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OVINOCULTURA - OVINOS NO NORDESTE
rev 132 - fevereiro 2009

Murilo Góes

Com um aumento significativo do número de animais, abertura de novos pólos e – conseqüentemente à alta demanda pela carne – a Santa Inês é hoje das raças mais cobiçada por criadores, principalmente do nordeste do País.

Os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o rebanho brasileiro de ovinos está em torno de 14 milhões de cabeças, sendo que são 3,3 milhões de animais no estado do Rio Grande do Sul, ainda líder nacional na ovinocultura. Por outro lado, os dados também comprovam uma migração acentuada da criação para outras regiões, como Bahia, seguido do Ceará, Piauí, Pernambuco e Paraíba, estados denominados típicos somente para a caprinocultura.


Da esquerda para direita: Magim Rodriguez (pai) e Fábio Cotrim Rodriguez (filho)

Em Pombal, a 371 quilômetros da capital João Pessoa (PB), o engenheiro civil Raimundo Queiroga Neto apostou alto na escolha da atividade. Assim, há sete anos, entre hotelaria, avestruz e gado leiteiro, ele optou pela criação de ovinos Santa Inês.

A decisão foi tomada por várias questões técnicas e também pela boa valorização da atividade, inclusive com preços elevados de animais em leilões. Também pesou o fato de a cidade de Pombal já ser conhecida pela qualidade genética, rusticidade, pureza e raça e, principalmente, pela certeza de que quem adquirisse animais da região comprovadamente melhoria a qualidade do seu plantel. Um resultado que segundo o criador “só Deus pode explicar”. E os anos mostraram que a escolha do engenheiro estava certa. “Quando iniciei a criação, ninguém conhecia Raimundo Queiroga. Hoje, sete anos depois, o Rebanho Agromassa é promotor de grandes eventos e que atingiu vendas superiores a R$ 1,2 milhão”, conta satisfeito o criador.
Já hoje, a aposta de Raimundo Queiroga é no potencial genético da raça Santa Inês. Tanto que há um trabalho focado neste sentido buscando atender às exigências dos mercados quanto à produção de carne com foco principal no aprimoramento da raça. “Buscamos os melhores acasalamentos em função dos produtos já nascidos. Viabilizamos as melhores técnicas de inseminação artificial, transferência de embriões e FIV [fertilização in vitro], sempre utilizando os reprodutores de Pombal ou com a genética daqui”, diz.
Atualmente o rebanho de Queiroga é composto por 300 animais, sendo 180 matrizes e 20 reprodutores, 100 borregas e borregos em seleção. A criação é mantida em 15 hectares, dividida em 20 piquetes. Os animais do Rebanho Agromassa recebem tratamento diferenciado, de acordo com a idade e finalidade. Tudo supervisionado por veterinários que dão uma consultoria especializada. Lá, podemos dizer que matrizes e reprodutores são “vips”. “Nós últimos anos, o sucesso de Pombal quanto à criação de Santa Inês ocorre porque os criadores têm adotado uma seleção genética. Só para ter idéia, nos últimos anos saíram daqui cinco grandes Campeões Nacionais”, ressalta.
Sem dúvida, a raça Santa Inês se adaptou muito bem ao semi-árido brasileiro e, quem diria virou marca registrada da cidade de Pombal. “Hoje existem diversos criadores buscando cruzamentos voltados para um melhor rendimento na produção de carne e utilizam principalmente o Dorper, de origem Sul Africana, uma raça que vem se adaptando muito bem”, conta Neto, que dá sinais que uma outra raça poderá crescer também no nordeste .
Outro exemplo de fortalecimento da Santa Inês na região é o criatório da Estância Vale Encantado, localizada no município de Serra Preta, a 200 quilômetros de Salvador (BA). Há muito tempo, a família Moreira tinha em suas terras uma pequena criação de ovinos. Mas só a partir de 1990 é que o criador Agnaldo Moreira decidiu investir em genética e na seleção de raça. Hoje, há 300 hectares destinados a um rebanho de 800 animais, entre caprinos Anglo Nubiano – uma raça inglesa e que se adaptou muito bem ao clima sertanejo –, e ovinos Santa Inês. “Agora como nosso objetivo é o melhoramento genético para produzir carne de alta qualidade, damos maior ênfase à criação de Santa Inês, uma raça que nos pareceu ideal, principalmente pela precocidade, assim como produção de uma carne mais magra e bem aceita no mercado”, diz o criador Agnaldo Moreira.
Com um trabalho que envolveu tempo e paciência, o criador foi descartando animais com características desfavoráveis. Além de conduzir os cruzamentos de animais com caracteres complementares, buscando a homogeneidade no rebanho. “Para isto, temos investido na inseminação artificial, utilizando os principais reprodutores, campeões nacionais de progênie”, conta Moreira.
Na propriedade, para aumentar o ganho de peso dos animais, a recomendação é o pasto com uma suplementação mineral à vontade, sendo que nos períodos de seca, é oferecido uma ração balanceada. “Usamos também a palma [cacto típico do semi-árido brasileiro, que é rica em energia e de fácil digestão], que na seca se torna fundamental à sobrevivência dos animais e o sorgo. Damos também com ração balanceada e alfafa”, diz.
Selecionados em ambientes hostis, a raça consegue reverter praticamente tudo o que comem em proteínas. Na Estância Vale Encantado, a boa genética resulta em reprodutores e matrizes valiosos. Da Bahia para o mundo, o plantel já conta com até celebridades, de títulos que vai de Reservada Campeã e a Grandes Campeões, que percorrem o País em feiras e exposições.
Foi uma história de sucesso que começou há 30 anos, no estado de Alagoas, e que passou por muitas gerações. Esta é a saga do criatório do Rebanho Mumbuca, que teve o município de Cajueiro, a 78 quilômetro da capital Maceió, como sede da primeira fazenda e local de plantel da raça Santa Inês. Anos depois, o rebanho foi transferido para a São Luiz do Quintude, região da mata de alagoana e fez da Mumbuca uma referência de boa genética das ovelhas conhecidas como “pêlo-de-boi”. Só então em 2006, a cabeceira do rebanho foi transferida para o interior paulista. “A raça oferece muitas vantagens, entre elas, a precocidade e a rusticidade, se adaptando com facilidade a qualquer sistema de criação e pastagem”, diz o sócio-proprietário, Fábio Cotrim Rodriguez.
O plantel de elite da Mumbuca se divide na unidade Sudeste, em Amparo; enquanto na unidade Nordeste, em Alagoas, se destina à reprodução. Em Amparo, o rebanho é constituído de 120 doadoras, 200 matrizes, 10 reprodutores e cerca de 600 crias (entre mamando e apartadas) de animais puros. Obviamente, cada propriedade tem o seu manejo específico, condicionado às características regionais. “De todas as formas, visamos o bem estar animal necessário para que os ovinos expressem o seu máximo potencial genético – seja pelo desempenho nas pistas de julgamento e no ganho de peso, como na fertilidade que resulta em produtividade”, ressalta Rodriguez.
Empolgado com os resultados, a Mumbuca investe cada vez mais em melhoramento genético, estrutura que inclui até TE (Transferência de Embriões). Além disso, é atualmente uma das responsáveis pela entrada de novos investidores na raça Santa Inês. Tudo graças aos títulos conquistados ao longo dos anos, entre eles, o ranking “Cabanha do Ano 2007” da Aspaco – Associação Paulista de Criadores de Ovinos. Isto porque, segundo o sócio-proprietário, a Mumbuca ainda não atua, de forma comercial, na produção de carne.
Para Fábio Rodriguez, a busca pelo melhoramento genético, as parcerias com instituições governamentais e universidades para pesquisas e a profissionalização de exposições e leilões, fez do nordeste o cenário perfeito para escrever grandes histórias na ovinocultura, principalmente a da Santa Inês.

Box:

De acordo com os dados da Embrapa Caprinos e Ovinos, em geral, no nordeste brasileiro, a comercialização de caprinos e ovinos caracteriza-se por canais de comercialização informais, em zonas rurais e pequenas cidades, com pouca participação de agroindústrias (frigoríficos) e de pontos comerciais formais. “Entretanto, o desenvolvimento de alguns pólos econômicos na região Semi-Árida, como o de Petrolina em Pernambuco, e o de Juazeiro na Bahia, tem estimulado investimentos públicos e privados na atividade, com o surgimento de novas formas de exploração e de pontos de venda com características empresariais”, revela o pesquisador da unidade, Expedito Cezário, engenheiro agrônomo e especialista em economia rural.
Um grande avanço para regiões e principalmente para Santa Inês. A raça pode preencher a lacuna que separava a ovinocultura nacional de uma criação em larga escala. “O semi-árido sempre foi forte na ovinocultura. Proporcionalmente, quando a ovinocultura laneira do Sul era forte, parecia que o nordeste não criava muito ovino. No entanto, a criação veio de encontro com as necessidades das populações do semi-árido, onde as condições ambientais que não permitem agricultura forte ou a exploração de bovinos”, comenta o pesquisador Raimundo Lobo, da Embrapa Caprinos e Ovinos.

Matéria: Ovinos no Nordeste
Ovinocultura
Título: A típica raça nordestina
Por: Fátima Costa
Fotos: Divulgação



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