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CAPRINOCULTURA - UM BOM NEGÓCIO
rev 184 - junho 2013

Investimento em queijo de cabra artesanal conquista clientela e rende bons frutos em cidade do interior de São Paulo.

A empresária e ex-professora da área de educação e tecnologia, Heloisa Collins, resolveu expandir e profissionalizar um hobby antigo que cultiva, consumir e desenvolver queijos de cabra. Essa expansão pode ser vista por todos os interessados em visitar a fazenda onde fica instalada há dois anos e meio a empresa Capril do Bosque, na região de Joanópolis (SP), a 120 km da capital paulista. Heloisa conta que sua história com esta prática começou a partir de suas viagens acadêmicas pelo mundo, onde começou a trocar ideias com pessoas sobre os queijos de cabra, experimentar uma grande variedade deles e descobrir a rota dos livros sobre este assunto.

“Escolhi queijo porque sou uma grande apreciadora e ao passar do tempo fiquei apaixonada por este tipo específico”. Além disso, ela conta que a escolha pela cabra vem através de um elo familiar. “Minha vó já criava cabra. Então, a ligação com este animal é muito grande em minha vida”, declara.

Na fazenda, apesar da produção ser preponderantemente a partir da raça saanen, Collins avalia que não tem problema de trabalhar animais meio sangue. “Tenho alguns puros e alguns mestiços. Para os meus objetivos, o mestiço é totalmente adequado. Primeiramente porque ele é mais resistente à verminose, e, frequentemente, dá melhor leite do que o animal puro - a não ser que a linhagem do puro seja extraordinária, o que não é o meu caso, ainda”. A Capril atualmente tem um rebanho de 30 matrizes, mais dois reprodutores adultos e outros dois em formação. Segundo Heloisa, 16 novas cabritas chegarão ao local e todas elas já estarão prontas para realizar o primeiro cruzamento em agosto. “Em breve terei 45 matrizes e então, poderei iniciar um programa de seleção. Vou buscar manter esta média que gira entre 30 e 35 matrizes, que ajudarão na produção do queijo”.

Manejo nutricional

Para que na Capril do Bosque o sistema de criação fosse diferenciado das demais empresas do ramo, Heloisa preferiu estruturar um estábulo suspenso, todo ripado de madeira, em função de ter um rebanho leiteiro pequeno. Isso gera grande conforto, uma vez que a cabra, segundo a proprietária, não gosta de umidade. “Com esse sistema, os animais estão sempre secos e os dejetos caem sobre os vãos das ripas. Assim, o resíduo é todo despejado no chão e limpo a cada semana”, declara. Outro ponto que chama a atenção é quanto ao jeito em que os animais são alimentados. A dona do estabelecimento diz que preza por fazer queijos refinados, com isso, precisa ter um padrão de leite muito bom. E para produzir tal qualidade, ela possui diversas variedades de volumosos, como por exemplo, folhas de amora que são plantadas na propriedade. “A amora é compatível com a folha de alfafa em termos de proteínas”.

Ela revela que mais para o meio do inverno, as cabras comerão silagem de milho, que é um energético que somado a um complemento de farelos balanceados, dá ao rebanho a possibilidade de melhor produção do leite e de alta qualidade. Além disso, os animais também vão a pasto pra ativar o metabolismo. “O nosso pasto é básico e composto de braquiária normal, com aproximadamente 12% de proteína”. A empresária ressalta que a empresa faz algo que não é muito comum em outros lugares, trata-se, de manter as cabras longe dos bodes, o que interfere positivamente no sabor final do queijo. “Nosso queijo não tem gosto e nem cheiro de bode, ele é um queijo suave com o gosto característico do queijo de cabra”, declara. E em cima disso, o que dá o tom da proposta conceitual do negócio, é o fato da empresa ser toda assentada em cima da crença de que o natural é bom e de que as coisas devem ser o mais natural possível. Um exemplo disso é que na Capril, os animais não são mochados, ou seja, não tiram os chifres deles, o que comum de ocorrer em outros lugares.

E o leite virou queijo!

O leite de cabra tem uma característica fundamental que o distingue de qualquer outro. Trata-se do tamanho da molécula dele. Esta é extremamente pequena, ou seja, tem teor alto de digestibilidade o que o torna adequado para todo consumidor que necessite ter uma melhor digestão, principalmente as crianças, bebês e idosos. Além disso, este leite não tem um tipo de caseína (proteína encontrada no leite fresco, que é um fator determinante para que possa ocorrer algum tipo de alergia nas pessoas). Com isso, ele é um leite neutro. “E ainda tem mais, porque ele tem menos lactose, logo os queijos maturados de cabra tem pouca lactose, pois ela vai sendo consumida durante a maturação”, diz Heloisa. Ela usa como exemplo, o queijo do tipo Caprino Romano, que pode ser consumido tranquilamente, pois é saudável e sem nenhum risco de alergia. Outro ponto positivo observado é que além de ter mais cálcio, o leite de cabra tem também mais vitamina A e B e é ecologicamente fácil de produzir. “Tudo isso que vemos de bom das cabras não é por acaso, pois ela foi o primeiro ruminante domesticado na história do homem. Isso é bacana, porque mostra que esta ligação acontece há muito tempo”.

A dona da Capril declara que atualmente produz dentro dos 3,5 hectares da propriedade - que inclui a queijaria, estábulo, campineira, pasto e bistrô - pouco leite na fazenda, atingindo cerca de mil litros/mês. “A minha intenção com a seleção é ter daqui a três anos ter uma média de três mil litros/mês”. Segundo ela, atingindo este número, será produzido metade do leite necessário para operar a queijaria a todo vapor. “A outra metade eu pretendo continuar comprando, assim como já tenho feito hoje em dia”, diz. Segundo Heloísa, esta compra realizada pela empresa tem o objetivo de manter o mercado de leite da região aquecido, buscando sempre integrar sua propriedade com outras marcas da cidade.

Esforço que deu resultado

Para atingir o sucesso que tem, Heloisa conta que o maior investimento financeiro feito foi na queijaria, que juntamente ao estábulo demandaram maior esforço para ser construídos. “Ambos levaram bastante tempo para serem desenvolvidos e criados, pois era uma novidade para mim”. Ela vem desenvolvendo os queijos artesanais de cabra há 15 anos e esta foi uma experiência realizada devagarinho até que se chegasse aos resultados atuais. “Fui testando queijo por queijo, todos são feitos com fermentos e fungos especiais. Então, até chegar ao portfólio que tenho hoje, foi uma longa estrada”. O domínio do assunto cabra também foi um processo lento na vida dela, pois, apesar da vó ter contato com este animal, Heloisa não é filha de criador e não teve comunicação com a cabra durante sua vida. “Para aprender a ser criadora, eu tive que fazer cursos, visitar propriedades e conversar com colegas”, diz.

Hoje, a Capril do Bosque trabalha com seis diferentes tipos de queijo de cabra e tem mais dois em processo de registro Selo de Inspeção Estadual de São Paulo (SISP). “No meu portfólio tenho o Chevre à l´huille, Camembert, Valençay, Sainte Maure, Caprino Romano e Azul de Cabra”. Os dois tipos de que ainda estão em fase de registro, são o Valençay e o Sainte Maure. Segundo Heloisa, possivelmente daqui a dois anos mais dois tipos sejam registrados, fechando assim um total de dez queijos no cardápio da empresa.

No que se diz respeito às certificações para venda e comércio, a Capril começou trabalhando com a municipal de Joanópolis, que segundo a empresária foi tranquila de conseguir, e, com ela a empresa operou por aproximadamente um ano. “Ao mesmo tempo em que estava atuando com esta certificação, eu já estava com o processo do SISP já encaminhado, pois é mais demorado, requer exigências maiores e tem burocracia maior também”. Somente a partir do mês de maio, Heloisa pôde começar a atuar em todo Estado de São Paulo, pois saiu o selo de inspeção estadual. “Agora todos meus queijos estão registrados e prontos para ser fornecidos fora de Joanópolis”.

Collins revela que não tem por objetivo buscar o registro de certificação federal, pois sua empresa é uma queijaria artesanal e pretende se manter de pequeno porte, uma vez que o seu modelo de negócio é não ser grande e ter uma qualidade no produto extremamente bem cuidada. “Não pretendo ter um império de queijo de cabra. Na verdade, eu gosto de ter o contato direto com o cliente, gosto de ver as pessoas comer o que produzo. Além disso, amo realizar o turismo de experiência dentro da Capril”, declara. Para ela, proporcionar esta oportunidade das pessoas visitarem todas as fases de produção do queijo, torna-se fundamental e gera um impacto sobre cada um dos três negócios. “É um sistema fechado autossustentável, pois a minha principal matéria-prima para o queijo é produzida aqui, e a minha matéria para a degustação no bistrô, também. Então, levar o público a ver todo este processo é muito gratificante”.

Pensando no futuro

Com a inscrição estadual concedida, o próximo passo da empresa é estabelecer relações comerciais para divulgar e apresentar os produtos para todos os paulistas. Com isso, Heloisa diz que já está em fase de conversar para estabelecer as parcerias comerciais. “Meu objetivo é ter o queijo em um empório que tenha qualidade, seja pequeno e que se pareça conosco, pois assim, será valorizado”. As conversas também estão acontecendo com alguns especialistas para um possível fornecimento em um ou dois restaurantes no Estado. “Tenho que ir devagar, pois minha produção é pequena, por enquanto”. Segundo ela, nos próximos anos a pretensão é quintuplicar o volume de produção apresentado hoje pela Capril.

Já quanto à utilização de outras raças para este processo de produção alimentícia, a empresária diz estar aberta a pensar em migrar de raça, principalmente nesta fase em que irá selecionar mais matrizes para o rebanho. “É possível que surjam boas oportunidades para esta migração acontecer, principalmente se aparecer uma raça resistente à verminose”, finaliza.


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