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                   A 
                    destruição, em questão, foi estimada 
                    em R$ 300 milhões. As vítimas: os produtores 
                    de frutas da região do Vale do São Francisco 
                     a grande maioria, produtores de uva da região 
                    de Petrolina (PE) e de manga, da região de Juazeiro 
                    (BA). Não há números exatos de quantos 
                    foram prejudicados pelo impacto da crise financeira mundial 
                    lá na região, mas, só para se ter uma 
                    ideia, no Vale, são estimados cerca de 8 mil produtores 
                    de frutas  produção que também 
                    comporta as culturas de goiaba, banana, melão, melancia, 
                    acerola e maracujá, de acordo com Ivan Pinto da Costa, 
                    presidente da Câmara de Fruticultura do Vale do São 
                    Francisco, que faz parte do Fórum Permanente de Debate 
                    da Associação Comercial Industrial e Agrícola 
                    de Juazeiro (ACIAJ). 
                    Foram 87.248 toneladas de uva, da safra de setembro a novembro 
                    de 2008, e mais 102.770 toneladas de manga, da safra total, 
                    que tiveram de ser comercializadas a um preço muito 
                    abaixo do mercado, segundo Costa. A uva, por exemplo, saiu 
                    de um preço médio de US$ 2,40 o quilo para US$ 
                    0,80 a US$ 1,20 o quilo. Com a crise, os mercados compradores, 
                    Estados Unidos, que ficaram com 25% da produção, 
                    Inglaterra (25%) e demais países europeus (50%), declararam 
                    não poder sustentar a compra. A saída dos produtores 
                    foi à drástica redução do preço 
                    das frutas. 
                    O que era doce se tornou realmente amargo. A produção 
                    para a exportação era a via mais rentável 
                    para o Vale. A quantidade e a qualidade das frutas superavam 
                    às das safras anteriores, segundo o relato de Edmilson 
                    Alves dos Santos e Ana dos Santos, que fazem parte de uma 
                    cooperativa de fruticultores da região de Petrolina. 
                    Ana, que há 10 dez anos está na atividade, jamais 
                    passara por uma situação igual. Os prejuízos 
                    tomados por ela somam cerca de R$ 500 mil reais, que em grande 
                    parte foi causado pela uva  toda a produção 
                    dela foi destinada à exportação. O resultado: 
                    deve diminuir a área da produção e demissão 
                    de metade do quadro de funcionários que estavam com 
                    ela. 
                    Já a produção de Edmilson não 
                    teve quebra total, porque destinou parte da produção 
                    ao mercado interno. Tive uma produção 
                    de uvas com semente, que totalizou 35 toneladas por hectare, 
                    que garantiu um bom preço no mercado interno, numa 
                    média de R$ 2,30 o quilo, diz. O produtor que 
                    trabalha numa área de 10 hectares (ha), destinou quatro 
                    ha, para a uva sem semente  essa destinada à 
                    exportação, totalizando 30 toneladas por hectare. 
                    Nos seis restantes, foi a produção da variedade 
                    com semente, que o segurou da força da marola presidencial. 
                    O prejuízo, contabilizado pelo produtor ficou, mais 
                    ou menos, na ordem de R$ 150 mil. 
                     
                    Janela de mercado 
                     
                    Além de uma produção de primeira qualidade 
                    e quantidade, o Brasil ainda tinha uma grande vantagem, era 
                    o único país no mundo que tinha, em novembro 
                    do ano passado, o produto a oferecer. Sem concorrentes, a 
                    receita era certa. Isso é o que os produtores chamam 
                    de janela, nesse mercado de exportação 
                     uma oportunidade de negócio na qual um país 
                    se vê como o único exportador de uma determinada 
                    mercadoria  no caso brasileiro, a fruta. No Vale, em 
                    função da irrigação, é 
                    possível se produzir o ano todo, mas por conta dessa 
                    janela, a produção se concentra para venda justamente 
                    nesse período. 
                    Houve críticas de que a produção 
                    se excedeu à demanda e, por isso, houve essa queda 
                    de preço, diz Ivan Costa, presidente da Câmara 
                    de Fruticultura do Vale do São Francisco. Só 
                    que se esqueceram de mencionar que o montante produzido pelo 
                    País não chega nem aos pés da produção 
                    dos próprios EUA, com cerca de 800 mil toneladas de 
                    frutas, ou da África do Sul, com 400 mil, ou mesmo 
                    a do Chile, com 500 mil, por exemplo. Por isso não 
                    houve oferta excedente, argumenta. O fato demonstra 
                    o quanto a exportação, apesar dos ganhos e dos 
                    benefícios à economia, pode trazer riscos à 
                    produção brasileira. 
                     
                    Perspectivas para safra 2009 
                     
                    Depois do impacto dessa onda, os produtores parecem estar 
                    mais reticentes em relação à safra desse 
                    ano. Em função do próprio pagamento desses 
                    R$ 300 milhões e o custeio da próxima safra 
                    que deve girar em torno de R$ 200 milhões. Segundo 
                    o presidente da Câmara de Fruticultura, os bancos, Banco 
                    do Brasil e Banco do Nordeste, estão de acordo sobre 
                    o auxílio do parcelamento da dívida em cinco 
                    anos. Apenas o Banco do Brasil fará um estudo caso 
                    a caso para liberação do crédito aos 
                    produtores, para destinar essa linha de financiamento justamente 
                    àqueles que sofreram com a crise. 
                    O mercado de exportação de frutas dá 
                    sinais de melhoria, de acordo com Costa. A câmara está 
                    fazendo monitoramento do fluxo de venda e preços no 
                    mercado internacional. A fruta chilena, por exemplo, era comercializada 
                    em março de US$ 12 a US$ 14 a caixa  índices 
                    de preços considerados bons, o que sinaliza a volta 
                    ao consumo de fruta. Consumo esse que é o grande chamariz 
                    às exportações. Lá fora, 
                    a fruta faz parte do cardápio das pessoas, tão 
                    importante quanto qualquer outro alimento, como a carne. Isso 
                    faz a exportação ser um mercado atraente. Já 
                    no Brasil, infelizmente a fruta não tem todo esse peso, 
                    e por isso o volume de consumo por habitante é menor, 
                    destaca Costa. 
                     
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