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CRÉDITO - Para investir na produção dinheiro não vai faltar
rev 167 - janeiro 2012

Durante uma reunião sobre o balanço do ano de 2011 e sobre as perspectivas para 2012, a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) foi categórica ao afirmar que caso o Brasil passe por boas condições climáticas ao longo do novo ano, poderá colher a maior safra de sua história, sobretudo a de grãos, com crescimento de 5% na produção de soja e milho. O otimismo da entidade aparentemente é justificável. Em 2011, o valor bruto da produção agrícola atingiu um recorde, alcançando R$ 205,8 bilhões, número que representa 11,7% maior que o de 2010.

Entretanto para chegar a uma produção agrícola recorde foram necessários muito mais ingredientes do que terras agricultáveis, pastos férteis e tecnologia. Foram utilizados também investimentos na aquisição de máquinas e implementos agrícolas e insumos. Para que tudo isso se tornasse viável, as linhas de crédito se tornaram ano a ano o item imprescindível, para uma receita de sucesso. A cada safra, as instituições financeiras saem em busca de conquistar o apetite do produtor e têm oferecido atrativas opções de crédito. E os resultados, até o momento, são pra lá de positivos. "O Valor Bruto de Produção do ano passado não foi igual a 2010, mas foi o segundo melhor da década", analisa superintendente de agronegócios do Grupo Santander Brasil, Walmir Fernandes Segatto.

As entidades financeiras reafirmam que 2011 terminou com números e valores positivos, de maneira geral, como vem ocorreu em anos anteriores. Entretanto, justifica o Banco Santander a receita positiva vem da mudança no perfil do produtor rural. "Um dos fatos percebível no mercado é que ao longo de 2010 e 2011, e que segue uma tendência em 2012, é a profissionalização do setor. Esse é um ponto que favoreceu positivamente o cenário do crédito rural. A visão empresarial do produtor rural gerou maior objetividade nas assinaturas de contratos. Isso permitiu que ele se planejasse e procurasse crédito de forma organizada. Assim, ele consegue negociar melhor e antecipar suas compras e insumos, procurando por linhas de crédito mais cedo, facilitando a oferta e a demanda do setor", afirma Segatto.

O Santander está entre os líderes de mercado de crédito para o agronegócio. Dados da instituição revelam que em 2010 a carteira de empréstimos voltada para o segmento encerrou aquele ano com um volume de R$ 4,8 bilhões em recursos, destinados a mais de 45 mil clientes. No entanto, sem comentar e afirmar sobre números e carteiras de clientes em 2011, Segatto diz que o banco ampliou um portfólio de produtos para atender às mais variadas demandas do setor.

O Banco do Nordeste, por exemplo, foi outra instituição que ofereceu apoio financeiro aos diversos setores e segmentos que compõem o agronegócio. Com isso, encerrou 2011, em cerca de 419,7 mil operações, o valor de R$ 4,26 bilhões. Segundo Cibele Maria Gaspar Fernandes, gerente do ambiente de negócios empresariais do Banco do Nordeste, a instituição dispõe de linhas de crédito subsidiadas pelo Governo Federal, bem como de linhas de crédito com recursos internos captados pela instituição e ainda detém parceria com o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como forma de oferecer aos produtores e empresas do setor agropecuário as melhores opções de encargos e prazos. "Neste ano que terminou, podemos destacar alguns pontos relevantes no crédito rural, entre eles, houve uma demanda por financiamento a máquinas e equipamentos, contribuindo para a modernização da agricultura, e a disponibilização pelo governo de linhas subsidiadas, a exemplo do Programa de Sustentação do Investimento, o famoso PSI", diz.

O Banco do Brasil, maior operador de crédito rural do País, notou também uma mudança no perfil de financiamento do setor no ano de 2011, ou seja, o produtor rural está se modernizando, principalmente, quando o assunto são as novas aquisições de máquinas e implementos agrícolas. A instituição mostrou que em 2011 a linha BB-Agroindustrial, com juros leves, teve redução de 60% na procura, com volume de R$ 1,2 bilhões, no primeiro quadrimestre da safra. "Por outro lado, o Pronamp Rural com juros controlados, teve aumento de 20,4% na procura, chegando a R$ 1,5 bi nos primeiros quatros meses. Resultado, os mais procurados entre todos os programas de financiamento até agora é o de Sustentação ao Investimento (PSI), do BNDES", diz Osmar Dias, vice-presidente de agronegócios e micro e pequenas empresas do Banco do Brasil. A modalidade vem atraindo os produtores que, entre julho e outubro de 2011, já consumiram, a juros de 6,5% ao ano, mais da metade dos R$ 4 bilhões previstos para a safra que se encerra em junho de 2012.

No ano passado, segundo o representante do Banco do Brasil, a instituição disponibilizou R$ 46 bilhões para operações de crédito rural na safra 2011/2012, volume 17% superior comparado à safra passada. Desse total, R$ 10,5 bilhões foram destinado à agricultura familiar e o restante para agricultores empresariais e cooperativas rurais, um incremento de 20% e 16%, respectivamente. Na safra 2010/11, a instituição seguiu como o principal financiador do crédito agrícola do país, sendo responsável por 73% dos créditos destinados à agricultura familiar, 77% ao médio produtor rural e 40% aos demais agricultores.

O que esperar em 2012?

Este ano os agricultores terão que conviver com a sombra das incertezas do mercado internacional. A crise financeira que abala o mercado europeu terá influência sobre o agronegócio brasileiro. É o que garantem alguns analistas de crédito. Outros pontuam que é cedo para análise das consequencias. Na opinião das instituições financeiras, que atuam diretamente no setor, de qualquer maneira a melhor receita é manter crédito para os produtores. "Em 2012, está prevista a aplicação no agronegócio com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, o FNE, com o valor de R$ 3,8 bilhões que, somados às demais linhas de crédito com recursos internos e repasses do BNDES, devem gerar aplicações em patamar superior ao alcançado em 2011", afirma Cibele Fernandes, do Banco do Nordeste.

Em 2012, o Banco do Brasil pretende ampliar o crédito do programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC). O orçamento total do banco para a safra 2011/12 é de R$ 850 milhões. Os recursos totais do programa ABC para o ciclo atual são de R$ 3,15 bilhões. "O ABC pode ser usado por agricultores e cooperativas, com um limite de financiamento de R$ 1 milhão por beneficiário. O crédito será financiado com taxa de juros de 5,5% ao ano, carência de até oito anos e prazo de reembolso de até 15 anos. O que percebemos com juros baixos e um longo prazo no pagamento há uma demanda significativa pelo crédito", afirma Dias.

E se as incertezas do mercado internacional e as condições climáticas poderão afetar o mercado de crédito rural, em 2012? O momento segundo os analistas é aguardar. De acordo com o superintendente de agronegócio do Banco Santader, Walmir Segatto a variação climática pode interferir parte da exportação como no caso da soja, e o milho que são as duas principais commodities. "Quando a oferta retrai, o produtor recua para avaliar o tamanho do prejuízo. O que demanda tempo. Já o cenário externo é preocupante. As regiões produtoras do cereal da Rússia e de outros países do Leste Europeu recuperaram-se da forte seca do último biênio e estão com uma estratégia agressiva de preços para retomar a venda aos seus antigos mercados, sobretudo na África. Neste caso, o melhor remédio é a prevenção. Porém, o empresário rural está bem mais informado e o crédito a sua disposição", conclui.

O recheio do governo

O governo federal mudará o crédito agrícola no país neste ano. O Plano Safra 2012/2013, a ser anunciado no primeiro semestre, virá com alterações no Manual do Crédito Rural (MCR), que rege todos os programas e operações voltados ao campo, segundo dados do Ministério da Fazenda.

Simplificação geral e contratação de crédito com renovação anual, além de criação de linhas e extinção das operações de Empréstimo do Governo Federal (EGF) e da Linha Especial de Crédito (LEC) são algumas das novidades. O foco é no beneficiário final, que é o produtor rural. Ou seja, ele vai ter condições de consultar o manual, entender o que está definido nele para poder contratar as linhas com segurança.

No próximo ano-safra estão a criação da modalidade de crédito de custeio, investimento e comercialização com renovação anual simplificada; a substituição do EGF e da LEC por três novas linhas, tais como o Financiamento para Estocagem de Produtos Vinculados à PGPM (FEPM) e Financiamento Especial para Estocagem de produtos não vinculados à PGPM (FEE). Ambas voltadas a produtores e cooperativas. A terceira linha é a de Financiamento para Garantia de Preços ao Produtor (FGPP), destinado a agroindústrias e cerealistas. Neste caso, será exigido pagamento ao produtor rural de, pelo menos, preço mínimo ou de referência. Em nota, o governo pretende ter maior controle sobre as operações e saber é qual o real destino dos financiamentos feitos por produtores rurais, cooperativas e agroindústrias.

As alterações são estudadas há cerca de um ano e precisam ser aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A primeira leva de modificações, que continha medidas como substituição do limite de custeio por produto para teto único por produto, já está no atual plano. O ano safra tem início em julho e o programa deve ser apresentado em maio ou junho de 2012.


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