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CARNES - Hambúrguer de muita raça
rev 179 - janeiro 2013

Mas também tem a picanha ‘verde’, o bife certificado ou um outro corte especial que apresenta o sabro da cada raça bovina criadas no País. Confira alguns trabalhos de sucesso do marketing dos criadores brasileiros de gado e como eles pensam expandir os negócios de carne a partir de marcas próprias no mercado.

Nos últimos anos tem sido vistas diversas associações de pecuaristas criarem métodos para expandir suas raças, mostrar as qualidades do gado e avançar em novos mercados, tudo a partir de marcas diferenciadas e até cortes especiais. Para que isso aconteça, é necessário, entre outros pontos, estar preparado para a logística de demanda e oferta, trabalhar a divulgação dos produtos e fazer parcerias de sucesso. Um exemplo recente que tem obtido boa repercussão, é a parceria firmada entre a Associação Brasileira de Angus (ABA) e o McDonald’s.

Quem hoje vai à rede de fast food encontra no cardápio três lanches feito com hambúrgueres de carne angus, o que proporciona a quem não está envolvido no meio rural, e não tem muito conhecimento a cerca do mercado das carnes, a oportunidade de comer um sanduíche com carne selecionada e diferenciada. Em conversa com os consumidores, muitos disseram que antes de comer no restaurante, não conheciam a carne de angus. Já algumas poucas pessoas disseram ter conhecimento antes de ir à lanchonete. É o caso do empresário Santiago Roig, de 31 anos, que apesar de não saber que é uma carne brasileira, já tinha conhecimento da marca e que até já havia comprado-a para fazer churrasco. “Comprei a carne de angus por ela ser mais suculenta, saborosa, macia e fácil de preparar na churrasqueira”, diz.

Além desta parceria, o angus também desenvolve trabalhos junto ao frigorífico Marfrig. Desde 2007, os parceiros desenvolveram um programa de fomento à produção de animais da marca sem precedentes no Brasil, financiando a inseminação de ventres zebuínos com genética angus no Brasil Central. Ao mesmo tempo, um programa de premiação, com sobrepreço de até 6% para machos e aproximadamente 10% para fêmeas, já despertava a atenção dos produtores e reforçava as ações de estímulo ao cruzamento industrial. Para Fábio Medeiros, gerente do Programa Carne Angus Certificada, da ABA este foi um ponto importante no desenvolvimento da raça no País, na valorização dos animais e no pagamento por qualidade aos produtores. “Desde 2004, os animais vêm sendo premiados de forma crescente pelos parceiros e valorizados em todos os segmentos da cadeia. Hoje, nos leilões de reposição por todo o Brasil se observa a valorização superior deles”, declara.

Medeiros explica que o programa foi criado em 2001 com o objetivo de valorizar a carne e pagar por qualidade aos produtores participantes. Este trabalho, que garante ao consumidor um produto diferenciado, é focado nas exigências e a valorização pelo reconhecimento desta mesma qualidade. Isto tem acarretado à associação crescente demanda. Dessa forma tem ocorrido a valorização progressiva dos animais com esta genética em todos os elos da cadeia da carne. Isso faz a raça crescer alicerçada pelos resultados que o cruzamento com a raça produz dentro da porteira, de norte a sul do Brasil. “Estamos ampliando o programa e atingindo novos Estados. Em 2012 conquistamos Mato Grosso e o Paraná. E para colher frutos no ano que vem, já iniciamos o embrião de um novo projeto no Estado de Santa Catarina. Também estamos trabalhando forte com nossos parceiros na valorização da carne certificada e na expansão dos volumes, tipos de cortes, produtos, entre outros”.

Quanto à abordagem de marketing e a expansão da raça em outras regiões, principalmente, no Centro-Oeste, Medeiros fala que a marca está trabalhando em alguns projetos para melhorar ainda mais a valorização dos animais nesta região, além do forte crescimento do trabalho de fomento do Marfrig. Mas, a principal alavanca do crescimento no Brasil Central está realmente nos resultados que este cruzamento com os zebuínos vêm apresentando dentro da porteira. “Maior velocidade de crescimento, peso a desmama, fertilidade e facilidade de apronte na terminação. O pecuarista que utiliza este cruzamento aprendeu como tirar o máximo desta ferramenta e entendeu que precisa adaptar seu manejo nutricional e sanitário, pois o potencial genético é muito grande”.

Em meados de agosto a ABA firmou uma parceria com a Cooperativa de Carnes Nobres do Vale do Jordão (CooperAliança), no Paraná. Medeiros conta que este trabalho, teve sua semente plantada em 2009, onde iniciaram as conversações e o fomento ao crescimento da raça no Paraná, pela cooperativa. “A partir desta parceria, os consumidores desta região passaram a nos conhecer melhor e a valorizar ainda mais sua carne. Além disso, lançamos juntos um novo modelo de comercialização, o ‘Varejos Licenciados 100% Angus’, que serão boutiques de carnes especializadas em comercializar cortes. Estamos muito empolgados com este novo projeto”, afirma.

Por fim, quando questionado sobre outros destaques do angus em relação as demais raças, Medeiros diz que no mundo todo, a raça é sinônimo de carne de qualidade, pela maciez, suculência e sabor de que são fruto da precocidade de terminação de seus animais, facilidade de deposição de gordura e marmoreio. “Todo produto que recebe nosso selo, tem garantia dos padrões de qualidade descritos pelo programa, garantia esta dada por técnicos da própria entidade que realizam a classificação dos animais, tipificação de carcaças e o acompanhamento da desossa, embalagem e industrialização, ou seja, do processo como um todo. Tudo isso é realizado por profissionais treinados seguindo procedimentos descritos e padronizados”, finaliza.

Maior raça do Páis que mostrar sua marca.

O que é certo é que as ações dos criadores de angus despertaram no mercado da pecuária de corte uma corrida de novos produtos, tanto que se observa que muitas outras raças estão se apressando para lançar marcas ou então fortalecê-las. O nelore, por exemplo, é uma delas. E para o presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), Pedro Gustavo Novis, o conceito da carne natural é o primeiro diferencial na hora de concorrer no mercado atual. “O nelore possui uma carne extremamente magra em sua porção vermelha. A gordura é depositada na região subcutânea, fora do músculo, o que permite ao consumidor separar a gordura no momento do preparo ou no prato, caso não queira ingeri-la. O selo é o produto final do Programa de Qualidade Nelore Natural, que possui manuais de qualidade e manuais de procedimentos para todos os elos envolvidos na produção, industrialização e comercialização da carne”, diz Novis. Os técnicos da ACNB cadastram os produtores, visitam as propriedades, verificam o sistema de produção, orientam os pecuaristas e seus colaboradores, supervisionam o abate e o processamento nos frigoríficos. Ou seja, acompanham todo o sistema de produção da carne, de forma a oferecer ao consumidor um produto com origem conhecida e de qualidade monitorada.

A associação é outra parceira do Grupo Marfrig, e Novis diz estar muito contente com esta parceira. “Há dois anos, trabalhamos em exclusividade com o eles na produção da carne Nelore Natural. Neste momento, estamos estudando juntos a viabilidade de expansão de mais unidade do Marfrig”, declara. Atualmente a raça opera em seis locais, espalhados entre os Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Rondônia. “Em dezembro, iniciamos as atividades em mais uma unidade em Mato Grosso do Sul. Aumentar a produção para atender a demanda esperada é a principal proposta da equipe comercial de venda da carne Nelore.

No que diz respeito à demanda e oferta da carne, o presidente se diz tranquilo, pois o programa
está sedimentado sobre um perfil de matéria-prima que já existe em larga escala no País, ou seja, animais nelore que têm as forrageiras como base de alimentação. O mérito é identificar o que há de melhor e fazer com que este produto chegue devidamente selecionado e identificado até o consumidor final. “Sendo assim, temos bastante tranquilidade em relação à capacidade de atendimento da demanda”, diz. Ele completa ao declarar que, todavia, além do acompanhamento da produção, os técnicos atuam fazendo difusão de tecnologia, fomentando o uso de genética selecionada, estimulando o cultivo das pastagens e incentivando a utilização de insumos, de forma a auxiliar o produtor a avançar ainda mais na produtividade do rebanho. “Nos últimos 12 meses, por exemplo, tivemos uma elevação de 5% no índice médio de classificação dos animais, nas regiões nas quais estamos trabalhando. Este é um reflexo direto da efetividade do trabalho feito pelos técnicos junto às propriedades participantes”.

Hereford & Braford

A Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), também está no mercado para disputar espaço nas prateleiras e cardápios de restaurantes com produtos que diferem a marca das outras. E para Guilherme Sangalli Dias, gerente de carne certificada das raças Hareford & Braford, este diferencial fica pelo fato desta ser uma carne macia e saborosa. “Produzimos mais de 20 tipos de cortes padrões hoje em dia, além dos pedidos que são feitos”, diz. Ele conta que há uma parceria com o restaurante Vermelho Grill, que fica em Porto Alegre (RS), onde só serve carne certificada da marca. “Essa parceria está em estágio experimental desde fevereiro deste ano, mas a divulgação só começou a ser feita a partir de agosto. Além deste, há mais alguns restaurantes em negociações”, afirma. Dias declara que este tipo de produto que passou pela certificação está também nos supermercados e que 70% das vendas da marca é feita através deles.

Outras duas parceiras da raça no Rio Grande do Sul são com os frigoríficos Silva e também o Marfrig. Com isso, Dias acredita que o sucesso da empresa passa também por estes parceiros, além de suas características. “Aqui não criamos um monstro, e sim um animal muito eficiente no campo. Somos capazes de produzir animais com diversas camadas de gordura”. Ele diz que atualmente, o carro chefe é o desenvolvimento de carne certificada, pois para ele, não adianta o marketing divulgar a raça e seus produtos, se não trouxer beneficio para o produtor. “Nosso grande trabalho que está sendo desenvolvido é o programa de bonificação, do qual estamos realizando junto ao Marfrig. Este programa antes só existia no Rio Grande do Sul, e agora estamos expandindo para São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás”.

O gerente revela que no Rio Grande do Sul houve um crescimento de 77% em relação á 2011. “Acredito que o mercado vive um momento bom, porque vendemos reprodutores com preços melhores, sendo assim, vendemos mais”. Para Dias, a situação das raças hoje em dia passa por uma crescente, principalmente na parte de exportação. Ele diz que a raça começou a exportar em 2009, e que em 2010 tiveram seu melhor ano nesse setor, já o atual momento é estabilidade com boas perspectivas para o futuro. “Para 2013, além da tabela de bonificação, queremos lançar um programa que terá benefício para quem utilizar a nossa genética. Queremos também estar mais próximos dos produtores, ensinando a utilizar de maneira correta a nossa genética. Com essa aproximação, iremos conquistar novos clientes, pois muitas vezes o produtor não se deixa conhecer uma nova raça, por medo ou receio. Então, temos que levar nossas propostas a eles para que nos conheçam e usem nossos produtos”, finaliza Dias.

Não querendo ficar de fora...

Nesta corrida mercadológica, a competitividade é bem alta e Alan Fraga, presidente da Associação Brasileira dos Criadores das Raças Simental e Simbrasil (ABCRSS), avalia que como o nome Simental & Simbrasil é uma marca forte, o desafio e a responsabilidade passam ser em saber usar um marketing de grande porte para um projeto de marcas grandes. “Queremos incentivar as iniciativas que estejam no mercado e, ao mesmo tempo, normatizar todas as etapas do sistema produtivo, inclusive processamento/industrialização seguindo um procedimento padrão para garantir a qualidade do produto final e condição fundamental, para a utilização do selo Simental Top Quality Beef”.

Fraga ressalta que o diferencial de seus produtos passa pelo fato do Simental ser uma raça de dupla aptidão, e que se destaca tanto na produção de carne como na produção de leite. Apresenta alta fertilidade, habilidade materna, adaptabilidade, conversão alimentar, precocidade produtiva e reprodutiva, além da precocidade de crescimento. Sua carne possui maciez e é marmorizada com gordura entremeada às fibras, o que lhe confere excelente sabor. “Já o Simbrasil, reúne o que há de melhor na raça Simental, e também nas raças zebuínas, evidenciando as características de precocidade, produtividade, adaptabilidade, longevidade, fertilidade, velocidade de ganho de peso, entre outras” declara.

O membro do conselho técnico da ABCRSS, Mario Coelho Aguiar Neto, comenta que no mercado atual ambas as raças têm uma aceitação muito positiva, tanto na qualidade da carne, quanto no ganho de peso do produto. “No passado nós usávamos muita genética que não estava adaptada ao nosso clima, e isso nos trouxe algum problema. Hoje em dia, estamos corrigindo isto e melhorando cada dia mais, pois percebemos que isso era o que faltava para o nosso sucesso”, diz. Em relação às parcerias estabelecidas, Neto e Fraga citam um projeto-piloto coordenado pelo engenheiro Roberto Barcellos, diretor da Beef&Veal Consultoria, com degustações do primeiro abate, que já rendeu diversos comentários positivos. “Estamos preparando o segundo abate para avaliação. Por meio da padronização do sistema de produção, poderemos projetar e controlar vários fatores, como conformidade da raça, grau de sangue, nutrição e idade de abate, volume, quantidade de animais abatidos semanalmente, constância e produção em todos os meses do ano”, revela Fraga. Ele diz ainda que os critérios para o desenvolvimento do produto final serão norteados por um manual de produção, que será disponibilizado aos pecuaristas, frigoríficos e varejistas. “Pelas características exigidas por grandes importadores de carne, consideramos que a carne simental e simbrasil será um produto aceito tanto pelos brasileiros como pelos clientes mais exigentes do mundo”.

Outra parceria citada é com a AgroZurita, que vem utilizando animais Simental cruzados com nelore. Essa genética fornece animais precoces de rápida terminação com testes positivos para marmoreio e maciez da carne. Assim a raça é divulgada através da Carne Z, que está sendo comercializada em restaurantes, supermercados e através do mercado varejista em geral. “Estivemos na exposição de Esteio (RS), e lá encontramos vários criadores interessados no desenvolvimento de uma marca de carne para atender o mercado regional. Com certeza haverá novos investimentos e a ABCRSS estará contribuindo na preservação da imagem e da raça Simental. Lembrando sempre que as alianças e parcerias entre pecuarista, frigorifico, varejo e consumidor são as que melhor resultado trazem para toda a cadeia econômica”, completa o presidente.

Com tudo isso, o consumidor é quem será beneficiado com essas disputas de mercado, uma vez que cada vez mais, e em diversos locais, todas as marcas apresentam suas melhores carnes e seus melhores cortes. Agora, resta experimentá-las e escolher a de seu melhor grado.


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