A
busca por uma alternativa de cultura que ajudasse na rotação
de área plantada abriu um novo caminho para que o algodão
retomasse a importância que já teve no passado
dentro de cenário agrícola brasileiro. Acrescenta
na receita o fator de que o país precisava ter produção
própria para não depender exclusivamente da
importação, fato que aconteceu durante esta
última década. Assim, auxiliado pelo uso da
tecnologia, principalmente a mecanização, a
cultura do algodão foi aos poucos tomando espaço
na região que é hoje, a principal produtora
do país, o centro-oeste.
Os estados do Paraná e São Paulo ainda produzem
algodão. Mas é no Mato Grosso e em Goiás
que ele se apresenta forte. O clima e o relevo favorável
foram também fatores decisivos para o sucesso da cotonicultura
na região. As chuvas são regulares e o solo,
além de fértil é plano, facilitando a
colheita mecanizada. Ao todo, entre os dois estados são
plantados cerca de 315 mil hectares e a perspectiva no Mato
Grosso é de chegar aos 250 mil hectares na próxima
safra. Pricipalmente depois que o governo estadual criou incentivos
fiscais atreavés da redução de até
75% do ICMS, conforme a qualidade do algodão em pluma,
sobre o valor da venda do produto.
No Brasil a área total plantada foi de 864 mil hectares,
que produziram cerca de 400 mil toneladas de algodão
em pluma, o que representa apenas 50% das necessidades do
mercado interno. Esta distância entre o que é
produzido aqui e o que vem de fora, encontra como causas o
distanciamento do governo em relação a importância
de manter de um estoque interno. Por isto a redução
do imposto de importanção de 55% para zero ocorrido
em 1990. E ainda a própria indústria nacional
que preferiu importar o produto com preços e condições
mais favoravéis em relação ao produto
nacional. O quadro agora está alterado. A indústria
têxtil e o governo modificaram seu pensamento e começaram,
mesmo que timidamente, a incentivar a produção
no país. Fato demostrado pela visita do presidente
Fernado Henrique em uma propriedade de Goiás, para
dar abertura oficial à colheita.
"Tenho na Alpargatas Santista uma parceria que soube
dar valor ao que nós produzimos porque gradativamente
comprovamos que a qualidade de nosso algodão é,
muitas vezes, superior ao vem de outros países",
afirma Tadashi Mine, de Ituverava, interior de São
Paulo, um dos mais conhecidos produtores de algodão
do Brasil.
Cotonicultor há 40 anos, foi um dos que aproveitou
uma oportunidade para iniciar sua produção no
Mato Grsso.
Por isto ele se divide entre os dois estados durante o ano
pois o período de colheita em São Paulo vai
de Outubro a Novembro e no Mato Grosso começa em Dezembro.
" Isto é bom porque dá para utilizar o
mesmo maquinário e reduzir custos", ressalta.
Para Tadashi o produtor brasileiro está tão
avançado tecnologicamente quanto o dos Estados Unidos,
porque sabe da necessidade de se manter atualizado nesta questão,
para ter a produtividade alta, afirma. Segundo o produtor
uma das maiores carências hoje é a falta de pesquisa
que possa desenvolver novos cultivares ou descobrir melhores
maneiras de controle das paragas. " Para se ter uma idéia,
dependemos basicamente de uma única variedade de semnete
e isto é muito pouco", reclama.
Produção
Afetada - Mesmo assim, produtores de destaque, da região
de Acreuna, sudoeste goiano, obtiveram índices de 240
arrobas /ha, que são considerados excelentes diante
da média nacional que é de 110 arrobas/ha.
Hoje o preço mínimo do mercado está em
R$ 27,50 por arroba, valor que pode cair porque com a crise
nos países asiáticos, o volume de compras foi
diminuindo e o estoque mundial aumentou. O custo médio
de implantação de um hectare está em
torno dos R$ 1.500 e se a produtividade for boa o produtor
vai ter um lucro líquido de R$ 500/ha, segundo informa
Paulo Aguiar, pesquisador da Fundação MT, do
Mato Grosso. E a produção tem que ser boa mesmo
para compensar os inventimentos. Uma colheitadeira hoje custa
em torno de US$250 mil e leva, segundo os fabricantes, de
três a cinco anos para ser paga, se os resultados da
lavoura forem bons. Segundo José Roberto Camargo, gerente
de produto da Case IH, uma das fabricantes deste produto no
país, a máquina tem a eficiência de clher
1,6 hectares por hora possuindo 4 ou 5 linhas de colheita
e rodado duplo para menor compactação do solo.
"E este é o mesmo equipamento que os produtores
americanos usam nas suas lavouras", assegura. Considerando
o estado de maior produção do país, Goiás
vai ter sua produtiovidade bastante reduzida nesta safra.
Atingido por uma série de pragas como a lagarta do
cartucho do milho e o azulão, o que elevou o custo
da produção, a maioria dos cotonicultores não
esperam as altas médias do ano passado, que foi próxima
das 200 arrobas. Este é o caso de um dos maiores plantados
em Acreuna, teve sérios problemas de produtividade
por causa das doenças e das pragas. O gerente da propriedade,
CarlosPereira, acredita que neste ano a cultura vai, pelo
menos, pagar as contas. " E isto vai depender muito ainda
do quanto o mercado vai pagar por arroba", afirma.
Grupo
Vertical - Sempre acreditando na importância de cultura,
o grupo Maeda, de Ituverava, São Paulo, tem cada vez
mais investido no algodão. Recentemente, formalizou
uma joint venture com a Monsanto para a produção
de sementes de algodão usando a biotecnologia, a fim
de vender um produto que já possui resistência
a diversas pragas e doenças que atacam a cotonicultura.
Produzindo cerca de 300 mil sacas de semente e com um faturamento
global previsto para US$ 160 milhões, o grupo atua
na atividade de forma vertical. Planta em diversos estados
brasileiros, beneficia, faz a fiação e ainda
trabalha com o óleo e seus derivados como a gordura
vegetal hidrogenada.
Produzindo cerca de 2,5 milhões de arrobas de algodão
em caroço (perde 74% do peso quando transformado em
pluma) em 16 mil hectares ainda trabalha com outros 60 mil
hectares em parcerias com terceiros, para os quais fornece
assitência total, do beneficiamento à comercialização,
pois a filosofia da empresa hoje é de controlar a produção
de ponta a ponta para manter a qualidade.
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