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                    Porém, o resultado bem sucedido só chegou muitos 
                    anos depois, quando o estado paulista transformou-se no principal 
                    produtor de borracha do País [confira esta história 
                    em Em terras tupiniquins]. Parte desta conquista 
                    foi acompanhada de perto por muitos pesquisadores, inclusive 
                    por Gonçalves. 
                    Para o especialista do ramo da heveicultura, a borracha nacional 
                    tem história e precisava ser mais valorizada. Por 
                    ser um produto versátil, é utilizada na fabricação 
                    de mais de 50 mil artigos. Além da extração 
                    da borracha, pode-se aproveitar o óleo da semente da 
                    seringueira, usado na indústria de tintas e vernizes 
                    e a madeira também constitui boa fonte de renda para 
                    os produtores, diz o pesquisador Paulo Gonçalves. 
                    Na opinião dele e de vários especialistas, a 
                    heveicultura é economicamente viável por muitos 
                    motivos, entre eles, o manejo. A extração do 
                    látex (a secreção esbranquiçada) 
                    pode ser feita quase que diariamente. No entanto, muitos produtores 
                    escolhem fazer a sangria num esquema 3D, ou seja, 
                    colhe um dia e descansa dois. Em muitas culturas, a cada 45 
                    dias o produtor utiliza-se de uma substância estimulante, 
                    chamado ethefon (que possibilita o aumento da produção 
                    de látex de cada árvore, com a adoção 
                    de menores freqüências de sangria). O custo da 
                    implantação com 500 mudas apontam os especialistas, 
                    é estimado em R$ 7 mil por hectare (ha), até 
                    o sétimo ano de plantio, e a média de renda 
                    bruta chega a R$ 8 mil. 
                    Segundo o pesquisador Paulo Gonçalves, por ser uma 
                    cultura permanente e que só apresentará os primeiros 
                    resultados em longo prazo, não se pode correr o risco 
                    de cultivar uma planta não adaptada à região, 
                    bem como pouco produtiva. E dependendo do desenvolvimento 
                    das árvores, até o terceiro ou quarto ano existe 
                    luminosidade suficiente nas entrelinhas o que permite o cultivo 
                    intercalar, com bons resultados. Com isto, muitos produtores 
                    efetuam o consórcio com soja, milho, café, palmito, 
                    palmeira real australiana e banana. Essas culturas podem ser 
                    feitas nos intervalos entre as árvores  cada 
                    seringueira precisa ficar a pelo menos 2,5 metros da outra, 
                    formando ruas, que por sua vez necessitam estar 
                    distantes oito metros de outra rua, diz. 
                    Outra atenção necessária é com 
                    relação à compra de novas mudas, adquirindo-as 
                    de viveiristas certificados. É necessário 
                    também o controle das ervas daninhas e proteger as 
                    plantas de ácaros, besouros, moscas brancas e percevejos-de-renda, 
                    que atacam com mais facilidade. A seringueira também 
                    não é muito exigente em adubos, mas a assistência 
                    técnica também é indispensável 
                    em muitos casos, explica o pesquisador. 
                    O pesquisador orienta que em um hectare pode-se plantar até 
                    500 mudas e os picos de produção são 
                    de novembro até maio, quando a seringueira tem mais 
                    folhas. Para a extração do látex, é 
                    preciso um corte na casca, em meio-espiral, em sentido decrescente 
                    (de cima para baixo). Espera-se o látex escorrer para 
                    coletá-lo em cumbucas de plástico. O coágulo, 
                    resultado de uma borracha crua e mais escura é vendido 
                    a um preço mais barato. Já o látex, destinado 
                    para as indústrias farmacêuticas, por exemplo, 
                    utilizado para a confecção de luvas e drenos 
                    cirúrgicos  e que quando extraído requer 
                    maiores cuidados, para manter a aparência  alcança 
                    preços maiores. Vergonhosamente, apesar da seringueira 
                    ser originária da América do Sul, o Brasil importa 
                    200 mil toneladas de borracha por ano, sendo que o consumo 
                    total do país é mais de 300 mil toneladas, 
                    diz o pesquisador do IAC, Paulo Gonçalves. 
                  Além 
                    do café 
                   
                    Um estado que apostou nas seringueiras foi Minas Gerais. Com 
                    condições naturais e uma posição 
                    geográfica privilegiada para incorporar o cultivo da 
                    seringueira  em grande escala  a heveicultura 
                    é praticada em todo o território mineiro, segundo 
                    estudos realizados, nos últimos quatro anos, pela Empresa 
                    de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), 
                    vinculada à Secretaria da Agricultura do Estado. 
                    Na década de 80, a Epamig foi pioneira na implantação 
                    da cultura no estado. Ao iniciarmos nossos trabalhos 
                    de avaliação da capacidade da cultura em sequestrar 
                    carbono atmosférico em 2003, na Fazenda Experimental 
                    da Epamig, no município de Oratórios, na Zona 
                    da Mata mineira, verificamos o grande potencial do estado 
                    no cultivo da seringueira, diz Antônio de Pádua 
                    Alvarenga, engenheiro agrônomo e pesquisador que coordena 
                    o projeto Avaliação da Capacidade dos 
                    Clones de Seringueira de Minas Gerais, no Centro Tecnológico 
                    Zona da Mata da Epamig, em Viçosa. 
                    O pesquisador lembra que quanto à renda dos produtores, 
                    há uma variação quanto ao tamanho do 
                    produtor, pois aqueles que usam a mão-de-obra familiar 
                    são os que obtêm e obterão sempre a melhor 
                    receita. A preços atuais, o rendimento econômico 
                    de uma família explorando cinco ha de seringueira e 
                    que demanda apenas o trabalho de um chefe de família 
                    de quatro pessoas está em torno de aproximadamente 
                    R$ 2.500/mês. Este valor representa a receita líquida 
                    da atividade, calcula o pesquisador. 
                    Em Minas Gerais praticamente ainda não existem viveiros 
                    adequados. A Epamig está montando, em algumas fazendas 
                    experimentais, viveiros com produção de mudas 
                    realmente certificadas. Segundo dados, a produção 
                    de borracha no estado de Minas Gerais está distribuída 
                    em nove regiões: Central, Rio Doce, Zona da Mata, Sul 
                    de Minas, Triângulo, Alto Paranaíba, Centro-Oeste, 
                    Noroeste e Jequitinhonha. O rendimento médio das seringueiras 
                    nessas regiões varia de 750 quilos a 2,8 mil quilos 
                    por hectare, sendo os melhores resultados obtidos nas áreas 
                    do Centro-Oeste e do Alto Paranaíba. O Triângulo 
                    Mineiro se destaca com a maior produção, com 
                    cerca de 3,5 mil toneladas anuais. Tenho contato com 
                    vários produtores que investiram na cultura na década 
                    de 1980 e hoje estão arrependidos de não terem 
                    cuidado melhor das suas áreas, bem como não 
                    terem plantado mais, conta Alvarenga. 
                  Em 
                    terras tupiniquins 
                   
                    A introdução da seringueira no estado de São 
                    Paulo foi conduzida entre 1916 e 1917, pelo Coronel José 
                    Procópio de Araújo Ferraz, proprietário 
                    da Fazenda Santa Sofia, localizada no antigo município 
                    de Boa Esperança, hoje Gavião Peixoto. Interessado 
                    na cultura, o coronel recebeu sementes do então Marechal 
                    Cândido Rondon, que percorria a Amazônia em expedições. 
                    Entre as remessas recebidas compostas por algumas centenas 
                    de sementes, apenas 27 germinaram. 
                    Em função da demanda mundial, o Brasil iniciou 
                    a exportação de borracha natural extraída 
                    dos seringais nativos da região norte, em 1827. No 
                    período de 1827 a 1912, o País detinha uma grande 
                    importância no mercado mundial de borracha. A partir 
                    de então, surgiram como fortes competidores os países 
                    asiáticos, que, com a coleta de sementes na Amazônia 
                    pelos ingleses, desenvolveram o cultivo da seringueira com 
                    sucesso, dado que a região asiática não 
                    era fonte do fungo do mal-das-folhas (Microcyclus ulei). Assim, 
                    a partir de 1912, as exportações brasileiras 
                    de borracha natural foram caindo continuamente até 
                    serem praticamente paralisadas no final da década de 
                    1940. Só na década de 1960, o País elaborou 
                    planos ambiciosos para expandir o cultivo da seringueira. 
                    A despeito de ser o berço das seringueiras, o Brasil 
                    contribui com apenas 1% da produção mundial 
                    de borracha. Em 2001, a produção nacional chegou 
                    1,50% da produção mundial de 7,13 milhões 
                    de toneladas e consumiu em torno de 3,50%, de um total de 
                    7,03 milhões de toneladas, segundo dados de 2002, do 
                    IAC. Em 2007, São Paulo contribuiu com 53% da produção, 
                    seguido pelos estados de Mato Grosso (25%), Bahia (11%), Espírito 
                    Santo (1,7%) e demais (7,1%) incluindo grande expansão 
                    de Minas Gerais [confira no mapa]. 
                  O 
                    avanço no Paraná 
                   
                    Em novembro de 2008, o governo do Paraná lançou 
                    o Programa Seringueira do Paraná. O programa 
                    contará inicialmente com linha de crédito no 
                    valor de R$ 40 milhões. Segundo o Instituto Agronômico 
                    do Paraná (Iapar), a intenção é 
                    aumentar dos atuais 800 para cerca de 10 mil ha a área 
                    cultivada em 10 anos. A expansão da cultura vem 
                    de encontro também para recuperar as áreas degradadas 
                    daquelas regiões e preservar áreas de reserva 
                    legal, conforme prevê a legislação ambiental, 
                    diz o pesquisador do Iapar, Jomar da Paes Pereira. 
                    Segundo o engenheiro florestal da Secretaria de Estado da 
                    Agricultura e do Abastecimento (SEAB/PR), Bruno Sânder, 
                    hoje existem no estado dois viveiros particulares com aproximadamente 
                    300 mil mudas de seringueiras enviveiradas, que estarão 
                    disponíveis para o plantio, até o fim de 2009. 
                    Para Sânder, o Estado poderá ser tornar um grande 
                    produtor, em decorrência das condições 
                    climáticas favoráveis, empreendedorismo dos 
                    agricultores, desenvolvimento tecnológico e conjunção 
                    de esforços dos parceiros. Sabemos, por meio 
                    do levantamento preliminar realizado pela Empresa de Assistência 
                    Técnica e Extensão Rural (Emater/PR), que atualmente 
                    existem em torno de 1.000 ha de seringais já implantados, 
                    dos quais aproximadamente 380 ha pertencem às empresas 
                    do setor, diz o engenheiro. 
                    A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná é 
                    um bom exemplo disto. Foi a primeira a apostar na seringueira 
                    no Estado. As primeiras mudas vieram de São Paulo, 
                    conta o engenheiro agrônomo e gerente da área 
                    de pesquisa, Mauro Rosseto. 
                    Hoje a empresa possui uma fazenda com 375 ha e 174 mil árvores 
                    no município de Paranapoema (PR).O mercado comprador 
                    está muito próximo de nós, diz 
                    Rosseto. Ali, o empresário diz não ter problema 
                    de comercialização. Atualmente, a entrega 
                    do látex é para uma empresa paulista que vem 
                    buscar toda a nossa produção, conta. 
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