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                    A espécie do tipo B se desenvolve muito mais rápido 
                    e é mais resistente aos produtos químicos. Este 
                    biótipo pode ter um ciclo de vida completo (ovo, eclosão, 
                    desenvolvimento e reprodução) em apenas 10 dias, 
                    caso o clima esteja apropriado: temperatura alta e umidade 
                    relativa do ar baixa. Já o frio e a alta umidade podem 
                    triplicar o ciclo da mosca, se estendendo por um mês, 
                    mas ainda assim é considerado um período curto 
                    de reprodução. Na verdade, a temperatura 
                    é mais importante do que a umidade do ar. Por isso 
                    que no Sul do País os produtores não sofrem 
                    com a mosca, mesmo em locais mais secos, explica Tiago 
                    Teodoro Alcântara, engenheiro agrônomo da Agristar, 
                    empresa produtora de sementes. 
                    O problema da mosca-branca atinge as três maiores regiões 
                    produtoras de tomate do Brasil em área, o Sudeste, 
                    o Centro-Oeste e o Nordeste. Segundo dados de 2008, divulgados 
                    pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
                    (IBGE), a produção do Sudeste ficou em 1.442.780 
                    toneladas (t) em 22.442 hectares (ha), e a do Centro-Oeste, 
                    em 835.988 t em 10.486 ha. Juntas, as regiões produzem 
                    mais de 67% do total no País, que é estimada 
                    com um total de 3.356.456 t em 56.275 ha. Já o Nordeste 
                    sofre muito com o inseto devido ao clima quente e seco, como 
                    mostram os números do IBGE: em 12.878 ha de terra plantados, 
                    foram colhidas 517.453 t, enquanto na Região Sul foram 
                    colhidas 552.161 t em 9.440 ha. 
                   Os 
                    cinco estragos da mosca-branca 
                   
                    Além de ser vetor do geminivírus, uma virose 
                    que ataca o tomateiro, a mosca-branca injeta um uma toxina 
                    ao se alimentar do fruto, que pode causar o surgimento de 
                    fungos na parte externa e uma isoporização [consistência 
                    de um isopor] de parte do interior do fruto. O mesmo fungo 
                    pode aparecer na folha quando o inseto se alimenta da folha. 
                    O quinto problema que a mosca-branca traz ao pé é 
                    a concorrência ao se alimentar da seiva do tomateiro. 
                    As moscas podem causar danos diretos e indiretos ao tomate, 
                    e a ação como vetor do geminivírus é 
                    considerada a pior. Caso o inseto se reproduza com outro que 
                    possui o vírus, ele o contrai e acaba passando para 
                    o seu descendente também. O ciclo de vida é 
                    muito rápido e a transmissão entre os insetos 
                    e as plantas também é muito facilitada, o que 
                    torna a propagação muito rápida, 
                    afirma Alcântara. Quando o inseto se alimenta da folha, 
                    ele pode transmitir ou ser infectado, dependendo de quem hospeda 
                    o vírus, tornando a transmissão muito fácil. 
                    A partir do momento em que a planta é infectada pelo 
                    vírus, ela se torna extremamente vulnerável 
                    a qualquer outra doença. Podemos fazer uma comparação 
                    ao que o HIV causa no ser humano. A pessoa soropositivo fica 
                    muito mais debilitada e a chance de adoecer é muito 
                    maior se comparado a de uma pessoa saudável. Além 
                    disso, ao adoecer, a planta não possui força 
                    suficiente para combater a doença, explica o 
                    agrônomo. 
                    Para a engenheira agrônoma da Embrapa Hortaliças, 
                    Geni Litvin Villas Bôas, o germinivírus é 
                    o maior problema do tomateiro. A vulnerabilidade da 
                    planta é muito ruim, porque assim ela pode contrair 
                    diversas enfermidades e a sua produção ficará 
                    comprometida, explica. 
                    Pior do que contrair a doença durante o desenvolvimento, 
                    é contrair o vírus nos primeiros 30 dias após 
                    ser plantada na lavoura. Essa é a época 
                    mais crítica para o tomateiro. Caso a planta seja infectada 
                    pelo vírus, ela pode até morrer, ou, no mínimo, 
                    acaba produzindo muito pouco, explica a engenheira agrônoma 
                    da Embrapa Hortaliças. Nós falamos que 
                    a planta trava. Ela simplesmente não cresce, 
                    não se desenvolve e nem produz tomates, explica 
                    Alcântara, da Agristar. 
                    Passados os primeiros 30 dias, a planta que contrair o vírus 
                    apresentará deficiências na produção, 
                    diminuindo da quantidade e do tamanho dos frutos. Percebe-se 
                    que as folhas do pé ficam amareladas e encarquilhadas 
                    devido à ação do geminivírus, 
                    aponta Alcântara, da Agristar. 
                    Além de vetor de vírus, a mosca também 
                    atrapalha a lavoura de tomate de diversas formas. Como o inseto 
                    se alimenta da seiva da planta, ele se torna um concorrente 
                    por alimento, diminuindo a produtividade do pé. Outro 
                    problema sério é quando o inseto se alimenta 
                    do próprio tomate. Ao se alimentar, a mosca-branca 
                    libera uma toxina no interior do fruto e a região acaba 
                    ficando isoporizada, ou seja, não amadurece, 
                    ficando verde, explica Villas Bôas. Esse tipo 
                    de ataque leva grande prejuízo aos produtores que destinam 
                    os frutos às indústrias processadoras, porque 
                    para se fazer os molhos de tomate e produtos industrializados, 
                    como o ketchup, os frutos precisariam estar bem vermelhos, 
                    o que não acontece com a região afetada pela 
                    mosca. 
                    Além de deixar a região isoporizada, a toxina 
                    favorece a proliferação de um fungo, conhecidamente 
                    como Fumagina. Ele deixa a região externa do fruto 
                    preta e apesar de não ser impróprio para o consumo, 
                    deixa o tomate com baixo valor comercial. 
                    O mesmo fungo pode surgir no pé do tomateiro, quando 
                    a mosca libera a toxina ao se alimentar das folhas. Quando 
                    o fungo se desenvolve, acaba bloqueando a capacidade de absorção 
                    da luz solar, evitando a fotossíntese pela folha. 
                    Controle 
                    Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores 
                    para controlar a praga é que existem mais de 500 hospedeiras 
                    possíveis e, entre elas, a erva daninha. A soja 
                    é hospedeira, o algodão também, então 
                    a mosca acaba mantendo o ciclo de vida facilmente porque sempre 
                    há uma lavoura próxima, afirma Tiago Alcântara. 
                    Uma forma de combate é eliminar todos os restos culturais 
                    após a colheita dos tomates. Se o produtor conseguir 
                    destruir as ervas daninhas e não deixar o pé 
                    na lavoura, é o melhor que ele pode fazer para quebrar 
                    o ciclo e destruir os hospedeiros do vírus, explica. 
                    A forma mais indicada é queimar os restos culturais, 
                    assim a mosca e o geminivírus só apareceriam 
                    na próxima safra se fossem levados pelo vento. 
                    Após anos de prejuízos às lavouras brasileiras, 
                    o governo federal instituiu a medida normativa nº 24, 
                    em 2003, que obriga os produtores a deixarem a lavoura sem 
                    produção durante dois meses, na tentativa de 
                    quebrar o ciclo da mosca e diminuir significativamente a população 
                    do inseto. 
                    Mas a maneira mais indicada para controle é o uso de 
                    produtos químicos. Não há outra 
                    forma a não ser usando defensivos. Mesmo utilizando 
                    inseticidas, as moscas continuam na lavoura, então 
                    se não usasse seria bem pior, explica Villas 
                    Bôas. Tem muita lavoura que tem de andar de boca 
                    fechada, porque senão você acaba engolindo diversas 
                    moscas, comenta Alcântara. Fator importante é 
                    a rotatividade dos produtos químicos para que a mosca-branca 
                    não se torne resistente a nenhum princípio ativo. 
                    Outro fator importante é a utilização 
                    de variedades híbridas, que apresentam maior resistência 
                    ao vírus. Os grandes produtores só utilizam 
                    variedades híbridas, mas continuam utilizando os defensivos, 
                    porque não existe nenhuma que tenha 100% de resistência. 
                    A Embrapa está elaborando uma variedade mais resistente, 
                    mas isso ainda deverá demorar cerca da dois anos, 
                    explica a engenheira agrônoma da Embrapa Hortaliças. 
                    Tiago Alcântara concorda com Villas Bôas na utilização 
                    dos híbridos e comenta uma antiga crença. Nem 
                    todos os produtores utilizam híbridos porque os primeiros 
                    que foram lançados no mercado não apresentavam 
                    boa produtividade, mas hoje não há comparação 
                    ao analisar lavouras com sementes híbridas e as convencionais. 
                    Percebe-se que a planta híbrida é maior e possui, 
                    no mínimo, a mesma quantidade de frutos que a convencional, 
                    explica. 
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