|  
                   Um crime tão antigo quanto 
                    a atividade pecuária no País vem ganhando, nos 
                    últimos anos, maior proporcionalidade no Rio Grande 
                    do Sul. É o furto de animais do campo, na maioria dos 
                    casos, bovinos, mas também há registros de furto 
                    de equinos e ovinos. O crime é comumente conhecido 
                    na região por abigeato. De acordo com dados do Ministério 
                    da Justiça, no ano passado, foram registradas, em média, 
                    22 ocorrências por dia no estado. “Esse crime 
                    passou a ser organizado, com o furto dos animais, o abate 
                    e a venda da carne em frigoríficos clandestinos”, 
                    explica Luiz Paulo Barreto, secretário-executivo do 
                    Ministério da Justiça e responsável pelo 
                    Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania 
                    (Pronasci), que inicialmente combaterá o abigeato (Pronasci 
                    Abigeato). “E isso vai parar nas mãos dos consumidores 
                    sem saber da procedência ou qualidade do animal”, 
                    enfatiza.
                  | 
                 
                   | 
 
 
                |  
                   O que está em desenvolvimento é um projeto piloto que já começou na segunda quinzena de fevereiro deste ano, no RS, e logo poderá se estender para os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul – que também sofrem com esse tipo de crime. 
Do que foi traçado, segundo Barreto, é possível se destacar medidas que farão parte do programa, como (a) a criação de um centro regional de combate ao abigeato, no qual se concentrarão um serviço de inteligência da polícia, equipes de apoio e operacional; (b) monitoramento do rebanho via-satélite; (c) financiamento de construção de delegacias especializadas; e (d) identificação de animais com chip. 
Há recursos para o desenvolvimento do projeto, vindos de um fundo do próprio Ministério da Justiça, que chega a R$ 1 bilhão. “Não faltariam recursos para esse projeto. Se for preciso mudar a legislação também será feita para melhor andamento dele e para o fim dessa prática do abigeato no País”, diz Barreto. 
Com o investimento e com o uso de tecnologia, o trabalho deverá unir forças entre governo federal, estadual e municipal, além dos próprios criadores.
                    Crime organizado 
                     
                    “O abigeato era um crime menor organizado”, afirma 
                    Sezefredo Lopes, delegado da 9ª Delegacia de Polícia 
                    Regional em Bagé (RS), “no qual tinha a incidência 
                    o abigeato de garupa” [o animal abatido era transportado 
                    na garupa de um cavalo]. Esse crime, inicialmente, objetivava 
                    o consumo próprio, ou repartido entre os integrantes 
                    do furto, ou até mesmo vendido entre os vizinhos do 
                    autor do furto, de acordo com Lopes. 
                    Hoje em dia há uma maior organização, 
                    chegando a formação de quadrilhas armadas – 
                    o abigeato de roubo de carga. Segundo o delegado, esses criminosos 
                    se utilizam de documentação falsa, notas fiscais 
                    falsas ou roubadas, conivência entre empregados das 
                    propriedades rurais e frigoríficos da região, 
                    sejam eles clandestinos, pequenos, ou até renomados. 
                    Há também a modalidade de abigeato de ‘carneada’, 
                    no qual, cinco a 14 animais são abatidos na própria 
                    propriedade e feitos os cortes de peças nobres do animal. 
                    “O carregamento é feito em veículos médios 
                    de passeio ou caminhonetes. As quadrilhas chegam a percorrer 
                    mais de 300 quilômetros para fazer o furto”, explica 
                    o policial. 
                    Além de prejuízos para o próprio produtor, 
                    e para o estado, que deixa de recolher o ICMS (Imposto sobre 
                    Operações relativas à Circulação 
                    de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços 
                    de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação), 
                    há o risco de saúde que essas carnes podem fazer 
                    ao consumidor desavisado, em função da falta 
                    de higiene na qual são abatidos os animais, na lama, 
                    ou recém-vacinados (que não cumpriram o prazo 
                    do medicamento). 
                    “Há casos que são abatidos animais doentes 
                    que são transformados em lingüiça e embutidos”, 
                    lembra Lopes. Entre as ações preventivas, conduzidas 
                    pela polícia gaúcha na região, estão 
                    a formação de barreiras e monitoramento de rodovias, 
                    checagem de carregamentos e conferência das notas dos 
                    produtos transportados. 
                     
                    Estatísticas 
                     
                    Em 2008, na região compreendida pelos municípios 
                    de Bagé, Aceguá, Candiota, Dom Pedrito, Lavras 
                    do Sul, Pinheiro Machado e São Gabriel, foram registrados, 
                    no primeiro semestre, 461 ocorrências, com 1.804 animais 
                    furtados. No segundo semestre, foram 455 ocorrências, 
                    envolvendo o furto de 1.519 animais.
                                  |