultores. Se São Pedro
permitir, o governo ajudar com a situação do
câmbio e se as especulações de supersafra
não se confirmarem, o ano 2010 será excelente
para a soja, diz.O sobe e desce De acordo com o presidente
da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho
da Silva, no caso do sojicultor o produto ficou mais caro
em 2009. O preço real recebido pelo produtor
brasileiro de soja era de R$ 49,44 em dezembro de 2008. Naquele
período, o dólar valia R$ 2,40 e em Chicago
o bushel estava cotado em R$ 8,60. Em setembro de 2009, o
preço caiu para R$ 37,47, com o dólar a R$ 1,82
e Chicago a US$ 11,30. O produtor não conseguiu se
beneficiar da alta nos preços internacionais. Ao contrário,
a situação só tende a piorar, com a perspectiva
de safra recorde e, consequentemente, de queda nos preços,
analisa. A soja, como qualquer outra commodity de exportação,
sofre diretamente com as oscilações da moeda
e os preços internacionais. A supersafra que virá
fará com que ocorra uma oferta gigantesca do produto,
criando um cenário pessimista para as cotações
da oleaginosa na Bolsa de Chicago, que é referência
de preços mundial, justifica Ramalho.
Segundo o presidente da SRB, apesar das variações
cambiais, as exportações brasileiras de algumas
commodities, como açúcar (cana), algodão
e suco de laranja, ainda mantêm uma margem positiva
de rentabilidade e têm mantido uma significativa taxa
de crescimento, gerando ganhos de participação
no mercado internacional.Safra 2009/10,
a fase da recuperação Na opinião da representante
da CNA, o ano de 2010 será marcado pela recuperação
dos resultados da agropecuária brasileira, tanto em
volumes produzidos e comercializados como em faturamento e
crescimento da receita. A CNA avalia que, no próximo
ano, o Produto Interno Bruto (PIB) rural voltará aos
patamares de 2007. Os bons sinais já surgem nas perspectivas
quanto ao comportamento do Valor Bruto de Produção
(VBP) do setor agropecuário, que poderá atingir
R$ 245,1 bilhões, em 2010. Tal projeção
representa um aumento de 5,13% na comparação
com o total de R$ 233,17 bilhões de 2008, segundo a
divulgação realizada em dezembro. Mas, segundo
a presidente da CNA, apesar da expectativa de recuperação
e dos bons sinais que a anunciam, o setor não deve
esperar grandes margens na comercialização.
O real deverá manter-se valorizado, o que, além
de comprometer parte do resultado da atividade para o produtor,
ocasionará perda de competitividade do produto nacional
no mercado externo. Há outros fatores que podem afetar
negativa ou positivamente o agronegócio, como o clima,
ressalta Kátia Abreu.
E o que o produtor poderá esperar para a safra 2009/10?
Segundo a Conab, a expectativa do produtor para a safra segue
em duas direções. A primeira está
relacionada com a produtividade esperada que, pelo que tudo
indica, teremos índices de produtividade satisfatórios
para a maioria das culturas devido ao clima favorável
até o momento e as previsões também indicam
condições climáticas favoráveis
até o final da safra, diz o presidente da Conab.
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