Foi
o que quase aconteceu com Joffre Nogueira Filho, médico
paulistano produtor de leite na cidade de Tietê/SP,
pelo Sítio das Primaveras. Há alguns anos, os
prejuízos quase fizeram o criador abandonar um rebanho
de Pardo-Suíço leiteiro puro: uma paixão
de Joffre há cinco anos.
Desde 1988, o médico está em produção
leiteira. Chegou até a explorar o Industrial. Mas,
na verdade, com a estabilização econômica,
a liquidez apertou demais e o hobby ficou muito caro. Este
contexto impôs austeridade e eficiência como condições
de sobrevivência. Joffre tratou de acertar o passo e
a dedicar mais horas de trabalho ao Sítio. De início,
descartou os animais com produção menor ou com
dificuldades reprodutivas, comprou outros mais produtivos,
passou a produzir o próprio concentrado e contratou
técnicos, especializados em nutrição
bovina.
Depois de algumas pesquisas e da inviabilidade econômica
de produzir leite com animais estabulados. O produtor conheceu
o sistema de pastejo rotativo da Esalq Escola Superior
de Agronomia Luiz de Queiroz. Ao final de 96, as divisões
estavam prontas e o gado já podia pastar. Com o fornecimento
de concentrado nos cochos das áreas de descanso, a
produção aumentou consideravelmente, de 11 litros/dia
por vaca para uma projeção de 22, neste ano.
Porém, nem por isso o Sítio das Primaveras conseguiu
sair do vermelho.
O custo do litro baixou de R$ 0,30 para R$ 0,26. Contudo,
a remuneração não passou dos R$ 0,25
por litros. Embora tenha equipamentos e operacionalidade para
a produção de leite tipo B, na região
de Tietê não há laticínio que remunere
qualidade. Na verdade, a pecuária de Joffre só
consegue algum equilíbrio de caixa através da
venda de reprodutores, o que segundo Joffre é bastante
positiva dentro da raça, Pardo-Suíço.
Há boa demanda pelos animais, tanto para machos
quanto para fêmeas, afirma. Mas como o leite
tem que pagar os custos, o caminho foi pesquisar mais.
O produtor descobriu na literatura mundial uma série
de detalhes que poderiam ser mudados no manejo e no gerenciamento
do Sítio, que destina apenas 20 hectares para a produção
de leite. Entre outras coisas, o criador percebeu que era
preciso melhorar o índice de vacas em lactação
para poder aumentar o volume de produção diária.
Ao trabalho, para um rebanho de 100 cabeças, no total,
Joffre subiu de 27 vacas em lactação para 42,
o que fez sua produção diária subir de
493 litros, em 1996, para 683 litros em 1997. A projeção
para 1998 é de 942 litros, o que já trará
um alento ao criador. A prática é a de vender
o descarte do rebanho enquanto os animais são ainda
bem jovens. Assim, baixa-se o custo de produção
de tourinhos e novilhas.
Na literatura consultada, o produtor descobriu ainda alguns
procedimentos simples bastante efetivos para solucionar alguns
problemas comuns: mastite, cascos e verminoses. Em menor escala,
no modelo de pastejo adotado, a mastite também assusta.
O Sítio conseguiu controlar o problema retirando barro
e esterco das áreas de descanso, duas vezes por semana,
e tratando preventivamente as vacas durante a fase de secagem.
A higienização das áreas de descanso
por si só já colaborou na redução
dos problemas de cascos. Mas quando o criador instalou um
pé-de-lúvio à base de formol trocado
duas vezes por semana, eles acabaram de vez o casqueamento
é feito também na secagem das vacas. Quanto
às verminoses, ao que tudo indica, para um médico
ficou mais fácil compreender a incidência. Joffre
realiza exames de fezes dos animais por amostragem, uma vez
por ano. As vacas são vermifugadas em três etapas
np período da seca e, numa única vez, no verão.
O médico descobriu que assim trabalha contra o ciclo
dos vermes, diminuindo sua presença no pasto. A intensidade
do tratamento na seca coincide com o período
inverno de condições menos favoráveis
ao desenvolvimento dos parasitas. Um outro aliado neste combate
é o próprio sistema de pastejo. O descanso de
45 dias dos piquetes, ou seja, a ausência de animais,
também ajuda na redução destas condições
e impede a proliferação. Com o procedimento,
Joffre reduziu significativamente os gastos com vermífugos
e a própria ocorrência de verminoses, que só
se mantém a mesma entre os bezerros.
Outro fator decisivo na empreitada do produtor em conferir
eficiência na sua produção de leite foi
a mão de obra. Segundo ele, as coisas só entrarão
nos eixos (com o cumprimento total das várias orientações
do manejo), depois de seus funcionários tomaram o susto
de ver o criador realmente disposto a abandonar a atividade.
Emprego está difícil, reforça
Joffre. Hoje, depois dos resultados do bom gerenciamento,
da conscientização de cada tarefa dentro do
processo produtivo, todos os funcionários do Sítio
se sentem estimulados a desempenhar bem suas funções.
Sistema
de pastejo e arraçoamento
Não
há inovações no modelo de rodízio
de piquetes adotados no Sítio das Primaveras. O que
há é uma valorização de alguns
pontos do manejo que, em alguns casos, respondem por maior
eficiência. Exemplificando, piquetes com boas áreas
de sombras, por árvores ou sombrites, livres de barro
e esterco ao redor do cocho, são mais confortáveis,
o que se traduz em aumento da produção. Para
se ter uma idéia do bom resultado produtivo e econômico,
quando se acata com rigor as orientações de
manejo, o Sítio das Primaveras subiu de uma produção
de leite por hectare de 13 mil litros, em 1996, para 17 mil
en 1997 e, projetados 22 mil em 1998. Vale lembrar que neste
mesmo período, o custo do litro produzido caiu de R$
0,30 para R$ 0,21, cerca de 30%.
Cada piquete tem 205 mil metros quadrados, em média,
divididos por cercas eletrificadas. Quatro hectares são
ocupados por napiê (15 divisões) e dois hectares
por branquiária (8 divisões). As vacas em lactação
pastejam no napiê por três dias, ocorre a remoção
dos animais. O napiê baixou para 20 cm de altura. No
mesmo dia da saída, o piquete recebe adubação
de cobertura (base de 20-05-20), roçadeira quando necessário
e um descanso de 45 dias. O cumprimento rígido deste
manejo é fundamental já que 70% do novo capim
brotaram nos cinco primeiros dias do descanso. Eventualmente,
quando o campo não foi totalmente baixado, pula-se
um piquete do sistema, para que o retorno ocorra mais rapidamente.
Este que foi pulado tem seu capim cortado e ensilado, matéria
verde que será oferecida aos bezerros na época
da seca. Até 60 dias de vida, elas permanecem nas bezerreiras
com leite e concentrado peletizado. Na época das águas,
no lugar do feno é servido capim jovem à vontade.
Para os animais com até 120 dias de idade, os piquetes
comportam cinco cabeças. O concentrado sobe para 2kg
e metade já e produzido na fazenda. Depois disso, os
bezerros sobem para os piquetes de capim estrela, com capacidade
para 12 animais. Neste período o concentrado já
passa a ser, totalmente, produzido na fazenda, batido com
suplementação mineral na razão de 5%.
Para as fêmeas com mais de um ano, os piquetes são
de branquiárias, rosiziados a cada 30 dias. Neles,
elas permanecem até 15 dias antes do parto. Além
de 3kg de concentrado, recebem outros 2kg de polpa cítrica.
As novilhas são inseminadas com 450kg, aos 17 ou 18
meses de idade. Joffre opta por uma inseminação
mais tardia, para que a fêmea já esteja desenvolvida
por ocasião do primeiro parto, e com peso na casa dos
600kg. Segundo ele, a medida garante por toda a vida útil
dos animais maior produtividade e menores riscos para os problemas
de parto. As fêmeas em lactação ficam
em piquetes de napiê. O concentrado é servido
duas vezes ao dia, logo após as ordenhas, na quantidade
de 1kg para cada três litros de leite produzidos. Há
ainda reforço de 4kg de polpa cítrica e, no
inverno, de silagem produzida na fazenda (7ha de lavoura de
milho e 2ha de cana-de-açúcar). Nesta época,
a produção média chega aos 30 litros/dia
por vaca. Joffre, hoje, afirma já ter recuperado o
prazer de estar na fazenda todos os finais de semana.
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