As
medidas adotadas pelo governo, como a elevação
dos juros para 49,75% ao ano, não surtiram o efeito
desejado, que seria a paralisação imediata (ou
quase) das remessas monetárias para o exterior, mas
conseguiram reduzir, em boa proporção, o fluxo
dessa drenagem e equilibrá - lo com o ingresso de recursos
externos, ainda que precariamente.
Outra
possibilidade para o País enfrentar essa tempestade
financeira é recorrer ao FMI Fundo Monetário
Internacional e obter empréstimos para reforçar
o caixa nacional. Esse recurso não é descartado
pelo governo brasileiro que, inclusive, já autorizou
a equipe econômica iniciar negociações
nesse sentido. O volume desse crédito tem informações
desencontradas, partindo de um valor básico de US$
25 bilhões indo até a estratoférica cifra
de US$ 150 bilhões. De qualquer forma, a ida ao FMI
mostra que a política econômica não é
tão forte como o apregoado e, que entra na sua ameaça
à agricultura que entra na sua fase de plantio para
a próxima temporada. Essa ameaça existe na medida
em que o receituário do organismo internacional é
sobejamente conhecido do País e, basicamente, se resume
a cortes drásticos nas despesas e aumento de impostos.
Se o Brasil for ao Fundo e a receita aplicada, a safra 98/99
ficará comprometida, pois a redução nos
gastos vai implicar menor volume de dinheiro disponível
ao crédito rural. De quebra, o socorro ainda pode dificultar
a oferta interna de alimentos que, desde 94/95, vem sendo
complementada por compras externas. Nesse aspecto, o presidente
da Sociedade Rural Brasileira, Luiz Suplicy Hafers, afirma
que, enquanto havia crédito externo para financiar
essa farra, o abastecimento continuava. E agora Fernando?,
indaga.
Juros
obscenos, o maior problema
De
fato, no âmbito alimentar, o Brasil, desde a Vigência
do Plano Real, tem importado de tudo, desde enlatados, passando
pelo gêneros básicos, até côco,
num comportamento que praticamente forçou a agricultura
a ser a "âncora verde" do programa de estabilização.
Hafers afirma que o principal problema não é
a suposta competitividade dos parceiros externos. "É
um problema de subsídios, disfarçados ou não,
onde se importa como uma alternativa aos juros obscenos praticados
internamente." Apontando o algodão como um caso
"clássico", diz foram importados US$ 1 bilhão,
a juros de 8% ao ano, "condições às
quais não temos acesso ou possibilidades, aqui E debita
- se isso ao lavrador..." Recentemente, acrescenta, uma
importante autoridade justificou, na TV, que as compras externas
de algodão ocorrem por causa do bicudo. "A praga
- enfatiza - não é o bicudo. É a má
informação, a deformação do quadro
interno que resultaram nas importações".
Para ele, o Real "é um sucesso e não se
pensa e nem se deve voltar à inflação".
Porém, assinala que a agricultura. "após
4 anos, está exausta". Essa exaustão começou
com o descompasso entre juros e preços, em 95. Houve
uma demora em reconhecer a questão e a "solução
parcial", que é a securitização,
ficou 2 anos em discussão, "inibindo o setor na
capacitação de recursos para investimentos."
Pouco tempo depois, conta, o Banco do Brasil, executor da
política de financiamento para a agricultura, "foi
cobrado em ser um banco como outro qualquer e praticamente
impedido de executar a política agrícola. O
crédito minguou, as exigências aumentaram para
um setor já fortemente descapitalizado".
O panorama atual é "preocupante, pois a agropecuária
está patinando em produção e produtividade,
nos últimos 4 anos. Se perdemos os ganhos já
obtidos na produtividade, que requerem avanços tecnológicos,
que temos, somando ao capital que é negado, estaremos
semeando frustrações", sentencia. Em perspectiva,
a atual crise financeira que se abate sobre o País,
desenha alguns "problemas graves para o médio
prazo" que, segundo Hafers, passam pela abastecimento,
pois "não vai ser fácil importar",
pela área social, "com mais desemprego no interior"
e na área cambial, "com redução
do saldo da balança de pagamentos". Para o presidente
da Rural, a agropecuária é rápida para
reagir a estímulos e lenta a desestímulos, "mas
inexorável".
Agropecuária,
uma parceira nos sacrifícios do Real
Hafers
enfatiza que os setores agrícolas e pecuário
têm sido "parceiros nos sacrifícios exigidos
pelo Real, pois a cesta básica praticamente mantém
os custos inalterados há 4 anos e houve um saldo positivo
de US$ 11bilhões, no ano passado, na balança
de comércio exterior. Mas está aí, também,
uma situação de impasse que não pode
mais ser escondido ou ignorado. A crise aguda que vivemos
no momento, nas contas externas e internas, deixa para um
segundo plano as necessidades da agricultura, que também
são agudas, pois agora é hora do plantio".
O atraso ou inexistência dos financiamentos que haviam,
as restrições impostas à "63 caipira",
dificuldades para renovar crédito e baixar preços,
nesse momento crucial, "não autorizam nenhum otimismo",
adverte. O mais grave de tudo, é a preocupação
com a perda de produtividade que certamente "será
inexorável", alerta. Para o presidente da Rural,
chegou a hora, "enfim, de repensar a agricultura, a agropecuária.
Eu tenho, todos nós (do setor), temos feito enorme
esforço para convencer a opinião pública
é juiz de todas as ações". Hafers
admite que houve alguns avanços nesse sentido",
"mas não o suficiente. Lamento, me preocupo e
temo que vai ser necessária uma crise de abastecimento
para se chegar a conclusões e soluções.
Quem sobrar, verá", finaliza.
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