Os
transgênicos estão chegando ao mercado brasileiro.
No País, poucos conhecem esse tipo de produto, seja
consumidor ou agricultor. Os produtos transgênicos resultam
do avanço e aperfeiçoamento das técnicas
de melhoramento genético utilizadas pela biotecnologia.
Também conhecidos como Organismos Geneticamente Modificados
- OGM, eles têm origem na manipulação
científica de células para produzir organismos
alterados ou novos, que realizem funções desejadas
ou programadas. Em suma, a composição genética
de uma planta é mudada com a inserção
de pequenos fragmentos de DNA de uma outra diferente. Essa
tecnologia permite que várias espécies partilhem
o mesmo material genético e, ainda, que outro organismo,
totalmente novo, seja construído. O primeiro entusiasmo
com a novidade, porém, pode - se transformar num certo
desapontamento, sobretudo se for levado em conta a afirmação
do presidente do Instituto Butantã, Isaias Raw, para
quem o Brasil "perdeu o bonde"" da biotecnologia.
O engenheiro químico José Manoel Cabral de Souza
Dias, considera essa afirmação como uma frase
de efeito, embora reconheça que o País, "corre
atrás desse bonde". Chefe adjunto do Setor de
Biotecnologia da Cenargen, da Embrapa - Empresa Brasileira
de pesquisa Agropecuária, Souza Dias admite que, "em
muitos aspectos, a competitividade brasileira é muito
baixa, com poucos investimentos em pesquisas na área
da saúde e na agricultura. "Mas garante que existem
vários trabalhos em realização em diversos
institutos, inclusive privados, e que a Embrapa atua e "busca
parcerias para que o Brasil tenha condições
de interlocução nesse ramo. "A recente
associação com a Monsanto (em setembro último)
confirma essa afirmação. A atuação
da empresa, segundo Souza Dias. É mais enfática
sobre os produtos que não têm interesse imediato
de mercado, contemplando culturas como a do Feijão,
frutas, enfim, produtos mais regionais como, por exemplo,
a mandioca, nos quais a empresa registra avanços significativos.
Essa ênfase em lavouras tradicionais, não impede
que existam testes com o milho, a soja, o trigo, o arroz,
entre outras inseridas no contexto das commodities. As experiências
com os transgênicos ocorrem desde o início dos
anos 80. Com a intensificação dos trabalhos,
cinco anos depois, ou seja, entre 1985/86, surgem os primeiros
resultados com o tabaco e o tomate, na Europa e nos Estados
Unidos. As empresas que investem nessa área esperam
alcançar respostas significativas num prazo de 5 a
8 anos, diz Souza Dias. As características procuradas
com esses experimentos são marcantes. No caso da soja,
a expectativa é de que haja menor utilização
de agrotóxicos. A planta deve resistir aos ataques
de ervas daninhas e, com isso, usar o herbicidas na época
certa, causando menor impacto no meio ambiente. A resistência
a alguns predadores, também é fundamental. Para
isso, o gene de um vegetal imune às ações
de um determinado inseto é transferido para uma ou
várias espécies diferentes, dando condições
para que a planta produza a toxina capaz de neutralizar e
até matar o predador.
Semente,
a base da revolução
Cláudio
Manuel da Silva, da Abrasem/MG, concorda. "Basicamente,
a maioria dos processos têm como objetivo o controle
fitossanitário." Para ele, o desenvolvimento de
novos produtos através do uso de seres vivos, com as
técnicas da engenharia genética ou não,
será necessário visando resistência a
pragas e doenças, seletividade para herbicidas, melhoria
de qualidade do produto e dos processos fisiológicos
(água e nutrientes). Na prática, acrescenta,
os resultados já existem com as variedades transgênicas
de soja e algodão. Nos Estados Unidos, em 96, foi plantada
uma área de 800 mil hectares, que registrou uma redução
de 1 milhão de litros de inseticidas, 7% de aumento
na produtividade da cultura "e substancial aumento da
população de insetos benéficos."
Silva, é enfático ao afirmar que a "revolução"
da agricultura biotecnológica "será embasada
na Semente", portanto, sendo "imprescindível"
a adoção, por aqueles que trabalham no setor,
de melhores conceitos de participação ou de
parcerias, Lembra, ainda, que as grandes companhias mundiais
que trabalham com engenharia genética estão
adquirindo ou se associando a grandes produtores de sementes,
como Novartis, Cargill, Zeneca, Dekalb, Pionner, entre outras,
ressaltando que nenhuma grande companhia "será
auto - suficiente para gerar a tecnologia e, ao mesmo tempo,
transferi - la por meio da produção de sementes."
Souza Dias afirma que o processo é bastante caro, os
testes têm custos elevados, pois depende das espécies
de plantas etapas a serem cumpridas. Mas assegura que o retorno
"é bastante promissor." O volume de recursos
aplicados confirma. O boletim norte - americano AG Biotech
Stock Letter , especializado em biotecnologia, calculou, em
97, que os investidores financiaram empresas iniciantes na
área em cerca de US$ 500 milhões, assinalando
que as "gigantes" Monsanto, Du Pont e Ciba Geigy
investiram no mínimo igual valor em P&D (processo
e desenvolvimento). Cláudio Manuel da Siva, em palestra
na Sociedade Rural Brasileira disse que, "na virada do
século, sementes de cultivares geneticamente modificados
vão representar valores superiores a US$ 2 bilhões,
que serão triplicados 5 anos mais tarde". O Brasil,
segundo Souza Dias, tem duas vertentes de pesquisas. Uma delas,
com empresas internacionais que importam material e tentam
fazer adaptações às condições
brasileiras. A outra, formada de companhias nacionais com
o mesmo objetivo, "nas quais o grande obstáculo
é a velocidade com que os resultados são alcançados."
Mesmo assim, acrescenta que a Embrapa tem obtido êxito
e repassado tecnologia para o setor privado com a comercialização
de "básicas, sementes - matrizes, com determinadas
características pelos quais recebe royalties."
Quando à polêmica dos transgênicos serem
nocivos ao homem, ao meio ambiente, Souza Dias garante que
"nada pode ser dito ainda a esse respeito."
Existem leis em vários países que regulam essa
matéria "e exigem testes para liberar a comercialização
desses produtos." As pesquisas são cuidadosas,
justamente com o sentido de evitar reflexos no homem, nos
mamíferos, no meio ambiente, de modo geral. A expectativa,
para ele, é de que não haja efeitos negativos.
" É preciso que não haja u rigor excessivo
a ponto de bloquear as experiências", adverte.
A legislação sobre transgênicos surgiu
na Europa e tem servido de inspiração para vários
países, inclusive o Brasil, criarem suas leis. Parte
dos consumidores europeus está conscientizada sobre
a existência desse tipo de alimento e a livre comercialização
recebe protestos de grupos ativistas. Sobre isso, Souza Dias
tranqüiliza e afirma que, no Brasil, foi criada a CTN
Bio - Comissão técnica Nacional de Biossegurança,
que tem parâmetros para evitar maiores problemas e garantir
a segurança do material, medindo a ecotoxidade ( meio
ambiente) e a toxidade (no consumidor)." A CNT Bio surgiu
com a lei 8975, de Janeiro de 95, e está vinculada
ao ministério da Ciência e Tecnologia . Os objetivos
dessa comissão são vários e dentre eles
estão propor a política nacional de biossegurança,
acompanhar o desenvolvimento e o programa técnico e
científico no setor e áreas afins, visando a
segurança dos consumidores, da população
em geral, com permanente cuidado à proteção
do meio ambiente. Está encarregada, ainda, de criar
o Código de Ética de Manipulações
Genéticas, bem como estabelecer normas para atividades
e projetos que contemplem a construção, cultivo,
manipulação, uso, transporte, armazenamento,
comercialização, consumo, liberação
e descarte de organismos geneticamente modificados (OGM).
Esse tipo de grão será classificado segundo
o biossegurança e às atividades consideradas
insalubres e perigosas. A emissão de pareceres técnicos
sobre os projetos.
A CTN Bio possui subcomissões que atuam nas mais diversas
áreas (saúde, agricultura, meio ambiente, entre
outros), com representantes dos setores governamental, empresarial
e acadêmico. A comissão é presidida por
Luiz Antônio Barreto de Castro, do Ministério
da Ciência e Tecnologia e, desde a sua criação,
já autorizou 34 testes de campo com plantas transgênicas,
credenciado, ainda, "um reduzido número de instituições
e laboratórios para atuar nos diversos campos da engenharia
genética." O secretário nacional da Defesa
Agropecuária, Ênio Marques, diz que o Brasil
tem uma legislação que disciplina a questão,
o Ministério da Agricultura participa e, como linha
geral, o País adota e cumpre todas as orientações
internacionais. Dessa forma, quem quiser trabalhar com organismo
geneticamente modificado terá que apresentar um projeto
de pesquisa, que será acompanhado e o uso somente será
permitido depois que os testes demostrarem e comprovarem que
não haverá nenhum dano ao meio ambiente. Marques
assinala, ainda, que pelo fato de seguir as orientações
internacionais, o País fará "avaliações
de impacto, levando em conta requisitos científicos
estreitos, não permitindo a utilização
de qualquer coisa que faça mal ao meio ambiente, aos
animais e ao próprio homem".
Possibilidade
de cartelização preocupa
A
questão da adaptabilidade, segundo Souza Dias, contribui
para evitar que uma determinada cultura tenha o risco de ser
padronizada. Até porque, as próprias diferenças
existentes nas várias regiões impedem que isso
aconteça, além de outras condicionantes como
o tipo de plantio, se tecnificado ou não, que define
a semente a ser utilizada.
A produção de sementes com alta tecnologia,
tende a modificar a atual perfil do setor. Nesse aspecto,
Souza Dias prevê uma situação de oligopólio,
"preocupante", com apenas três ou quatro empresas
dominando o mercado mundial, a exemplo do que já ocorre
com o inseticida químico. Aliás, as grandes
indústrias de defensivos estão adquirindo empresas
produtoras de sementes, caso da Monsanto que comprou a Agroceres,
mostrando que essa preocupação procede. É
uma circunstância comercial decorrente da globalização.
O ideal seria a existência de mercados regionais, atendidos
por empresas locais em marcas tradicionais, até para
evitar monopólios, observa. O afunilamento do setor
sementeiro é praticamente um fato, pois dos 25,5 milhões
de hectares de área de plantio, no Centro - Sul, apenas
8,4 milhões utilizaram sementes certificadas. A produção,
em 97, foi de 1,57 milhão de toneladas distribuídas
entre algodão (11 mil ton), arroz (118 mil), feijão
(23,2 mil), milho (166 mil), soja (999,8 mil) e trigo (255,3
mil ton.).
O presidente da Abrasem - Associação Brasileira
dos Produtores de Sementes, Iwao Myamoto, diz que muitos agricultores
produzem a própria semente, com a finalidade de reduzir
seus custos.
Para ele, o setor já não garante lucros como
há dez anos. O governo deixou de dar importância
à área, quando parou de apoiar com financiamento
os desenvolvimento de tecnologia. "Os produtores contam
apenas com EGF sementes, que tem juros diferenciados, mas
nunca chega na quantidade e no tempo certo."
O custo de produção está entre R$ 16/17,
00 por saca de 50 Kg, que é vendida no mercado por
R$ 20,00, em média. "É preciso produzir
em grande escala para pagar a estrutura necessária
de produção e ainda sobrar algum no fim do mês",
diz ele contando que, no Brasil, existem 780 produtores independentes,
mas que apenas 620 são associados à associados
à Abrasem.
Souza Dias, da Embrapa, diz que uma das desvantagens das transgênicas
está justamente aí, ou seja, por utilizar tecnologia
de ponta, acaba inibindo o desempenho de pequenas e médias
empresas, que não têm disponibilidade de recursos
para desenvolver a produção. Uma das vantagens,
acrescenta, é a redução dos custos de
produção, com espécies mais produtivas.
Por isso, assinala, a Embrapa vai acompanhar a evolução,
"não em termos de enfrentamento, mas com trabalhos
de parceria. Cada país terá que criar leis regulamentando
o mercado, que será bastante competitivo", arremata.
Mostra expansão em vários países da Europa,
nos Estados Unidos, no Canadá e, no Brasil, o uso desse
tipo de semente não vai demorar muito.
Essa é a visão do engenheiro agrônomo
e diretor executivo da Coodetec, Ivo Marcos Carraro, para
quem o produtor rural sempre enfrenta dificuldades ou crise,
mas acredita num futuro melhor.
Por isso, é sempre receptivo a uma nova tecnologia,
mesmo sob o enfoque da relação custo - benefício
favorável. Para ele, ainda que ouça falar em
transgênicos como notícia e informação,
o agricultor espera que a biotecnologia em plantas traga oportunidades
para redução de custos, aumento da produtividade
e qualidade, agregando mais valor ao produto, diminuição
no uso de químicos e mais estabilidade na produção
com menor grau de risco e maior liquidez na venda. Em palestra
na SRB, Carraro disse que o produtor acompanha com preocupação
os questionamentos provenientes de ambientalistas europeus,
mas confia na lógica de mercado, na pesquisa e nos
órgãos de fiscalização, que devem
dar maiores esclarecimentos com base em fatos e dados.
Para ele, o agricultor sabe que terá de pagar um preço
por esta nova ferramenta, mas sabe, também, que poderá
diminuir o uso de agrotóxicos e conservar melhor os
recursos naturais, como água e solo. Souza Dias lembra
que a soja, o tomate, o milho e a canola já foram introduzidos
no Brasil para experiências, testes e avaliação.
Segundo ele, as características atuais do transgênicos
ainda são agronômicas, não oferecendo
qualquer problema para o processo agroindustrial e posterior
consumo.
Porém, quando as características forem diferentes,
poderá haver algum entrave, sobretudo se for exigida
a rotulagem indicando ou informando o consumidor sobre o que
ele está comendo. "Essa exigência pode inviabilizar
os alimentos modificados, principalmente se for seguida de
requisitos específicos e relacionados com a embalagem,
processamento, transporte, entre outros, podendo até
precisar de uma linha de produção paralela."
O setor industrial parece encarar com naturalidade esse risco.
O ex - presidente e atual membro do conselho da Abiove - Associação
Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais, Cesar
Borges de Souza, em palestras na Sociedade Rural Brasileira,
disse que numa economia globalizada a guerra dos setores empresarias
pela conquista de mercados passa, necessariamente, pela utilização
de tecnologias avançadas, para melhorar a qualidade,
aumentar a produtividade e reduzir custos. Para ele, países
que não adotarem tecnologia de ponta, em especial a
engenharia genética, "ficarão relegados
a uma posição secundária."
Borges afirma que é condição básica
para o cultivo em escala comercial de organismos modificados,
que eles passem por testes de campo, com acompanhamento científico
das agências saúde do consumidor e a preservação
do meio - ambiente. Lembrou, ainda, que países da União
Européia, Japão, Canadá e México
aprovaram a utilização plena da soja transigênica
e "a importam regularmente." O conselho da Abiove
entende que o "agronegócio soja entrará
em uma nova fase irreversível, quando forem concluídos
os testes de campo e a CTN Bio estiver em condições
de aprovar o plantio da transgênicas . O potencial brasileiro
é excelente, não podemos perder esta oportunidade."
Alexanders Spers, da Faculdade de Medicina veterinária
e Zootecnia da USP, recorda que o rótulo gerou muitos
debates na Europa. Depois de 2 anos de muita polêmica,
o conselho de ministros europeus decidiu apresentar uma proposta
de compromisso, pela qual os dois tipos principais de transgênicos
deveriam ser obrigatoriamente rotulados:
Qualquer alimento que contivesse material genético
e pudesse gerar postura ética, como, por exemplo, genes
de suínos de interresse para os que não consomem
esse tipo de carne, ou genes de animais inseridos nas´plantas
de interesse dos vegetarianos, ou seja, alimento que contivesse
um organismo geneticamente modificado por propósitos
não agrícola para melhorar o sabor, o odor e
a textura.
Como complemento, os alimentos produzidos com OGM, mas não
os contendo atualmente, só seriam rotulados se houvessem
" diferenças significativas" na sua composição
em relação "aquele que lhe deu origem.
Ainda conforme o professor da USP, o Parlamento europeu rejeitou
essas propostas e, em 96, depois de uma série de reuniões
e debates, houve um acordo: os produtos OGM devem ser rotulados
quando tiverem diferenças químicas detectáveis
do alimento original; quando existirem conotações
éticas; quando puderem afetar a saúde pública,
causando alergias ou resistência a antibióticos;
e quando contiverem qualquer organismo vivo geneticamente
modificado.
Ração
animal também tem estudos
Spers
afirma que, ao lado das questões realcionadas com o
alimento para humanos, existem preocupações
com ração animal. Existem vários estudos
em andamento na Inglaterra que visam minimizar a possibilidade
de transmissão de propriedades indesejáveis
das plantas GM ( potencial alergênico, resistência
antibiótico), para os animaise, por extensão,
à população. Os resultados desse trabalhos
vão darsubsídios ao ministério inglês
da Agricultura para orientar e regulamentar o processamento
comercial dos ingredientes para a ração. Para
ele, num futuro talvez próximo, os componentes para
rações serão, em sua maioria, oriundos
de plantas GM, desde que o " DNA do qual os genes são
construídos seja susceptível à degradação
por calor, pressão e outros processos físicos
e químicos geralmente utilizados no preparo desse tipo
de alimento." O professor da USP assinala que não
há razões para acreditar que as condições
para fragmentação do DNA modificado das plantas
GM sejam diferentes do material que não sofreu nenhuma
alteração genética. O objetivo da pesquisa
é investigar os vários tamanhos de fragmentos
do DNA que aparecerão nos ingredientes da ração
animal após o processamento das sementes oleaginosas,
grãos de cereais, gramíneas e milho forrageiro.
O cardápio transgênico é variado e os
produtos mais conhecidos são: a soja, cuja variedade
mais divulgada é a Roundup Ready, da Monsanto. O cultivar
recebeu gene de uma bactéria resistente ao glifosato,
princípio ativo de um herbicida vendido pela própria
empresa, a fim de se tornar também resistente ao produto.
Com isso, o defensivo, antes pré - emergente, pode
ser aplicado depois que a soja brotar; milho, desenvolvido
pela Novartis ( fusão da Ciba Geigy com a Sandoz, bem
como pela Mycogen e Northup King. Também é conhecido
como milho Bt, pois recebeu genes BT da conhecida bactéria
bacillus thuringiensis, antagônica à broca do
milho. O bacillus truringiensis é um antigo inseticida
biológico, eficiente, preço acessível
e fácil aplicação, com toxidade quase
nula ao homem, sem nenhum impacto ao meio ambiente, bastante
usado na agricultura orgânica; algodão, duas
variedades desenvolvidas pela Monsanto, o Bollgard Cotton,
resistente a uma espécie de lagarta ( também
pela introdução de gene Bt) e o Roundup Ready,
resistente ao herbicida glifosato. A Calgene / Rhône
Poulenc desenvolveu o BXN Cotton, que é resistente
ao herbicida bromoxynil; tomate, os mais conhecidos são
o Falvr Savr, da Calgene, e o Endless Summer, da DNA Palnt
Technology. Foi o primeiro produto modificado geneticamente
lançado para a comercialização. Permite
que os frutos sejam colhidos maduros no pé, melhorando
e dando mais sabor. Até então o tomate era colhido
verde.
Um gene introduzido artificialmente retarda a ação
da enzima polygalacturonidase, responsável pelo apodrecimento
do fruto; canola, desenvolvida pela Calgene, foi alterada
para produzir altos teores de ácido laúrico,
com a finalidade de expandir sua utilização
em produtos alimentícios e estender a fabricação
de sabões; proco, teve o código genético
alterado para múltiplas finalidades, entre as quias,
aumento na taxa de ovulação das porcas, produção
de hemoglobina humana e órgãos para transplantes
em humanos. As experiências são feitas pela Universidade
de Illinois, nos Estados Unidos; BST (somatotropina bovina),
hormônio desenvolvido pela Monsanto a partir da técnica
do DNA recombinante. Quando injetado no gado, estimula uma
produção até 25% maior do leite. Esse
produto é bastante combatido pelos ambientalistas.
Outros produtos são: a cana, desenvolvida pela coopersucar;
peixe, pesquisado pela Universidade do Amazonas; e o melão,
com trabalhos na Universidade Federal de Pelotas.
Alguns cientistas têm manifestado preocupação
com a liberação dessas novas variedades no ambiente,
apontando riscos ecológicos. A maior agressividade
dos cultivos transgênicos poderia ameaçar plantas
silvestres e variedades nativas, reduzindo a biodiversidade.
Os países subdesenvolvidos sofreriam maiores riscos
ambientais que os países ricos, porque abrigam grande
quantidade de parentes silvestres dos cultivos agrícolas
e haveria possibilidade de erosão da sua biodiversidade.
Além disso, os países do Terceiro Mundo são
mais vulneráveis por sua baixa capacidade para supervisionar,
avaliar e controlar as atividades com os OGM. Com raras exceções,
o chamado primeiro mundo não possui grandes centros
de biodiversidade. As áreas consideradas como principais
são o Mediterrânio, o Oriente Próximo,
o Afeganistão, a Indo - Birmânia, Malásia
-0 Java, a China, Guatemala - México, os Andes Peruanos
e a Etiópia. Segundo a revista Agronalysis (jun/97),
os grandesreservatórios genéticos utilizados
como recursos para o melhoramento vegetal estão no
terceiro mundo. Com os rápidos avanços registradospela
engenharia genética é provável que, num
futuro bem mais próximo do que se possa imaginar, o
cardápio de organismos geneticamente modificados, atualmente
restrito a pipetas e tubos de ensaio de laboratórios,
se transfira para a mesa. Com isso, ao chegar a um restaurante,
não será difícil que o consumidor ouça
do garçom:
"os trangêncios estão na mesa, sirva - se"
e, no menu, escolha, entre outros, uma salada de tomate que
não apodrece, temperada com oléo de soja resistente
a herbicida, acompanhada de um frango alimentado com milho
de composição genética mudada ou até
um peixe de tamanho fora do comum, tendo, como sobremesa,
um melão artificialmente alterado para durar até
30 dias. Porém, a esse predomínio que está
sendo previsto para os transgênicos, se contrapõem
alguns nichos de resistência. Souza Dias, garante que
o mercado para produtos clássicos ou tradicionais não
está ameaçado de extinção. Segundo
ele, Suiça, Alemanha, Holanda, Japão, entre
outros países que têm pouca ou até nenhuma
restrição ao consumo de OGM, mostram uma parcela
da população que exige alimentos naturais, sem
agrotóxicos. Para essas pessoas, acrescenta, "
a agricultura orgânica é importante, pois permite
que a soja, o milho ou outro grão clássico,
continuem existindo. Vão pagar mais caro, mas sabendo
que o produto não tem uma carga excessiva de agroquímico",
finaliza.
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