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CANA ORGANICA - LAVOURA NATUREBA!
rev 142 - dezembro 2009

Em curto prazo a produção é cara, mas em longo prazo os resultados são bem mais positivos, com destaque à melhoria da qualidade do solo, dos nutrientes presentes nele e na própria resposta em produtividade. Esses são os aspectos da produção de cana-de-açúcar orgânica, que está sendo desenvolvida numa faixa próxima à região litorânea do Ceará, pelo Grupo Ypióca, um dos maiores e mais tradicionais do País na produção de cachaça e etanol.
“Em termos de custo, o produto é mais caro, pelo fato da lavoura não poder ser tratada com agentes químicos, e com maior uso de mão de obra no manejo com a lavoura, na retirada do mato e pelo próprio uso do adubo orgânico que é mais caro”, aponta Paulo Telles, diretor de planejamento do Grupo Ypióca.

“No entanto, em longo prazo, todo esse trabalho vai se revertendo em qualidade para o próprio solo, através da estrutura e da riqueza dele, com isso há uma resposta melhor em termos de produtividade”, afirma.
São 200 hectares de área plantada com a lavoura orgânica – uma cultura que, para a certificação, não se deve tão somente ao estado da plantação em si, mas a todo o contexto social no qual a cana está inserida. Segundo Telles, trabalhos com a conscientização ecológica, de manutenção do meio ambiente, juntamente com a comunidade em volta da região também fizeram parte da filosofia ‘do jeito orgânico de ser’.

Tudo começa com a semente

O primeiro passo para a produção começa com o cultivo de sementes comprovadamente orgânicas. Para isso o produtor deve buscar em empresas idôneas esse tipo de material, certificado, para que possa comprovar também a origem dessa semente.
O plantio é o convencional e comum para toda lavoura de cana, com a abertura de pequenos buracos na terra (sulcos), para ali serem depositadas as sementes. “A diferenciação no manejo com a lavoura orgânica volta depois nos tratos culturais da plantação, como na parte de adubação, a qual se faz a partir de um adubo orgânico, seja ele compostagem ou húmus, o adubo de minhoca”, explica Telles. Ficam de fora os compostos minerais nitrogênio, fósforo e potássio – o trio básico de adubação, também conhecido por NPK, além de pesticidas e inseticidas. Isso garantirá que a planta e o solo fiquem livres do contato direto por compostos químicos. “Depois de um ano vem a colheita, e ela tem de ser feita crua, ou seja, de forma manual ou com o uso de máquinas e sem a queimada da cana, principalmente”, declara Telles.

Equilíbrio

Fora o custo de mão de obra, os demais tratos com a lavoura são, de certa forma, menos preocupantes, até em questão do tratamento fitossanitário da lavoura. Variedades orgânicas, adaptadas à região e resistentes aos ataques de pragas e insetos conduzem a facilidade com o manejo da plantação.
O que também foi de grande valia para a saúde das plantas foi a consorciação de matas nativas em meio ao canavial – o que corresponde a 160 hectares, nos quais estão presentes espécies da vegetação de Mata Litorânea e da Caatinga, como o Pau ferro (Coesalpinea ferrea L), o Cajueiro nativo (Anacardium occidentale L), a Catanduva (Catanduva sp), a Carnaúba (Copemicea prunifera), o Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), a Umburana (Amburana cearensis), o Angico (Anadenanthera praegrina L), a Aroeira (Myracrodruon urundeuva), entre outras espécies vegetais.
Essas árvores preservadas na área, formam faixas de microecossistemas que servem como um tipo de escudo contra o ataque de pragas à cana. “Como a praga está no seu habitat natural, ela vai preferir ficar nessa área ao invés de ir atacar uma outra, na qual está a cana-de-açúcar”, pondera Telles.
O único problema está relacionado ao ataque da broca da cana (Diatraea saccharalis) à lavoura. No entanto, o controle biológico a partir da vespa, Cotesia flavipes, mostrou-se de muita eficiência.

Essência orgânica

Como a queimada da cana já era uma prática mais do que abolida nas propriedades do grupo, e o trato do solo com matéria orgânica se fazia necessário para a gradual correção dele, além da preservação de matas nativas associadas à lavoura, o passo para a certificação da lavoura como orgânica foi apenas uma questão burocrática.
A essência orgânica já estava presente na lida com a cana-de-açúcar – só restava mesmo um documento testificando isso. Documento este que garantiu a produção de uma cachaça bem aos moldes do gosto europeu – ávido pela linha de produtos caracterizados como orgânicos.

Mecanização também é o futuro para a lavoura orgânica

Com a melhor estruturação da lavoura e a gradual recolocação dos trabalhadores do corte de cana do País em novas áreas, a mecanização torna-se cada vez mais uma realidade para o trato com a lavoura, além de garantir o melhor aproveitamento em menos tempo.
E como a cana tem sido uma cultura que também está nas mãos de pequenos e médios agricultores, uma linha de máquinas (pequenas e médias) se enquadram bem nesse perfil de produtores.
É o caso do lançamento da colhedora de cana A4000 da Case IH. A máquina foi projetada especialmente para o trabalho em áreas plantadas com espaçamento reduzido a partir de um metro. “Ela representa uma nova categoria de colhedoras e será a porta de acesso à mecanização de pequenos e médios fornecedores de cana. A máquina tem como nicho principal o mercado do Nordeste e áreas com solo de baixa fertilidade. Além disso há a necessidade de uma resposta efetiva à legislação ambiental e ao fim das queimadas”, destaca Roberto Biasotto, especialista de produto da Case IH.
Outro lançamento que também promete grandes resultados para o setor é o da linha A8000, a qual se destaca pela nova motorização, nova cabine eletrônica, novo sistema de arrefecimento, novo picador (Extreme Chopper) e a introdução da já consagrada tecnologia de agricultura de precisão Case IH, AFS (Advanced Farmming Systems). “Todas estas inovações e muitas outras melhorias introduzidas nas colhedoras de cana da série A8000 são resultado do constante processo de melhoria contínua e compromisso da Case IH com a evolução do setor sucroalcooleiro mundial”, conclui Biasotto
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