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                    trabalham com sistema intensivo de criação, 
                    podendo ser configurado um confinamento. Dentro deste sistema 
                    existem duas diferentes maneiras: o chamado free-stall (baia 
                    livre) e o tie-stall (baia de laço), mas que pode ser 
                    traduzido como baia restrita), sendo o primeiro o mais utilizado 
                    no Brasil. 
                    O free-stall se baseia em um galpão, coberto, com uma 
                    cama de areia para cada animal, onde, basicamente, a vaca 
                    irá se levantar exclusivamente para se alimentar e 
                    passará o restante o dia deitada ruminando e, muitas 
                    fazendas, deixam o rebanho no pasto no período noturno. 
                    O princípio do confinamento é poder usar vacas 
                    da raça holandesa em locais de climas inapropriados 
                    (com temperaturas elevadas), onde elas não se sentem 
                    desconfortáveis em passar o dia sob o sol e com altas 
                    temperaturas. Com isso, os animais ficam em um local coberto, 
                    com alimentação variada e em alta quantidade, 
                    com ventiladores e até sistema de aspersão. 
                    Outro fator relevante ao produtor escolher o free-stall é 
                    a busca pela produtividade em relação a área, 
                    já que confinando, pode-se ter mais leite em menor 
                    espaço. 
                  Sítio 
                    Takehara 
                    
                    A 85 quilômetros da capital paulista, uma propriedade, 
                    localizada em uma área de várzea, produz 1.500 
                    litros de leite tipo B diariamente com o semiconfinamento, 
                    já que utiliza o free-stall e o pastejo durante a noite. 
                    A propriedade conta com 154 animais, divididos em lactação, 
                    vacas secas, prenhas e bezerros. 
                    Mas a história do Sítio Takehara é antiga, 
                    o local foi o primeiro no Brasil a comercializar alface em 
                    estufa, chegando a vender, mensalmente, mais de um milhão 
                    de pés. Mas com o problema da cólera, doença 
                    transmitida, principalmente, ao se ingerir a bactéria 
                    Vibrio cholerae O1 e O139 em alimentos crus ou mal cozidos, 
                    em 1992, a população acabou evitando o consumo 
                    de legumes e verduras, destruindo o negócio de Hissachi 
                    Takehara, proprietário do sítio. A cólera 
                    foi um desastre, porque estava ampliando a produção 
                    a cada mês, e já vendíamos 1 milhão 
                    e 250 mil pés de alface por mês. Com as notícias 
                    da doença, as pessoas passaram a temer o consumo e 
                    tive que procurar outro negócio para ganhar a vida, 
                    relembra o produtor. 
                    Foi nessa época que Takehara conheceu o free-stall. 
                    Como a minha propriedade não é grande 
                    e ainda fica em várzea, não tinha como criar 
                    o gado de leite a pasto, e acabei escolhendo montar as instalações 
                    e intensificar a produção, comenta. No 
                    início, para aprender o manejo correto, o produtor 
                    comprou diversos animais de descarte dos vizinhos. Hissachi 
                    participava dos leilões e só dava lance nas 
                    vacas de menor valor que ninguém queria. Cheguei 
                    a ter 120 animais pé-duro aqui. Aprendi a trabalhar 
                    com eles e resolvi partir para um novo estágio: criar 
                    vacas de qualidade e produzir para ganhar dinheiro. O primeiro 
                    passo foi continuar indo aos leilões, mas para comprar 
                    os melhores animais disponíveis. Logo no primeiro, 
                    comprei as duas vacas mais caras, ninguém entendeu 
                    nada, relembra o produtor. Segundo ele, uma única 
                    vaca de boa genética substituiu cinco, na época. 
                    Com um plantel de qualidade, o sítio passou a ser líder 
                    em produção na região, com média 
                    de 38 litros/vaca/dia, com alimentação de silagem 
                    de milho, ração, cevada e capim. Para cada 19 
                    animais, são misturados 10 kg de cevada, 11 kg de ração 
                    concentrada, 10 kg de tifton e 80 kg de silagem de milho. 
                    Este último cereal é plantado no próprio 
                    sítio, onde é feita a silagem, só a cevada 
                    que é adquirida de terceiros. Os animais recebem alimentação 
                    em quatro períodos: às 4 horas, às 9h, 
                    às 13h e às 16h. Às 19 horas, os animais 
                    são soltos no pasto, onde ficam até a ordenha 
                    da manhã, às 4 horas. 
                    A escolha por duas ordenhas por dia se deve a mão de 
                    obra, já que em caso de uma terceira, teria a necessidade 
                    de mais um turno de trabalho dos funcionários, onerando 
                    o orçamento. 
                    As vacas são separadas em grupos de 19, onde cada um 
                    apresenta médias de produção diferentes, 
                    fazendo rotação entre 4 grupos. O primeiro é 
                    o de maior lactação, e acaba recebendo maior 
                    quantidade de alimento. 
                    Uma necessidade que as vacas da raça holandesa têm 
                    é o uso de instrumentos para diminuir a temperatura 
                    ambiente nos dias mais quentes do ano. Dependendo da propriedade, 
                    usa-se ventiladores, aspersão e até esguicho 
                    direto no animal em busca de amenizar o desconforto térmico. 
                    Um problema identificado na aspersão é a umidade 
                    que traz ao ambiente, tornando a sensação de 
                    calor ainda maior e umedecendo as camas dos animais, favorecendo 
                    a transmissão de doenças. Hissachi usa esguichos, 
                    já que não há tantos animais na propriedade 
                    e a aspersão trouxe problemas no galpão. 
                    Algo que o produtor deve se preocupar em sistemas free-stall 
                    é com os cascos do gado, já que por ficarem 
                    muito próximos, acabam sempre pisando em desejos dos 
                    demais, além de passarem longo período em contato 
                    com o cimento. O problema no casco se dá na falha 
                    do manejo pela propriedade, já que isso só acontece 
                    quando a cama do animal ou o chão não é 
                    constantemente limpo, explica o veterinário Fábio 
                    Carvalho. Além do problema no casco, a mastite também 
                    pode ocorrer com freqüência na falta de trato com 
                    a cama do animal, causando sérios prejuízos 
                    ao produtor. 
                    Segundo o especialista, o manejo de confinamento é 
                    facilitado já que existe maior proximidade do tratador 
                    com o animal, podendo identificar rapidamente doenças 
                    e problemas diversos. Já o ponto negativo é 
                    a facilidade de proliferação de doenças 
                    contagiosas. 
                  Fazenda 
                    Morro Agudo 
                   
                   
                    O tie-stall não é muito praticado no Brasil 
                    devido à falta de necessidade, já que o free-stall 
                    é muito viável. Nesse sistema, o animal fica 
                    preso na própria baia através de uma corrente 
                    e tem uma cama com limites exatos de tamanho, para que não 
                    deixe os próprios excrementos sujarem a própria 
                    cama, o que tornaria o ambiente propício a fungos e 
                    bactérias, além de trazer desconforto. Para 
                    isso, é colocado um arame com choque em cima do lombo 
                    do animal, obrigado-o a ir o máximo para traz para 
                    não tocar ao fio ao realizar suas necessidades, não 
                    sujando a própria cama. Mas, este sistema não 
                    é muito difundido no Brasil, e sim nos Estados Unidos, 
                    país de maior produção mundial de leite, 
                    representando 15%. Uma vantagem desse manejo é o menor 
                    risco de proliferação de doenças e de 
                    ferimentos entre os animais, já que não tem 
                    contato dentro do galpão e onde poderiam ter, no pasto, 
                    é um local espaçoso. No free-stall o gado se 
                    movimenta livremente no galpão, e acaba tendo muito 
                    contato já que o local é pequeno. 
                    Na Fazenda Morro Agudo, em Pindamonhangaba (SP), usa-se o 
                    sistema tie-stall, mas de uma maneira um pouco diferente da 
                    descrita acima. Por ser uma propriedade que trabalha exclusivamente 
                    com gado de elite, as camas são maiores e não 
                    existe o choque, já que os funcionários permanentemente 
                    limpam a cama das vacas. Mesmo presas a maior parte do dia, 
                    elas são bem tratadas nas diversas áreas. Claro 
                    que não é agradável ficar presa constantemente, 
                    mas elas são muito bem cuidadas aqui. Tomam banho diariamente, 
                    são extremamente bem alimentadas, a cama é de 
                    pó de serra, ao invés de areia, ao emprenhar 
                    ficam em baias individuais, sem corrente, com água, 
                    sombra e alimentação três vezes ao dia 
                    e ainda vão pastar no fim de tarde, comenta Guilherme 
                    de Lima Soares, veterinário responsável da Fazenda 
                    Morro Agudo. 
                    Um dos fatores prioritários para a vaca atingir boa 
                    produção é o bem-estar do animal, e por 
                    ficar preso boa parte do dia, é fundamental buscar 
                    os melhores tratos nos demais aspectos. Para os animais não 
                    sentirem calor, ventiladores são acionados quando os 
                    termômetros marcam 26°C, e os bezerros recebem mamadeira 
                    nos primeiros dias de vida e tomam leite no balde até 
                    começarem a se alimentar com a alimentação 
                    oferecida. Aqui, nós temos um trato individual. 
                    Como o rebanho é de 112 animais, conseguimos dar atenção 
                    a cada uma, verificar a quantidade de leite e oferecendo a 
                    alimentação adequada para que cada uma renda 
                    o máximo, explica Soares. 
                    Segundo o veterinário Fábio Carvalho, a sanidade 
                    é a prioridade no rebanho, mas em segundo lugar está 
                    o conforto do animal. Como o gado fica preso a maior parte 
                    do tempo, seria de se esperar algum tipo de desconforto, o 
                    que não é identificado, já que a média 
                    deste tipo de confinamento é alta. Apesar dele 
                    ficar limitado durante o dia, o animal acaba tendo comida, 
                    água fresca e sombra, além de pasto à 
                    noite. É fundamental colocar o animal no pasto para 
                    tomar sereno e pegar carrapato. Mesmo identificando o carrapato 
                    rapidamente, espero alguns dias para que ele crie resistência, 
                    comenta o responsável pela Fazenda Morro Agudo.  
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