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BALANÇO LEITE - O mercado lácteo azedou!
rev 180 - fevereiro 2013

Após um 2012 ruim, mercado leiteiro tem expectativas de crescimento, principalmente através do leite em pó, para 2013.

O ano de 2012 não foi bom para a pecuária leiteira. Os produtores tiveram preços não muito adequados, assim como as indústrias. O custo de produção foi alto, e o Brasil não conseguiu ser um grande exportador de leite na última temporada. Segundo Jorge Rubez, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), foi produzido a quantidade suficiente para o mercado interno. “O Brasil conseguiu se sustentar, mas o custo de produção foi muito alto. Com isso não tivemos como exportar muito, devido ao alto subsídio de países ricos, como Estados Unidos e a União Europeia”.

Devido a isso, Rubez diz que se por um lado o produtor leiteiro perdeu dinheiro, por outro se ele soube plantar e produzir soja e milho de maneira geral, conseguiu ganhar dinheiro.

Bruno Lucchi, técnico da comissão nacional de pecuária de leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o ano não foi bom porque ocorreu um grande déficit na balança de 514 milhões de dólares e o custo se elevou. “No ano passado, importamos muito leite em pó, que é a principal commodity deste mercado. Isso vem ocorrendo desde 2009, devido a crise econômica, quando observamos uma mudança no mercado”. Ele conta que o Uruguai cresceu neste mercado a partir de 2008 e exportou para o Brasil cerca de 4.500 toneladas, o equivalente a 15% da exportação do leite em pó naquele ano. “Em 2012 importamos da Argentina mais de 40.000 toneladas, o que correspondeu a 38,5% do total. Já do Uruguai, foram importadas 58.000 toneladas, o que correspondeu a 55,6% do leite em pó” declara Lucchi. Estes dados representaram para os produtores um custo de produção em 27% a mais do que em 2011, enquanto o valor do preço subiu apenas 4%. “Há dois anos os números foram bem diferentes. A elevação de custo foi de 19%, enquanto o preço atingido foi 17%, ou seja, a diferença foi pequena”, diz. Rubez resume que o inicio de 2011 foi bom, mas o final ruim. E, o ano 2012 apenas manteve este mau fim de ano, o que foi prejudicial aos produtores e indústrias.

Com a fraca temporada do leite, outros mercados acabaram sendo afetados direta e indiretamente. Por exemplo, os produtores de embalagens para derivados, transportadoras, fabricantes de queijo, entre outros tiveram dificuldades em 2012. “Como o aumento de custo foi mais no segundo semestre, as fábricas e distribuidoras ligadas ao leite tiveram uma queda inevitável”, comenta Lucchi.

Ainda sobre o leite em pó, representantes do setor lácteo do Brasil e da Argentina fecharam no último mês de janeiro, em Buenos Aires, um acordo de cotas para exportação argentina para o mercado brasileiro. Os “hermanos” poderão exportar 3,6 mil toneladas mensais de leite em pó para o Brasil, mantendo a cota anterior estabelecida em 2012. O acordo valerá de fevereiro de 2013 até janeiro de 2014. “O acordo é bom para o setor, pois é um numero de importação que não prejudica os nossos produtores, como ocorreu em 2009. Foi excepcional o fato de termos conseguido manter a mesma cota do ano passado”, diz Lucchi. Ele revela que os argentinos quiseram subir a cota, mas, a comitiva nacional conseguiu segurar a quantidade.

Rubez também comemora muito este tratado e declara que melhor não podia ser. O único fato que poderia ser melhor fica por Uruguai estar fora deste acordo. “Há um tratado de exportação do Mercosul, e a Argentina aceitou modifica-lo para ficar bom tanto para nós, quanto para eles”. Atualmente, o Uruguai produz a mesma quantidade de leite em pó que São Paulo. Vale lembrar que São Paulo é o sexto maior produtor de leite do Brasil e o Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo, perdendo para EUA e Índia.

Ponto positivo

Em meio a um ano que não foi nada agradável, um ponto positivo no cenário brasileiro apareceu. A tecnologia brasileira para a produção do leite e seus derivados foi um grande destaque não só aqui, mas também nos principais países envolvidos com o mercado leiteiro. “O Brasil tem trabalhado muito em tecnologia, adquirindo maquinas eficientes. O único problema que enfrentamos em meio a tudo isso é a alta carga tributária, o alto imposto e o frete alto. Ou seja, o custo acaba sendo muito alto”, comenta Lucchi. Para ele este alto custo é o que deixa o nosso País para trás das empresas internacionais, mas revela que diversas ações estão sendo feitas para que os custos internos sejam reduzidos, e assim possamos emparelhar de vez com o mercado estrangeiro.

“Temos no Brasil, 30% de produtores que se iguala a tecnologia do chamado de primeiro mundo. Os outros 70% ainda lutam para obter esta tecnologia”, diz Rubez. Segundo ele, no período de chuva só aumenta a produção dos produtores não especializados em leite, o que pode não ser bom para o balanço final do mercado. “O Brasil é um país muito eficiente na questão dos produtores que são especializados.”

Ano novo, vida nova?

Para superar o ano passado, Lucchi declara que o mercado internacional vai buscar no primeiro semestre uma tendência de estabilização do preço do leite em pó, porque os grandes produtores tem uma previsão de crescimento de 1%. “Eles são nossos principais exportadores de leite, não haverá grande oferta neste começo de ano. Já em relação ao consumo, um ponto negativo, é que a crise europeia possa prejudicar o consumo deles, que é muito alto”. Quanto ao nosso mercado, se a renda do brasileiro crescer, o consumo do leite e seus derivados também subirá. “Os produtores estão preocupados em ficar no mesmo nível de produção do ano passado. Mas, com as devidas estratégias iremos lutar para que tenhamos um ano melhor, porém, com os pés no chão”, completa.

Rubez espera que o Brasil ganhe mais espaço internacional neste ano. “O Brasil não consegue exportar leite, porque não temos espaço lá fora. Nós compramos do Uruguai, da Argentina e Chile, e, vendemos para Venezuela e Emirados Árabes. Para os países ricos quem vende é o Estados Unidos, ou seja, praticamente não há competitividade”.


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