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                   Produtos 
                  exóticos  como a abóbora Mini Pumpkino (vendida 
                  em embalagens especiais, e nelas já há uma indicação 
                  de receita para saborear o alimento)  e convencionais, 
                  como o tomate, são a especialidade da fazenda, mas a 
                  grande vantagem é que todos esses produtos já 
                  têm um destino certo: o cliente  seja um supermercadista 
                  de grande porte ou uma rede de restaurantes da alta gastronomia 
                  de São Paulo, por exemplo. Não há produção 
                  excedente, tudo que é colhido já foi previamente 
                  vendido  e se não há venda, o fruto não 
                  é retirado da planta. 
                  Para um trabalho como esse, foi necessário um planejamento 
                  bem detalhado, que começou com uma análise da 
                  potencialidade da área e se o clima permitia agricultar, 
                  qual era a variedade a ser cultivada e, o mais importante, a 
                  real necessidade do cliente sobre o tipo de produto que desejava 
                   satisfazendo-o, o produtor ganhava a fidelização 
                  dele. Esse pra mim, analisa Cyro Cury Abumussi, 
                  produtor, é o grande segredo da agricultura: Quem 
                  vai comprar? Quanto compra? Tem preço? Eu consigo produzir 
                  na minha condição, na minha estrutura, na minha 
                  região, na altitude em que estou? Com o que eu tenho 
                  de ferramentas? Se eu puder produzir, legal, caso contrário, 
                  tenho de mapear e planejar outra atividade, porque senão 
                  a perda vai ser certa. 
                  É por essa filosofia de mercado  de estar sempre 
                  preocupado com o que o cliente precisa  que norteia a 
                  atividade da fazenda atualmente. A propriedade existe desde 
                  1972, mas foi a partir 1991 que a produção de 
                  hortaliças e olerícolas começou a se pautar 
                  mais fortemente pela linha de pensamento da clientela. O que 
                  antes era produzido a campo aberto, foi gradualmente passado 
                  a ambientes protegidos de chuva, vento e insetos (estruturas 
                  semelhantes a estufas)  com exceção da cultura 
                  de berinjelas que precisa de agentes de polinização 
                  e, por isso, continua a céu aberto. 
                  A fazenda também era fornecedor a granel de hortaliças 
                  e legumes, e com nova estruturação da propriedade 
                  pôde-se iniciar a produção dos exóticos. 
                  Atualmente, 60% do que é cultivado são caracterizados 
                  como exóticos, os 40% restantes são as cultivares 
                  tradicionais. No mercado de oferta e procura, a nossa 
                  analise é, quanto mais a gente plantar de um produto, 
                  menor será o preço que podemos ter na hora da 
                  venda. Tudo vai ter de estar adequado ao consumo do cliente 
                  e o quanto ele está disposto a pagar. Plantar custando 
                  R$ 10, para vender por oito reais, a atividade não vai 
                  durar. Então o planejamento hoje de você saber 
                  aonde vai o seu produto, e o quanto aquele mercado consome, 
                  é o grande segredo para um início de sucesso. 
                   
                  Planta confinada 
                   
                  Desde a implantação das estufas  
                  hoje, 112 no total, cada qual com 30m²  Cyro aos 
                  poucos adequou a produção com o que havia de novidade 
                  no sentido de potencializá-la. Três sistemas conduzem 
                  a produção de hortifruti: no solo, por hidroponia, 
                  e por vaso, tecnologia mais recente. Todo o referencial para 
                  o desenvolvimento da atividade veio de pesquisas de universidades, 
                  institutos como a Embrapa, e livros, que diziam a respeito tanto 
                  do cuidado com o solo, como de variedades resistentes e até 
                  acerca do manejo consciente dos recursos hídricos para 
                  a irrigação da lavoura. Toda essa complexidade 
                  do nosso mercado é importante sabermos para aplicarmos 
                  na melhor maneira possível, afirma Abumussi. Ser 
                  produtor hoje não é ter um pedaço de terra 
                  e ter vontade, é ser profissional; é poder fazer 
                  da sua atividade, da sua propriedade uma empresa, porque senão 
                  você só vai rasgar dinheiro, adverte. 
                  Um exemplo disso, foi a implantação do cultivo 
                  em vasos  uma tecnologia vinda de Israel na qual a planta 
                  se desenvolve fora do solo, numa terra fertirrigada com os nutrientes 
                  necessários (como Cálcio, Potássio, Magnésio, 
                  Zinco e Manganês) que garante maior produtividade. No 
                  sistema convencional de plantio em campo aberto [no caso do 
                  tomate], o manejo é que a planta chegue ao arame, mais 
                  ou menos dois metros, ou de oito a 10 pencas, daí o produtor 
                  castra a ponta da planta, para o enchimento dos frutos, 
                  explica Abumussi, Nisso, ele já deu um limite para 
                  aquela planta. Então, nas dez pencas, quando ele colher, 
                  não vai sair mais nenhum fruto. Ele vai ter de arrancar 
                  a planta e reformular novamente toda a plantação. 
                  No vaso, em vez de 10 pencas, a gente chega a produzir 35 pencas 
                  [por planta]. 
                  Nesse sistema, a produção estende-se dois meses 
                  a mais que no sistema convencional, no qual o ciclo produtivo 
                  do tomateiro gira em torno de cinco a seis meses. De acordo 
                  com o produtor, no vaso, o tomateiro chega a um ciclo de oito 
                  meses. Com o uso da tecnologia israelense, numa estufa com 560 
                  vasos (plantas)  que é a capacidade atual da estufa 
                  da propriedade  dentro de um ciclo de oito meses, são 
                  produzidos 3,5 a 4 toneladas (t) de tomate. Então 
                  se você tiver três vezes a produção, 
                  por um prazo 50 vezes maior, você tem um resultado muito 
                  melhor, avalia Cyro. 
                  A pesquisa foi essencial para implantar esse sistema, e tudo 
                  que havia de informação sobre esse tipo de cultivo 
                  só estava em livros. E além de ter de traduzi-los, 
                  o produtor tinha de conhecer bem a produção que 
                  seria desenvolvida, para traçar todo o planejamento da 
                  área, o manejo adequado, e climatização 
                  necessária dentro da estufa. Então produzir 
                  numa estufa, num ambiente protegido, num vaso, é como 
                  criar um boi num confinamento, faz uma analogia Abumussi. 
                  Você faz uma boa alimentação pra ele, 
                  ele ganha peso mais rápido, te deixa um retorno melhor 
                  e com mais segurança do que pastando, gastando energia, 
                  comendo um pouquinho aqui, um pouquinho ali, e isso acaba em 
                  perda de tempo. Além de garantia de produtividade, 
                  o sistema produz uma planta mais forte e sadia, capaz de resistir 
                  melhor ao ataque de pragas. 
                  Para o produtor, não há despesas nesse sistema 
                  de produção em vasos, se considerar o fato de 
                  que não há tratamento de solo, enxertia, além 
                  de ser menor o risco de pragas, fungos e bactérias. 
                  Na propriedade, oito estufas foram estruturadas para esse tipo 
                  de produção  com um controle periódico 
                  de umidade e fertirrigação por gotejo  e, 
                  segundo o produtor, em termos de custo-benefício, o investimento 
                  foi amortizado em apenas dois anos. Isso considerando a cultura 
                  do tomate, e as variedades dele que garantem maior preço 
                  na hora da venda  os do tipo gourmet. 
                   
                  Irrigação gota a gota 
                   
                  Nas demais 104 estufas, o solo é o responsável 
                  pela de produção. E nessas estruturas, outra inovação 
                  foi introduzida na fazenda que, além de garantir qualidade 
                  no solo, trouxe uma economia brutal no uso da água: a 
                  técnica de gotejamento  outra tecnologia trazida 
                  de Israel, segundo o agricultor. 
                  Uma tubulação de água, feita a partir de 
                  uma fita de material plástico (na qual há micro 
                  canais e orifícios) ligada à rede de distribuição 
                  de água, molha a planta justamente onde ela necessita 
                   a raiz dela. Porque é que eu vou molhar 
                  tudo se eu preciso só molhar perto da raiz?, indaga 
                  Cyro. Com esse sistema de gotejamento foi possível economizar 
                  até 95% de água, comparado ao sistema de irrigação 
                  tradicional. A estimativa do nosso uso de água 
                  sem gotejo girava em torno de 1 milhão a 1,2 milhão 
                  de litros dágua por dia. Com o gotejo passamos 
                  a gastar 60, 70, 80 e até 85 mil litros/dia, contabiliza. 
                  Além do uso racional da água e toda economia que 
                  envolve a irrigação, a técnica permite 
                  um maior controle fitossanitário da lavoura. De acordo 
                  com o produtor, pela água também são disseminados 
                  fungos e bactérias  dependendo da qualidade dela 
                  e se estiver distribuição abundante, maior será 
                  a incidência de doenças. Além disso, a água, 
                  como condutora de temperatura, no frio, baixa a temperatura 
                  que chega à raiz e impede o desenvolvimento da planta, 
                  prejudicando a produção. 
                   
                  Cuidados com solo 
                   
                  O manejo de uma produção em estufas requer um 
                  cuidado especial com a terra a ser agricultada  isso não 
                  quer dizer que em outro sistema produtivo o cuidado não 
                  seja tão necessário. É pelo fato da impossibilidade 
                  de se mudar uma estufa de um local para o outro que limita a 
                  produção a um local fixo. Por essa razão, 
                  o solo, dentro da estufa, tem de permanecer o mais rico possível 
                  para garantir a produtividade. 
                  No sentido de dar maior vida a ele, a fazenda pauta-se por uma 
                  adubação própria, feita a partir de um 
                  composto orgânico, no qual entram estercos suíno, 
                  bovino e avícola, galhos e folhagens da própria 
                  fazenda, fermentações e bactérias benéficas 
                  que transformam todo esse material num alimento pronto para 
                  a planta. 
                  Além do adubo, é feita uma cobertura de matéria 
                  morta (como grama, sapê, ou até mesmo folhagens 
                  da própria cultivar) por cima desse adubo orgânico. 
                  Com essa cobertura morta há proteção 
                  do solo, explica Cyro. Como somos um País 
                  tropical, em dias de muito calor essa cobertura impede que seja 
                  morta a matéria orgânica, presente de três 
                  a cinco centímetros abaixo do solo, além de manter 
                  a retenção de água na terra. 
                  Os resultados com esse trato especial com a terra garantem a 
                  sanidade e a qualidade da plantação. A planta 
                  tem um desenvolvimento frondoso muito bom, com os frutos começando 
                  a sair com um intermédio baixo, logo depois da primeira 
                  forquilha, descreve o produtor em relação 
                  à cultura do pimentão. 
                  O sistema de gotejamento está abaixo dessa cobertura 
                  morta  preservando-o  e com o passar do tempo esse 
                  material orgânico se converte em alimento para a planta, 
                  por isso a importância de se manter uma boa cobertura 
                  morta por toda extensão do canteiro, para garantia de 
                  maior qualidade do solo e alimento para a cultura. A maior 
                  riqueza que temos é o solo. Manter esse solo vivo é 
                  mais importante do que qualquer outra ferramenta existente hoje 
                  na agricultura. Com um solo sadio, a planta fica sadia; uma 
                  planta sadia é mais produtiva, e a produtividade é 
                  o que mais importa nesse processo da atividade agrícola, 
                  enfatiza Cyro. 
                   
                  Ao gosto do cliente 
                   
                  Após a colheita, a separação de cada produto 
                  por cor, tamanho e grau de maturação. Daí 
                  os legumes e frutos já são embalados e etiquetados 
                  no setor de empacotamento da propriedade. De lá seguem 
                  prontos para a disposição nas gôndolas dos 
                  supermercados. O próprio agricultor ia conferir de perto 
                  o momento em que o cliente pegava os alimentos produzidos pela 
                  fazenda. Ele sondava se as pessoas já conheciam o produto, 
                  se gostavam, se tinham algum tipo de preferência. 
                  Por esse trabalho, Abumussi foi desenvolvendo melhor a distribuição 
                  dos legumes nas embalagens. Há, por exemplo, embalagens 
                  menores com uma mistura de vários itens (tomate, pepino, 
                  pimentão) que serve uma pessoa ou duas. Uma salada pronta 
                   basta retirar da embalagem, lavar e temperar. É 
                  a praticidade a serviço do consumidor. 
                  Outro exemplo é a atração dos clientes 
                  pelo sabor. A miniabóbora é um exemplo  
                  ela é um item de luxo, serve uma pessoa, e tem mercado 
                  por conta da demanda de restaurantes finos do País. A 
                  produção mais recente  que deverá 
                  agradar tanto quanto a miniabóbora  é uma 
                  variedade híbrida de melão, vinda do Japão 
                   a mais doce entre todas as variedades da fruta. A cultivar 
                  se adaptou bem à região de São Paulo, o 
                  teste com os consumidores foi positivo e a potencialidade da 
                  comercialização estava certa. Não houve 
                  dúvidas: Cyro já deu início à produção 
                  para atender essa demanda. 
                  Outro produto, que deverá ser um dos carros chefes este 
                  ano, será o jambu, uma planta da região Norte 
                  do País. Ela tem uma característica muito 
                  particular, você comendo a folha dela [ou até mesmo 
                  a flor], que pode ser preparada numa pizza, num pato no tucupi, 
                  refogados, peixes, enfim, você tem uma sensação 
                  de amortecimento da boca. Então isso se torna uma comida 
                  exótica. E por isso ela vai tomar conta do Brasil, principalmente 
                  em São Paulo, que é realmente a capital da gastronomia, 
                  afirma. O jambu foi até um pedido de um chefe de cozinha, 
                  cliente de Cyro. Ele conta que foi questionado se a fazenda 
                  tinha, ou onde era possível conseguir a planta. Numa 
                  viagem que o agricultor fez pela região amazônica, 
                  conseguiu encontrá-la, e a trouxe, reproduzindo-a no 
                  sistema de hidroponia. Mais um produto com um mercado garantido, 
                  e, novamente, o olho voltado sempre para as necessidades da 
                  clientela. 
                   
                  De portas abertas 
                   
                  Entre os projetos desenvolvidos pela fazenda Ituaú, pode-se 
                  destacar o Porteira Aberta, que funciona como um 
                  dia de atualização para qualquer agricultor interessado 
                  em técnicas de manejo da lavoura, bem como de planejamento 
                  consciente do negócio. O dia é programado conforme 
                  a necessidade do produtor que quiser entrar contato com a propriedade. 
                  Há cursos de polinização artificial, comercialização, 
                  irrigação, hidroponia, tratamento de solo, cultivo 
                  no solo, enxertia e produção de alternativos. 
                  O produtor interessado pode entrar em contato pelos telefones 
                  (11) 4027-9045 ou 4027-9018, ou pelo sítio de Internet 
                  pelo endereço www.fazendaituau.com.br. 
                   
                    Pioneirismo no cultivo em água 
                   
                  Foi em 1991 que, a partir de pesquisas, que a fazenda Ituaú 
                  implantou um sistema novo de plantio para a época. Era 
                  a hidroponia, um sistema no qual a planta se desenvolve só 
                  sob uma água corrente, em tubulações. A 
                  água, enriquecida com todos os nutrientes necessários 
                  ao desenvolvimento da planta, é distribuída às 
                  raízes da cultivar  a alface, nesse caso  
                  e garante melhor desenvolvimento da cultura. A gente montou 
                  uma estrutura, com tubos de PVC, num espaço de 250 m², 
                  e temos uma produção de 4.000 a 4.500 plantas 
                  por mês, calcula Cyro Abumussi. 
                  Foi uma tarefa inicialmente complicada, segundo o produtor. 
                  Naquela época não havia modelos prontos ou estruturas 
                  próprias para esse tipo de cultivo. A pesquisa em livros 
                  foi mostrando como tinha de ser montado o sistema de hidroponia. 
                  Depois de pronto, convidamos alguns professores de universidades 
                  e centros de pesquisas que já tinham esse método 
                  de produção, de cultivar na água. Surpreendemos-nos 
                  quando eles vieram e falaram que nós havíamos 
                  começado muito avançado, declara. Foi 
                  um desafio, porque a referência que nós tínhamos 
                  era de livros, que além de ter de traduzi-los, a gente 
                  tinha de entender o que realmente seria cultivar na água. 
                  E produzir nela não é fácil. Na terra, 
                  por exemplo, caso dê alguma alteração climática, 
                  a planta dá um jeito de se adequar, na hidroponia é 
                  mais sensível em função da planta estar 
                  contato somente com a água. Então no começo 
                  a gente precisa entender como seria o comportamento dessa planta. 
                  Apesar das dificuldades iniciais a produção mostrou-se 
                  mais acelerada  uma receita de sucesso da propriedade. 
                  E cada produtor tem de fazer a própria receita 
                  para ter um bolo formado e daí ter a melhor qualidade 
                  possível na produção. Estando aqui no Sudeste, 
                  é diferente do Norte. O meu vizinho é diferente, 
                  em termos de qualidade de terra e altitude. Então é 
                  importante todos os produtores se dedicarem à pesquisa, 
                  para minimizarem riscos e, consequentemente, terem o melhor 
                  resultado, aconselha. 
                     
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