Seguindo
a filosofia de "o caminho é a venda direta ao
consumidor", ele deu início ao projeto ALF - Armazém
e Laticínio Fazenda Matão, que compreende em
um ponto de venda, na cidade, e as instalações
da micro - usina na fazenda, distante 10Km de sua loja. "
Minha experiência mostrou que só vai sobreviver
nesse mercado quem conseguir ter, no mínimo, R$ 0,20
de lucro no litro de leite. E, só consegue ter isso
montando-se uma micro-usina de leite e derivados", garante.
Termo pouco utilizado dentro do mercado, a micro-usina de
leite é regida por uma legislação própria
- dentro do estado de São Paulo -, criada em 93 pela
Secretaria da Agricultura. Ela rege que as micro - usinas
devem beneficiar o leite próprio, numa capacidade de
processamento de até 3 mil litros, produzindo leite
A, B, C ou integral, esse último com uma embalagem
preta, vermelha e branca. " A diferença básica
entre mini e micro usinas é que, as mini-usinas podem
transformar leite de terceiros, e as micro não",
explica Mesquita, afirmando que considera as mini- usinas
" atravessadores, que querem ganhar dinheiro com o leite
dos outros".
"Além do mais, o lucro existe quando utilizamos
a bandeira da qualidade da fazenda", continua ele, "
e essa qualidade só podemos garantir quando próprio
leite, para que o processamento dos derivados seja feito imediatamente
após a ordenha", afirma. Esse fator é importante,
para resolver, por exemplo, um problema que parece incompatível
com produtos naturais: um prazo de validade longo. "
Ao produzirmos alimentos naturais ou seja, sem conservantes,
e por sermos comerciantes, temos que atender a uma exigência
do mercado, um prazo de validade elástico, que possibilite,
também, um tempo necessário para a venda",
explica. " Esse prazo, conseguimos na matéria
- prima, ou seja, no leite, com um teor da acidez ideal. E,
só conseguimos ter um prazo de validade de 15 dias
para o leite e de 45 dias para o yogurte - sem conservantes
- por trabalharmos com rapidez", garante. A ALF comercializa
mais de 11 itens diretamente para o público, do leite
integral até tortas salgadas, os únicos produtos
que não são feitos na micro - usina, mas utilizando
o leite de lá. Em relação "as tortas,
Mesquita faz uma relação interessante ao preço
conseguido pelo leite. " Para fabricar uma torta de um
quilo, eu necessito de meio litro de leite. Vendendo o quilo
da torta a R$ 15,00, quanto eu ganho no litro do leite?"
pergunta . É por isso que, para ele, "o leite
pasteurizado é a última escala de renda, então,
o negócio são os derivados". Mas, mesmo
assim, ele afirma que não é possível
deixar de comercializar o leite in natura. Por isso, ele montou
um esquema de entrega a domicílio. " Hoje, o mercado
de leite está totalmente voltado para o leite longa
- vida. Por isso, temos que investir em serviços de
qualidade então, faço entrega domiciliar - com
uma taxa extra - para concorrer com a comodidade dos longa
vida", confessa. Mesquita explica que as instalações
físicas necessárias para montar uma micro-usina
são: uma sala de fabricação (onde vão
ficar os equipamentos, como o pasteurizador) com câmara
fria; uma sala de máquinas, uma sala de embalagens,
um laboratório para exames físicos - químicos,
um escritório, vestuários e banheiros. além
de uma ordenha mecânica ( desnecessária apenas
para a produção de leite C). " Aqui, também
há diferenças de micro para mini usinas",
explica Mesquita. " As mini usinas, como podem adquirir
leite de terceiros, necessitam de uma plataforma de recebimento
de leite e de dois laboratórios, um para exames físicos
- químicos e outros para exames microbiológicos",
afirma. O projeto que mesquita desenvolveu para a Fazenda
Matão é para uma produção de 600
litros diários de leite, com a fabricação
de derivados. Dentro desse projeto, todas as fases de produção
são pensadas e computadas entre custos e benefícios,
desde o alojamento das vacas até a renda agregada do
litro de leite em cada produto. Por isso, ele diz que "
a vaca é uma fábrica de lucros, somente quando
agregamos renda a custos racionalizados". Toda sua atividade
foi pensada, desde o números de vacas necessárias
para tal produção (tabela 1), como os gastos
com equipamentos para o laticínio e alojamento dos
animais (tabela 2). Há, ainda, a preocupação
em se saber, na ponta do lápis, quais foram os benefícios
da produção, ou seja, quanto se produziu em
derivados e quanto se ganha (tabela 3). Para diminuir ainda
os custos regida pelo computador, que além de pasteurizar
o leite, faz coalhadas, iogurtes, queijos, automaticamente.
" As receitas ficam guardadas na memória do computador
e, quando vamos utilizá - las, programamos a função
e a máquina, automaticamente, aquece o leite, resfria,
mede o índice de acidez e prepara todos os produtos
da marca ALF", afirma Mesquita. " Ao invés
de termos quatro equipamentos, temos apenas um", conta,
acrescentando que está para ser instalado no equipamento
um tipo de um bico, para em garrafas. Para o doce de leite
e o sorvete existem duas outras máquinas. Além
de custos e benefícios, ele também gerência
sua produção de acordo com o fator clima. "
Nessa época do ano, o que vende mais é queijo
frescal, coalhada, doce de leite e ricota. Por isso, aumentamos
a produção desses itens, fazendo iogurte e sorvete",
explica. " No verão, aumentamos a produção
do sorvete e iogurtes e outros são fabricados conforme
a demanda ", diz. Empolgado e orgulhoso, ele é
categórico ao afirmar que " o caminho é
procurar o nicho de mercado e comercializar os nossos próprios
produtos". O retorno começa em 90 dias.
AGRO
QUER UMA POLÍTICA MAIS CONSISTENTE PARA O SETOR
Com
o quadro da economia brasileira estabilizado, o setor agropecuário,
como um todo, parte para uma luta mais intensa pela implantação
de uma política agrícola "mais consistente
e de longo prazo", que dê condições
de planejamento e "onde as coisas aconteçam e
não fiquem apenas no papel". Embora esta seja
uma reivindicação dos vários segmentos
que compõem a atividade, a diretriz é particularmente
pleiteada pelo cooperativismo que, nesses tempos de globalização,
precisa de uma base sólida para atuar com eficiência
diante das exigências impostas pela competitividade.
Para enfrentar essa concorrência acirrada, o superintendente
da Ocesp - Organização das Cooperativas do Estado
de São Paulo, engenheiro agrônomo Marco Aurélio
Fuchida, diz que é preciso uma política agrícola
que, além da questão agrária - "que
não é tão urgente" - inclua as mais
diversas áreas, como pesquisa, tributação,
permita a montagem de planos plurianuais de produção,
participação no mercado, enfim "uma política
que busque resultados, fixando metas, inclusive prevendo a
quebra das várias formas de protecionismo". Fuchida
afirma que o governo acena com a possibilidade de um apoio
mais efetivo à agricultura, pois "percebeu que
o setor serviu de âncora para o Plano Real". Porém,
em tom de advertência, acrescenta que a área
rural " não pode depender de acenos", principalmente
porque é preciso aperfeiçoar as condições
de competitividade que a agropecuária implantou e consagrou,
" haja vista a presença e importância dos
produtos agrícolas na balança comercial"
do País. Essa importância, para ele, não
se limite apenas ao comércio exterior e à internalização
de divisas. Ela é mais ampla e, no âmbito interno,
está relacionada com o abastecimento alimentar da população
brasileira. O cooperativismo é apenas um braço
do setor agropecuário o que não impede que tenha
uma figura de destaque, pois, até dezembro de 97, existiam
1.449 cooperativas agrícolas no país, com 951
mil associados e empregando 111 mil pessoas. Em São
Paulo, no mesmo período, estavam registradas 139 cooperativas,
com 209 mil associados, garantindo cerca de 10% dos postos
de trabalho oferecidos pelo sistema no plano nacional. O superintendente
da Ocesp ressalta a importância do cooperativismo na
comercialização e armazenagem da produção.
Na armazenagem, segundo dados estatísticos da Conab
- Companhia Nacional de Abastecimento, datados de outubro
de 95, a capacidade total de estocagem do país, era
de 89,2 milhões de toneladas. Desse total, um pouco
mais de 28% ou cerca de 25 milhões/ton. são
armazenados por cooperativas. Na comercialização,
segundo Fuchida, o cooperativismo responde por cerca de 38.91%
do comércio de algodão; no arroz, 11,36%; no
alho, 22,47%; na aveia, 39,21%; no café, 27,97%; cevada,
44,19%; no trigo, 62,19%. Para Fuchida, esses indicadores,
mostram o papel relevante do cooperativismo tanto na comercialização
quanto na armazenagem de alguns dos principais produtos agrícolas.
Mesmo com essa participação expressiva em dois
aspectos estratégicos da agropecuária, Fuchida
admite que o cooperativismo viveu acidentes de percurso que
tiveram origem nos vários planos econômicos.
Segundo afirma, os programas de estabilização
econômica provocaram dificuldades enormes para a agricultura,
pois, no geral, foram implantados em épocas de safra
quando os preços dos produtos estavam em baixa e ficaram
congelados por longos períodos. Essa circunstância
debilitou o setor de produção, pois as medidas
adotadas nem sempre condiziam com a realidade e tampouco favoreciam
os produtores, uma vez que o reajuste entre preço e
correção dos empréstimos eram defasados,
eliminado a capacidade de pagamento do agricultor. Isso refletiu
na descapitalização das cooperativas, porque,
entre os anos 86 e 90, houve uma escassez acentuada de crédito
rural, levando as instituições ao papel de financiadoras
da produção, além do fornecimento normal
de insumos. Na ocasião, as cooperativas de crédito
rural tiveram uma participação relevante uma
participação relevante na concessão de
empréstimos, muito embora se ressentissem da falta
de capital em volume suficiente para atender a demanda. A
idéia básica desse processo era reaver os recursos
na época, os problemas se agravaram. Em São
Paulo, conforme Fuchida, a Cooperativa Agrícola de
Cotia, pode ser inserida neste contexto. Na seqüência,
surgiu a globalização que pegou o cooperativismo
descapitalizado. A abertura do mercado, a concorrência
com produtos subsidiados nos países de origem, entre
outros, provocou " uma quase derrocada" das cooperativas,
"inclusive com a liquidação de algumas."
Aliada a outras, essa situação motivou a OCB
- Organização das Cooperativas Brasileiras e
a Frei - coop - Frente Parlamentar Cooperativista a reivindicar
do governo uma política agrícola de longo prazo
e, ainda, sensibilizar as autoridades governamentais para
equacionar o problema da descapitalização. Com
relação a este último, o governo criou
o Reccop- Programa de Revitalização das Cooperativas
Agropecuárias. Ao ser lançado, o Recoop previa
recursos da ordem de R$2,7 bilhões destinados ao saneamento,
capital de giro e de investimentos do setor.
Para ter acesso ao dinheiro, Fichida afirma que a cooperativa
interessada tem que enviar uma carta - consulta demostrando
a situação sócio - econômica e
financeira da entidade. Esse documento deve ser dirigido a
um comitê formado por membros dos Ministérios
da Fazenda, do Planejamento, da Agricultura, do Banco Central,
do BNDES e da OCB que depois de uma análise, emite
pareceres enquadrando as cooperativas que estão aptas
a receber os recursos. Em Junho passado ( dia 19), saiu uma
lista com as instituições contempladas. Em São
Paulo, de um total de 68 pedidos, 48 foram aprovados, revela
Fuchida. O Recoop, conforme o superintendente da Ocesp, tem
como propsota básica auxiliar as cooperativas que priorizam
sua atuação nas áreas de fornecimento
de insumos e de comercialização. Para ter acesso
aos recursos, essas entidades têm que, na carta - consulta,
evidenciar projetoscontemplando a reestauração,
a capitalização, a profissionalização
da gestão cooperativa, a organização,
a profissionalização dos cooperados e monitoramento
do plano de desenvolvimento cooperativo. Esses programas,
de acordo com Fuchida, deverão dar início à
segunda fase do programa que também deverá definir
as taxas e prazos para os empréstimos, além
da forma de operacionalização que envolve os
agentes financeiros. Com esse programa Fuchida acredita que
o cooperativismo conseguirá encaminhar a solução
para grande parte dos problemas do setor, inclusive os que
surgiram com a globalização. Nesse aspecto,
o superintendente da Ocesp sugere que as cooperativas enfrentem
a globalização procurando aliançasestratégicas,
mas sempre buscando manter a autonomia e princípios,
" sobretudo o poder de decisão", além
da presença dentro da cadeia, inclusive agroidústria.
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